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quarta-feira, dezembro 03, 2025

Saudade


Saudade, palavra que não cabe em outras línguas, ferida que não sangra, mas dói o tempo todo. Tu me maltratas em silêncio, apertas o peito como mão invisível, enegreces o dia mais ensolarado, faz o sorriso parecer traição.

Como eu gostaria de te arrancar de mim como quem arranca uma página rasgada do peito, de apagar teu nome do meu sangue, de esquecer o gosto do teu beijo e o jeito como tu dizias “fica”.

Mas tu és mais forte que eu. Tu me dominas, me faz chorar no banho para ninguém ouvir, me faz procurar teu rosto em cada multidão, me faz ligar para o teu número antigo só para escutar a gravação dizendo que não existe mais.

Saudade, tu me fazes falar sozinho no carro, repetir conversas que nunca mais vão acontecer, guardar tua camiseta velha como relíquia, cheirar o travesseiro que ainda guarda teu perfume como quem cheira uma flor que já morreu.

Tu me fazes perder o sentido das coisas. O café fica sem gosto, a música só toca dor, o futuro parece um lugar onde tu não estás e, por isso, não vale a pena chegar. Hoje a saudade veio mais pesada.

Bateu na porta sem avisar, sentou na minha cama, olhou nos meus olhos e disse: “Você ainda não superou, né?” E eu confesso: não. Quero teu cheiro de novo, aquele cheiro de amor recém-acordado, de pele depois do banho, de cabelo molhado encostado no meu peito.

Quero sentir tua respiração calma no meu pescoço, teu coração batendo junto com o meu como duas músicas que só fazem sentido juntas. Quero voltar no tempo nem que seja por um segundo só para te dizer de novo “eu te amo” e ouvir tu dizeres de volta, com aquela voz rouca de quem acabou de acordar: “Eu também, viu?”

Mas o tempo não volta. E tu não voltas. Então fico aqui, com a saudade me comendo vivo, aprendendo a conviver com este vazio que tem teu nome, este buraco no peito que tem exatamente o teu formato.

Saudade. Única dor que a gente sente e, ao mesmo tempo, não quer que passe nunca. Porque, no fundo, ter saudade de ti é a única forma que me resta de ainda te ter.

Francisco Silva Sousa 

As coisas que aprendi com a sabedoria "petralha"



Se eu não sou petista, automaticamente sou bolsonarista. Não existe meio-termo, nuance, centro, liberalismo de mercado com costumes conservadores, nada. É 8 ou 80. Binário. Preto no branco. Ou você está com o Capitão ou você é comunista disfarçado de liberal.

Se eu sou bolsonarista, então sou obrigatoriamente a favor de intervenção militar com o Exército tomando o poder e o Congresso sendo fechado “só por uns tempinhos”. Qualquer outra solução é fraqueza, conivência com o sistema ou “globalismo”. Democracia é bonito só quando ganha o meu lado. Não posso me indignar com a corrupção do PT porque:

“Teve no PSDB também” (como se isso anulasse o fato de que o PT institucionalizou o maior esquema de corrupção da história da humanidade, o Petrolão, com US$ 88 bilhões desviados só na Petrobras - valor que daria para construir 17 mil hospitais de campanha ou pagar 10 anos de Bolsa Família inteiro).

“O PT não inventou a corrupção” (verdade, mas aperfeiçoou, industrializou e exportou o modelo para Venezuela, Argentina, Bolívia, a famosa “nossa América Latina” do Foro de São Paulo).

Na real, minha verdadeira indignação não é com o rombo na Petrobras, na Eletrobras, nos Correios, no BNDES. É porque o PT ousou colocar o pobre no mesmo avião que eu. Aquela tia do Bolsa Família com criança no colo sentada na poltrona do lado me dá urticária moral. Isso sim é o fim da civilização ocidental cristã. Eu não tenho estatura moral para criticar ladrão de bilhões porque:

Já fiz câmbio paralelo em 1998

Já baixei música no LimeWire

Já colei na prova de química do colégio

Já soltei um punzinho silencioso no elevador lotado do Ed. Copan

Portanto, por coerência ética, sou obrigado a achar que Lula foi apenas um “preso político” e que a Lava Jato foi “a maior operação jurídico-midiática da história”. Eu fui para a rua em 2015-2016 com panela na mão, camisa da CBF e adesivo “Intervención Ya” no carro porque:

Sou elite branca paulista/carioca/sulista

Odeio pobre, nordestino, preto, índio, gay, feminista, criança com nome composto, gente que usa camisa de microfibra, desodorante Rexona ou chinelo de dedo com meia. Meu sonho secreto é voltar para o tempo em que empregada doméstica entrava pela porta dos fundos e chamava a patroa de “sinhá”

Eu me indigno com “censura” e “ditadura do judiciário” quando o STF manda tirar post meu do ar, mas acho lindo quando o Alexandre de Moraes bloqueia conta de deputado, censura jornal, manda prender gente sem julgamento e transforma o inquérito do fim do mundo na maior piñata jurídica da história.

Aí é “defesa da democracia”. Impeachment só é golpe quando é contra governo de esquerda. Quando foi contra Collor (direita) ou contra Dilma (esquerda), aí depende: se o presidente for de esquerda, é golpe fascista; se for de direita, é “limpeza moral da nação”.

E o melhor: aprendi com os digníssimos ministros do STF que quem vai pra rua pedir qualquer coisa depois da eleição está fazendo “terceiro turno”, é “golpista”, “antidemocrático” e, pasmem, está obcecado pelo fim do financiamento privado de campanha - porque, segundo a narrativa oficial, toda corrupção do planeta acaba se o dinheiro de empresa não puder mais entrar na política (como se Cuba, Venezuela e Coreia do Norte fossem paraísos de transparência por não terem empresa privada financiando campanha).Resumindo o aprendizado de uma década:

Se o PT rouba, é “caixa 2 de campanha” e “preso político"

Se o Bolsonaro faz rachadinha, é “costume antigo da política"

Se o Lula nomeia amigo para o STF, é “prerrogativa presidencial"

Se o Bolsonaro tenta nomear amigo para o STF, é “tentativa de golpe"

E assim seguimos, em 2025, com o mesmo circo pegando fogo, só que agora com mais pipoca transgênica, mais censura “em nome da democracia” e menos vergonha na cara de todos os lados. Porque, no fim das contas, o Brasil não tem conserto: tem torcida. E eu já escolhi a minha. E você?

terça-feira, dezembro 02, 2025

Uma história para conhecer - Władysław Szpilman


 

No dia 23 de setembro de 1939, em meio ao estrondo ensurdecedor das bombas que caiam sobre Varsóvia, Władysław Szpilman sentava-se ao piano da Polskie Radio e executava o Noturno em dó menor, de Chopin. O som das explosões era tão próximo e tão violento que ele mal conseguia distinguir suas próprias notas.

Ainda assim, continuou tocando - como se a música fosse o último fio que o ligava à civilização que desmoronava ao redor. Aquela apresentação entrou para a história como a última transmissão musical ao vivo da capital polonesa antes da escuridão absoluta imposta pela guerra.

Poucas horas depois, uma bomba alemã atingiu a sede da emissora. A rádio silenciou, e com ela calou-se uma era inteira. Szpilman, no entanto, sobreviveu, enquanto o mundo que conhecia começava a desaparecer. Sua família não teve a mesma sorte: mortos ou deportados, tornaram-se vítimas do extermínio sistemático levado a cabo pelos nazistas.

O pianista, obrigado a viver no gueto de Varsóvia, viu de perto o processo lento, cruel e burocrático de desumanização: fome, frio, doenças, execuções públicas e deportações diárias.

Trabalhou como músico em cafés clandestinos, testemunhou a degradação da comunidade judaica e enfrentou o medo constante de ser levado para Treblinka. Seus dias se transformaram em uma rotina de sobrevivência, silêncio e esperança frágil.

Após escapar por pouco da deportação, Szpilman passou meses escondido em ruínas e apartamentos abandonados. A cidade queimava, os prédios desabavam, as ruas viravam labirintos de escombros.

