Juana
Bormann: A Crueldade da "Mulher com os Cães" nos Campos Nazistas
Juana
Bormann, também registrada em alguns documentos como Johanna Bormann, nasceu em
10 de setembro de 1893, em Birkenfelde, na Alemanha. Durante a Segunda Guerra
Mundial, ela se tornou uma das guardas femininas mais temidas da SS
(Schutzstaffel), servindo em diversos campos de concentração nazistas.
Conhecida
por sua crueldade extrema e pelo uso de cães para aterrorizar prisioneiros,
Bormann foi julgada como criminosa de guerra e executada em dezembro de 1945,
deixando um legado de horror que reflete a brutalidade do regime nazista.
Início
da Carreira e Ascensão na SS
A
trajetória de Juana Bormann no sistema de campos de concentração começou em
1938, no campo de Lichtenburg, um dos primeiros campos nazistas destinados a
prisioneiros políticos. Inicialmente, ela trabalhou como cozinheira, mas logo
foi promovida a auxiliar da SS, juntando-se a um grupo de cerca de 50 mulheres.
Segundo
seu próprio depoimento, Bormann ingressou no serviço da SS motivada pela
possibilidade de "ganhar mais dinheiro". Essa justificativa,
aparentemente trivial, contrasta com a brutalidade que ela demonstraria nos
anos seguintes, sugerindo uma combinação de oportunismo e falta de escrúpulos
morais.
Em
1939, Bormann foi transferida para o campo de Ravensbrück, recém-construído
perto de Berlim e projetado principalmente para prisioneiras mulheres.
Lá,
ela foi selecionada para supervisionar equipes de trabalho forçado, um papel
que exigia rigidez e obediência às ordens dos superiores. Sua eficiência e
crueldade a destacaram, e, em 1942, ela foi uma das poucas guardas escolhidas
para servir no infame campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia
ocupada.
Como
Aufseherin (supervisora feminina), Bormann trabalhava sob o comando de figuras
notórias como Maria Mandel, a "Besta de Auschwitz", e Irma Grese,
conhecida como a "Hiena de Auschwitz".
Apesar
de sua baixa estatura - media cerca de 1,50 metro -, Bormann compensava sua
aparência frágil com uma crueldade que a tornou temida entre as prisioneiras.
A
"Mulher com os Cães" em Auschwitz
Em
Auschwitz, Juana Bormann ganhou o apelido de "a mulher com os cães"
devido ao seu hábito de usar um grande cão pastor alemão para atacar
prisioneiros indefesos.
Testemunhas
relatam que ela soltava o animal contra as vítimas com prazer sádico, muitas
vezes resultando em ferimentos graves ou morte. Sua crueldade não se limitava
ao uso do cão: Bormann participava ativamente das seleções para as câmaras de
gás, espancava prisioneiras com chicotes e submetia-as a punições brutais por
infrações mínimas.
Sua
presença no campo era sinônimo de medo, e sua reputação como uma das guardas
mais impiedosas cresceu rapidamente. Bormann trabalhava diretamente com Maria
Mandel, que comandava os setores femininos de Auschwitz, e Irma Grese, com quem
compartilhava uma afinidade pela violência.
Juntas,
essas mulheres formavam um trio temido, responsável por inúmeras atrocidades
contra prisioneiras judias, ciganas, políticas e outras vítimas do regime
nazista.
Estima-se
que, durante seu tempo em Auschwitz, Bormann tenha contribuído para a morte de
milhares de mulheres e crianças, seja por meio de seleções para as câmaras de
gás, seja através de torturas e execuções diretas.
Transferências
e o Declínio do Regime Nazista
Com
o avanço das forças Aliadas e as sucessivas derrotas da Alemanha nazista em
1944, Bormann foi transferida para um campo auxiliar na Silésia, uma região
estratégica para os nazistas devido às suas indústrias de trabalho forçado.
Em
janeiro de 1945, ela retornou a Ravensbrück, onde as condições já estavam
deterioradas devido à superlotação e à escassez de recursos. Em março de 1945,
Bormann foi enviada ao campo de Bergen-Belsen, seu último posto, onde trabalhou
novamente ao lado de figuras como Josef Kramer, Irma Grese e Elisabeth
Volkenrath, com quem já havia servido em Auschwitz.
Em
Bergen-Belsen, as condições eram catastróficas. Originalmente concebido como um
campo de "trânsito", Belsen tornou-se um depósito de prisioneiros à
medida que os nazistas evacuavam outros campos diante do avanço dos Aliados.
