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terça-feira, junho 25, 2024

As Massas


 

As Ilusões das Multidões e o Totalitarismo Moderno

As massas nunca tiveram verdadeira sede pela verdade. Elas tendem a se afastar de evidências que desafiam suas preferências, abraçando erros que as seduzem. Quem oferece ilusões torna-se facilmente seu mestre; quem tenta desmantelá-las, frequentemente, acaba sendo sua vítima.

Essa observação, atribuída ao psicólogo social francês Gustave Le Bon, permanece assustadoramente atual. Em seu livro A Multidão: Um Estudo da Mente Popular (1895), Le Bon mergulha nas dinâmicas das multidões, revelando como, em grupo, os indivíduos abrem mão da deliberação consciente, cedendo a impulsos coletivos irracionais.

Ele descreve as multidões como suscetíveis a manipulações emocionais, guiadas mais por sentimentos do que pela razão. Seguindo essa linha, o psicanalista Carl Jung alertou:

“Não são a fome, os terremotos, os micróbios ou o câncer, mas o próprio homem que representa o maior perigo para si mesmo, pela simples razão de que não há proteção eficaz contra epidemias psíquicas, que são infinitamente mais devastadoras do que as piores catástrofes naturais.”

Hoje, vivemos um cenário em que essas “epidemias psíquicas” encontram terreno fértil. O que diferencia o totalitarismo moderno dos regimes totalitários do passado?

A resposta está em uma única palavra: tecnologia. Nunca antes os meios de manipular o pensamento e incitar o medo foram tão sofisticados e onipresentes. Televisão, internet, smartphones e redes sociais tornaram-se as principais fontes de informação, mas também ferramentas poderosas de controle.

Durante a recente pandemia, por exemplo, vimos como narrativas cuidadosamente construídas por jornalistas, políticos e influenciadores digitais muitas vezes superaram a voz de médicos e cientistas.

A manipulação da informação em questões de saúde pública amplificou o medo e a desinformação, enquanto algoritmos decidiam o que chegava aos olhos e ouvidos do público.

Esses algoritmos, projetados para maximizar engajamento, filtram conteúdos com base em preferências prévias, criando câmaras de eco que reforçam crenças e eliminam vozes dissonantes.

Como resultado, a razão e o pensamento crítico são frequentemente substituídos por narrativas de pânico ou polarização. O psicanalista Joost A.M. Meerloo, em seu livro The Rape of the Mind (1956), foi categórico:

“Quem controla as palavras e frases que usamos, quem domina a imprensa, o rádio - e, hoje, a internet - domina a mente.” Ele descreve como a sobrecarga de estímulos, sem espaço para reflexão ou diálogo genuíno, torna as pessoas mais suscetíveis a manipulações.

A tela do smartphone, com suas respostas prontas e narrativas simplistas, substitui o questionamento profundo, enquanto a confusão gerada por esse bombardeio informacional aumenta a vulnerabilidade a ilusões totalitárias.

Os acontecimentos recentes reforçam essa ideia. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, vimos como governos e plataformas de mídia controlaram narrativas sobre vacinas, lockdowns e tratamentos, muitas vezes censurando debates legítimos.

Em 2023, relatórios revelaram que grandes empresas de tecnologia colaboraram com governos para suprimir conteúdos que questionavam políticas oficiais, sob o pretexto de combater “desinformação”.

Essa prática, conhecida como banimento de sombra ou censura velada, limitou o acesso a perspectivas alternativas, mesmo quando provenientes de cientistas renomados.

Além disso, eventos como protestos contra medidas restritivas em diversos países - como os caminhoneiros no Canadá em 2022 ou manifestações na Europa - foram frequentemente retratados de forma distorcida, com manifestantes sendo rotulados como extremistas, enquanto suas motivações eram silenciadas.

O totalitarismo moderno não precisa de campos de concentração ou violência explícita para se impor; ele opera de forma sutil, moldando percepções por meio de algoritmos, censura e narrativas repetitivas.

A inteligência artificial, que deveria ser uma ferramenta de emancipação, é usada para reforçar vieses, filtrando informações e limitando o horizonte intelectual.

Quanto mais “lixo” informacional você consome - sejam notícias sensacionalistas, conteúdos polarizados ou entretenimento vazio -, mais os algoritmos te oferecerão o mesmo, aprisionando você em uma bolha de desinformação. Diante disso, a resistência está na vigilância pessoal.

Escolha cuidadosamente o que você lê, ouve e assiste. Questione as narrativas dominantes, busque fontes primárias e cultive o hábito da reflexão.

A liberdade de pensamento é a última barreira contra o totalitarismo moderno, que não apenas vigia, mas molda a própria realidade percebida. Vigie a si mesmo para não ser manipulado.

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