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sábado, setembro 13, 2025

A Cruel Exploração dos Cavalos nas Minas de Carvão


 

A Cruel Exploração dos Cavalos nas Minas de Carvão: Uma Vida na Escuridão

Por séculos, cavalos foram submetidos a uma das formas mais cruéis de exploração humana: o trabalho nas minas de carvão. Conhecidos como "conogonos" ou "pôneis de mina", esses animais viviam uma existência desoladora, privada da luz do sol, do ar fresco e da liberdade.

Nascidos, criados e fadados a perecer na escuridão subterrânea, esses cavalos enfrentavam condições extremas, confiando apenas em seus instintos apurados e na orientação de seus parceiros humanos, os mineiros.

A vida dos conogonos era marcada por um trabalho árduo e incessante. Esses animais, frequentemente de raças robustas como os pôneis Shetland ou Welsh, eram selecionados por sua força e resistência. Não era raro que um único cavalo fosse encarregado de puxar até oito vagões carregados de carvão, cada um pesando várias toneladas, por túneis estreitos e mal ventilados.

As condições nas minas eram brutais: o ar era denso com poeira de carvão, o chão irregular e escorregadio, e os túneis, muitas vezes, tão baixos que os cavalos mal podiam erguer a cabeça. Acidentes eram comuns, e a expectativa de vida desses animais era drasticamente reduzida pelas condições insalubres e pelo esforço físico extremo.

Apesar das adversidades, os conogonos demonstravam uma resiliência notável e uma inteligência surpreendente. Muitos desenvolviam uma percepção aguçada do ambiente ao seu redor, guiando-se pela memória e pelo som em túneis onde a escuridão era quase absoluta.

Eram conhecidos por sua capacidade de "sentir" o tempo, sabendo instintivamente quando o turno de trabalho deveria terminar. Quando o dia chegava ao fim, muitos encontravam sozinhos o caminho de volta aos estábulos subterrâneos, mesmo sem luz para guiá-los.

Além disso, esses cavalos exibiam uma forma singular de dignidade e autoconsciência. Não era incomum que se recusassem a trabalhar se os vagões estivessem sobrecarregados, parando obstinadamente até que a carga fosse ajustada, como se reivindicassem um mínimo de respeito em meio à sua condição opressiva.

A relação entre os conogonos e os mineiros era complexa. Para muitos trabalhadores, esses cavalos eram mais do que apenas ferramentas: eram companheiros de labuta, compartilhando o fardo de um trabalho perigoso e exaustivo.

Histórias de mineiros contam sobre laços de afeto e respeito mútuo, com trabalhadores cuidando dos cavalos feridos ou garantindo que tivessem água e comida suficientes. No entanto, esses gestos de humanidade não apagavam a realidade cruel de uma vida confinada à escuridão, sem nunca experimentar a brisa ou o calor do sol.

O uso de cavalos nas minas de carvão persistiu até o século XX, quando avanços tecnológicos, como a introdução de locomotivas a vapor e sistemas elétricos, começaram a substituir o trabalho animal.

No Reino Unido, um dos últimos países a abandonar essa prática, o fim da era dos conogonos foi marcado por um evento simbólico. Em 3 de dezembro de 1972, Ruby, o último cavalo mineiro, emergiu das profundezas de uma mina em Durham, na Inglaterra.

Adornado com uma coroa de flores e acompanhado por uma orquestra, Ruby saiu da escuridão em grande estilo, simbolizando o encerramento de uma era de sofrimento para esses animais. Sua saída foi celebrada como um marco, mas também como um lembrete agridoce do sacrifício de gerações de cavalos que nunca conheceram a luz do dia.

Para homenagear a contribuição dos conogonos e dos mineiros que com eles trabalharam, uma escultura chamada "Conogon" foi erguida no Museu-Reserve "Red Hill", na Rússia, um dos muitos memoriais ao redor do mundo dedicados a esses animais.

Essas obras servem como testemunho de uma história de exploração, mas também de resiliência e da conexão singular entre humanos e animais em condições extremas. A exploração dos cavalos nas minas de carvão é um capítulo sombrio da história industrial, que reflete a indiferença humana diante do sofrimento animal em nome do progresso.

