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sexta-feira, dezembro 05, 2025

Preikestolen ou Prekestolen


 

Preikestolen (em norueguês: Preikestolen, também grafado antigamente como Prekestolen), conhecido em português como “Púlpito do Pregador” ou “Púlpito de Rocha”, é uma das formações rochosas mais icônicas da Noruega e uma das atrações turísticas mais famosas do mundo.

Trata-se de uma falésia de granito com 604 metros de altura vertical que se projeta majestaticamente sobre o Lysefjord (Fiorde de Lyse), no município de Strand (antiga Forsand), na região de Rogaland, no sudoeste do país.

O platô no topo da falésia tem aproximadamente 25 × 25 metros, é quase perfeitamente quadrado e surpreendentemente plano, o que permite aos visitantes caminhar até a beira do precipício e contemplar uma vista vertiginosa do fiorde e das montanhas ao redor, incluindo o platô Kjerag, do outro lado do fiorde.

A trilha e o turismo

A trilha até o topo tem cerca de 8 km ida e volta (3,8-4 km em cada sentido) e um ganho de elevação de aproximadamente 500 metros. Apesar de ser considerada de dificuldade moderada, exige bom condicionamento físico, especialmente em dias de chuva ou com neve residual.

O percurso começa no Preikestolen Mountain Lodge e leva em média 2 a 3 horas por trecho. O local se tornou uma das maiores atrações turísticas da Noruega. Nos quatro meses de alta temporada de verão de 2006, cerca de 95.000 pessoas visitaram o local.

Esse número cresceu exponencialmente: em 2019, antes da pandemia, estima-se que mais de 300.000 pessoas tenham feito a caminhada anualmente. Após a retomada total do turismo pós-Covid, os números voltaram a subir rapidamente, chegando a cerca de 330.000-350.000 visitantes por ano nos últimos anos.

Mortes e incidentes

Apesar da fama de “lugar seguro” por não ter grades ou proteção na borda (o que é parte da experiência norueguesa de liberdade na natureza), Preikestolen já registrou várias mortes:

Outubro de 2013 - Primeira morte registrada de um turista: uma mulher espanhola de 24 anos escorregou e caiu do precipício ao tentar tirar fotos.

Setembro de 2015 - Um turista austríaco de 40 anos caiu ao tentar recuperar o celular que havia deixado cair perto da borda.

Outros incidentes graves ocorreram em 2021, 2022 e 2023, incluindo quedas fatais de turistas de várias nacionalidades (entre eles um homem norueguês em 2022 e uma turista chinesa em 2023).

Até 2025, estima-se que pelo menos 8 a 10 pessoas tenham morrido no local desde a primeira ocorrência registrada, quase todas por quedas acidentais ao tirar selfies ou se aproximar demais da borda.

Esses incidentes geraram debates na Noruega sobre a instalação de barreiras ou cercas, mas a maioria da população e das autoridades locais rejeita a ideia, defendendo o princípio do “allemannsretten” (direito de todos à natureza) e a responsabilidade individual.

Curiosidades adicionais

Preikestolen foi formado há cerca de 10.000 anos, no final da última era glacial, quando a água do degelo congelou nas rachaduras da montanha e quebrou grandes blocos de rocha, criando a plataforma característica.

O local serviu de cenário para o filme Missão: Impossível - Fallout (2018), na famosa cena de escalada e luta entre Tom Cruise e Henry Cavill.

Em dias claros, é possível ver até Stavanger (a cerca de 25 km em linha reta) e, em condições excepcionais, até o mar do Norte.

Preikestolen continua sendo um símbolo da beleza selvagem e da filosofia norueguesa de convivência com a natureza - belíssimo, acessível e, ao mesmo tempo, implacável com quem subestima seus perigos.


O Futuro Não é Lugar para Morar


 

Preocupação é aquela conversa silenciosa que travamos com nós mesmos sobre coisas que, na quase totalidade das vezes, não dependem de nós ou simplesmente nunca vão acontecer. É um diálogo interno que consome espaço mental, rouba energia vital e constrói castelos de ansiedade no ar.

Passamos minutos, horas, às vezes noites inteiras imaginando desastres que têm 0,001% de chance de se concretizar, prevendo dores que raramente se confirmam e nos preparando para batalhas que talvez nunca cheguemos a travar.

É impressionante como, enquanto alimentamos esses fantasmas, a vida real segue acontecendo bem na nossa frente. O filho cresce, o sol se põe mais lindo do que nunca, alguém que amamos está ali do nosso lado querendo apenas um olhar presente, e nós… estamos em 2030 sofrendo por uma conta que ainda nem chegou, ou em 2027 chorando por uma rejeição que ainda nem foi dita.

Curiosamente, o “e se…” só funciona para o lado negativo. Raramente paramos para perguntar: E se der certo? E se for mais fácil do que eu penso? E se eu for mais forte do que imagino?

E se a porta que parece fechada estiver só encostada? A ciência já comprovou o que os antigos sábios já sabiam: cerca de 85% das coisas que nos preocupam nunca acontecem (estudo clássico da Universidade de Cincinnati, ainda citado em psicologia cognitiva). Dos 15% que acontecem, a maioria é menos grave do que prevíamos ou nos traz algum aprendizado valioso.

Ou seja: sofremos 100% do tempo por 15% de realidade - e ainda distorcida. A preocupação, portanto, é o único imposto que pagamos adiantado sobre dívidas que talvez nunca venhamos a ter. Por outro lado, a confiança e a entrega não são ingenuidade; são estratégia de sobrevivência emocional.

Buda ensinava que o sofrimento nasce do apego ao que ainda não existe. Estoicos como Sêneca repetiam que “sofremos mais na imaginação do que na realidade”.

De formas diferentes, todas as grandes tradições chegam à mesma conclusão: o futuro não é lugar para morar, é lugar para visitar de vez em quando, com mala leve. Viver um dia de cada vez não é preguiça nem falta de planejamento. Planejar é prudente; sofrer antecipado é masoquismo.

Você pode (e deve) ter metas, poupar dinheiro, cuidar da saúde, fazer seguro, estudar para a prova. Mas fazer tudo isso com o coração leve, sem transformar o planejamento em tormento, é o grande segredo.

Hoje é o único dia que realmente temos nas mãos. Ontem virou memória (e muitas vezes memória distorcida). Amanhã é promessa (e promessa não cumprida ainda não dói). Quando conseguimos ficar inteiros no agora, algo mágico acontece: as preocupações perdem força porque perdem matéria-prima.

Elas só sobrevivem quando têm o futuro como combustível. Tire o futuro do cardápio e elas morrem de inanição. Por isso, respirar fundo, agradecer pela água que bebe agora, pelo abraço que pode dar agora, pelo passo que pode dar agora, pelo trabalho que está na sua frente agora, isso não é clichê romântico. É remédio comprovado contra a ansiedade.

Viver um dia de cada vez é abrir espaço para a vida acontecer de verdade. É escolher trocar o peso do “e se der errado?” pela leveza do “vou fazer o melhor que posso hoje”. É substituir o medo do futuro pela confiança de que, se o amanhã chegar, a graça de hoje terá sido suficiente para nos sustentar nele.

E quando a noite vier, que venha com a paz de quem fez o que podia, amou o que tinha e confiou o resto Àquele que segura o amanhã nas mãos. O presente é o único pedaço do tempo que podemos chamar de nosso. Então respire. Sorria. Viva hoje. O amanhã, quando chegar, já vai se chamar hoje - e você estará pronto.

quinta-feira, dezembro 04, 2025

Tesouros na Tumba



 

No dia 26 de novembro de 1922, o arqueólogo britânico Howard Carter, após anos de buscas financiadas por Lord Carnarvon, encontrou os primeiros degraus de uma escadaria escondida no Vale dos Reis. Dias depois, em 4 de novembro, a escavação revelou uma porta selada com o selo da necrópole real e, mais importante, com o selo pessoal intacto de Tutancâmon.

Era a primeira vez em mais de 3.200 anos que alguém via aquele selo sem ter sido quebrado por ladrões de tumbas.

Apesar dos rumores que já circulavam sobre uma suposta “maldição dos faraós” - alimentados inclusive por jornais sensacionalistas da época -, no dia 26 de fevereiro de 1923 Carter e Lord Carnarvon, acompanhados da filha deste, Lady Evelyn Herbert, romperam oficialmente o selo da porta da câmara funerária (depois de já terem aberto a antecâmara em novembro de 1922).

Foi nesse momento que Carter, com a mão trêmula, fez um pequeno orifício na porta e, iluminando com uma vela, pronunciou a frase que entraria para a história:
“Vejo coisas maravilhosas!” Dentro da tumba, que media apenas cerca de 110 metros quadrados (muito pequena para padrões reais), foram catalogados exatos 5.398 objetos - um número impressionante para um espaço tão reduzido. Entre os tesouros mais extraordinários:

Quatro santuários dourados encaixados um dentro do outro, como caixas gigantes, protegendo o sarcófago de quartzito vermelho. Três caixões antropomórficos aninhados: os dois primeiros de madeira coberta com lâmina de ouro, e o terceiro, o mais interno, feito inteiramente de ouro maciço com 110,4 kg e 1,88 m de comprimento.

A célebre máscara funerária de ouro maciço e pedras semipreciosas, pesando 11 kg (oficialmente 10,23 kg), que cobria o rosto da múmia. Duas múmias fetais (filhas natimortas de Tutancâmon) em pequenos caixões, confirmando a tragédia familiar do jovem rei.

Carruagens desmontadas, arcos, flechas, adagas cerimoniais, tronos, camas rituais, vasos de alabastro, caixas de jogos, roupas íntimas de linho finíssimo, sandálias, e até feixes de flores secas colocadas por viúvas ou sacerdotes no funeral.

O corpo mumificado do rei, com apenas 18 ou 19 anos na morte, apresentava sinais de uma perna fraturada (possivelmente causa ou consequência de um acidente) e sofreu danos durante a remoção da máscara em 1925, mas continua sendo uma das múmias mais bem preservadas do Egito Antigo.

A tumba de Tutancâmon era, na verdade, uma tumba secundária e improvisada: o jovem faraó morreu subitamente (provavelmente em 1323 a.C.), e seu sucessor Ay apropriou-se da tumba maior que estava sendo preparada para ele. Por ironia do destino, essa tumba pequena e escondida escapou dos saques sistemáticos que atingiram quase todas as outras sepulturas reais do Vale dos Reis.

Se um faraó adolescente, de reinado curto (1332-1323 a.C.) e sem grandes conquistas militares ou políticas, foi enterrado com tanto luxo, imagina-se o que continham as tumbas dos grandes faraós do Império Novo no seu apogeu - como Tutmés III, Amenhotep III, Seti I ou Ramsés II.

Infelizmente, todas essas tumbas foram completamente saqueadas na antiguidade, e seus tesouros derreteram-se em fornos ou foram reutilizados ao longo dos séculos. Sobre a famosa “maldição”

A lenda ganhou força quando Lord Carnarvon morreu em 5 de abril de 1923, apenas cinco meses após a abertura oficial da câmara, vítima de uma infecção causada por picada de mosquito que se complicou em septicemia.

A imprensa sensacionalista britânica inventou a história de uma inscrição “A morte virá em asas velozes para aquele que perturbar o repouso do faraó” - inscrição que nunca existiu na tumba.

Dos 58 pessoas presentes na abertura da tumba ou da câmara funerária, apenas 8 morreram nos 12 anos seguintes, uma taxa perfeitamente normal para a época. Howard Carter, o principal “culpado” pela violação, viveu até 1939, morrendo aos 64 anos de causas naturais.

Hoje, quase todos os objetos da tumba encontram-se no Grande Museu Egípcio (GEM), próximo às pirâmides de Gizé, inaugurado parcialmente em 2023 e que, quando totalmente aberto, abrigará o tesouro completo de Tutancâmon pela primeira vez desde 1922 - incluindo a máscara, que deixará o antigo Museu Egípcio do Cairo após mais de um século.

A descoberta de Tutancâmon continua sendo o maior achado arqueológico da história não pelo tamanho da tumba, mas por ter sido a única sepultura real encontrada praticamente intacta, oferecendo uma cápsula do tempo do esplendor do Egito Antigo há 3.300 anos.

Não Sou Ateu Sou Terráqueo


 

Eu não me declaro ateu, porque o ateísmo ainda se define em relação a Deus - é uma posição que, para existir, precisa negar algo. Também não sou agnóstico; o agnosticismo ainda considera a pergunta relevante o bastante para suspender o juízo, como quem permanece diante de uma porta esperando que alguém responda ao bater.

Eu simplesmente atravessei essa porta e segui adiante. Deus não me importa. Nem como hipótese, nem como ausência, nem como mistério. A existência ou inexistência de alguma divindade deixou de ter qualquer peso na minha vida, da mesma forma que não gasto energia pensando se existe ou não vida inteligente em Andrômeda.

É uma pergunta que não toca o que eu vivo, sofro ou amo. O que me importa - e me importa visceralmente - é este planeta frágil e absurdamente belo, girando silencioso em torno de uma estrela mediana, perdido num cosmos que jamais saberá que existimos.

Importam-me as florestas que ainda respiram, mesmo sufocadas pelo avanço cego das motosserras. Importam-me os oceanos, que agonizam lentamente sob o peso de trilhões de fragmentos de plástico, como se engolissem diariamente os detritos de nossa indiferença.

Importam-me os recifes de coral, branqueando como ossos expostos ao sol; os últimos rinocerontes brancos do norte, cuja existência parece mais um lamento do que um fato; os povos indígenas assassinados por protegerem árvores que jamais conheceram o conceito de propriedade.

Importam-me também as crianças que nascem hoje em cidades sem árvores, sem silêncio e sem horizonte, criaturas que aprendem desde cedo que céu é sinônimo de fumaça e que pássaros são raridades urbanas.

Importam-me os seres humanos, sim - com suas contradições, suas guerras absurdas, sua genialidade artística e sua capacidade infinita de destruir o que ama. Mas não só eles.

Importa-me o lobo que voltou a caminhar pelos Pireneus depois de um século de ausência, como se reivindicasse um território que lhe foi roubado. Importa-me a baleia que canta em frequências que talvez nunca decifremos. Importa-me o inseto anônimo que poliniza o alimento que me mantém vivo, enquanto o extinguimos sem nos dar ao trabalho de aprender seu nome.

Eu não preciso de um céu prometido depois da morte. Preciso que este único céu que temos deixe de ser envenenado. Não busco salvação eterna; busco que a Amazônia não vire savana, que o permafrost não libere o que está adormecido há milênios, que ainda haja gelo nos polos quando meus netos crescerem - se ainda houver netos para crescer.

Minha espiritualidade, se posso chamá-la assim, cabe inteira dentro dos limites da biosfera. Meu sagrado é o ciclo do carbono, a fotossíntese, a teia invisível que permite a um fungo conversar com uma árvore a centenas de metros de distância, em uma sinfonia silenciosa que sustenta tudo o que somos.

Meu pecado imperdoável é a indiferença diante da sexta extinção em massa - uma extinção que não é causada por asteroides ou vulcões, mas por nós, por nossa pressa, por nossa ganância e pela falsa sensação de que somos superiores ao restante da vida.

Então, não: não sou ateu. Não sou agnóstico. Sou terráqueo. Radicalmente terráqueo.

Meu deus tem 4,54 bilhões de anos, chama-se Gaia, e está com febre alta. E é nela - nessa velha e ferida divindade de rochas, mares, bactérias e florestas - que eu acredito.

É por ela que rezo com atos, que luto com o pouco que posso, que tento salvar enquanto ainda há tempo - se é que ainda há.

quarta-feira, dezembro 03, 2025

Saudade


Saudade, palavra que não cabe em outras línguas, ferida que não sangra, mas dói o tempo todo. Tu me maltratas em silêncio, apertas o peito como mão invisível, enegreces o dia mais ensolarado, faz o sorriso parecer traição.

Como eu gostaria de te arrancar de mim como quem arranca uma página rasgada do peito, de apagar teu nome do meu sangue, de esquecer o gosto do teu beijo e o jeito como tu dizias “fica”.

Mas tu és mais forte que eu. Tu me dominas, me faz chorar no banho para ninguém ouvir, me faz procurar teu rosto em cada multidão, me faz ligar para o teu número antigo só para escutar a gravação dizendo que não existe mais.

