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sábado, agosto 31, 2024

Gloria, a Mulher - Um Filme de Drama


 

Gloria, a Mulher - Um Filme de Drama e Suspense

Gloria, a Mulher (título original: Gloria) é um filme norte-americano de 1999, dos gêneros drama, suspense e crime, com duração de 108 minutos. Dirigido pelo renomado Sidney Lumet, o longa é uma refilmagem do clássico de 1980 de John Cassavetes.

O elenco principal é composto por Sharon Stone (Gloria Swenson), Jeremy Northam (Kevin), George C. Scott (Ruby), Jean-Luke Figueroa (Nicky), Mike Starr (Sean) e Sarita Choudhury (Ângela), com participações de Bonnie Bedelia e Cathy Moriarty.

Apesar da direção competente e do elenco estelar, o filme não alcançou o mesmo impacto da obra original, recebendo críticas mistas e desempenho fraco nas bilheterias.

Enredo

Gloria Swenson é uma mulher experiente nas ruas de Nova York, acostumada a viver de pequenos golpes e imersa no submundo do crime como ex-namorada de Kevin, um gângster.

Após cumprir três anos de prisão para proteger Kevin, ela retorna à cidade em busca da recompensa prometida, mas é recebida com desprezo e traição. Em meio a esse confronto, Gloria se depara com Nicky, um menino de sete anos cuja família foi brutalmente assassinada pela máfia por ordem de Kevin.

O motivo? O pai de Nicky, contador da organização, criou um disquete contendo informações comprometedoras sobre as atividades criminosas da gangue.

Relutante no início, Gloria decide proteger Nicky, que carrega o disquete, tornando-se alvo tanto da máfia quanto da polícia, que a considera suspeita de sequestro.

A dupla foge pelas ruas de Nova York, enfrentando perseguições, tiroteios e momentos de tensão. Apesar de sua fachada durona e da declaração inicial de que “não gosta de crianças”, Gloria desenvolve uma relação complexa com Nicky, marcada por afeto, cumplicidade e conflitos.

O menino, órfão e precoce, desafia Gloria com sua inteligência e teimosia, enquanto ela arrisca tudo para mantê-lo vivo. Ao longo da jornada, Gloria enfrenta dilemas morais: entregar o disquete à máfia para salvar a própria pele ou continuar protegendo Nicky, mesmo sabendo que ele pode ser uma ameaça constante devido ao que sabe.

Em um desfecho emocionante, Gloria deixa Nicky em uma instituição religiosa que cuida de crianças órfãs, planejando partir sem se despedir. No entanto, incapaz de abandonar o menino com quem criou um vínculo, ela retorna, leva-o consigo e decide assumir sua proteção, sugerindo um novo começo para ambos.

Contexto e Produção

Gloria, a Mulher é uma reimaginação do filme Gloria (1980), escrito e dirigido por John Cassavetes, que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e uma indicação ao Oscar para Gena Rowlands, intérprete da protagonista.

A versão de 1999, com roteiro de Steve Antin, buscava modernizar a história, mas enfrentou desafios para replicar a intensidade emocional e o estilo cru do original. Sidney Lumet, conhecido por clássicos como Um Dia de Cão (1975) e Rede de Intrigas (1976), trouxe sua experiência em retratar a Nova York urbana e personagens complexos, mas o filme foi criticado por carecer da autenticidade e da química entre os protagonistas que marcaram a obra de Cassavetes.

A escolha de Sharon Stone para o papel principal veio após seu sucesso em filmes como Instinto Selvagem (1992), mas sua interpretação foi alvo de críticas, com muitos apontando que ela não alcançou a profundidade de Gena Rowlands. Jean-Luke Figueroa, com apenas seis anos, enfrentou um papel desafiador como Nicky, mas sua atuação foi considerada irregular, em parte devido à inexperiência.

George C. Scott, em seu último papel no cinema, trouxe peso à figura do chefe da máfia, mas seu tempo de tela foi limitado. A produção, iniciada em setembro de 1997, teve um orçamento de US$ 30 milhões, mas arrecadou apenas US$ 4,9 milhões mundialmente, sendo um fracasso comercial.

Temas e Relevância

O filme explora temas como redenção, maternidade não convencional e o peso das escolhas morais em um mundo violento. Gloria, inicialmente movida por interesses próprios, encontra em Nicky uma chance de reparar seu passado e descobrir uma faceta mais humana.