Como diz a citação, "Se os animais tivessem uma religião, o homem seria o diabo". Essa frase ecoa como um convite à reflexão sobre a responsabilidade ética que temos para com as criaturas que, por tanto tempo, suportaram o peso do nosso trabalho.

Quem tem fé levanta a mão... ou não?

 

Decisões judiciais são sempre um terreno escorregadio, onde lógica, emoção e, às vezes, o absurdo se encontram. Em Aquiraz, cidade colada em Fortaleza, no Ceará, uma história inusitada ganhou os holofotes e dividiu opiniões: um embate entre um cabaré e uma igreja neopentecostal que terminou em chamas, literalmente.

Tudo começou quando T. B., dona de um conhecido cabaré na região, decidiu expandir seu negócio. O estabelecimento, que já era ponto de referência na noite aquirazense, ia ganhar um anexo moderno, com direito a palco para shows e um bar mais sofisticado.

A obra, segundo os boatos locais, prometia aquecer ainda mais a vida noturna da cidade. Mas nem todos receberam a notícia com entusiasmo. A poucos metros do cabaré, a Igreja da Graça Renovada, uma congregação neopentecostal fervorosa, viu na construção uma afronta aos seus valores.

Liderados pelo pastor E. Silva, os fiéis iniciaram uma cruzada espiritual contra o empreendimento. Durante semanas, a igreja organizou vigílias, cultos e maratonas de oração, pedindo uma “intervenção divina” para impedir a inauguração do anexo.

Faixas com dizeres como “Aquiraz é do Senhor” apareceram nas ruas, e o pastor, em seus sermões, não poupava críticas ao “antro do pecado” que, segundo ele, ameaçava a moral da comunidade.

Eis que, uma semana antes da tão aguardada inauguração, um raio caiu sobre o cabaré em uma noite de tempestade. O fogo se alastrou rapidamente, destruindo o anexo e parte da estrutura original.

Não houve feridos, mas o prejuízo foi estimado em centenas de milhares de reais. Para T. B., a culpa era óbvia: as orações da igreja tinham invocado a ira divina.

Furiosa, ela entrou com um processo contra a Igreja da Graça Renovada e o pastor E. Silva, acusando-os de serem responsáveis pelo incêndio devido às suas preces insistentes por uma “intervenção celestial”.

Na audiência inicial do processo, o juiz, conhecido por sua paciência e senso de humor peculiar, não pôde conter uma observação que viralizou nas redes sociais:

“Pelo que li até agora, temos de um lado a proprietária de um prostíbulo que acredita piamente no poder das orações, ao ponto de culpar a igreja por um raio, e do outro, uma igreja inteira que jura de pés juntos que suas orações não têm efeito algum. Francamente, é a primeira vez que vejo uma disputa onde a dona do cabaré tem mais fé que o pastor!”

A defesa da igreja foi categórica: não havia prova alguma de que as orações causaram o raio. “O fenômeno foi um evento natural, previsto pela meteorologia. Atribuir isso às nossas orações é um absurdo”, argumentou o advogado da congregação.

Já o advogado de T. B. insistiu que a campanha da igreja incitou um ambiente de hostilidade e que o pastor, ao liderar as preces, deveria assumir responsabilidade pelo desfecho, fosse ele divino ou não.

O caso ganhou proporções épicas em Aquiraz. Nas redes sociais, memes pipocavam: de um lado, imagens de T. B. com halo de santa, segurando um crucifixo; do outro, montagens do pastor E. Silva com um raio na mão, como um Zeus evangélico.

A imprensa local cobriu cada detalhe, e até programas de TV nacionais começaram a discutir o “duelo de fé” no Ceará. Enquanto isso, a comunidade se dividiu: alguns apoiavam T. B., defendendo seu direito de tocar o negócio sem interferências; outros viam na igreja a voz da moralidade, ainda que muitos fiéis se sentissem desconfortáveis com a negação do poder de suas próprias orações.

Para complicar, surgiram novos elementos no processo. Testemunhas afirmaram que, dias antes do incêndio, jovens ligados à igreja foram vistos rondando o terreno do cabaré, o que levantou suspeitas de vandalismo.

A polícia, no entanto, não encontrou evidências de crime, e a perícia confirmou que o incêndio foi mesmo causado pelo raio. Mesmo assim, T. B. manteve a acusação, alegando que, se não foi intervenção divina, a igreja poderia ter “ajudado o destino” de alguma forma.

