Um
célebre poeta polaco, em versos que parecem dançar com o vento, descreveu uma
floresta encantada de sua terra natal. Imaginou que as aves e os animais ali
nascidos, quando sentiam o sopro final da vida, voavam ou corriam, mesmo de
terras longínquas, para expirar à sombra das árvores do imenso bosque onde
vieram ao mundo.
Não há
imagem mais delicada e profunda para expressar o amor pela terra natal, esse
laço invisível que nos prende ao lugar onde nossas raízes primeiro se firmaram.
Todos
nós carregamos um pedaço de terra no coração. Nossa origem é mais que um ponto
no mapa; é o alicerce da nossa história, o palco dos primeiros sonhos, o eco
das vozes que nos embalaram.
Um
coração sem amor pela terra natal é como um campo seco, onde espinhos crescem
em abundância, mas nenhuma flor desabrocha para suavizar sua aridez.
Poderia
existir, porventura, alguém com a alma tão endurecida, tão desprovida de
sentimento, que não sentisse pulsar em si o amor pelo lugar onde nasceu?
Depois
dos pais, que acolhem nosso primeiro grito, é o solo pátrio que recebe nossos
primeiros passos. Esse duplo acolhimento - dos braços maternos e da terra firme
- cria um vínculo eterno, um dar e receber que molda quem somos.
Entre
todos os cantos do mundo, o coração sempre distingue, com uma ternura singular,
o torrão onde a vida começou. Seja ele humilde, esquecido, castigado pelo tempo
ou pelas intempéries, esse pedaço de chão permanece sagrado.
É amado
não por sua grandeza, mas por ser nosso. E assim, em meus pensamentos, sempre
clamo: Ó Vida! Se já me mostraste a última página do livro da existência, não
me negues o direito de um dia repousar em minha terra natal.
Itaitinga,
minha cidade, é mais que um nome ou um lugar. É o berço onde nasci, onde
aqueles que mais amei também vieram ao mundo. Em seu seio, repousam sepulturas
queridas, guardiãs de memórias que o tempo não apaga.
Suas
ruas simples, suas manhãs cantantes, o aroma da terra molhada após a chuva, as
vozes que ecoam nos quintais e nas praças - tudo isso vive em mim, mesmo quando
a vida me levou por caminhos distantes. Carreguei Itaitinga no coração, como um
talismã que me lembrava de quem sou.
Lembro-me
das festas juninas que incendiavam a cidade com risos e fogueiras, das crianças
correndo pelos campos, dos sinos da igreja chamando para a missa ao entardecer.
Recordo
as histórias contadas pelos mais velhos, narrativas de lutas e esperanças, de
safras fartas e de anos difíceis, todas entrelaçadas com o orgulho de pertencer
a essa terra.
Itaitinga
não é apenas o chão que pisei; é o espelho da minha alma, o reflexo da minha
identidade. Cada árvore, cada rio, cada esquina guarda um pedaço de mim.
Por
isso, ela me é tão cara. Porque seus campos me ofereceram abrigo na infância,
porque seus lares ainda guardam amigos leais, porque desejo, na minha velhice,
encontrar repouso sob suas sombras. E, quando chegar a hora, que meu último
leito seja em seu cemitério, onde poderei dormir o sono eterno junto aos que me
precederam.
Se o
destino, porém, não me permitir retornar, que meu último suspiro seja um sopro
de gratidão por tudo o que Itaitinga me deu. Que o vento, como as aves do poeta
polaco, leve esse suspiro até seus campos, para que, em espírito, eu possa
descansar entre suas árvores e suas memórias.
Itaitinga
é também um testemunho vivo de transformação. Nos últimos anos, vi a cidade
crescer, acolher novos rostos, construir novas histórias. Mas, mesmo com o
progresso, ela conserva sua essência: a simplicidade de um povo que valoriza
suas raízes, a força de uma comunidade que se une nos momentos de festa e de
dificuldade.
Esses acontecimentos
reforçam o que sempre soube: a terra natal não é apenas um lugar, mas um
sentimento de pertencimento que nos sustenta. Por todos esses laços - da vida,
da morte, da memória e da esperança -, Itaitinga permanecerá eternamente
gravada em mim.
Ela é o
começo e o fim, o ponto de partida e o destino final. E, como as aves do bosque
polaco, meu coração sempre encontrará o caminho de volta para casa.
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