A
Fundação e a História da Ku Klux Klan: Um Legado de Ódio e Violência
Em 24
de dezembro de 1865, no rescaldo da Guerra Civil Americana (1861-1865), também
conhecida como Guerra de Secessão, foi fundada a Ku Klux Klan (KKK) em Pulaski,
Tennessee, Estados Unidos.
Criada
por ex-soldados confederados, a organização surgiu como uma reação à
emancipação dos escravos e à reconstrução do Sul, que buscava integrar os
afro-americanos recém-libertados à sociedade.
A KKK,
também chamada simplesmente de “o Klan”, tinha como objetivo principal impedir
a igualdade racial, negando aos negros direitos como aquisição de terras,
participação política e acesso à educação.
O nome
“Ku Klux Klan”, registrado oficialmente em 1867, provavelmente deriva da
palavra grega kýklos (“círculo” ou “anel”) e da palavra inglesa clan (“clã”),
evocando a ideia de um grupo fechado e secreto.
Outra
hipótese sugere que o nome imita o som do engatilhar de um rifle, refletindo a
natureza violenta do grupo. Inicialmente, a KKK era um grupo paramilitar que
utilizava táticas de terror, como intimidações, linchamentos e assassinatos,
para alcançar seus objetivos racistas e políticos.
A
organização foi oficialmente suprimida pela Lei dos Direitos Civis de 1871,
promulgada durante a administração do presidente Ulysses S. Grant, que a
classificou como grupo terrorista.
Apesar
disso, a KKK não desapareceu completamente, apenas entrou em declínio gradual,
ressurgindo em diferentes momentos históricos com novas ondas de violência e
intolerância.
A
Segunda Onda da Ku Klux Klan (1915-1944)
A KKK
experimentou um renascimento em 1915, impulsionada pelo lançamento do filme O
Nascimento de uma Nação, dirigido por D.W. Griffith.
Estreado
em 8 de fevereiro de 1915, o filme romantizava a KKK como defensora da
“civilização branca” durante a Reconstrução, glorificando a supremacia branca
em meio a uma trama de amor no contexto da Guerra Civil.
O
impacto cultural do filme foi imenso, inflamando sentimentos racistas em todo o
país e inspirando a recriação da KKK. Na noite de 16 de outubro de 1915,
William Joseph Simmons, um pregador metodista e ex-vendedor, liderou um grupo
de 15 homens ao topo da Stone Mountain, na Geórgia.
Lá,
diante de um altar improvisado, eles queimaram uma cruz, fizeram um juramento
de lealdade ao “Império Invisível” e anunciaram o renascimento da Ku Klux Klan.
O
ritual, iluminado pela cruz em chamas, incluiu a exibição de uma bandeira
americana, uma espada e uma Bíblia, símbolos que reforçavam a mistura de
nacionalismo, racismo e fervor religioso.
Sob a
liderança de Simmons, a KKK da segunda onda adotou uma ideologia que combinava
protestantismo fundamentalista, supremacia branca e xenofobia.
O grupo
pregava que apenas os “bons brancos cristãos” - os WASP (White Anglo-Saxon
Protestants, ou protestantes brancos anglo-saxões) - poderiam salvar os Estados
Unidos da suposta “decadência moral”.
Seus
alvos incluíam não apenas afro-americanos, mas também católicos, judeus,
asiáticos, imigrantes em geral, ativistas pelos direitos civis, líderes
sindicais e defensores do fim da Lei Seca.
A KKK
justificava suas ações violentas - linchamentos, espancamentos, intimidações e
incêndios - com uma leitura distorcida de passagens bíblicas, que
reinterpretava sob o viés do ódio racial.
A
organização adotou símbolos marcantes, como túnicas e capuzes brancos, cruzes
em chamas, hinos e uma “linguagem sagrada” com termos ininteligíveis, que
reforçavam sua aura de mistério e terror.
Esses
elementos, aliados à desfiles públicos grandiosos, atraíram milhões de membros
na década de 1920, com estimativas de 4 a 5 milhões de adeptos em seu auge.
A KKK infiltrou-se
em instituições públicas, cooptando juízes, xerifes, prefeitos e até
governadores, especialmente no Sul e no Centro-Oeste dos EUA.
Sob a
liderança de Hiram Wesley Evans, um dentista de Dallas, a KKK se transformou em
uma organização secreta poderosa, funcionando como um “Estado paralelo” que
desafiava as leis federais.
A
participação de mulheres também cresceu, especialmente após a conquista do
sufrágio feminino em 1920. Grupos como o Women of the Ku Klux Klan chegaram a
reunir cerca de 500.000 membros, promovendo os mesmos ideais racistas e
xenófobos.