No fim, o caso expôs uma ironia deliciosa: a dona do cabaré, que muitos julgariam como “pecadora”, demonstrou uma fé inabalável no poder da oração, enquanto a igreja, guardiã da espiritualidade, preferiu se esconder atrás da ciência para evitar a culpa.

Excepcionalmente, nesse caso, fico do lado da igreja - não por concordar com suas preces ou sua cruzada moralista, mas porque culpar orações por um raio é abrir uma caixa de Pandora jurídica que nem o mais sábio dos juízes saberia fechar. 

sexta-feira, setembro 12, 2025

Crença



Crença e a Fragilidade da Existência Humana

Por milênios, a humanidade se agarrou à convicção de que somos seres especiais, escolhidos por uma força divina, colocados na Terra com um propósito sobrenatural e, por isso, protegidos de uma destruição final.

Essa crença, profundamente enraizada em diversas culturas e religiões, confere um senso de segurança e significado, mas também carrega uma armadilha sutil: ao presumirmos que somos os escolhidos dos deuses, guardados por entidades celestiais, transferimos a responsabilidade pela nossa sobrevivência para forças além do nosso controle.

Essa atitude, embora reconfortante, nos distancia de uma verdade incômoda: a vida na Terra é frágil, e nossa existência no vasto cenário cósmico é marcada por uma solidão profunda.

Somos, até onde sabemos, uma singularidade improvável num universo indiferente, onde não há evidências de guardiões celestiais ou de um destino preordenado.

A crença em uma proteção divina pode nos cegar para as ameaças reais que enfrentamos - desde as mudanças climáticas aceleradas até a exploração insustentável dos recursos naturais, passando por conflitos globais e o risco de colapso ecológico.

Ao longo da história, essa confiança em uma salvação sobrenatural muitas vezes nos levou a negligenciar as consequências de nossas ações.

Por exemplo, durante séculos, a exploração desenfreada da natureza foi justificada por interpretações religiosas que viam o mundo como um presente divino a ser dominado, sem considerar os limites finitos do planeta.

Hoje, enfrentamos as consequências: oceanos poluídos, florestas dizimadas, espécies extintas e um clima em transformação que ameaça a própria habitabilidade da Terra.

A crença em uma proteção externa pode ter adiado nossa percepção da urgência em agir, mas o tempo para despertar é agora. Aceitar a fragilidade da vida e nossa solidão cósmica não é um convite ao desespero, mas um chamado à responsabilidade.

É reconhecer que a preservação do nosso lar planetário depende exclusivamente de nós. Cada escolha que fazemos - desde reduzir emissões de carbono até proteger a biodiversidade - é um passo para garantir que a humanidade continue a prosperar.

A ciência, com sua capacidade de revelar as complexidades do universo e os limites do nosso planeta, nos oferece as ferramentas para agir. Cabe a nós usá-las.

Se continuarmos a ignorar essa realidade, as consequências podem ser irreversíveis. A história da Terra está repleta de exemplos de espécies que não se adaptaram às mudanças em seu ambiente.

A diferença é que, pela primeira vez, uma espécie - a nossa - tem o poder de moldar seu próprio destino, mas também o risco de acelerar sua própria extinção.

A crença em um propósito sobrenatural deve dar lugar a uma humildade cósmica, que nos inspire a cuidar do único lar que conhecemos.

- Marcelo Gleiser (adaptado e expandido)

O Ego


 

O ego frequentemente confunde "ter" com "ser": eu tenho, logo eu sou. Quanto mais possuo, mais acredito ser. Essa mentalidade, profundamente enraizada, faz com que o ego se sustente por meio da comparação constante.

A forma como os outros nos percebem molda, em grande parte, a maneira como nos vemos. Assim, o senso de autoestima do ego está, na maioria dos casos, atrelado ao valor que atribuímos a nós mesmos com base na validação externa.

Vivemos em uma sociedade que, de maneira predominante, equipara o valor de uma pessoa àquilo que ela possui - seja riqueza material, status, conquistas ou até mesmo seguidores em redes sociais.

Essa ilusão coletiva, amplificada pela cultura do consumo e pela exposição constante nas mídias digitais, nos condiciona a buscar incessantemente a aprovação alheia para preencher um vazio interno.