A solidão era tão brutal quanto a guerra em si. Vivendo de restos de comida, febril, fraco, reduzido quase a uma sombra, ele continuou resistindo - pelo instinto e pela lembrança da música que carregava dentro de si.

Foi então, já no fim do conflito, que o improvável aconteceu. Em um prédio devastado, onde Szpilman mal conseguia ficar de pé, um capitão alemão, Wilm Hosenfeld, o encontrou. Em vez de denunciá-lo, pediu-lhe para tocar.

Diante de um piano destruído pelo frio e pelo abandono, Szpilman executou o mesmo noturno de Chopin que tocara anos antes no rádio. Aquela música - frágil, trêmula e ao mesmo tempo sublime - salvou sua vida. Hosenfeld passou a ajudá-lo secretamente, fornecendo comida, roupas e proteção até o fim da ocupação alemã.

Em O Pianista, Szpilman narra com precisão e sensibilidade suas experiências entre 1939 e 1945: o colapso abrupto de sua vida, o cotidiano sufocante do gueto, a fuga improvável, os esconderijos, a destruição total de Varsóvia e o inesperado gesto de humanidade vindo de um oficial inimigo.

Sua narrativa expõe com clareza a dualidade do ser humano - a crueldade impensável e a compaixão inesperada - vivida no coração de um dos períodos mais sombrios da história.

O testemunho de Szpilman é, ao mesmo tempo, um documento histórico e literário: um mergulho profundo no horror do Holocausto e na força do espírito humano diante da barbárie.

O livro inspirou o filme homônimo de Roman Polanski, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e de três Oscars - Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado - tornando-se uma das obras mais impactantes já produzidas sobre a Segunda Guerra Mundial.No dia 23 de setembro de 1939, em meio ao estrondo ensurdecedor das bombas que caiam sobre Varsóvia, Władysław Szpilman sentava-se ao piano da Polskie Radio e executava o Noturno em dó menor, de Chopin. O som das explosões era tão próximo e tão violento que ele mal conseguia distinguir suas próprias notas.

Ainda assim, continuou tocando - como se a música fosse o último fio que o ligava à civilização que desmoronava ao redor. Aquela apresentação entrou para a história como a última transmissão musical ao vivo da capital polonesa antes da escuridão absoluta imposta pela guerra.

Poucas horas depois, uma bomba alemã atingiu a sede da emissora. A rádio silenciou, e com ela calou-se uma era inteira. Szpilman, no entanto, sobreviveu, enquanto o mundo que conhecia começava a desaparecer. Sua família não teve a mesma sorte: mortos ou deportados, tornaram-se vítimas do extermínio sistemático levado a cabo pelos nazistas.

O pianista, obrigado a viver no gueto de Varsóvia, viu de perto o processo lento, cruel e burocrático de desumanização: fome, frio, doenças, execuções públicas e deportações diárias.

Trabalhou como músico em cafés clandestinos, testemunhou a degradação da comunidade judaica e enfrentou o medo constante de ser levado para Treblinka. Seus dias se transformaram em uma rotina de sobrevivência, silêncio e esperança frágil.

Após escapar por pouco da deportação, Szpilman passou meses escondido em ruínas e apartamentos abandonados. A cidade queimava, os prédios desabavam, as ruas viravam labirintos de escombros.

A solidão era tão brutal quanto a guerra em si. Vivendo de restos de comida, febril, fraco, reduzido quase a uma sombra, ele continuou resistindo - pelo instinto e pela lembrança da música que carregava dentro de si.

Foi então, já no fim do conflito, que o improvável aconteceu. Em um prédio devastado, onde Szpilman mal conseguia ficar de pé, um capitão alemão, Wilm Hosenfeld, o encontrou. Em vez de denunciá-lo, pediu-lhe para tocar.

