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quarta-feira, janeiro 25, 2023

Submarino Alemão

Em fevereiro de 1945, um duelo incomum ocorreu na costa norueguesa: um submarino de longo alcance da Marinha Alemã encontrou um submarino da Marinha Real, e debaixo de água, um duelo mortal seguiu.

Três torpedos britânicos foram lançados contra o U 864 alemão, mas o quarto torpedo atingiu seu alvo em cheio. O submarino alemão afundou com 73 homens a bordo e 67 barris de conteúdo altamente venenoso: mercúrio.

Desde então os destroços e carga estão a 150 pés de profundidade na ilha de Fedje, perto do porto da cidade de Bergen.

Em 2003 os restos desintegrados do U 864 foram descobertos. Logo depois, a área foi declarada uma zona restrita, que proibiu a pesca. Mas a questão do que fazer com a carga de mercúrio, até hoje é debatida.

O Governo Norueguês disse que os destroços do U 864 e mais 47.000 metros quadrados de leito marinho seriam selados a partir de 2019. No entanto, a decisão final do Parlamento Norueguês ainda está pendente.

Moradores e organizações ambientais, no entanto, consideram que a simples cobertura do naufrágio não é suficiente. Eles exigem que o mercúrio seja removido.

De acordo com o Ministério dos Transportes, as investigações mostraram que o salvamento é muito arriscado, pois ameaça romper as embarcações.

A bordo do U 864 estavam 67 barris de mercúrio para o Japão, que seria usado em detonadores.

Além disso, havia planos de construção para os caças a jato Me 262 e Me 163, partes dos motores das aeronaves e três engenheiros.



 

terça-feira, janeiro 24, 2023

Um ansioso




Se você namora um ansioso, não fique estranho do nada quanto tiver algo de errado, pois ele vai criar mil respostas até que tudo faça sentido na mente dele. 

Se tem algo incomodando, diga, não espere que ele adivinhe o que seja, pois o mais provável, é que ele crie paranoias para preencher a lacuna do silêncio.

Ficar estranho com o ansioso, sem dizer o motivo, é gatilho para crise de ciúmes, insegurança e ansiedade. O que pra você pode parecer algo simples e bobo, pra ele, é suficiente pra perder o sono e a paz. 

Deixe tudo muito claro para o ansioso, pois na mesma intensidade que ele é capaz de amar, ele é capaz de se paralisar por conta do medo, e às vezes, até se afastar como forma de defesa. Foram tantos traumas que fica difícil relaxar. 

Então se um ansioso decidiu ficar na sua vida, tenha certeza dos sentimentos dele por você, pois ele já pensou em todos os motivos para ir embora e mesmo assim decidiu permanecer... 

A/D 

Intolerância religiosa




Sou ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.

A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência.

Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres. Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte.

A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.

Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções.

Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.

O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade - quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.

Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam. (Dráuzio Varella)

O Amor Sem Idade

O coroa, rico pra caramba, 75 anos nas costas leva a namorada gatíssima pro motel para comemorar o seu vigésimo primeiro aniversário.

- Isto é para você - diz ele, entregando-lhe uma caixinha.

- Ai que lindo! - Era um colar de esmeraldas.

- E isto também é pra você, minha querida!

Outra caixinha.

- Nem sei o que dizer! - Era um anel de brilhantes.

- Não diga nada, apenas faça!

E ela fez tudo o que sabia! No final, olhando para o teto, comentou:

- Amor, você me acha muito cara?

- Minha querida, mulher pra minha idade ou é cara ou é coroa!




 



segunda-feira, janeiro 23, 2023

Haing S. Ngor - Foi Assassinado na frente de sua casa nos EUA

Haing S. Ngor - Foi Assassinado na frente de sua casa nos EUA - Era médico no seu país e quando estouro a revolução no Camboja sua vida mudou completamente.

Foi o segundo ator amador a ganhar um Oscar de Hollywood – o primeiro foi Harold Russell em 1947.

Haing S. Ngor nasceu no Camboja no dia 22 de março de 1940.

Ele ganhou o Oscar pela interpretação de Dith Pran, na década de 1970, no Camboja, sob o governo do Khmer Vermelho, auxiliando o jornalista Sydney Schenberg na cobertura da revolução cambojana no filme Os Gritos do Silencio de 1985, como o melhor ator coadjuvante.

Em 25 de fevereiro de 1996, Haing foi morto a tiros em frente à sua casa em Chinatown, no centro de Los Angeles, Califórnia.