Se não conseguirmos enxergar além dessa ilusão, estaremos condenados a uma busca interminável por bens, reconhecimentos ou validações externas, na esperança vã de encontrar nosso verdadeiro valor e a plenitude de nossa identidade.

Essa dinâmica não é apenas uma questão individual, mas também um reflexo de tendências culturais e sociais. Nos últimos anos, por exemplo, o impacto das redes sociais intensificou essa busca por validação.

Estudos recentes, como os realizados por psicólogos da Universidade de Harvard em 2023, apontam que o uso excessivo de plataformas digitais está correlacionado a níveis mais altos de ansiedade e baixa autoestima, especialmente entre jovens.

A constante comparação com vidas "perfeitas" exibidas online reforça a ideia de que nossa identidade depende de conquistas externas ou da aprovação de estranhos.

Além disso, a publicidade e a cultura de consumo continuam a alimentar a narrativa de que adquirir mais - seja um carro novo, uma casa maior ou uma aparência idealizada - é o caminho para a felicidade.

Por outro lado, há um movimento crescente de conscientização sobre os perigos dessa mentalidade. Filosofias como o minimalismo e práticas como a meditação têm ganhado força como contraponto, incentivando as pessoas a encontrarem valor em si mesmas, independentemente do que possuem ou de como são percebidas.

Em 2024, por exemplo, o Fórum Mundial de Bem-Estar, realizado em Londres, destacou a importância de desconectar a autoestima de métricas externas, promovendo a ideia de que a verdadeira plenitude vem do autoconhecimento e da conexão com valores internos, como propósito, compaixão e autenticidade.

No entanto, romper com essa ilusão não é tarefa simples. O ego, por sua natureza, resiste a abrir mão do controle e da necessidade de validação. Para transcender essa armadilha, é necessário um esforço consciente para questionar os padrões culturais e cultivar uma relação mais profunda consigo mesmo.

Isso pode envolver práticas como a autorreflexão, a desconexão temporária das redes sociais ou até mesmo a busca por comunidades que valorizem a essência em vez da aparência.

Somente ao enxergarmos além da superfície do "ter" podemos começar a compreender o verdadeiro significado do "ser".

quinta-feira, setembro 11, 2025

Multidões



Eu sou muitos. Há multidões em mim. Na mesa da minha alma, sentam-se inúmeros, e eu sou todos eles. Há um velho encurvado pela sabedoria do tempo, uma criança que ainda se maravilha com o brilho do mundo, um sábio que contempla o infinito e um tolo que tropeça nas próprias ilusões.

Há guerreiros cansados, poetas que sangram em silêncio, rebeldes que desafiam o céu e peregrinos que buscam um lar que nunca encontram. Você nunca saberá com quem está sentado, nem por quanto tempo cada um de mim permanecerá à sua frente.

Sou um mosaico em constante mutação, um caleidoscópio de vozes que se entrelaçam e se contradizem. Mas prometo, com a sinceridade de quem carrega o peso de ser muitos, que, se nos sentarmos à mesa - nesse ritual sagrado da convivência -, eu lhe entregarei ao menos um desses eus, com toda a sua verdade, ainda que fugaz.

E, nesse encontro, correrei os riscos de nos vermos refletidos, de estarmos juntos no mesmo plano, vulneráveis à luz crua da existência. Não se iluda, porém: também carrego sombras.

Há em mim um lado sombrio, um demônio que tento manter acorrentado, mas que, por vezes, escapa e me envergonha. Ele é o grito que não controlo, a raiva que queima sem motivo, o vazio que sussurra nas noites mais longas.

Não sou santo, nem exemplo, e talvez nunca serei. Sou humano, demasiadamente humano, e essa é minha glória e minha ruína. Entre tantos que sou, busco-me incessantemente.

Cada dia é uma batalha para reunir esses fragmentos, para encontrar o fio que costura o velho, a criança, o sábio e o tolo em um só ser. Como já foi dito, em ecos que atravessam séculos: ouse conquistar a ti mesmo.

Mas essa conquista não é um fim, é um eterno começar. É o enfrentamento diário das multidões que me habitam, das vozes que clamam por sentido, das feridas que o tempo não apaga e das esperanças que o mesmo tempo reacende.

