A morte
é a única certeza que carregamos para o futuro, um destino inevitável que,
paradoxalmente, nunca aceitamos de bom grado. Mesmo sabendo que ela nos espera,
sua chegada sempre nos pega desprevenidos, especialmente quando envolve alguém
que nos é querido.
Esse
encontro inesperado não apenas nos surpreende, mas também escancara nossa
vulnerabilidade diante de uma força tão abstrata quanto implacável, uma inimiga
que não podemos tocar, negociar ou derrotar.
No
silêncio de um velório, a chama de uma vela tremula, frágil e aziaga, como se
tentasse, em vão, iluminar o peso da perda. “Num velório a vela acesa, com
chama embora aziaga; não tem tamanha tristeza, como depois que se apaga.
É o
final do ato e as cortinas se fecham.” Esses versos, carregados de melancolia,
capturam o instante em que a luz se extingue, simbolizando o fim definitivo -
não apenas de uma vida, mas de todas as possibilidades que ela carregava.
A
tristeza mais profunda não está na chama que ainda queima, mas no vazio que se
instala quando ela se dissipa, deixando-nos sozinhos com nossas memórias e o
silêncio.
A
morte, porém, não é apenas um fim; ela também nos força a confrontar o que
somos. Diante dela, as máscaras caem, e somos reduzidos à nossa essência mais
humana: frágeis, imperfeitos, mas capazes de amar e sofrer.
É
curioso como algo tão universal possa ser tão pessoal - cada perda é única,
cada luto carrega suas próprias cores. E, ainda assim, há uma estranha ironia
nisso: enquanto choramos os que se foram, sabemos que um dia seremos nós a
apagar, a encerrar nosso próprio ato no palco da existência.
Em
muitas culturas, a morte é cercada de rituais que tentam dar sentido ao que
parece absurdo. Velas, flores, orações - são tentativas de suavizar o impacto,
de encontrar beleza ou consolo onde só parece haver escuridão.
Mas
talvez o verdadeiro desafio não esteja em aceitar a morte em si, e sim em
aprender a viver com sua sombra, sabendo que ela é parte do que nos torna
humanos.
Pois,
se a morte é o fim inevitável, é também o que dá urgência à vida, um lembrete
silencioso para valorizar o tempo que nos é dado.
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