A relação entre os dois, marcada por atritos e momentos de ternura, reflete a ideia de que laços familiares podem surgir em circunstâncias improváveis. O longa também retrata a Nova York dos anos 1990 como um cenário de contrastes, com sua energia vibrante e perigos à espreita, embora alguns críticos tenham notado que o filme carece do senso de lugar tão marcante no original.

Apesar de suas falhas, Gloria, a Mulher oferece momentos de suspense eficazes, como perseguições de carro e confrontos com a máfia, além de uma trilha sonora envolvente composta por Howard Shore.

A atuação de Sharon Stone, embora criticada, tem defensores que destacam sua entrega em cenas de ação e nos momentos de vulnerabilidade. Lawrence Van Gelder, do The New York Times, elogiou o filme como “mais suave, engraçado e suspenseful” que o original, considerando a performance de Stone um destaque.

Recepção e Legado

No agregador de críticas Rotten Tomatoes, Gloria, a Mulher tem apenas 14% de aprovação com base em 29 resenhas, com uma nota média de 4,2/10, refletindo a percepção de que o filme não honrou o legado de Cassavetes.

Críticos como Owen Gleiberman (Entertainment Weekly) e Peter Travers (Rolling Stone) classificaram-no como uma “má ideia” e um dos piores filmes de 1999, destacando a falta de conexão emocional entre Stone e Figueroa.

Stephen Hunter (The Washington Post) criticou a atuação de Stone, comparando-a desfavoravelmente a “velociraptors animatrônicos”. Por outro lado, alguns espectadores apreciaram o filme como entretenimento leve, valorizando as sequências de ação e a tentativa de atualizar a história.

O filme também rendeu a Sharon Stone uma indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Atriz, refletindo o tom negativo da recepção. Comparado ao original, que mantém 91% de aprovação no Rotten Tomatoes e é elogiado pela direção visceral de Cassavetes e pela atuação icônica de Rowlands, a refilmagem de 1999 ficou à sombra de seu antecessor.

Curiosidades e Acontecimentos

Inspiração e Remakes: A história de Gloria influenciou outros filmes, como Léon: O Profissional (1994), de Luc Besson, e Julia (2008), de Erick Zonca. Após 1999, novas tentativas de remake surgiram, incluindo um projeto de Paul Schrader com Lindsay Lohan em 2013, que não se concretizou, e Proud Mary (2018), com Taraji P. Henson, uma adaptação mais livre.

Mudanças na Direção: Scott Kalvert foi inicialmente escalado para dirigir, mas abandonou o projeto, sendo substituído por Lumet em julho de 1997.

Contexto Histórico: O filme reflete a Nova York do final dos anos 1990, uma cidade em transição após décadas de alta criminalidade. A máfia, embora ainda presente, estava em declínio devido à repressão policial, o que dá ao enredo um tom nostálgico dos clássicos de gângsteres.

Participação de George C. Scott: Sua atuação como Ruby, o chefe da máfia, foi seu último trabalho no cinema antes de sua morte em 1999, marcando o fim de uma carreira lendária.

Conclusão

Gloria, a Mulher é um filme que, apesar de suas ambições e do talento envolvido, não conseguiu recapturar a magia do original de 1980. A direção de Sidney Lumet e o carisma de Sharon Stone oferecem momentos de entretenimento, mas a falta de profundidade emocional e a química limitada entre os protagonistas impediram que o longa se destacasse.

Ainda assim, a história de Gloria e Nicky ressoa como um conto de redenção e coragem, ecoando questões universais sobre sacrifício e conexão humana. Para fãs de suspense e drama, o filme pode ser uma curiosidade interessante, especialmente quando visto em contraste com a obra-prima de Cassavetes.

sexta-feira, agosto 30, 2024

Laborioso

 

"Se um homem, movido por seu amor aos bosques, dedica metade de seu dia a caminhar por eles, contemplando sua beleza e serenidade, corre o risco de ser tachado de vadio, um inútil aos olhos da sociedade.

No entanto, se esse mesmo homem passa o dia inteiro como especulador, devastando essas florestas, cortando suas árvores e deixando a terra árida antes do tempo, é celebrado como um cidadão laborioso e empreendedor.

Como se uma cidade não tivesse qualquer interesse por suas florestas, exceto o de destruí-las para lucrar! Essa inversão de valores, que glorifica a destruição em nome do progresso, revela a miopia de uma sociedade que prioriza o ganho imediato acima da preservação daquilo que sustenta a vida."

