Propaganda

terça-feira, junho 25, 2024

Hachiko - Sempre ao seu lado




Hachiko: Sempre ao Seu Lado – A História do Cão Fiel

Hachiko, conhecido no Japão como Chūken Hachikō (Cão Fiel Hachiko), nasceu em 10 de novembro de 1923, na cidade de Odate, província de Akita. Este cão da raça Akita Inu tornou-se um símbolo universal de lealdade, devoção e amor incondicional, lembrado até hoje por sua fidelidade ao dono, que perdurou mesmo após a morte deste.

O Início de uma Amizade Inquebrantável

Em 1924, Hachiko foi levado para Tóquio por Hidesaburo Ueno, um respeitado professor do departamento de agricultura da Universidade de Tóquio. Apaixonado por cães, Ueno batizou o filhote de Hachi (Hachiko é o diminutivo carinhoso) e o acolheu com imenso afeto.

A conexão entre os dois foi imediata, e Hachiko rapidamente se tornou um companheiro inseparável. Todos os dias, Hachiko acompanhava Ueno desde a porta de sua casa, no bairro de Shibuya, até a estação de trem de Shibuya, a poucos minutos dali.

Ao final do dia, o cão retornava à estação para esperar o professor, que descia do trem para voltarem juntos para casa. Essa rotina diária, com Hachiko esperando pacientemente pelo retorno de Ueno, encantava os transeuntes e se tornou uma cena familiar na agitada estação de Shibuya.

A imagem do professor e seu cão, caminhando lado a lado, era um símbolo de harmonia e lealdade que tocava o coração de quem os via.

A Tragédia que Mudou Tudo

A rotina de Hachiko e Ueno continuou harmoniosa até maio de 1925, quando a vida do cão foi abalada por uma tragédia. No dia 21 de maio, durante uma reunião na universidade, o professor Ueno sofreu um derrame cerebral súbito e faleceu.

Hachiko, que como sempre o esperava na estação, não viu seu dono descer do trem naquela tarde. A espera de Hachiko marcou o início de uma história que comoveria o mundo.

Na noite do velório de Ueno, Hachiko, que estava no jardim da casa, quebrou as portas de vidro para entrar na sala onde o corpo do professor estava sendo velado. Segundo relatos, o cão deitou-se ao lado de seu mestre e passou a noite ali, recusando-se a ser afastado.

Em outro momento comovente, durante os preparativos do funeral, quando objetos queridos de Ueno foram colocados em seu caixão, Hachiko pulou dentro do caixão, resistindo às tentativas de removê-lo, como se quisesse permanecer para sempre com seu dono.

A Espera Inabalável

Após a morte de Ueno, Hachiko foi enviado para viver com parentes do professor em Asakusa, no leste de Tóquio. No entanto, o cão fugia repetidamente, retornando à casa em Shibuya, onde havia vivido com Ueno.

Mesmo depois de um ano, Hachiko não se adaptava à nova residência. Posteriormente, foi entregue ao antigo jardineiro da família Ueno, que conhecia Hachiko desde filhote. Ainda assim, o cão continuava a escapar.

Percebendo que Ueno não estava mais na casa de Shibuya, Hachiko começou a visitar diariamente a estação de trem, exatamente como fazia antes. Ele chegava ao entardecer, no horário em que o trem de Ueno costumava chegar, e esperava pacientemente entre os passageiros, na esperança de reencontrar seu dono.

Dia após dia, ano após ano, Hachiko repetia esse ritual, indiferente ao frio, à chuva ou à fome. Sua espera tornou-se uma presença constante na estação, e a figura solitária do cão comovendo os frequentadores de Shibuya.

Os transeuntes, muitos dos quais haviam testemunhado Hachiko e Ueno juntos no passado, começaram a perceber a profundidade de sua lealdade. Sensibilizados, passaram a oferecer comida e petiscos para aliviar a vigília de Hachiko. Por quase dez anos, de 1925 a 1935, Hachiko apareceu fielmente na estação, sempre no mesmo horário, aguardando o retorno de seu mestre.

O Reconhecimento Nacional

A história de Hachiko começou a ganhar notoriedade em 1932, quando um ex-aluno de Ueno, pesquisador da raça Akita, encontrou o cão na estação de Shibuya. Intrigado, ele seguiu Hachiko até a casa do jardineiro Kobayashi, onde descobriu toda a história de sua lealdade.

Na época, a raça Akita estava em declínio, com apenas 30 exemplares puro-sangue restantes no Japão, e Hachiko era um deles. O pesquisador publicou artigos sobre o cão, destacando sua devoção exemplar.

Em setembro de 1932, o jornal Asahi Shimbun, um dos principais do Japão, publicou uma matéria sobre Hachiko, acompanhada de fotografias. A história rapidamente se espalhou, e Hachiko tornou-se uma sensação nacional.

Sua imagem apareceu em revistas especializadas em cães e até em uma enciclopédia internacional sobre raças caninas. A lealdade de Hachiko ao seu dono falecido tocou o coração do povo japonês, que o viu como um exemplo de devoção e respeito à memória familiar. Professores e pais usavam sua história para ensinar às crianças valores como lealdade, perseverança e amor.

