Gloria, a Mulher - Um Filme de Drama e Suspense
Gloria,
a Mulher (título original: Gloria) é um filme norte-americano de 1999, dos
gêneros drama, suspense e crime, com duração de 108 minutos. Dirigido pelo
renomado Sidney Lumet, o longa é uma refilmagem do clássico de 1980 de John
Cassavetes.
O
elenco principal é composto por Sharon Stone (Gloria Swenson), Jeremy Northam
(Kevin), George C. Scott (Ruby), Jean-Luke Figueroa (Nicky), Mike Starr (Sean)
e Sarita Choudhury (Ângela), com participações de Bonnie Bedelia e Cathy
Moriarty.
Apesar
da direção competente e do elenco estelar, o filme não alcançou o mesmo impacto
da obra original, recebendo críticas mistas e desempenho fraco nas bilheterias.
Enredo
Gloria
Swenson é uma mulher experiente nas ruas de Nova York, acostumada a viver de
pequenos golpes e imersa no submundo do crime como ex-namorada de Kevin, um
gângster.
Após
cumprir três anos de prisão para proteger Kevin, ela retorna à cidade em busca
da recompensa prometida, mas é recebida com desprezo e traição. Em meio a esse
confronto, Gloria se depara com Nicky, um menino de sete anos cuja família foi
brutalmente assassinada pela máfia por ordem de Kevin.
O
motivo? O pai de Nicky, contador da organização, criou um disquete contendo
informações comprometedoras sobre as atividades criminosas da gangue.
Relutante
no início, Gloria decide proteger Nicky, que carrega o disquete, tornando-se alvo
tanto da máfia quanto da polícia, que a considera suspeita de sequestro.
A dupla
foge pelas ruas de Nova York, enfrentando perseguições, tiroteios e momentos de
tensão. Apesar de sua fachada durona e da declaração inicial de que “não gosta
de crianças”, Gloria desenvolve uma relação complexa com Nicky, marcada por
afeto, cumplicidade e conflitos.
O
menino, órfão e precoce, desafia Gloria com sua inteligência e teimosia,
enquanto ela arrisca tudo para mantê-lo vivo. Ao longo da jornada, Gloria
enfrenta dilemas morais: entregar o disquete à máfia para salvar a própria pele
ou continuar protegendo Nicky, mesmo sabendo que ele pode ser uma ameaça
constante devido ao que sabe.
Em um
desfecho emocionante, Gloria deixa Nicky em uma instituição religiosa que cuida
de crianças órfãs, planejando partir sem se despedir. No entanto, incapaz de
abandonar o menino com quem criou um vínculo, ela retorna, leva-o consigo e
decide assumir sua proteção, sugerindo um novo começo para ambos.
Contexto e Produção
Gloria,
a Mulher é uma reimaginação do filme Gloria (1980), escrito e dirigido por John
Cassavetes, que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e uma indicação
ao Oscar para Gena Rowlands, intérprete da protagonista.
A
versão de 1999, com roteiro de Steve Antin, buscava modernizar a história, mas
enfrentou desafios para replicar a intensidade emocional e o estilo cru do
original. Sidney Lumet, conhecido por clássicos como Um Dia de Cão (1975) e
Rede de Intrigas (1976), trouxe sua experiência em retratar a Nova York urbana
e personagens complexos, mas o filme foi criticado por carecer da autenticidade
e da química entre os protagonistas que marcaram a obra de Cassavetes.
A
escolha de Sharon Stone para o papel principal veio após seu sucesso em filmes
como Instinto Selvagem (1992), mas sua interpretação foi alvo de críticas, com
muitos apontando que ela não alcançou a profundidade de Gena Rowlands.
Jean-Luke Figueroa, com apenas seis anos, enfrentou um papel desafiador como
Nicky, mas sua atuação foi considerada irregular, em parte devido à
inexperiência.
George
C. Scott, em seu último papel no cinema, trouxe peso à figura do chefe da
máfia, mas seu tempo de tela foi limitado. A produção, iniciada em setembro de
1997, teve um orçamento de US$ 30 milhões, mas arrecadou apenas US$ 4,9 milhões
mundialmente, sendo um fracasso comercial.