Contexto e aprofundamento:

Henry David Thoreau escreveu Walden durante sua experiência de dois anos vivendo de forma simples em uma cabana às margens do lago Walden, em Concord, Massachusetts, entre 1845 e 1847.

Essa obra é um manifesto do transcendentalismo, movimento filosófico que valorizava a conexão espiritual com a natureza, a introspecção e a rejeição do materialismo desenfreado.

No trecho citado, Thoreau critica a mentalidade capitalista de sua época, que equiparava produtividade a exploração desenfreada dos recursos naturais, enquanto desvalorizava a contemplação e o respeito pela natureza.

Na década de 1840, os Estados Unidos viviam a expansão territorial e a Revolução Industrial, marcadas pela intensificação do desmatamento, da urbanização e da exploração de terras para agricultura e indústria.

Florestas inteiras eram derrubadas para dar lugar a fazendas, ferrovias e cidades, muitas vezes sem consideração pelos impactos ambientais ou culturais. Povos indígenas, que viviam em harmonia com a terra, eram deslocados à força, e ecossistemas eram destruídos em nome do "progresso".

Thoreau, com sua visão crítica, questionava essa lógica que endeusava o trabalho exploratório e marginalizava aqueles que escolhiam viver de forma mais simples e conectada à natureza.

Além disso, o trecho reflete a tensão entre o indivíduo e a sociedade. Thoreau via a contemplação da natureza como uma forma de enriquecimento espiritual e intelectual, mas a sociedade de sua época - e, em muitos aspectos, a de hoje - valorizava apenas o trabalho que gerava lucro imediato.

Ele desafiava a noção de que o "laborioso" era aquele que destruía, enquanto o "vadio" era aquele que preservava e apreciava.

Relevância contemporânea:

A crítica de Thoreau permanece em 2025. Hoje, enfrentamos crises ambientais globais, como o desmatamento da Amazônia, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. A lógica que Thoreau criticava - a exploração desenfreada da natureza em nome do lucro - ainda domina muitas práticas econômicas.

Megacorporações continuam a devastar florestas para agricultura, mineração e infraestrutura, enquanto ativistas e comunidades que defendem a preservação são frequentemente marginalizados ou criminalizados.

Por exemplo, na Amazônia brasileira, o desmatamento atingiu níveis alarmantes nas últimas décadas, com cerca de 20% da floresta já destruída até 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Essa devastação, muitas vezes impulsionada por interesses econômicos de curto prazo, como a expansão do agronegócio, ecoa a crítica de Thoreau sobre a glorificação do "laborioso" que destrói a terra.

Além disso, a crise climática, com eventos extremos como ondas de calor, secas e inundações, reforça a urgência de repensarmos nossa relação com a natureza.

Thoreau também nos convida a refletir sobre o valor do tempo. Em um mundo acelerado, onde a produtividade é medida por resultados tangíveis, dedicar tempo à contemplação da natureza pode parecer um luxo ou até uma perda de tempo.

No entanto, estudos modernos, como os da psicologia ambiental, mostram que o contato com a natureza reduz o estresse, melhora a saúde mental e inspira soluções criativas para problemas complexos - algo que Thoreau intuía há quase dois séculos.

Conclusão:

O texto de Thoreau é um convite à reflexão sobre nossos valores e prioridades. Ele nos desafia a questionar o que significa ser "laborioso" e a reconhecer o valor intrínseco da natureza, não apenas como recurso a ser explorado, mas como fonte de vida, inspiração e equilíbrio.

Em 2025, suas palavras ressoam como um chamado à ação: proteger as florestas remanescentes, valorizar a contemplação e repensar o progresso para que ele seja sustentável e respeitoso com o planeta.

Afinal, como Thoreau sugere, uma sociedade que só enxerga valor na destruição está fadada a perder o que há de mais essencial.

Sumidouro de Kizoer


 

Kızören Sinkhole: O Maior Sumidouro da Turquia e Sua Relevância Histórica e Natural

O Kızören Sinkhole, também conhecido como Kızören Obruk ou Lago Kızören, é um impressionante sumidouro que abriga um lago cársico localizado próximo à cidade de Konya, na histórica vilayet de Konya, no coração da Turquia.

Situado nas vastas estepes da Anatólia Central, a aproximadamente 65 km a nordeste de Konya, esse fenômeno geológico é uma das características mais marcantes da paisagem cárstica da região.