Desafios e Declínio

Apesar da fama, a vida de Hachiko não foi fácil. Em 1929, ele contraiu uma grave infecção de sarna, que quase o levou à morte. Vivendo nas ruas próximas à estação, Hachiko enfrentava o frio, a fome e brigas com outros cães, o que o deixou magro, com feridas e uma aparência debilitada.

Uma de suas orelhas, antes erguida e orgulhosa, já não se mantinha em pé, e ele mal lembrava o cão vigoroso de outrora. Ainda assim, sua determinação nunca vacilou.

Com o passar dos anos, Hachiko envelheceu e sua saúde deteriorou-se. Ele sofria de dirofilariose, uma doença causada por um verme que ataca o coração, o que agravava seu estado.

Na madrugada de 8 de março de 1935, aos 11 anos, Hachiko faleceu em uma rua próxima à estação de Shibuya, após quase uma década de espera. Sua morte chocou o Japão, e a notícia estampou as primeiras páginas dos jornais. Um dia de luto nacional foi declarado, refletindo o impacto profundo que Hachiko teve na sociedade japonesa.

Legado e Homenagens

A história de Hachiko transcendeu gerações e fronteiras, tornando-se um símbolo de lealdade inabalável. Em 21 de abril de 1934, antes de sua morte, uma estátua de bronze, esculpida por Teru Ando, foi erguida em frente à estação de Shibuya, em uma cerimônia que contou com a presença do neto de Ueno e uma multidão emocionada.

Um poema intitulado "Linhas para um Cão Leal" foi gravado em uma placa ao lado da estátua, celebrando a fidelidade de Hachiko. Durante a Segunda Guerra Mundial, a estátua original foi derretida para a produção de armamentos, em 1944, em um período em que o Japão enfrentava dificuldades extremas.

Infelizmente, a imagem de Hachiko também foi usada em propagandas nacionalistas, distorcendo seu simbolismo para promover lealdade ao Estado.

Após a guerra, em 1948, Takeshi Ando, filho do escultor original, criou uma réplica da estátua, que foi reinstalada no mesmo local. Até hoje, essa estátua é um dos pontos turísticos mais famosos de Tóquio e um local de encontro popular em Shibuya.

Os restos de Hachiko foram preservados com cuidado. Seus ossos foram enterrados ao lado da sepultura de Ueno, no Cemitério Aoyama, em Tóquio, simbolizando o reencontro tão esperado entre o cão e seu dono.

Sua pele foi empalhada e está em exposição no Museu Nacional de Ciência do Japão, em Ueno, onde visitantes podem conhecer mais sobre sua história.

Homenagens Modernas e Impacto Cultural

Todos os anos, no dia 8 de março, uma cerimônia é realizada na estação de Shibuya para homenagear Hachiko. A data marca o aniversário de sua morte e reúne pessoas que celebram sua lealdade e a memória de sua história.

Em 2015, para comemorar os 80 anos de sua morte, a Faculdade de Agricultura da Universidade de Tóquio, onde Ueno lecionava, inaugurou uma nova estátua representando o reencontro de Hachiko e Ueno. Financiada por doações, a escultura mostra o professor abraçando seu fiel companheiro, um tributo emocionante à sua ligação.

A raça Akita, já valorizada no Japão por sua coragem e lealdade, ganhou ainda mais destaque com a história de Hachiko. Considerada um tesouro nacional, a exportação de Akitas foi restrita, e o governo japonês oferece suporte para proprietários que enfrentam dificuldades em cuidar de seus cães, garantindo a preservação da raça.

Hachiko no Cinema e na Cultura Global

A história de Hachiko inspirou produções cinematográficas que levaram sua mensagem a um público global. Em 1987, o filme japonês Hachiko Monogatari (O Conto de Hachiko) narrou sua trajetória com sensibilidade, conquistando o público japonês.

Em 2009, a refilmagem americana Hachi: A Dog’s Story (no Brasil, Sempre ao Seu Lado), estrelada por Richard Gere, apresentou a história a uma audiência internacional, reforçando a universalidade do amor entre humanos e seus animais de estimação.

Hachiko também inspirou livros, documentários e até referências em animações e séries. Sua história é frequentemente citada em discussões sobre lealdade e vínculo emocional, servindo como um lembrete do impacto que um animal pode ter na vida das pessoas.

O Significado de Hachiko Hoje

Mais do que um cão, Hachiko é um símbolo de amor, perseverança e memória. Sua história ressoa em um mundo onde a lealdade e a conexão genuína são valores cada vez mais apreciados.

Em Shibuya, a estátua de Hachiko permanece como um ponto de encontro, não apenas para turistas, mas para todos que buscam inspiração em sua devoção. Ele nos ensina que o amor verdadeiro transcende o tempo, a distância e até mesmo a morte.

Hachiko não é apenas uma história japonesa - é uma história humana, que continua a emocionar e unir pessoas ao redor do mundo, lembrando-nos do poder dos laços que criamos com aqueles que amamos.


.

0 Comentários: