Vivendo na pobreza - Dona
Carolina Maria de Jesus - A fome sempre foi um monstro de muitas cabeças no Brasil.
Um país riquíssimo como e o nosso não poderiam conviver com essa tragédia, pois
nosso torrão tem tudo que outros países de vida melhor sonham em ter.
País com abundância de água
potável, terras agricultáveis, fauna e flora incalculável, um subsolo que é
cobiçado pelo mundo inteiro, mas temos histórias como à de Carolina Maria de
Jesus.
Escritora autora do livro
“Quarto de Despejo” que conta a sua vida vivendo na extrema pobreza. Uma das
coisas mais degradante da humanidade é a privação de alimentos. Não existe como
mensurar a dor de uma mãe ver seu filho chorar de fome enquanto ela também
sente a mesma coisa.
Abaixo um trecho do seu
livro que fala da pobreza de uma forma que talvez nunca tenha contado, pois só
quem vive nesse profundo abismo, é que realmente tenha autoridade para narrar.
"13 de maio. Hoje
amanheceu chovendo. É um dia simpático para mim. É o dia da Abolição. Dia que
comemoramos a libertação dos escravos.
...Nas prisões os negros
eram os bodes expiatórios. Mas os brancos agora são mais cultos. Não nos trata
com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam felizes.
Contínua chovendo. Eu tenho
só feijão e sal. À chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a
escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel
vender os ferros.
Com o dinheiro dos ferros
vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. ...Eu tenho
tanto dó dos meus filhos. Quando eles veem as coisas de comer eles brada:
– Viva a mamãe!
A manifestação agrada-me.
Mas eu já perdi o hábito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida.
Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha.
Mandei-lhe um bilhete assim:
– “Dona Ida pode-me
arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje
choveu e eu não pude catar papel. Agradeço a Carolina”.
...Choveu, esfriou. É o
inverno que chega. No inverno a gente come mais. A Vera começou a pedir comida.
Eu não tinha. Era a reprise do espetáculo. Eu estava com dois cruzeiros.
Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco
de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Eram 9 horas da noite quando
comemos.
Assim no dia 13 de maio de
1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!"
É muito triste saber que
isso acontecia 1958 com muitas pessoas, porém, sabemos que essa situação e
talvez de maneira ainda pior contínua acontecendo, principalmente no interior
do País pois as pessoas atualmente estão de coração ainda mais duro que antes.
Os programas de
assistências criados pelos governos não chegam em todas as mãos necessitadas
devido a burocracia e a corrupção que assola o Brasil. Sem contar que a
tecnologia existente não absorvida pelos povos dos sertões bravos.
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