Diante de um piano destruído pelo frio e pelo abandono, Szpilman executou o mesmo noturno de Chopin que tocara anos antes no rádio. Aquela música - frágil, trêmula e ao mesmo tempo sublime - salvou sua vida. Hosenfeld passou a ajudá-lo secretamente, fornecendo comida, roupas e proteção até o fim da ocupação alemã.

Em O Pianista, Szpilman narra com precisão e sensibilidade suas experiências entre 1939 e 1945: o colapso abrupto de sua vida, o cotidiano sufocante do gueto, a fuga improvável, os esconderijos, a destruição total de Varsóvia e o inesperado gesto de humanidade vindo de um oficial inimigo.

Sua narrativa expõe com clareza a dualidade do ser humano - a crueldade impensável e a compaixão inesperada - vivida no coração de um dos períodos mais sombrios da história.

O testemunho de Szpilman é, ao mesmo tempo, um documento histórico e literário: um mergulho profundo no horror do Holocausto e na força do espírito humano diante da barbárie.

O livro inspirou o filme homônimo de Roman Polanski, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e de três Oscars - Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado - tornando-se uma das obras mais impactantes já produzidas sobre a Segunda Guerra Mundial.

A transitoriedade da vida

    


Entre as coisas que, à primeira vista, parecem roubar o sentido da vida humana estão não apenas o sofrimento, mas também a morte e a transitoriedade. Nunca me canso de repetir: os únicos aspectos verdadeiramente transitórios da vida são as potencialidades.

No instante em que uma possibilidade é realizada, ela deixa de ser mera possibilidade e se transforma em realidade definitiva; é resgatada do fluxo do tempo e entregue ao passado, onde fica a salvo para sempre da transitoriedade.

Porque no passado nada está irremediavelmente perdido - pelo contrário, tudo está irrevogavelmente guardado. Por isso, a transitoriedade da existência não lhe retira o sentido de forma alguma. Pelo contrário, é exatamente ela que confere à vida sua seriedade e sua responsabilidade única.

Tudo depende de nós: temos de nos tornar conscientes de que as possibilidades essenciais da vida são, por natureza, fugidias. A cada momento o ser humano está diante de uma massa inesgotável de potencialidades e precisa escolher: quais delas serão condenadas ao não-ser eterno e quais serão elevadas à realidade?

Qual escolha se tornará, de uma vez por todas, uma “pegada imortal nas areias do tempo”? A todo instante a pessoa decide, para o bem ou para o mal, qual será o monumento definitivo de sua existência.

Infelizmente, a maioria das pessoas só enxerga o campo queimado da transitoriedade e se esquece dos celeiros abarrotados do passado, onde já guardou, de forma indelével, seus atos, suas alegrias, seus amores - e também seus sofrimentos. Nada pode ser desfeito, nada pode ser apagado.

Eu ousaria dizer que ter sido é a forma mais segura e duradoura de ser. Foi exatamente essa visão que sustentou Viktor Frankl nos campos de concentração nazistas (Auschwitz, Kaufering, Türkheim) entre 1942 e 1945. Lá, onde tudo parecia destinado à aniquilação - a dignidade, a esperança, o próprio corpo -, ele descobriu que o passado permanecia intocável.

Mesmo quando lhe arrancavam o manuscrito de seu primeiro livro, a roupa, o cabelo, o nome (tornando-o apenas o número 119.104), o passado ninguém podia lhe tirar: as lembranças de sua esposa Tilly, as conversas com os pacientes de sua clínica psiquiátrica em Viena, os pequenos atos de solidariedade trocados com outros prisioneiros.

Esse passado, por mais modesto que fosse, era uma riqueza absoluta, um tesouro que nem o crematório podia incinerar. Por isso a logoterapia, a “terceira escola vienense de psicoterapia” fundada por Frankl, não é pessimista - é profundamente ativista.

Usando uma imagem que ele próprio gostava: o pessimista assemelha-se ao homem que, com medo e tristeza, vê o calendário na parede ficar cada dia mais fino. Já a pessoa que enfrenta a vida ativamente é como aquele que, dia após dia, destaca a folha do calendário, escreve no verso alguns apontamentos sobre o que viveu e guarda cuidadosamente todas as folhas já usadas.

