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domingo, julho 13, 2025

O Sono das Águas


 

Há uma hora certa, no coração da noite, uma hora morta, suspensa no tempo, em que as águas adormecem. É um instante fugaz, quase secreto, quando o mundo silencia e o pulsar da terra parece hesitar.

Todas as águas dormem: as do rio, que correm mansas ou bravias; as da lagoa, espelhando estrelas imóveis; as do açude, quietas sob o peso do barro; as dos brejões, enredadas em raízes tortuosas; as dos olhos d’água, que brotam tímidos da terra; e até as águas escondidas nos grotões fundos, onde a luz nunca alcança.

Quem se aventurar a ficar acordado, de vigília na barranca, sob o véu da noite inteira, há de testemunhar o prodígio: a cachoeira, que nunca descansa, interrompe sua queda.

O choro das águas cessa, o rugido se cala, e o que se ouve é apenas o sussurro do vento, como se a própria natureza prendesse o fôlego. A água foi dormir.

Dormem as águas claras, que refletem o céu em sua transparência; dormem as águas barrentas, carregadas de histórias da terra; dormem sonolentas, em sua placidez de espelho.

Gotas mínimas, caudais imensos, seivas que sobem lentas pelo cerne das plantas, fios brancos que escorrem das pedras, torrentes que cortam montanhas - todas se entregam ao sono.

O orvalho, pendurado nas placas das folhagens, sonha em silêncio, como se guardasse segredos do amanhecer. Até a água fervida, esquecida nos copos de cabeceira dos agonizantes, parece repousar, envolta em sua quietude morna.

Mas nem todas as águas se rendem a essa hora de torpor líquido e inocente. Há aquelas que resistem, que não conhecem o sono. As águas dos olhos, essas nunca dormem.

Elas vigiam, incansáveis, nas noites de angústia, quando o coração aperta e a alma se desmancha. São lágrimas que correm, silenciosas ou em soluços, carregando dores que não se explicam, saudades que não se nomeiam, amores que se perderam no escuro.

Essas águas, nascidas do fundo do ser, desafiam a hora morta e atravessam a noite, como sentinelas de um sofrimento que não se apaga.

E há quem diga que, nessa hora, as águas adormecidas sonham. Sonham com os caminhos que já percorreram, com os mares distantes que um dia encontrarão, com as chuvas que as trouxeram e as levarão de volta ao céu. Sonham com as vozes que as tocaram - o canto das lavadeiras, o grito dos meninos que nelas mergulham, o lamento dos bichos que matam a sede.

E, em seus sonhos, as águas murmuram umas às outras, em uma língua que só a noite entende, contando histórias de sertões e cidades, de pedras polidas e margens erodidas, de vidas que se cruzam e se desfazem.

Quando o primeiro raio do amanhecer trespassa o horizonte, as águas despertam. A cachoeira retoma seu canto, o rio recomeça sua pressa, e o orvalho escorre, tímido, para a terra.

Mas as águas dos olhos, essas seguem seu curso, alheias ao dia que nasce, porque o pranto não obedece ao tempo. E assim, o mundo segue, entre o sono das águas e a vigília das lágrimas, em um ciclo que é ao mesmo tempo eterno e fugaz.

Assim diria Guimarães Rosa

Nos dias de hoje


 

De Mãos Dadas com o Tempo

Nos dias de hoje, tudo é pressa. Vivemos conectados a telas que nos prometem o mundo, mas mal enxergamos quem está ao nosso lado. Corremos de um compromisso ao outro, sufocados por notificações, metas e ruídos que nos afastam do essencial.

Com tanta correria, tanta disputa por espaço, por poder, por dinheiro, por um lugar que nunca se fixa, às vezes me pego encantado com cenas simples - quase invisíveis aos olhos modernos.

Outro dia, numa manhã qualquer, vi um casal de velhinhos atravessando a rua com passos lentos e entrelaçados. A mão dela, fina e enrugada, repousava sobre a dele.

A outra mão segurava uma bengala, não com força, mas com uma aceitação tranquila de que o corpo já não era o mesmo. Falta equilíbrio, pensei. Mas sobra amor. Falta vigor, mas transborda história. Faltam músculos firmes, mas há ali uma firmeza de alma que o tempo só aprimora.

Em suas feições marcadas pelo tempo, não havia maquiagem, filtros ou disfarces. Apenas linhas - linhas que contavam silêncios, alegrias, despedidas, esperas.

Linhas que talvez tenham surgido depois de noites mal dormidas com filhos pequenos, ou após perdas que exigiram uma força que só quem ama conhece. Ali, naquela travessia lenta, havia mais beleza do que em qualquer desfile de juventudes ansiosas por curtidas.

Envelhecer não é um fardo. É uma conquista. Mas em tempos de Botox, de juventudes plastificadas e afetos descartáveis, esquecemos que o verdadeiro amor não se mede por intensidade passageira, mas por presença contínua.

Olhamos para fora - para os espelhos, para os outros, para os padrões - e esquecemos de olhar para dentro. De nós. Do outro. Do amor.

Aquela cena ficou comigo o dia inteiro. E ainda volta, de vez em quando, como um lembrete delicado: amar também é envelhecer junto. É seguir caminhando, mesmo quando o corpo cansa, mesmo quando os dias parecem repetidos. É dar as mãos não apenas por afeto, mas por apoio, por gratidão, por memória.

No fundo, penso que todo mundo, no íntimo, sonha com isso. Um amor que resista ao tempo, às rugas, às tempestades. Um amor que, mesmo sem juventude, conserve ternura. Que mesmo sem palavras, fale. Que mesmo sem pressa, chegue.

Porque o tempo passa. E quando ele passa, tudo muda - menos o gesto simples e sagrado de estar ao lado. De mãos dadas com o tempo. De mãos dadas com alguém.