Haing tinha uma única foto pequena de sua mulher morta no parto, com a qual fez um medalhão de ouro para guardar e que carregava sempre com ele.

No assalto, o ator se recusou a dar a joia, que tinha a única foto da sua esposa, e foi morto.

Os três acusados pelo crime foram presos e condenados.



 

 

A Águia

A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. Chega a viver 70 anos.

Mas para chegar a essa idade, aos 40 anos ela tem que tomar uma séria e difícil decisão.
Aos 40 anos ela está com:

- As unhas compridas e flexíveis, não conseguem mais agarrar as suas presas das quais se alimenta.

- O bico alongado e pontiagudo se curva, apontando contra o peito.

- As asas estão envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas e voar já é tão difícil!

Então, a águia só tem duas alternativas: Morrer... ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias.

Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão onde ela não necessite voar.

Então, após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico em uma parede até conseguir arrancá-lo.

Após arrancá-lo, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas.

Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas.

E só após cinco meses sai para o famoso voo de renovação e para viver então mais 30 anos.

Em nossa vida, muitas vezes, temos de nos resguardar por algum tempo e começar um processo de renovação.

Para que continuemos a voar um voo de vitória, devemos nos desprender de lembranças, costumes e outras tradições que nos causaram dor.

Somente livres do peso do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz.

 A/D


 

Crônica da Loucura

 



Com o corre-corre, o trabalho intenso e as alucinações que o cansaço mental causa, às vezes têm as mesmas premunições erradas que esse cidadão. Nunca vi coisa igual.

 O melhor da Terapia é ficar observando os colegas loucos.

Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.

Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso que estou adorando estar louco semanal.

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.

Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um “consultório médico”, como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu.

Senão, vejamos:

Na última quarta-feira, estávamos:

Eu;

Um crioulinho muito bem vestido;

Um senhor de uns cinquenta anos e uma velha gorda.

Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.

O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma loura, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do “Harmonia do Samba”. Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça.

Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.

E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo.

Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roia as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assuou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra.

Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dividas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela?

Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Imaginei, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.

Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera.

Ele ri... Ri muito, o meu psicanalista, e diz:

- O Ditinho é o nosso office-boy.

- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.

- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.

- "E você, não vai ter alta tão cedo..."

  Luiz Fernando Veríssimo.

domingo, janeiro 22, 2023

Álibi


Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. 

Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. 

É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida.

Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós.

Albert Camus

Linguagem do Mudo

A mudinha entra em uma mercearia e faz mímica com as mãos: mostra dois dedos em V e depois pega nos seios.

O balconista entende que ela quer dois litros de leite. Acertou em cheio!

Um dia o funcionário ficou doente e o dono do estabelecimento teve que contratar outro, advertindo-o do modo especial que a cliente muda tinha de se expressar.

- Sem problema - disse o novo balconista.

No dia seguinte, a mudinha foi comprar dois litros de leite e fez a mímica tradicional.

O novo balconista responde com uma mímica também: pega nos testículos e sopra a mão.

O dono do mercadinho viu a cena e ficou desesperado:

- Rapaz... que imoralidade é essa? Você não entendeu que ela está querendo dois litros de leite?!?!?

- Claro, senhor. Mas estou querendo saber se é leite de saco ou em pó...





A Violência

 


A ideia de que a cidade grande modifica o homem, para pior, é uma das crenças modernas mais difundidas. As grandes concentrações urbanas tornam mais evidente o que sempre existiu nele, nascido no egocentrismo comum e conservado na ignorância da própria realidade.

O relacionamento interpessoal mais estreito e frequente produz no habitante dos centros populosos uma concentração de experiências que torna agudos os problemas individuais.

Aquilo que num meio mais rarefeito seria dissolvido, ali reforça as características e agrava seus males. O homem é colocado com dramática insistência diante do espelho das ações alheias, onde vê a todo instante sua própria ação e suas contradições.

O aumento da tensão decorre dessa efervescência em espaço limitado, com o individual e o coletivo influenciando-se reciprocamente, e elevando a temperatura até o espasmo da violência. Culpar o grande aglomerado é tão frívolo quanto responsabilizar a febre pela enfermidade.

A inflação, a fome, as desigualdades sociais interferem muito na vida de uma coletividade, mas influem pouco na eclosão de um surto de violência, ou no crescimento aparentemente repentino da criminalidade.