E assim sigo, carregando essas multidões, essas almas que dançam e colidem dentro de mim. Cada acontecimento da vida - a alegria que explode, a dor que corta, o amor que eleva, a perda que despedaça - molda essa assembleia interior.

Recentemente, vi-me diante de um espelho partido: a morte de alguém querido trouxe o velho à tona, com sua melancolia sábia, enquanto a criança chorava a ausência.

O sábio tentou explicar o inexplicável, e o tolo quis fugir. Todos eles, em sua desordem, me ensinaram que ser muitos é também ser incompleto, mas é essa incompletude que me faz seguir, que me faz ousar.

Um dia, talvez, eu me descubra. Um dia, serei eu mesmo, definitivamente - ou, quem sabe, aprenderei a amar a multidão que sou, sem exigir um fim para o caos.

Até lá, convido você a sentar-se à minha mesa, a ouvir as vozes que ecoam em mim e a compartilhar as suas. Pois, no fim, somos todos muitos, e é na partilha dessas multidões que encontramos o que nos faz humanos.

Inspirado em Friedrich Nietzsche

Será que a lei é mesmo igual para todos?


 

Numa rua movimentada do centro da cidade, sob o sol escaldante do meio-dia, um guarda municipal avista um carro estacionado bem embaixo de uma placa de "Proibido Estacionar".

O motorista, um homem de meia-idade com óculos escuros e um ar de quem está acima das regras, parece nem se importar com a infração. O guarda, já acostumado a lidar com espertinhos, se aproxima com aquele tom de autoridade misturado com cansaço:

- Ô, meu amigo, tira o carro daí! Não tá vendo a placa de "Proibido Estacionar"?

O motorista, sem nem tirar os olhos do celular, responde com um sorrisinho de canto de boca:

- Tô vendo, sim.

- E então? - insiste o guarda, já começando a perder a paciência.

- E então? Então, vai tomar banho, seu guarda! - retruca o homem, com um tom de deboche que faz o sangue do policial ferver.

Sem pensar duas vezes, o guarda puxa as algemas do cinto, imobiliza o motorista com um movimento rápido e, ignorando os protestos do homem, o arrasta até a viatura.

"Engraçadinho, né? Vamos ver quem ri por último", murmura o guarda enquanto liga a sirene e segue direto para a delegacia.

Chegando lá, o guarda entra na sala do delegado, um sujeito de bigode farto e olhar de quem já viu de tudo, e despeja a história com um misto de indignação e orgulho:

- Doutor, olha só o que esse cara fez! Mandei tirar o carro de um lugar proibido, e o sujeito me manda tomar banho! Pode isso?

O delegado, recostado na cadeira, dá uma risada irônica e encara o motorista algemado, que mantém uma expressão de desafio mesmo estando em uma situação nada favorável.

- É mesmo? - diz o delegado, com aquele tom que mistura sarcasmo e ameaça.

- E eu, ô engraçadinho? O que você vai mandar eu fazer?

O motorista, que aparentemente não sabe a hora de parar, solta com um sorriso debochado:

- Você? Você eu mando tomar no c...!

O ar da delegacia parece congelar. O delegado, vermelho de raiva, se levanta da cadeira com um soco na mesa que faz os papéis voarem. Sem dizer uma palavra, ele dá um tapa na cara do sujeito, que cambaleia com o impacto.

- Leva esse filho da puta pros fundos e põe no pau-de-arara! - berra o delegado, já sem paciência.

O guarda, obediente, arrasta o homem para uma salinha nos fundos da delegacia, um lugar úmido e mal iluminado que parece saído de um filme policial dos anos 80.

Ele começa a preparar o "procedimento", pendurando o sujeito de ponta-cabeça, quando, de repente, a carteira do homem escorrega do bolso e cai aberta no chão.

O guarda olha para o documento e sente o coração parar: "JUIZ FEDERAL”. Com o rosto pálido, ele corre de volta à sala do delegado, quase tropeçando no caminho:

- Doutor! Doutor! O cara... o cara é JUIZ FEDERAL!

O delegado, que estava tomando um gole de café, engasga e derrama o líquido na camisa.

- JUIZ FEDERAL? Puta que pariu! E agora? O que a gente faz?