Formação Geológica e Características

Em turco, a palavra obruk designa uma depressão vertical ou poço formado em paisagens cársticas por processos de carstificação. Esse processo ocorre em duas direções: para baixo, com a infiltração de água da superfície através de fissuras e juntas no solo, e para cima, com a evaporação de água de cavidades subterrâneas em direção à superfície.

Os obruks são feições geológicas raras, sendo os lagos cársticos associados a eles encontrados exclusivamente na região de Konya, na Turquia. O Kızören Obruk possui dimensões notáveis: aproximadamente 180 metros de comprimento, 150 metros de largura e até 145 metros de profundidade.

Situado a uma altitude de 1.030 metros, o lago formado no sumidouro é a única fonte de água doce disponível para consumo humano nas proximidades, desempenhando um papel vital para a comunidade local.

Durante muito tempo, acreditava-se que as águas do lago eram estagnadas, mas estudos recentes revelaram que há um fluxo lento e subterrâneo conectando o Kızören Obruk a outros corpos d’água na região.

Para atender às necessidades da população, o Instituto Estatal de Águas da Turquia (DSI) instalou uma bomba no obruk para extrair água potável.

Contexto Histórico e Cultural

A região de Konya é habitada há milênios, com evidências de ocupação humana que remontam a pelo menos 7.500 a.C. Um dos sítios arqueológicos mais significativos da área é Çatalhöyük, localizado a cerca de 50 km a sudeste de Konya.

Considerado um dos maiores e mais antigos assentamentos neolíticos do mundo, Çatalhöyük é famoso por ser um dos primeiros locais onde a agricultura foi praticada.

Apesar de apenas parcialmente escavado, o sítio cobre uma área de 15 acres e revela um planejamento urbano sofisticado, com casas densamente agrupadas, arte mural vibrante e estruturas cerimoniais que indicam uma sociedade complexa.

Mais próximo ao Kızören Obruk, a atividade humana documentada remonta à época do Império Seljúcida (séculos XI a XIII). Por ser a única fonte de água em uma região árida, o lago deu origem à vila de Obruk, situada em suas proximidades.

A importância estratégica do local é evidenciada pelas ruínas do Obruk Han, um caravançarai (pousada para viajantes) localizado a apenas 30 metros do lago. Construído provavelmente entre 1245 e 1250 d.C., durante o período bizantino ou o início do domínio seljúcida, o Obruk Han permaneceu em uso durante o Império Otomano.

Suas dimensões impressionantes refletem a relevância do local como ponto de parada na Rota da Seda, uma das principais vias comerciais que conectavam o Oriente ao Ocidente.

Importância Ambiental e Turismo

O Kızören Obruk é reconhecido como um sítio Ramsar, uma designação internacional que destaca sua importância como área úmida de relevância ecológica global.

Além de sua função como reservatório de água doce, o sumidouro abriga um ecossistema único, com flora e fauna adaptadas às condições cársticas. A combinação de sua beleza natural, profundidade impressionante e história rica atrai turistas nacionais e internacionais, consolidando-o como o maior sumidouro da Turquia e uma atração turística em ascensão.

Nos últimos anos, o Kızören Obruk também tem chamado a atenção devido a preocupações ambientais. A formação de novos obruks na região de Konya tem aumentado, um fenômeno atribuído a fatores como a extração excessiva de água subterrânea para agricultura e as mudanças climáticas, que reduzem a recarga natural dos aquíferos.

Embora o Kızören Obruk seja um exemplo estável e antigo, esses novos sumidouros representam riscos para a infraestrutura e a agricultura local, levantando debates sobre a gestão sustentável dos recursos hídricos na Anatólia Central.

Curiosidades e Perspectivas Futuras

Além de seu valor geológico e histórico, o Kızören Obruk é envolto em lendas locais. Algumas histórias populares atribuem ao lago propriedades místicas, como a crença de que suas águas possuem qualidades curativas.

Essas narrativas, embora não comprovadas cientificamente, reforçam o fascínio cultural pelo local. Para o futuro, o Kızören Obruk deve continuar a ser um ponto focal para estudos geológicos e arqueológicos, bem como para iniciativas de conservação ambiental.