A menos que a explicação seja usada como denúncia de efeito político, não há por que dar ênfase a esses fatores na busca de entendimento para a questão. Nem sempre, onde os desequilíbrios sociais são mais evidentes, a violência é maior.

Melhor será examinar outros aspectos, embora reconhecendo que aquela concepção tosca satisfaz perfeitamente os que querem qualquer explicação e que por natureza são menos exigentes. 

O problema da violência não pode ser compreendido à luz das grandes crises, através do noticiário policial, do ângulo das estatísticas, ou qualquer coisa do gênero. Não é a grande violência que interessa, mas a pequenina, disfarçada no dia-a-dia, na ação e no pensamento do homem que se considera pacífico.

Talvez aí esteja tudo o que precisamos saber sobre a brutalidade que ganha as páginas dos jornais e pinta um quadro terrível das grandes cidades. Os assaltos planejados, os sequestros bem premeditados, a liquidação de criminosos por bandos particulares, são culminâncias.

O que precisa ser conhecido, sem desculpas ou atenuantes, é resto do iceberg, mal dissimulado no cotidiano do homem comum, no motorista que dirige a caminho do emprego, no funcionário que atende por trás de um balcão, no cidadão anônimo que defende a pena de morte numa entrevista apressada de rua, na mulher que arrasta o filho pequeno numa calçada cheia de gente.

Esse conhecimento não pode ser começado de fora para dentro. É preciso iniciar na raiz, na câmara escura que está escondida de todas as aparências do mundo. Cada homem terá de começar a descobrir a sua violência, a única que está a seu alcance.

A tendência para observar os problemas "fora de nós" é quase irresistível, e a razão disso é óbvia: estamos absolvidos, nada temos a fazer, nosso estimado ego está a salvo.

No caso da responsabilidade pela violência crescente nas grandes cidades, é flagrante a infantilidade dos que teimam em ver a solução dependendo "dos outros", de uma revolução, da reforma urbana, da adoção de determinado regime político, da conversão a uma nova corrente, etc.

Como as crianças às vezes fazem, pomos a culpa em alguma coisa alheia a nós. O adequado seria deixar de lado a ideia de culpa, antes de qualquer coisa, depois descobrir em que medida estamos também envolvidos nisso censuramos e que modo somos o que queremos rejeitar.

Isso não é nada filosófico, metafísico ou místico, é um fato simples que pode ser verificado. Nossas preocupações com a sociedade não chegam a ser sinceras e não há nada a fazer exceto constatar como nos enganamos com tudo isso, todo o tempo.

O envolvimento de cada homem no processo cultural da violência varia de acordo com sua submissão às pressões da moda, aos valores vigentes. O regime político, a organização econômica tem pouca importância no caso. Sob qualquer sistema, somos mais ou menos envolvidos, conforme nossa capacidade de ver, ouvir, entender.

A violência escondida no homem comum - às vezes naquele que se considera um pacifista - é bem mais reveladora do processo geral da violência do que qualquer outra coisa.

A descoberta das nossas limitações nos outros é especialmente desagradável, mas, por outro lado, é aliviadora. A revelação incômoda de que, afinal, somos como todo mundo, e temos em nós o vilão e o herói, é comumente superficial.

De fato, só é desconfortável porque passa muito por cima os fatos. Se penetrasse um pouco mais em sua crosta, faria uma constatação pura e simples, sem qualquer conotação pessoal ou impressão subjetiva.

Vemos claramente a violência, desde que não seja em nós. Se desconfiarmos que está em nós, culpamos logo a sociedade, o sistema, a cidade grande, as provocações que sofremos.

Depois, temos olhos somente para os grandes eventos, para os acontecimentos maiores - a culminância de um processo que começou pequenino e vive em nós residualmente. A violência dos nossos pensamentos, desejos, disfarces, ambições, anseios, é da mesma essência daquela que ganha os títulos dos jornais de sensação.

Os livros que lemos, a TV e o cinema com que nos divertimos, os comentários que fazemos, o futebol que nos distrai, a maneira como negociamos e o modo como nos relacionamos com os mais humildes, estão impregnados da violência que nas suas manifestações mais visíveis e concentradas nos parece tão repulsiva.

Henry David Thoreau escreveu uma vez que "ver-se a si mesmo é tão difícil quanto olhar para trás sem virar a cabeça". Talvez seja necessário apenas dar uma meia volta completa.

          Luiz Carlos Lisboa - O Som do Silêncio