Declínio
da Segunda Onda
A
popularidade da KKK começou a declinar na década de 1930, durante a Grande
Depressão (1929-1939). As dificuldades econômicas enfraqueceram a organização,
que enfrentava problemas financeiros internos e cisões entre seus líderes.
Além
disso, denúncias de crimes brutais, como linchamentos e assassinatos,
amplamente noticiados pela imprensa, começaram a contradizer a imagem de
“defensores da moral cristã” que a KKK tentava projetar.
O golpe
final veio durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os Estados Unidos,
alinhados aos Aliados na luta contra o nazismo e outras ideologias
totalitárias, viam com crescente repulsa os ideais extremistas e racistas da
KKK. Em 1944, a organização foi oficialmente dissolvida pela segunda vez, pressionada
por investigações federais e pela rejeição pública.
A
Terceira Onda da Ku Klux Klan (Década de 1950 até o Presente)
A KKK
ressurgiu na década de 1950, impulsionada pela ascensão do movimento pelos
direitos civis, que lutava contra a segregação racial e pela igualdade para os
afro-americanos.
Diversos
grupos regionais da Klan emergiram, com destaque para os Cavaleiros Brancos da
Ku Klux Klan, liderados por Samuel Bowers no Mississippi. Essa terceira onda
caracterizou-se por um ódio renovado, agora ampliado para incluir
anticomunismo, homofobia, anticatolicismo, neonazismo e oposição à miscigenação
racial.
A
violência da KKK intensificou-se, com ataques diretos a ativistas dos direitos
civis. Um dos episódios mais notórios foi o atentado à Igreja Batista da 16ª
Rua, em Birmingham, Alabama, em 15 de setembro de 1963.
Uma
bomba composta por 15 dinamites foi colocada nos degraus da igreja, matando
quatro meninas afro-americanas - Addie Mae Collins, Denise McNair, Carole
Robertson e Cynthia Wesley - e ferindo 22 pessoas.
O
ataque chocou o país e galvanizou o apoio ao movimento pelos direitos civis. Outros
atos de violência marcaram essa fase. Em 1964, membros da KKK foram
responsáveis pelo assassinato de três ativistas dos direitos civis - James
Chaney, Andrew Goodman e Michael Schwerner - no Mississippi, caso que ficou
conhecido como “Assassinatos de Freedom Summer”.
Em
1971, a Klan usou bombas para destruir 10 ônibus escolares em Pontiac,
Michigan, em protesto contra a integração racial nas escolas. Em 1979, cinco
manifestantes comunistas foram mortos por membros da KKK e do Partido Nazista
Americano em Greensboro, Carolina do Norte, no que ficou conhecido como o
“Massacre de Greensboro”.
Em
1980, quatro mulheres negras idosas foram assassinadas por membros da KKK em
Chattanooga, Tennessee.
A KKK
nos Tempos Modernos
Embora
a influência da KKK tenha diminuído significativamente desde seu auge, a
organização nunca desapareceu completamente. A partir da década de 1980, a Klan
adaptou suas estratégias para atrair novos membros, focando em questões como
imigração ilegal, criminalidade urbana e oposição a direitos LGBTQ+.
Suas
campanhas recentes exploram medos da classe média branca, frequentemente em
aliança com outros grupos supremacistas, como neonazistas e skinheads, adotando
inclusive elementos de sua estética, como cabeças raspadas e tatuagens.
A KKK
moderna opera de forma fragmentada, com pequenos grupos regionais que utilizam
a internet e as redes sociais para disseminar propaganda racista e recrutar
membros.
Apesar
de sua influência reduzida, a organização continua a representar uma ameaça,
especialmente em comunidades onde o extremismo racial encontra eco.
Impacto
e Legado
A Ku
Klux Klan deixou um legado de violência, ódio e divisão nos Estados Unidos. Sua
história reflete as tensões raciais e sociais que persistem no país, desde a
Reconstrução até os dias atuais. Embora a KKK tenha perdido muito de seu poder
político e social, sua ideologia supremacista continua a inspirar grupos
extremistas, evidenciando a necessidade de combater o racismo e a intolerância
em todas as suas formas.
A luta
contra a KKK e seus ideais foi marcada por vitórias significativas, como a
aprovação de leis federais contra a segregação racial e a condenação de membros
da Klan por seus crimes.
No
entanto, o ressurgimento de movimentos supremacistas brancos em tempos recentes
mostra que o combate ao ódio racial permanece um desafio urgente.