Com orgulho e até alegria ele pode contemplar a pilha crescente: aí está toda a riqueza de uma vida já realizada - o trabalho concluído, o amor amado, e, sobretudo, os sofrimentos suportados com coragem.

Que lhe importa, então, estar envelhecendo? Terá ele motivo para invejar os jovens que vê pela frente ou para cair na nostalgia da juventude perdida? “Que motivos teria eu para invejá-los?”, perguntaria Frankl.

“Eles têm possibilidades abertas. Eu tenho realidades cumpridas. Em vez de um futuro cheio de ‘talvez’, eu tenho um passado cheio de ‘assim foi’. E nesse passado estão não apenas as conquistas e os momentos felizes, mas exatamente aqueles sofrimentos que enfrentei com dignidade os maiores horrores que um ser humano pode conhecer.

Esses sofrimentos corajosamente suportados são justamente aquilo de que mais me orgulho - embora sejam a última coisa que alguém invejaria.” Essa foi a descoberta que Frankl trouxe dos campos de extermínio e que transformou para sempre a psicoterapia e o pensamento existencial: o sentido da vida não está no que ainda podemos fazer amanhã, mas sobretudo no que já fizemos - irreversivelmente - com os dias de ontem, mesmo (e talvez principalmente) quando esses dias foram dias de dor indizível.

Viktor E. Frankl (1905-1997)

Psiquiatra, neurologista, fundador da logoterapia. Sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas.

Autor de Em Busca de Sentido (1946), livro escrito em nove dias logo após sua libertação, que já vendeu mais de 12 milhões de exemplares e foi eleito um dos dez livros mais influentes dos Estados Unidos no século XX.

segunda-feira, dezembro 01, 2025

Ruivas - Temidas e demonizadas através da História


 

Ruivas: as mais temidas, desejadas e demonizadas da História

Durante milênios, poucas características físicas despertaram tanto fascínio e medo quanto os cabelos vermelhos. Em quase todas as culturas, as ruivas foram vistas como diferentes - e o diferente, quase sempre, foi tratado como perigoso.

Antiguidade e mitologia

No Antigo Egito, os ruivos eram associados ao deus Set (ou Seth), o senhor do caos, das tempestades e da violência. Sacrificar pessoas de cabelos vermelhos (ou até animais ruivos) era um ritual para aplacar a ira do deus. Há registros de que, em certas épocas, ruivos eram queimados vivos em cerimônias para “afastar o mal”.

Na Grécia antiga, acreditava-se que os ruivos se transformavam em vampiros após a morte. Aristóteles chegou a escrever que pessoas de cabelo vermelho eram emocionalmente instáveis e “de sangue quente”.

Na tradição judaica pré-cristã, Lilith - a suposta primeira esposa de Adão, que se rebelou e virou demônio - é frequentemente descrita em textos medievais como uma mulher de longos cabelos ruivos flamejantes.

Idade Média e Inquisição

Durante a Idade Média europeia, o cabelo vermelho tornou-se um dos principais “sinais” de bruxaria. Milhares de mulheres (e alguns homens) ruivos foram queimados na fogueira, sobretudo na Alemanha e na Escócia.

A Inquisição Espanhola associava os cabelos ruivos aos judeus (mesmo que muitos judeus sefarditas fossem morenos). Na arte renascentista, Judas Iscariotes quase sempre era pintado como ruivo - um estereótipo que perdurou séculos.

Em “O Mercador de Veneza” de Shakespeare, embora Shylock não seja explicitamente descrito como ruivo no texto, muitas montagens clássicas tingiam seu cabelo ou barba de vermelho para reforçar a imagem do “judeu traiçoeiro”.

Na Inglaterra elisabetana e jacobina (séculos XVI–XVII), acreditava-se que as bruxas roubavam crianças para tingir seus cabelos com sangue e ficarem ruivas - uma lenda que ajudou a alimentar caças às bruxas.

Era Moderna e o preconceito que sobreviveu

No século XIX, na Inglaterra vitoriana, ser ruivo ainda era motivo de bullying nas escolas. O termo “ginger” passou a ser usado como insulto (e ainda é em alguns lugares do Reino Unido).

