Saudades do tempo que se
tinha tempo. De quando o tempo não era inimigo. Quando as roupas descosturadas
eram reparadas à mão e as brancas sujas colocadas para quarar. Um dia todo para
lavar roupas! Não tinha problema.
Saudades de quando as
frutas eram tiradas dos pés, que precisavam ser regadas e cuidadas. E
escalar mangueiras era nosso maior desafio. De quando os encontros e
sorrisos não precisavam ser registrados, e sobrava mais tempo para as
conversas.
De quando as coisas não
tinham que ter propósito ou lhe preparar para vencer na vida. Jogar pedras na
rua ou na água para ver quem joga mais longe, disputar corridas descalços na
terra, descobrir formas nas nuvens...
Saudades de quando a única
pressa era de comer logo para voltar para rua brincar. Do cheiro da comida no
fogão à lenha, do almoço colocado de manhã bem cedo, para cozinhar devagar.
De como o natal demorava a chegar. Saudades da criança que achava que ia ser eterna, porque o tempo para ela, era amigo. Ele nunca iria se desfazer dela. Ele nunca iria sufocar. (Rachel Carvalho)
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