Projetos de turismo sustentável estão sendo discutidos para promover o local sem comprometer sua integridade ecológica. Além disso, esforços para monitorar a formação de novos obruks na região podem ajudar a mitigar os impactos das mudanças ambientais, garantindo que o Kızören Obruk permaneça um tesouro natural e cultural para as gerações futuras.

quinta-feira, agosto 29, 2024

Farkhunda Malikzada


 

Em 19 de março de 2015, Farkhunda Malikzada, uma mulher afegã de 27 anos, foi brutalmente linchada por uma multidão enfurecida nas ruas de Cabul, capital do Afeganistão.

Conhecida simplesmente como Farkhunda, ela foi acusada falsamente de queimar o Alcorão, o livro sagrado do Islã, uma alegação que incitou uma violência desmedida e expôs as profundas tensões sociais, religiosas e de gênero no país.

O caso chocou o mundo e tornou-se um marco na luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão, destacando a fragilidade da justiça e a persistência de práticas patriarcais em uma sociedade marcada por décadas de conflito.

Farkhunda era uma muçulmana praticante e devota, que usava o véu e dedicava sua vida ao estudo da religião. Recém-formada em estudos islâmicos, ela trabalhava como professora religiosa na mesquita Shah-Do Shamshira, um dos santuários mais antigos de Cabul, e preparava-se para assumir um cargo permanente como educadora.

Seu nome, em persa, significa “auspicioso” e “júbilo”, um contraste trágico com o destino que a aguardava. Conhecida por sua inteligência e coragem, Farkhunda frequentemente desafiava práticas que considerava contrárias aos ensinamentos do Islã, o que a colocou em conflito com figuras religiosas locais.

O Incidente

O estopim do linchamento ocorreu após uma discussão entre Farkhunda e Zainuddin, um mulá que operava na mesquita Shah-Do Shamshira. Farkhunda criticou abertamente a prática de Zainuddin de vender amuletos, que ela considerava uma exploração supersticiosa dos fiéis, incompatível com os princípios islâmicos.

Em retaliação, o mulá a acusou publicamente de queimar o Alcorão, uma acusação gravíssima em um país onde a blasfêmia é vista como uma ofensa imperdoável.

Farkhunda negou veementemente, declarando: “Eu sou muçulmana, e muçulmanos não queimam o Alcorão!” Apesar de sua defesa, a acusação de Zainuddin espalhou-se rapidamente, inflamando uma multidão de homens que se reuniu no local.

Centenas de pessoas, movidas por rumores e fanatismo, cercaram Farkhunda em frente à mesquita. A polícia local chegou ao local, mas sua resposta foi ineficaz e, em alguns casos, conivente.

Inicialmente, os policiais tentaram levá-la a uma delegacia a cerca de um quilômetro de distância, mas Farkhunda recusou-se a ir sem a presença de uma policial feminina, temendo por sua segurança.

A multidão, cada vez mais agressiva, aproveitou a hesitação e arrastou-a para a rua, onde o linchamento começou. Farkhunda foi derrubada, espancada com socos e chutes, e atacada com paus e pedras.

Em uma tentativa de protegê-la, a polícia levou Farkhunda de volta à mesquita e, posteriormente, içou-a até o telhado do edifício. No entanto, a multidão, agora alimentada por rumores de que Farkhunda trabalhava para os Estados Unidos ou para a embaixada francesa, tornou-se incontrolável.

Pedras e tábuas foram atiradas contra ela, e Farkhunda, ferida e desorientada, escorregou e caiu novamente nas mãos dos agressores. O que se seguiu foi uma sequência de atos de extrema crueldade: ela foi arrastada pelas ruas, pisoteada, atropelada por um carro - que arrastou seu corpo por quase 100 metros - e, finalmente, queimada às margens do rio Cabul.

Como seu corpo, encharcado de sangue, não pegava fogo facilmente, os agressores rasgaram suas próprias roupas para alimentar as chamas. Durante o linchamento, a multidão gritava “Allahu Akbar” (Deus é grande) e slogans antiamericanos, acusando-a de traição e blasfêmia.

Testemunhas relataram que a polícia, em vez de intervir de forma decisiva, direcionou o tráfego ao redor do local, permitindo que a violência continuasse sem resistência.

Vídeos gravados por espectadores, que circularam amplamente nas redes sociais, mostraram a brutalidade do ataque e a passividade das forças de segurança, intensificando a indignação pública.

As Investigações e o Julgamento

Investigações policiais posteriores confirmaram que Farkhunda não havia queimado o Alcorão. A acusação de Zainuddin foi considerada uma retaliação pessoal, motivada pela crítica de Farkhunda às suas práticas.