Durante o nazismo, embora os nazistas exaltassem o “tipo ariano loiro”, os ruivos eram vistos com desconfiança: o gene MC1R era considerado uma “degeneração” da pureza racial nórdica. Alguns cientistas da época sugeriram esterilizar ruivos.

A ciência por trás do fogo

Os cabelos ruivos são causados por variantes do gene MC1R, localizado no cromossomo 16. Esse gene controla a produção de feomelanina (pigmento avermelhado) em vez de eumelanina (castanho/preto). Para alguém ser ruivo natural, precisa herdar duas cópias da variante recessiva - uma do pai e uma da mãe.

Curiosidades biológicas:

Ruivos têm maior tolerância a anestésicos (precisam de cerca de 20% mais anestesia geral). Sentem mais frio e mais calor, e produzem vitamina D com mais eficiência (vantagem evolutiva em regiões nubladas do norte da Europa).

Têm menos cabelos na cabeça que a média (cerca de 90 mil fios, contra 140 mil de loiros e 110 mil de morenos).

Onde estão os ruivos hoje?

Escócia: 13% da população tem cabelos ruivos; 40% carrega o gene (maior concentração do mundo).

Irlanda: 10% ruivos, 46% portadores do gene.

Na pequena ilha de Udmúrtia (Rússia), há um festival anual chamado “Dia do Cabelo Vermelho”, que reúne milhares de ruivos de todo o país - um dos poucos lugares onde ser ruivo é motivo de orgulho coletivo.

Vão desaparecer?

Em 2007, uma falsa notícia (originada numa matéria mal interpretada da revista National Geographic) espalhou que “os ruivos vão desaparecer em 2060”. Não é verdade. O gene é recessivo, mas enquanto houver humanos, haverá casais que podem gerar ruivos.

A porcentagem pode diminuir com a miscigenação global, mas a extinção é biologicamente impossível sem uma catástrofe que elimine o gene MC1R por completo.

E os neandertais?

Estudos genéticos de 2007 e 2017 (publicados na Science e na Nature) confirmaram que algumas populações de neandertais possuíam variantes do MC1R idênticas às dos ruivos modernos. Ou seja: o cabelo vermelho existe há pelo menos 50-100 mil anos - muito antes do Homo sapiens chegar à Europa.

Hoje: do estigma ao fetiche

No século XXI, o jogo virou. Depois de milênios sendo queimadas, temidas e ridicularizadas, as ruivas viraram símbolo de beleza rara e sensualidade. Campanhas publicitárias, filmes, séries (pense em Jessica Chastain, Karen Gillan, Sophie Turner como Sansa Stark) e até bancos de esperma na Dinamarca relatam maior procura por doadores ruivos.

Do demônio na fogueira à musa desejada: poucas características humanas passaram por uma reversão tão radical de imagem. E, no fim das contas, tudo isso por causa de uma pequena mutação num único gene.

Se você conhece uma ruiva, lembre-se: ela carrega nas veias o mesmo fogo que aterrorizou impérios, queimou bruxas, desafiou deuses e, ainda hoje, faz o mundo parar para olhar duas vezes.

Porque, como dizia o escritor francês Jean-Paul Richter: “Os ruivos são como o pôr do sol: raros, intensos, e quem os vê nunca esquece.”

Paternalismo




Durante uma aula numa universidade brasileira, no meio de uma explicação aparentemente comum, um aluno levantou a mão e perguntou ao professor, com voz firme: - Professor, o senhor sabe como se capturam porcos selvagens?

O docente sorriu, imaginando uma piada, uma metáfora divertida ou apenas uma tentativa de descontrair o ambiente. Mas o jovem continuou, sério: - Não é brincadeira. É exatamente assim que se faz. A sala ficou em silêncio enquanto ele explicava:

“Você encontra um lugar na floresta por onde os porcos selvagens costumam passar. Todos os dias, no mesmo horário, coloca um punhado de milho no chão. Só isso. No começo, eles estranham, cheiram de longe, fogem. São desconfiados por natureza.