Saudade, tu me fazes falar sozinho no carro, repetir conversas que nunca mais vão acontecer, guardar tua camiseta velha como relíquia, cheirar o travesseiro que ainda guarda teu perfume como quem cheira uma flor que já morreu.

Tu me fazes perder o sentido das coisas. O café fica sem gosto, a música só toca dor, o futuro parece um lugar onde tu não estás e, por isso, não vale a pena chegar. Hoje a saudade veio mais pesada.

Bateu na porta sem avisar, sentou na minha cama, olhou nos meus olhos e disse: “Você ainda não superou, né?” E eu confesso: não. Quero teu cheiro de novo, aquele cheiro de amor recém-acordado, de pele depois do banho, de cabelo molhado encostado no meu peito.

Quero sentir tua respiração calma no meu pescoço, teu coração batendo junto com o meu como duas músicas que só fazem sentido juntas. Quero voltar no tempo nem que seja por um segundo só para te dizer de novo “eu te amo” e ouvir tu dizeres de volta, com aquela voz rouca de quem acabou de acordar: “Eu também, viu?”

Mas o tempo não volta. E tu não voltas. Então fico aqui, com a saudade me comendo vivo, aprendendo a conviver com este vazio que tem teu nome, este buraco no peito que tem exatamente o teu formato.

Saudade. Única dor que a gente sente e, ao mesmo tempo, não quer que passe nunca. Porque, no fundo, ter saudade de ti é a única forma que me resta de ainda te ter.

Francisco Silva Sousa 

As coisas que aprendi com a sabedoria "petralha"



Se eu não sou petista, automaticamente sou bolsonarista. Não existe meio-termo, nuance, centro, liberalismo de mercado com costumes conservadores, nada. É 8 ou 80. Binário. Preto no branco. Ou você está com o Capitão ou você é comunista disfarçado de liberal.

Se eu sou bolsonarista, então sou obrigatoriamente a favor de intervenção militar com o Exército tomando o poder e o Congresso sendo fechado “só por uns tempinhos”. Qualquer outra solução é fraqueza, conivência com o sistema ou “globalismo”. Democracia é bonito só quando ganha o meu lado. Não posso me indignar com a corrupção do PT porque:

“Teve no PSDB também” (como se isso anulasse o fato de que o PT institucionalizou o maior esquema de corrupção da história da humanidade, o Petrolão, com US$ 88 bilhões desviados só na Petrobras - valor que daria para construir 17 mil hospitais de campanha ou pagar 10 anos de Bolsa Família inteiro).

“O PT não inventou a corrupção” (verdade, mas aperfeiçoou, industrializou e exportou o modelo para Venezuela, Argentina, Bolívia, a famosa “nossa América Latina” do Foro de São Paulo).

Na real, minha verdadeira indignação não é com o rombo na Petrobras, na Eletrobras, nos Correios, no BNDES. É porque o PT ousou colocar o pobre no mesmo avião que eu. Aquela tia do Bolsa Família com criança no colo sentada na poltrona do lado me dá urticária moral. Isso sim é o fim da civilização ocidental cristã. Eu não tenho estatura moral para criticar ladrão de bilhões porque:

Já fiz câmbio paralelo em 1998

Já baixei música no LimeWire

Já colei na prova de química do colégio

Já soltei um punzinho silencioso no elevador lotado do Ed. Copan

Portanto, por coerência ética, sou obrigado a achar que Lula foi apenas um “preso político” e que a Lava Jato foi “a maior operação jurídico-midiática da história”. Eu fui para a rua em 2015-2016 com panela na mão, camisa da CBF e adesivo “Intervención Ya” no carro porque:

Sou elite branca paulista/carioca/sulista

Odeio pobre, nordestino, preto, índio, gay, feminista, criança com nome composto, gente que usa camisa de microfibra, desodorante Rexona ou chinelo de dedo com meia. Meu sonho secreto é voltar para o tempo em que empregada doméstica entrava pela porta dos fundos e chamava a patroa de “sinhá”

Eu me indigno com “censura” e “ditadura do judiciário” quando o STF manda tirar post meu do ar, mas acho lindo quando o Alexandre de Moraes bloqueia conta de deputado, censura jornal, manda prender gente sem julgamento e transforma o inquérito do fim do mundo na maior piñata jurídica da história.