O caso gerou uma onda de revolta no Afeganistão e no exterior, pressionando as autoridades a agir. Ao todo, 49 pessoas foram presas em conexão com o linchamento. O julgamento, amplamente acompanhado pela mídia, resultou nas seguintes condenações:

Três homens receberam penas de 20 anos de prisão.

Oito homens foram condenados a 16 anos.

Um menor de idade recebeu uma pena de 10 anos.

Onze policiais foram condenados a um ano de prisão por negligência, devido à sua falha em proteger Farkhunda.

Embora as condenações tenham sido vistas como um passo em direção à justiça, muitas ativistas e familiares de Farkhunda consideraram as penas leves, especialmente para os policiais, cuja inação contribuiu diretamente para sua morte.

Além disso, algumas das sentenças foram posteriormente reduzidas ou revertidas em recursos, o que alimentou críticas sobre a impunidade no sistema judicial afegão.

Contexto e Impacto

O assassinato de Farkhunda ocorreu em um momento de grande instabilidade no Afeganistão. Após a intervenção militar liderada pelos Estados Unidos em 2001, que derrubou o regime talibã, o país passava por uma transição difícil, marcada por avanços frágeis em direitos humanos e pela persistência de práticas conservadoras.

As mulheres, embora tivessem conquistado direitos como acesso à educação e participação política, continuavam enfrentando discriminação sistêmica, violência doméstica e linchamentos informais em áreas onde a justiça tribal prevalecia.

A acusação de blasfêmia, como no caso de Farkhunda, era frequentemente usada para silenciar dissidentes ou resolver disputas pessoais, especialmente contra mulheres que desafiavam normas patriarcais.

A morte de Farkhunda desencadeou protestos massivos em Cabul e outras cidades, liderados principalmente por mulheres. Milhares de pessoas, incluindo ativistas, estudantes e membros da sociedade civil, saíram às ruas exigindo justiça e o fim da violência de gênero.

Em um ato de coragem, dezenas de mulheres carregaram o caixão de Farkhunda durante seu funeral, desafiando a tradição de que apenas homens participam de cerimônias fúnebres.

Esses protestos marcaram um momento raro de mobilização pública em defesa dos direitos das mulheres, atraindo atenção internacional para as condições precárias enfrentadas por elas no Afeganistão.

Em homenagem a Farkhunda, o Partido de Solidariedade do Afeganistão, uma organização de esquerda que defende os direitos humanos, apoiou a construção de um memorial em Cabul.

O monumento tornou-se um símbolo de resistência e um lembrete da luta contínua por igualdade de gênero. Além disso, o caso levou a debates nacionais sobre a necessidade de reformas no sistema judicial, maior proteção para as mulheres e a erradicação de práticas extrajudiciais baseadas em acusações de blasfêmia.

Legado

O assassinato de Farkhunda Malikzada permanece como um dos episódios mais trágicos e emblemáticos da história recente do Afeganistão. Sua morte expôs as contradições de um país que buscava modernizar-se enquanto lidava com o peso de tradições patriarcais e extremismo religioso.

Para muitas afegãs, Farkhunda tornou-se um ícone de coragem, uma mulher que pagou o preço final por defender suas crenças e desafiar a injustiça. Com o retorno do Talibã ao poder em agosto de 2021, o legado de Farkhunda ganhou ainda mais relevância.

As conquistas em direitos das mulheres, já frágeis na época de sua morte, enfrentam retrocessos significativos sob o novo regime. O memorial em Cabul, embora ainda de pé em 2025, está sob risco em um contexto de crescente repressão.

Mesmo assim, a história de Farkhunda continua inspirando ativistas dentro e fora do Afeganistão, servindo como um chamado à ação contra a violência de gênero e a intolerância.


Madeleine D'Auvermont

 


Na França de 1637, durante o reinado de Luís XIII, uma nobre chamada Madeleine D’Auvermont tornou-se o centro de um escândalo que abalou a sociedade da época. Ela foi julgada por adultério, um crime grave que podia levar à desonra, à perda de bens e, em alguns casos, até à pena de morte.

O motivo do escândalo? Madeleine deu à luz um filho saudável, apesar de estar separada de seu marido, um influente nobre, há mais de quatro anos, enquanto ele estava fora do país em missão diplomática.