A
superlotação, a fome e as doenças dizimaram a população do campo, e Bormann
continuou a impor sua autoridade com violência, mesmo em um cenário de colapso.
Quando
as tropas britânicas libertaram Bergen-Belsen em 15 de abril de 1945,
encontraram um cenário de horror: cerca de 10.000 cadáveres insepultos e
aproximadamente 60.000 sobreviventes em estado de extrema desnutrição e
exaustão.
Como
punição inicial, os libertadores obrigaram os membros da SS, incluindo Bormann,
a enterrar os corpos, uma tarefa que expôs a escala das atrocidades cometidas.
Julgamento
e Execução
Após
a libertação de Bergen-Belsen, Juana Bormann foi presa pelas forças britânicas
e submetida a intensos interrogatórios. Ela foi julgada no chamado Julgamento
de Belsen, realizado entre setembro e dezembro de 1945 em Lüneburg, na Alemanha.
O
julgamento reuniu testemunhas sobreviventes de Auschwitz e Bergen-Belsen, que
relataram os crimes de Bormann, incluindo os ataques com seu cão pastor alemão,
espancamentos brutais e sua participação nas seleções para as câmaras de gás.
Apesar
de sua tentativa de minimizar suas ações, alegando que apenas seguia ordens, as
evidências contra ela eram esmagadoras. Considerada culpada de crimes contra a
humanidade, Juana Bormann foi sentenciada à morte.
Em
13 de dezembro de 1945, aos 52 anos, ela foi enforcada na prisão de Hameln, ao
lado de Irma Grese e Elisabeth Volkenrath. O carrasco britânico Albert
Pierrepoint, responsável pela execução, descreveu Bormann em suas memórias como
uma figura frágil e envelhecida, que "andou vacilante pelo corredor,
parecendo velha e encovada".
Ele
relatou que, ao ser levada ao cadafalso, Bormann tremia e disse apenas:
"Eu tenho os meus sentimentos". Essa frase enigmática, dita momentos
antes de sua morte, pode ser interpretada como uma tentativa de justificar suas
ações ou expressar algum remorso tardio, mas não alterou o peso de sua culpa.
Contexto
e Reflexão
A
trajetória de Juana Bormann ilustra o papel ativo que algumas mulheres
desempenharam no Holocausto, desafiando estereótipos de gênero que associam
mulheres à compaixão. Como outras guardas da SS, como Maria Mandel e Irma
Grese, Bormann demonstrou que a crueldade não tem gênero, e sua dedicação ao
regime nazista foi marcada por uma brutalidade implacável.
Sua
decisão de ingressar na SS por motivos financeiros reflete a banalidade do mal,
conceito descrito por Hannah Arendt, onde indivíduos comuns participaram de
atrocidades por razões práticas ou ideológicas, sem questionar a moralidade de
suas ações.
O
uso de cães como instrumento de terror, uma característica distintiva de
Bormann, também destaca a crueldade psicológica empregada pelos nazistas para
desumanizar suas vítimas.
Esses
animais, treinados para atacar, eram extensões do poder dos guardas,
amplificando o medo e o sofrimento das prisioneiras. Além disso, a presença de
Bormann em campos como Auschwitz e Bergen-Belsen a coloca no centro de algumas
das piores atrocidades do Holocausto, incluindo o extermínio em massa e as
condições desumanas que levaram à morte de dezenas de milhares de pessoas.
O
Julgamento de Belsen, onde Bormann foi condenada, foi um marco nos esforços
pós-guerra para responsabilizar os perpetradores do Holocausto. As testemunhas
sobreviventes, muitas delas marcadas física e psicologicamente pelas
experiências nos campos, desempenharam um papel crucial em expor a escala dos
crimes nazistas. A execução de Bormann, embora não pudesse desfazer o
sofrimento causado, representou um símbolo de justiça para as vítimas.
Legado
Juana
Bormann permanece como uma figura que personifica a desumanidade do regime
nazista. Sua história é um lembrete sombrio de como indivíduos comuns podem se
tornar instrumentos de um sistema genocida, especialmente quando motivados por
ganância, obediência cega ou fanatismo ideológico.
A
memória de suas ações, documentada nos testemunhos dos sobreviventes e nos
registros históricos, serve como um alerta contra a repetição de tais horrores.
A
brutalidade da "mulher com os cães" ecoa como parte do legado do
Holocausto, um capítulo trágico da história humana que nunca deve ser
esquecido.