Aí é “defesa da democracia”. Impeachment só é golpe quando é contra governo de esquerda. Quando foi contra Collor (direita) ou contra Dilma (esquerda), aí depende: se o presidente for de esquerda, é golpe fascista; se for de direita, é “limpeza moral da nação”.

E o melhor: aprendi com os digníssimos ministros do STF que quem vai pra rua pedir qualquer coisa depois da eleição está fazendo “terceiro turno”, é “golpista”, “antidemocrático” e, pasmem, está obcecado pelo fim do financiamento privado de campanha - porque, segundo a narrativa oficial, toda corrupção do planeta acaba se o dinheiro de empresa não puder mais entrar na política (como se Cuba, Venezuela e Coreia do Norte fossem paraísos de transparência por não terem empresa privada financiando campanha).Resumindo o aprendizado de uma década:

Se o PT rouba, é “caixa 2 de campanha” e “preso político"

Se o Bolsonaro faz rachadinha, é “costume antigo da política"

Se o Lula nomeia amigo para o STF, é “prerrogativa presidencial"

Se o Bolsonaro tenta nomear amigo para o STF, é “tentativa de golpe"

E assim seguimos, em 2025, com o mesmo circo pegando fogo, só que agora com mais pipoca transgênica, mais censura “em nome da democracia” e menos vergonha na cara de todos os lados. Porque, no fim das contas, o Brasil não tem conserto: tem torcida. E eu já escolhi a minha. E você?

terça-feira, dezembro 02, 2025

Uma história para conhecer - Władysław Szpilman


 

No dia 23 de setembro de 1939, em meio ao estrondo ensurdecedor das bombas que caiam sobre Varsóvia, Władysław Szpilman sentava-se ao piano da Polskie Radio e executava o Noturno em dó menor, de Chopin. O som das explosões era tão próximo e tão violento que ele mal conseguia distinguir suas próprias notas.

Ainda assim, continuou tocando - como se a música fosse o último fio que o ligava à civilização que desmoronava ao redor. Aquela apresentação entrou para a história como a última transmissão musical ao vivo da capital polonesa antes da escuridão absoluta imposta pela guerra.

Poucas horas depois, uma bomba alemã atingiu a sede da emissora. A rádio silenciou, e com ela calou-se uma era inteira. Szpilman, no entanto, sobreviveu, enquanto o mundo que conhecia começava a desaparecer. Sua família não teve a mesma sorte: mortos ou deportados, tornaram-se vítimas do extermínio sistemático levado a cabo pelos nazistas.

O pianista, obrigado a viver no gueto de Varsóvia, viu de perto o processo lento, cruel e burocrático de desumanização: fome, frio, doenças, execuções públicas e deportações diárias.

Trabalhou como músico em cafés clandestinos, testemunhou a degradação da comunidade judaica e enfrentou o medo constante de ser levado para Treblinka. Seus dias se transformaram em uma rotina de sobrevivência, silêncio e esperança frágil.

Após escapar por pouco da deportação, Szpilman passou meses escondido em ruínas e apartamentos abandonados. A cidade queimava, os prédios desabavam, as ruas viravam labirintos de escombros.

A solidão era tão brutal quanto a guerra em si. Vivendo de restos de comida, febril, fraco, reduzido quase a uma sombra, ele continuou resistindo - pelo instinto e pela lembrança da música que carregava dentro de si.

Foi então, já no fim do conflito, que o improvável aconteceu. Em um prédio devastado, onde Szpilman mal conseguia ficar de pé, um capitão alemão, Wilm Hosenfeld, o encontrou. Em vez de denunciá-lo, pediu-lhe para tocar.

Diante de um piano destruído pelo frio e pelo abandono, Szpilman executou o mesmo noturno de Chopin que tocara anos antes no rádio. Aquela música - frágil, trêmula e ao mesmo tempo sublime - salvou sua vida. Hosenfeld passou a ajudá-lo secretamente, fornecendo comida, roupas e proteção até o fim da ocupação alemã.

