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quinta-feira, outubro 27, 2022

Saudades do tempo

Saudades do tempo que se tinha tempo. De quando o tempo não era inimigo. Quando as roupas descosturadas eram reparadas à mão e as brancas sujas colocadas pra quarar. Um dia todo pra lavar roupas! Não tinha problema.

Saudades de quando as frutas eram tiradas dos pés, que precisavam ser regadas e cuidadas.

E escalar mangueiras era nosso maior desafio.

De quando os encontros e sorrisos não precisavam ser registrados, e sobrava mais tempo para as conversas.

De quando as coisas não tinham que ter propósito ou lhe preparar pra vencer na vida. Jogar pedras na rua ou na água para ver quem joga mais longe, disputar corridas descalços na terra, descobrir formas nas nuvens...

Saudades de quando a única pressa era de comer logo para voltar para rua brincar. Do cheiro da comida no fogão à lenha, do almoço colocado de manhã bem cedo, para cozinhar devagar.

De como o natal demorava a chegar. Saudades da criança que achava que ia ser eterna, porque o tempo para ela, era amigo. Ele nunca iria se desfazer dela. Ele nunca iria sufocar.

Rachel Carvalho



 

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