O guarda, ainda atordoado, tenta pensar rápido, mas só consegue gaguejar:

- Bom... eu... eu vou tomar meu banho...

O delegado, em pânico, começa a gritar ordens desencontradas:

- Tira ele daí! Tira agora! E limpa essa merda de sala! Traz um café, um copo d’água, sei lá, faz alguma coisa pra esse cara não abrir um processo contra a gente!

Enquanto o guarda corre para desfazer o estrago, o juiz, agora solto, se levanta calmamente, ajeita o paletó e lança um olhar que mistura superioridade e ameaça.

Sem dizer uma palavra, ele pega sua carteira do chão, guarda no bolso e sai da delegacia como se nada tivesse acontecido. O delegado e o guarda, suando frio, trocam olhares e percebem que acabaram de escapar por pouco de um problemão.

Reflexão sobre o caso

Essa história, embora carregada de humor e ironia, escancara uma realidade que muitos conhecem: a lei, teoricamente, deveria ser igual para todos, mas na prática, o peso da carteira (ou do cargo) muitas vezes faz toda a diferença.

O motorista, que se revelou juiz federal, provavelmente sabia que sua posição o protegeria de consequências mais graves, o que explica sua atitude arrogante desde o início.

O desespero do delegado e do guarda ao descobrirem quem ele era mostra como o sistema, muitas vezes, opera com dois pesos e duas medidas. Casos assim não são raros.

No Brasil, é comum ouvir histórias de autoridades que escapam de punições por infrações de trânsito, pequenos crimes ou até situações mais graves, simplesmente por causa de sua influência ou cargo.

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que, entre 2018 e 2023, menos de 5% das denúncias contra magistrados por abuso de poder resultaram em punições efetivas.

Isso levanta a questão: até que ponto o status social ou profissional garante imunidade? Por outro lado, o episódio também reflete a tensão entre a polícia e a sociedade.

O guarda, ao agir impulsivamente, e o delegado, ao recorrer à violência, mostram como o abuso de autoridade pode vir de ambos os lados. A história, com seu tom tragicômico, nos faz rir, mas também nos deixa um gosto amargo: será que a lei é mesmo cega, ou ela enxerga muito bem quem está na sua frente?

quarta-feira, setembro 10, 2025

Flagelos




A Origem da Infelicidade Humana


"Jean-Jacques Rousseau, em Do Contrato Social (1762), afirmou: 'O primeiro homem que, tendo cercado um pedaço de terra, proclamou, “isto é, meu" e encontrou pessoas ingênuas o suficiente para acreditar nele, esse homem foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.'"

Rousseau, em Do Contrato Social, explora as bases da organização social e política, questionando as desigualdades que surgem com a propriedade privada.

A citação reflete sua crítica à ideia de posse como fundamento da sociedade civil, sugerindo que a aceitação coletiva dessa reivindicação arbitrária marca o início de um sistema estruturado, mas também de desigualdades.

No contexto da obra, Rousseau argumenta que a propriedade privada, ao ser institucionalizada, rompe com o estado de natureza, onde os recursos eram comuns, e estabelece relações de poder e dependência.

Para enriquecer a análise, é importante situar a citação no cenário intelectual do Iluminismo. Em 1762, quando Do Contrato Social foi publicado, a Europa passava por intensos debates sobre liberdade, igualdade e os fundamentos do poder político.

Rousseau, ao contrário de pensadores como John Locke, que via a propriedade como um direito natural, via nela o germe das desigualdades sociais.

Ele sugere que a aceitação passiva da propriedade privada por parte da sociedade foi um momento fundamental, que transformou relações naturais em convenções sociais baseadas na posse e no poder.

Acontecimentos históricos relacionados: Na época de Rousseau, a Europa vivia transformações significativas. A Revolução Agrícola, com os cercamentos na Inglaterra, exemplifica o processo descrito por ele.

Terras comunais foram privatizadas, concentrando riqueza e poder nas mãos de poucos, enquanto camponeses eram desalojados, forçados a trabalhar como assalariados.

Esse fenômeno, que se intensificou no século XVIII, ilustra a crítica de Rousseau: a propriedade privada, longe de ser um direito inato, foi muitas vezes estabelecida pela força e aceita por convenção social, gerando desigualdades estruturais.

