Hisashi
Ouchi tinha 35 anos quando se tornou a pessoa a receber a maior dose de
radiação da História da humanidade durante um acidente de trabalho.
O homem
japonês era um dos empregados da usina nuclear de Tokaimura, e os
administradores do local negligenciavam medidas de segurança destinadas à
proteção dos trabalhadores durante a manipulação do urânio pelos últimos meses.
O que
Hisashi viveu no dia 30 de setembro de 1999, por sua vez, foi uma consequência
dessas modificações, que tornaram o que deveria ser um procedimento cotidiano
no pior desastre nuclear civil que o Japão havia experienciado até então, antes
da tragédia de Fukushima, em 2011.
Hisashi
Ouchi e outros dois trabalhadores de Tokaimura - Masato Shinohara, de 29, e
Yutaka Yokokawa, de 54 - faziam a mistura manual de urânio enriquecido e ácido
nítrico a fim de gerar combustível nuclear.
Os
protocolos de segurança da época recomendavam que os ingredientes fossem
mexidos mecanicamente, mas o trio foi orientado a optar pela alternativa manual
a fim de tentar acelerar o processo.
Outro
fator fundamental que levou ao desastre foi a quantidade de urânio utilizada: a
medida recomendada para o tanque onde eles despejaram o material era de 2,3
quilos. Em vez disso, foram colocados 16 quilos.
A
receita de proporções alteradas fez com que a reação nuclear resultante
atingisse seu ponto crítico, a partir do qual ela se torna autossuficiente -
isso é, não precisa mais ser alimentada para continuar ocorrendo.
Essa
reação continuaria a gerar radioatividade pelas 20 horas seguintes, levando à
evacuação de toda a usina. A estimativa de quantos funcionários foram expostos
à radiação varia entre 40 e 50, 27 precisaram ser internados com urgência como
resultado do episódio.
Ninguém
foi tão afetado, todavia, quanto o trio que realizou a reação. Eles mais tarde
revelariam ter visto um flash de luz azul antes de desmaiarem. Yokokawa recebeu
3 sieverts de radiação, Shinohara recebeu 10 e Ouchi recebeu 17.
A dose
considerada fatal, por sua vez, é de apenas 7 sieverts, conforme informações do
portal All That Is Interesting, de forma que, apesar de vários esforços por
parte dos médicos, apenas o homem mais velho sobreviveria ao acidente. Os
outros dois, infelizmente, receberam sua sentença de morte no momento que a
reação havia se tornado crítica.
As consequências
Caso
único na ciência, quando Hisashi Ouchi chegou ao hospital, foi descoberto que
os glóbulos brancos de seu organismo, as células que compõe nosso sistema
imunológico, haviam sido quase todos mortos.
O
japonês de 35 anos apresentava vômitos e diarreias constantes, possuía
queimaduras causadas por radioatividade cobrindo a pele de todo seu corpo e
experienciava uma dor intensa que dificultava sua respiração.
Ouchi
sobreviveu por mais 83 dolorosos dias, durante os quais foi definhando de forma
acelerada a despeito das inúmeras tentativas que a equipe médica fazia de
salvá-lo.
Recebeu
diversos enxertos de pele, transfusões de células-tronco retiradas da medula
espinhal de sua irmã, porém a radioatividade que ainda circulava em seu sangue
matava todos os tecidos vivos, impedindo a possibilidade de regeneração.
Conforme
o All That Is Interesting, a família de Hisashi teria insistido que ele fosse
reanimado após ataques cardíacos, porém, em 21 de dezembro de 1999, após o
homem sofrer uma falência múltipla de seus órgãos, os médicos não conseguiram
mais fazer seu coração voltar a funcionar.
A
empresa administradora da usina nuclear de Tokaimura, pagou milhões em
indenizações para as vítimas do desastre, foi desativada em 2011.(Grupo
Mitologia, história e arte)
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