Temas e Relevância
O filme
explora temas como redenção, maternidade não convencional e o peso das escolhas
morais em um mundo violento. Gloria, inicialmente movida por interesses
próprios, encontra em Nicky uma chance de reparar seu passado e descobrir uma
faceta mais humana.
A
relação entre os dois, marcada por atritos e momentos de ternura, reflete a
ideia de que laços familiares podem surgir em circunstâncias improváveis. O
longa também retrata a Nova York dos anos 1990 como um cenário de contrastes,
com sua energia vibrante e perigos à espreita, embora alguns críticos tenham
notado que o filme carece do senso de lugar tão marcante no original.
Apesar
de suas falhas, Gloria, a Mulher oferece momentos de suspense eficazes, como
perseguições de carro e confrontos com a máfia, além de uma trilha sonora
envolvente composta por Howard Shore.
A
atuação de Sharon Stone, embora criticada, tem defensores que destacam sua
entrega em cenas de ação e nos momentos de vulnerabilidade. Lawrence Van Gelder,
do The New York Times, elogiou o filme como “mais suave, engraçado e
suspenseful” que o original, considerando a performance de Stone um destaque.
Recepção e Legado
No
agregador de críticas Rotten Tomatoes, Gloria, a Mulher tem apenas 14% de
aprovação com base em 29 resenhas, com uma nota média de 4,2/10, refletindo a
percepção de que o filme não honrou o legado de Cassavetes.
Críticos
como Owen Gleiberman (Entertainment Weekly) e Peter Travers (Rolling Stone)
classificaram-no como uma “má ideia” e um dos piores filmes de 1999, destacando
a falta de conexão emocional entre Stone e Figueroa.
Stephen
Hunter (The Washington Post) criticou a atuação de Stone, comparando-a
desfavoravelmente a “velociraptors animatrônicos”. Por outro lado, alguns
espectadores apreciaram o filme como entretenimento leve, valorizando as
sequências de ação e a tentativa de atualizar a história.
O filme
também rendeu a Sharon Stone uma indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Atriz,
refletindo o tom negativo da recepção. Comparado ao original, que mantém 91% de
aprovação no Rotten Tomatoes e é elogiado pela direção visceral de Cassavetes e
pela atuação icônica de Rowlands, a refilmagem de 1999 ficou à sombra de seu
antecessor.
Curiosidades e Acontecimentos
Inspiração
e Remakes: A história de Gloria influenciou outros filmes, como Léon: O
Profissional (1994), de Luc Besson, e Julia (2008), de Erick Zonca. Após 1999,
novas tentativas de remake surgiram, incluindo um projeto de Paul Schrader com
Lindsay Lohan em 2013, que não se concretizou, e Proud Mary (2018), com Taraji
P. Henson, uma adaptação mais livre.
Mudanças
na Direção: Scott Kalvert foi inicialmente escalado para dirigir, mas abandonou
o projeto, sendo substituído por Lumet em julho de 1997.
Contexto
Histórico: O filme reflete a Nova York do final dos anos 1990, uma cidade em
transição após décadas de alta criminalidade. A máfia, embora ainda presente,
estava em declínio devido à repressão policial, o que dá ao enredo um tom
nostálgico dos clássicos de gângsteres.
Participação
de George C. Scott: Sua atuação como Ruby, o chefe da máfia, foi seu último
trabalho no cinema antes de sua morte em 1999, marcando o fim de uma carreira
lendária.
Conclusão
Gloria,
a Mulher é um filme que, apesar de suas ambições e do talento envolvido, não
conseguiu recapturar a magia do original de 1980. A direção de Sidney Lumet e o
carisma de Sharon Stone oferecem momentos de entretenimento, mas a falta de
profundidade emocional e a química limitada entre os protagonistas impediram
que o longa se destacasse.
Ainda assim, a história de Gloria e Nicky ressoa como um conto de redenção e coragem, ecoando questões universais sobre sacrifício e conexão humana. Para fãs de suspense e drama, o filme pode ser uma curiosidade interessante, especialmente quando visto em contraste com a obra-prima de Cassavetes.