Além disso, o pensamento de Rousseau influenciou eventos posteriores, como a Revolução Francesa (1789-1799). Suas ideias sobre igualdade e soberania popular inspiraram revolucionários a questionar as estruturas feudais, que privilegiavam a nobreza e o clero, donos de vastas propriedades.

A crítica à propriedade como base da sociedade civil ecoou nos debates sobre redistribuição de terras e direitos coletivos.

Reflexão: Rousseau não condena a propriedade em si, mas a forma como ela foi instituída e aceita sem questionamento. Ele propõe, em Do Contrato Social, um pacto social que equilibre liberdade e igualdade, onde a propriedade seja regulada para o bem comum.

Essa ideia ressoa em debates contemporâneos sobre desigualdade econômica, concentração de terras e acesso a recursos naturais, mostrando a atualidade de seu pensamento.

terça-feira, setembro 09, 2025

Jerry Adriani - Ídolo da Jovem Guarda





Jerry Adriani, nome artístico de Jair Alves de Sousa, nasceu em 29 de janeiro de 1947, no bairro do Brás, em São Paulo, e faleceu em 23 de abril de 2017, no Rio de Janeiro.

Cantor, ator e apresentador, ele foi uma das figuras mais emblemáticas da Jovem Guarda, movimento musical dos anos 1960 que marcou a história da música brasileira ao trazer influências do rock and roll internacional, especialmente de artistas como Elvis Presley e os Beatles, adaptadas ao contexto brasileiro.

Biografia e Início da Carreira

Filho de uma família humilde, Jair Alves de Sousa demonstrou interesse pela música desde jovem. Inspirado pelo ator americano Jerry Lewis e pelo cantor italiano Adriano Celentano, adotou o nome artístico Jerry Adriani, que refletia sua admiração pelo cenário artístico internacional.

Sua carreira profissional começou em 1964, aos 17 anos, com a gravação de seu primeiro LP, Italianíssimo, uma coletânea de canções em italiano que capitalizava a popularidade da música romântica italiana no Brasil.

No mesmo ano, lançou Credi a Me, consolidando sua presença no mercado musical. Em 1965, Jerry deu um passo importante ao gravar Um Grande Amor, seu primeiro álbum em português, que o conectou diretamente ao público jovem brasileiro.

Nesse período, ele também se destacou como apresentador de televisão, comandando o programa Excelsior a Go Go na TV Excelsior, ao lado do comunicador Luiz Aguiar.

O programa era um espaço vibrante para a divulgação de artistas da Jovem Guarda, como Os Vips, Os Incríveis, Trini Lopez e Cidinha Campos, reforçando a efervescência cultural da época.

Entre 1967 e 1968, já na TV Tupi de São Paulo, Jerry apresentou A Grande Parada, um programa musical ao vivo que contava com a participação de artistas consagrados, como Neyde Aparecida, Zélia Hoffmann, Betty Faria e Marília Pêra.

O programa se tornou um marco na televisão brasileira, promovendo a diversidade da música popular brasileira e consolidando Jerry como uma figura carismática e versátil.

Cinema e Consolidação na Jovem Guarda

Além da música e da televisão, Jerry Adriani também incursionou no cinema, participando de três filmes nos anos 1960: Essa Gatinha é Minha (1966, com Peri Ribeiro e Anik Malvil), Jerry, A Grande Parada (1967) e Jerry em Busca do Tesouro (1968, com Neyde Aparecida e os Pequenos Cantores da Guanabara).

Esses filmes, típicos da estética da Jovem Guarda, misturavam música, comédia e romantismo, atraindo o público jovem que se identificava com o movimento.

Em 1969, Jerry foi agraciado com o título de cidadão carioca, um reconhecimento de sua forte ligação com o Rio de Janeiro, cidade que adotou como lar e onde construiu grande parte de sua carreira.

Foi também nesse período que ele desempenhou um papel fundamental na trajetória de Raul Seixas, outro ícone da música brasileira. Jerry conheceu Raul em Salvador, quando este liderava a banda Raulzito e os Panteras.

Impressionado com o talento do jovem músico, Jerry o convidou para se mudar para o Rio de Janeiro, onde Raulzito e os Panteras se tornaram a banda de apoio de Jerry por três anos.