O nascimento da criança causou furor na corte e na sociedade parisiense. Naquele tempo, a linhagem e a legitimidade dos herdeiros eram questões de extrema importância, especialmente entre a nobreza, onde títulos, terras e fortunas dependiam da pureza do sangue.

O filho de Madeleine estava destinado a herdar um patrimônio substancial e um título de prestígio, o que tornava a situação ainda mais delicada. Rumores de infidelidade rapidamente se espalharam, manchando a reputação de Madeleine e ameaçando não apenas seu status social, mas também sua vida.

A sociedade francesa do século XVII, profundamente influenciada pela Igreja Católica e por rígidos códigos morais, via o adultério como uma afronta tanto à ordem social quanto à divina.

No tribunal, Madeleine apresentou uma defesa tão extraordinária quanto controversa. Ela alegou que concebera o filho por meio do poder de sua imaginação.

Segundo ela, durante as longas noites de solidão, pensava tão intensamente em seu marido, com quem compartilhava uma conexão profunda, que tinha sonhos vívidos e de natureza íntima com ele.

Esses sonhos, afirmou, foram tão poderosos que resultaram na concepção do filho, sem que ela jamais tivesse quebrado seus votos de fidelidade. A alegação, embora parecesse absurda para os padrões modernos, não era completamente implausível no contexto da época.

No século XVII, a ciência médica ainda era rudimentar, e crenças populares misturavam-se com teorias filosóficas e teológicas. A ideia de que a mente e a imaginação poderiam influenciar o corpo físico - até mesmo ao ponto de causar uma gravidez - era debatida em círculos acadêmicos e religiosos.

Para avaliar a plausibilidade dessa defesa, o tribunal convocou especialistas em medicina e teologia, figuras respeitadas que representavam o conhecimento da época. Médicos baseavam-se em teorias herdadas de Hipócrates e Galeno, que atribuíam grande poder às emoções e à mente sobre o corpo.

Teólogos, por sua vez, consideravam a possibilidade de intervenção divina ou de fenômenos sobrenaturais em casos extraordinários. Após intensos debates, os especialistas chegaram a um consenso surpreendente: era teoricamente possível que uma imaginação vívida, especialmente se acompanhada de sonhos intensos e de um estado de pureza moral, pudesse levar à concepção de uma criança.

Essa conclusão refletia a mentalidade da época, em que o limite entre o natural e o sobrenatural era tênue. O tribunal, influenciado pelo parecer dos especialistas e, possivelmente, por pressões políticas ou sociais (já que Madeleine pertencia a uma família influente), decidiu a seu favor.

O filho foi declarado legítimo e reconhecido como herdeiro de seu “pai”. A reação do marido de Madeleine, ausente durante todo o processo, permanece desconhecida.

Não há registros históricos que indiquem se ele aceitou a decisão com ceticismo, resignação ou alívio, ou se questionou a legitimidade da criança. É possível que, para preservar sua honra e a continuidade da linhagem, ele tenha optado por não contestar o veredicto.

Esse caso, embora pareça excêntrico hoje, revela muito sobre a França do século XVII. A sociedade era rigidamente hierárquica, e a reputação de uma mulher nobre era um bem frágil, facilmente destruído por acusações de imoralidade.

Ao mesmo tempo, a influência da Igreja e a incerteza científica permitiam que argumentos como o de Madeleine fossem levados a sério. O julgamento também reflete o poder das elites: a posição social de Madeleine pode ter contribuído para a decisão favorável, já que casos semelhantes envolvendo pessoas comuns frequentemente terminavam em punições severas.

O entanto, o sistema judicial da época, especialmente em casos envolvendo a nobreza, era composto por tribunais regionais, como os parlamentes, que julgavam casos de grande relevância social e política.

Esses tribunais, embora não centralizados como o STF (Supremo Tribunal Federal) moderno, desempenhavam um papel importante na administração da justiça e na manutenção da ordem social.

O caso de Madeleine D’Auvermont permanece como um exemplo fascinante de como crenças, poder e contexto histórico moldavam as decisões judiciais. A história, que parece quase lendária, ilustra um tempo em que a imaginação era considerada uma força poderosa, capaz de desafiar até mesmo as leis da natureza.

Nota: A imagem mencionada, um retrato de Lucas Cranach, o Velho, não está diretamente relacionada a Madeleine, mas pode ser vista como uma representação do estilo artístico da época, que valorizava a dignidade e a virtude das figuras retratadas, qualidades que Madeleine certamente buscou enfatizar em sua defesa.