Os Experimentos de Josef Mengele em Auschwitz: Um Retrato de Crueldade Pseudocientífica
Josef
Mengele, conhecido como o "Anjo da Morte", utilizou o campo de
concentração de Auschwitz-Birkenau como um laboratório macabro para suas
pesquisas antropológicas e estudos sobre hereditariedade.
Aproveitando-se
da autoridade conferida pelo regime nazista, Mengele conduziu experimentos
desumanos em prisioneiros, sem qualquer consideração pela saúde, segurança ou
dignidade das vítimas.
Seu
trabalho foi financiado criminosamente pela Deutsche Forschungsgemeinschaft
(Fundação Alemã de Pesquisa), por meio de uma solicitação de seu mentor, Otmar
von Verschuer, um renomado geneticista nazista.
Mengele
enviava relatórios regulares e espécimes humanos, como olhos e ossos, para
Verschuer, que utilizava os resultados em suas pesquisas sobre a
"superioridade racial" ariana.
Esse
financiamento possibilitou a construção de um laboratório de patologia
conectado ao Crematório II em Auschwitz II-Birkenau, onde o patologista
judeu-húngaro Dr. Miklós Nyiszli, prisioneiro em Auschwitz a partir de 29 de
maio de 1944, foi forçado a realizar dissecções e preparar amostras para
análises.
Foco em Gêmeos e Outras Vítimas
Mengele
tinha um interesse particular em gêmeos idênticos, pessoas com heterocromia
iridum (olhos de cores diferentes), anões e indivíduos com anomalias físicas.
Seus
experimentos com gêmeos tinham como objetivo principal reforçar a ideologia
nazista da supremacia da raça ariana, tentando provar a predominância da
hereditariedade sobre fatores ambientais.
Além
disso, há indícios de que Mengele buscava formas de aumentar a taxa de
natalidade de gêmeos entre populações consideradas "racialmente
desejáveis" pelos nazistas, com o intuito de acelerar a reprodução da
"raça superior".
Os
prisioneiros selecionados para seus experimentos, especialmente gêmeos,
recebiam tratamento diferenciado em comparação com outros no campo. Eram melhor
alimentados, abrigados em condições menos precárias e, temporariamente,
poupados das câmaras de gás.
Mengele
criou até mesmo um jardim de infância em Auschwitz para as crianças sujeitas
aos seus experimentos, incluindo gêmeos e crianças ciganas com menos de seis
anos.
Esse
espaço oferecia melhores condições de alimentação e moradia, além de um
playground, criando uma fachada de cuidado. Mengele se apresentava às crianças
como "Tio Mengele", oferecendo doces e demonstrando uma falsa
gentileza.
No
entanto, essa aparente bondade contrastava brutalmente com sua crueldade. Ele
era diretamente responsável pela morte de inúmeras vítimas, seja por injeções
letais, fuzilamentos, espancamentos ou experimentos que culminavam em
sofrimento e morte.
A Natureza dos Experimentos
Os
experimentos de Mengele eram marcados por uma brutalidade extrema e pela total
ausência de ética. Gêmeos eram submetidos a medições semanais de atributos
físicos, realizadas por Mengele ou seus assistentes. Esses procedimentos
incluíam:
Amputações
desnecessárias: Membros eram removidos sem justificativa médica, muitas vezes
levando à morte das vítimas.
Infecções
intencionais: Um gêmeo era deliberadamente infectado com doenças como tifo,
enquanto o outro servia como controle, para comparar os efeitos.
Transfusões
de sangue: Mengele realizava transfusões entre gêmeos, frequentemente com
resultados fatais devido à incompatibilidade ou infecções.
Injeções
químicas nos olhos: Tentativas de alterar a cor dos olhos de prisioneiros com
heterocromia ou outros traços envolviam a injeção de substâncias químicas
diretamente nos olhos, causando dor intensa, cegueira ou morte.
Assassinatos
para autópsias comparativas: Quando um gêmeo morria, Mengele frequentemente
matava o outro, muitas vezes com uma injeção de clorofórmio no coração, para realizar
dissecções comparativas. Em uma ocasião relatada por Nyiszli, Mengele
assassinou 14 gêmeos em uma única noite.
Além
dos gêmeos, Mengele conduzia experimentos com anões e pessoas com deformidades
físicas, submetendo-os a medições exaustivas, extrações de sangue, retirada de
dentes saudáveis, administração de drogas desnecessárias e exposição a raios X.
Após
cerca de duas semanas, muitas dessas vítimas eram enviadas às câmaras de gás, e
seus esqueletos eram remetidos a Berlim para estudos adicionais no Instituto
Kaiser Wilhelm de Antropologia.
Mulheres
grávidas também eram alvos de Mengele. Ele realizava experimentos cruéis, como
testes invasivos, antes de enviá-las para as câmaras de gás.
Um dos
casos mais chocantes relatados pela testemunha Vera Alexander envolveu a
tentativa de Mengele de criar gêmeos xifópagos (unidos pelo corpo) ao costurar
dois gêmeos ciganos pelas costas. As crianças sofreram dores excruciantes e
morreram de gangrena dias depois.
A Personalidade de Mengele
O
médico e sobrevivente de Auschwitz, Dr. Miklós Nyiszli, descreveu Mengele como
uma figura paradoxal: capaz de demonstrar gentileza com as crianças,
conquistando sua confiança com doces e atenção, enquanto, ao mesmo tempo,
ordenava sua morte sem hesitação.
Um
ex-prisioneiro médico relatou: “Ele era capaz de ser tão gentil com as
crianças, de fazer com que elas se apaixonassem por ele, de lhes trazer açúcar,
de pensar em pequenos detalhes de suas vidas diárias e de fazer coisas que
realmente admiramos... E então, ao lado... a fumaça dos crematórios, e essas
crianças, amanhã ou em meia hora, iriam ser mandadas para lá. Bem, aí estava a
anomalia.”
Mengele
era profundamente antissemita, sádico e desprovido de empatia, acreditando
firmemente na ideologia nazista que classificava os judeus como uma "raça
inferior e perigosa" a ser eliminada.
Seu
filho, Rolf Mengele, afirmou que o pai nunca demonstrou remorso por suas ações
durante a guerra, mantendo sua convicção até o fim da vida.
Contexto e Legado
Os
experimentos de Mengele não tinham qualquer rigor científico e eram, na
verdade, uma expressão de sua obsessão pela ideologia nazista, disfarçada de
ciência. Eles não produziram avanços médicos significativos, mas causaram
sofrimento indizível e a morte de milhares de pessoas.
Após a
guerra, Mengele fugiu para a América do Sul, vivendo sob identidades falsas até
sua morte em 1979, no Brasil, sem nunca ter enfrentado a justiça por seus
crimes.
O
horror de suas ações permanece como um dos capítulos mais sombrios do
Holocausto, servindo como um lembrete da capacidade humana para a crueldade
quando a ideologia supera a ética e a humanidade.
As
memórias dos sobreviventes, como as de Nyiszli e Vera Alexander, são
testemunhos cruciais para garantir que tais atrocidades nunca sejam esquecidas.