Durante esse período, Raul compôs canções como “Tudo Que é Bom Dura Pouco”, “Tarde Demais” e “Doce, Doce Amor”, que se tornaram sucessos na voz de Jerry. Entre 1969 e 1971, Raul Seixas também atuou como produtor de Jerry, antes de iniciar sua bem-sucedida carreira solo.

Carreira Internacional e Diversificação Musical

Na década de 1970, Jerry Adriani expandiu sua carreira para além do Brasil, realizando shows em países como Venezuela, Peru, Estados Unidos, México e Canadá.

Sua versatilidade o levou a explorar novos gêneros musicais, como a soul music, gravando canções de compositores brasileiros como Hyldon, Paulo Cesar Barros e Robson Jorge.

Em 1975, ele participou do musical Brazilian Follies, dirigido por Caribe Rocha, no Hotel Nacional, no Rio de Janeiro. O espetáculo, que ficou em cartaz por um ano e meio, foi um sucesso de público e crítica, destacando a capacidade de Jerry de se reinventar artisticamente.

Um dos momentos mais marcantes de sua carreira ocorreu em julho de 1981, quando Jerry se apresentou para mais de 30 mil pessoas em um show ao ar livre no parque de exposições de Governador Valadares, Minas Gerais.

Contratado pelo radialista Marcos Niemeyer, ele também participou do programa Resenha do Jegue, apresentado por Niemeyer e Beto Teixeira na Rádio Ibituruna.

Durante sua passagem pela cidade, Jerry demonstrou sua simplicidade e carisma, caminhando pelo centro, distribuindo autógrafos e interagindo com os fãs.

Anos 1990: Retorno às Raízes e Novos Sucessos

Na década de 1990, Jerry Adriani revisitou suas raízes roqueiras com o álbum Elvis Vive (1990), um tributo ao ídolo Elvis Presley, que marcou seu 24º disco. O projeto reforçou sua conexão com o rock and roll, gênero que o consagrou na Jovem Guarda.

Em 1994, ele aceitou o convite do diretor Cecil Thiré para atuar na novela 74.5: Uma Onda no Ar, produzida pela TV PLUS e exibida pela Rede Manchete.

A novela, que também foi transmitida em Portugal, alcançou grande sucesso e trouxe Jerry de volta aos holofotes como ator. Em 1999, Jerry lançou Forza Sempre, um álbum em que reinterpretou canções da banda Legião Urbana em italiano.

O disco foi um marco em sua carreira pós-Jovem Guarda, vendendo mais de 200 mil cópias. A faixa “Santa Luccia Luntana” foi incluída na trilha sonora da novela Terra Nostra, da Rede Globo, ampliando ainda mais seu alcance e popularidade.

Morte e Legado

Jerry Adriani faleceu em 23 de abril de 2017, aos 70 anos, vítima de um câncer de pâncreas. Diagnosticado em março daquele ano, ele enfrentou a doença com coragem, mas sua condição evoluiu rapidamente.

Internado por duas semanas no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, Jerry continuou a realizar shows até o final de março, mesmo em tratamento para uma trombose venosa na perna.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no bairro do Caju, Rio de Janeiro. Ele deixou três filhos e um neto.

Impacto Cultural e Legado

Jerry Adriani foi muito mais do que um ídolo da Jovem Guarda. Sua trajetória reflete a efervescência cultural dos anos 1960 no Brasil, quando a Jovem Guarda trouxe frescor e rebeldia à música brasileira, dialogando com a juventude de uma época marcada por transformações sociais e culturais.

Sua habilidade de transitar entre gêneros musicais, da música italiana ao rock, soul e até releituras de bandas de rock nacional, demonstra sua versatilidade e visão artística.

Além disso, sua influência vai além da música. Ao ajudar Raul Seixas a dar os primeiros passos no cenário nacional, Jerry contribuiu para a formação de um dos maiores ícones do rock brasileiro.

Sua presença carismática na televisão e no cinema também o tornou um dos rostos mais reconhecíveis de sua geração, conectando diferentes públicos ao longo de cinco décadas de carreira.

Hoje, Jerry Adriani é lembrado como um pioneiro que ajudou a moldar a identidade da música jovem brasileira, deixando um legado de canções atemporais e uma história de dedicação à arte. Suas músicas continuam a ser redescobertas por novas gerações, e sua contribuição para a cultura brasileira permanece viva.