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sexta-feira, abril 11, 2025

Velório

 

A morte é a única certeza que carregamos para o futuro, um destino inevitável que, paradoxalmente, nunca aceitamos de bom grado. Mesmo sabendo que ela nos espera, sua chegada sempre nos pega desprevenidos, especialmente quando envolve alguém que nos é querido.

Esse encontro inesperado não apenas nos surpreende, mas também escancara nossa vulnerabilidade diante de uma força tão abstrata quanto implacável, uma inimiga que não podemos tocar, negociar ou derrotar.

No silêncio de um velório, a chama de uma vela tremula, frágil e aziaga, como se tentasse, em vão, iluminar o peso da perda. “Num velório a vela acesa, com chama embora aziaga; não tem tamanha tristeza, como depois que se apaga.

É o final do ato e as cortinas se fecham.” Esses versos, carregados de melancolia, capturam o instante em que a luz se extingue, simbolizando o fim definitivo - não apenas de uma vida, mas de todas as possibilidades que ela carregava.

A tristeza mais profunda não está na chama que ainda queima, mas no vazio que se instala quando ela se dissipa, deixando-nos sozinhos com nossas memórias e o silêncio.

A morte, porém, não é apenas um fim; ela também nos força a confrontar o que somos. Diante dela, as máscaras caem, e somos reduzidos à nossa essência mais humana: frágeis, imperfeitos, mas capazes de amar e sofrer.

É curioso como algo tão universal possa ser tão pessoal - cada perda é única, cada luto carrega suas próprias cores. E, ainda assim, há uma estranha ironia nisso: enquanto choramos os que se foram, sabemos que um dia seremos nós a apagar, a encerrar nosso próprio ato no palco da existência.

Em muitas culturas, a morte é cercada de rituais que tentam dar sentido ao que parece absurdo. Velas, flores, orações - são tentativas de suavizar o impacto, de encontrar beleza ou consolo onde só parece haver escuridão.

Mas talvez o verdadeiro desafio não esteja em aceitar a morte em si, e sim em aprender a viver com sua sombra, sabendo que ela é parte do que nos torna humanos.

Pois, se a morte é o fim inevitável, é também o que dá urgência à vida, um lembrete silencioso para valorizar o tempo que nos é dado.

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