Mas depois de alguns dias, voltam. Chegam mais perto. Comem rápido e desaparecem. Quando a rotina está estabelecida, você constrói a primeira lateral de uma cerca - apenas um lado.

Os porcos hesitam, mas o milho está ali, fácil, abundante. Então voltam no dia seguinte. O milho continua sendo mais importante que aquela madeira estranha.” Ele fez uma breve pausa e prosseguiu:

“Depois você coloca a segunda lateral. Demoram um pouco mais, mas retornam. Construímos o terceiro lado, depois o quarto. E assim, pouco a pouco, os animais vão entrando em um quadrado que eles nem percebem existir.

Quando já não há mais motivo para desconfiança, você instala a porta na abertura final. Deixa aberta. Eles entram sozinhos, confiantes, acostumados ao milho farto e fácil. E é nesse exato momento que você fecha o portão.

Os porcos correm em círculos, batem nas tábuas, gritam. Mas é tarde. A liberdade escapou no mesmo ritmo lento com que o milho era oferecido.” Os alunos olhavam fascinados enquanto o jovem concluía:

“Em poucos dias, eles param de tentar fugir. O milho continua caindo. A vida dentro da cerca é mais cômoda do que correr pela mata atrás de raízes e frutos. Engordam. Acomodam-se. Esquecem como era ser livre.

E o mais impressionante: passam a lamber a mão do homem que os alimenta… sem perceber que é a mesma mão que, meses depois, conduzirá a faca no matadouro.” O estudante então fitou o professor e a turma: - É exatamente isso que está acontecendo com o nosso povo.

“Não de uma vez só. Não com tanques nas ruas. Não com decretos de ditadura. É devagar. Com paciência. Com milho.” E começou a enumerar:

Primeiro veio o dinheiro ‘no bolso’, sem contrapartida de trabalho. Depois os programas sociais transformados em moeda de troca por votos. Vieram as bolsas, os auxílios, os cartões, as cestas, os tickets, os vales - todos com nomes carinhosos: Brasil Carinhoso, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Luz para Todos, Farmácia Popular

Sempre acompanhados da foto sorridente de um político. Cada benefício era mais um lado da cerca. Cada “direito adquirido” era mais um prego.
Cada eleição em que o povo trocou liberdade por conforto imediato foi mais um punhado de milho jogado no chão.

E, quando alguém ousava alertar - “cuidado, isso é armadilha!” - surgia o coro automático: Invejoso! Elite! Coração de pedra! Você não quer que os pobres comam? Porque o porco, quando já está gordo dentro da cerca, não quer ouvir quem ainda corre livre na floresta.

Hoje, uma parcela imensa da população brasileira depende do governo para comer, morar, estudar, se tratar, se transportar. Dependência total. E quem depende não questiona. Quem depende aplaude. Quem depende vota no dono do milho.

Assim, sem tiros, sem gritos, sem botas na rua, construiu-se o maior curral político da história da América Latina. A porta foi fechada. Alguns ainda correm em círculos, batem a cabeça nas tábuas, gritam “fora, comunista!”, “fora, fascista!”, sem notar que tanto faz quem está segurando a chave. O problema é que a chave não está mais com eles.

Outros simplesmente se acomodaram. Lambem a mão. Agradecem. Sorrirem. Votam felizes. Caminham ao matadouro sem perceber. O pior: ensinaram os filhos a fazer o mesmo.

Isso não é sobre esquerda ou direita. É sobre liberdade. É sobre um povo que aceitou trocar a dureza selvagem da floresta pela falsa facilidade do curral - e agora acredita que a cerca é proteção, que o portão é segurança e que milho de graça é conquista.

Mas se você ainda consegue olhar além da madeira, verá que a floresta continua lá. E enquanto houver ao menos um que se lembre de como é correr livre, ainda existirá esperança de derrubar o curral.

A liberdade nunca desaparece de verdade - apenas adormece no coração dos que esquecem que um dia foram selvagens.