Em O Pianista, Szpilman narra com precisão e sensibilidade suas experiências entre 1939 e 1945: o colapso abrupto de sua vida, o cotidiano sufocante do gueto, a fuga improvável, os esconderijos, a destruição total de Varsóvia e o inesperado gesto de humanidade vindo de um oficial inimigo.

Sua narrativa expõe com clareza a dualidade do ser humano - a crueldade impensável e a compaixão inesperada - vivida no coração de um dos períodos mais sombrios da história.

O testemunho de Szpilman é, ao mesmo tempo, um documento histórico e literário: um mergulho profundo no horror do Holocausto e na força do espírito humano diante da barbárie.

O livro inspirou o filme homônimo de Roman Polanski, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e de três Oscars - Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado - tornando-se uma das obras mais impactantes já produzidas sobre a Segunda Guerra Mundial.No dia 23 de setembro de 1939, em meio ao estrondo ensurdecedor das bombas que caiam sobre Varsóvia, Władysław Szpilman sentava-se ao piano da Polskie Radio e executava o Noturno em dó menor, de Chopin. O som das explosões era tão próximo e tão violento que ele mal conseguia distinguir suas próprias notas.

Ainda assim, continuou tocando - como se a música fosse o último fio que o ligava à civilização que desmoronava ao redor. Aquela apresentação entrou para a história como a última transmissão musical ao vivo da capital polonesa antes da escuridão absoluta imposta pela guerra.

Poucas horas depois, uma bomba alemã atingiu a sede da emissora. A rádio silenciou, e com ela calou-se uma era inteira. Szpilman, no entanto, sobreviveu, enquanto o mundo que conhecia começava a desaparecer. Sua família não teve a mesma sorte: mortos ou deportados, tornaram-se vítimas do extermínio sistemático levado a cabo pelos nazistas.

O pianista, obrigado a viver no gueto de Varsóvia, viu de perto o processo lento, cruel e burocrático de desumanização: fome, frio, doenças, execuções públicas e deportações diárias.

Trabalhou como músico em cafés clandestinos, testemunhou a degradação da comunidade judaica e enfrentou o medo constante de ser levado para Treblinka. Seus dias se transformaram em uma rotina de sobrevivência, silêncio e esperança frágil.

Após escapar por pouco da deportação, Szpilman passou meses escondido em ruínas e apartamentos abandonados. A cidade queimava, os prédios desabavam, as ruas viravam labirintos de escombros.

A solidão era tão brutal quanto a guerra em si. Vivendo de restos de comida, febril, fraco, reduzido quase a uma sombra, ele continuou resistindo - pelo instinto e pela lembrança da música que carregava dentro de si.

Foi então, já no fim do conflito, que o improvável aconteceu. Em um prédio devastado, onde Szpilman mal conseguia ficar de pé, um capitão alemão, Wilm Hosenfeld, o encontrou. Em vez de denunciá-lo, pediu-lhe para tocar.

Diante de um piano destruído pelo frio e pelo abandono, Szpilman executou o mesmo noturno de Chopin que tocara anos antes no rádio. Aquela música - frágil, trêmula e ao mesmo tempo sublime - salvou sua vida. Hosenfeld passou a ajudá-lo secretamente, fornecendo comida, roupas e proteção até o fim da ocupação alemã.

Em O Pianista, Szpilman narra com precisão e sensibilidade suas experiências entre 1939 e 1945: o colapso abrupto de sua vida, o cotidiano sufocante do gueto, a fuga improvável, os esconderijos, a destruição total de Varsóvia e o inesperado gesto de humanidade vindo de um oficial inimigo.

Sua narrativa expõe com clareza a dualidade do ser humano - a crueldade impensável e a compaixão inesperada - vivida no coração de um dos períodos mais sombrios da história.

O testemunho de Szpilman é, ao mesmo tempo, um documento histórico e literário: um mergulho profundo no horror do Holocausto e na força do espírito humano diante da barbárie.

O livro inspirou o filme homônimo de Roman Polanski, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e de três Oscars - Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado - tornando-se uma das obras mais impactantes já produzidas sobre a Segunda Guerra Mundial.

A transitoriedade da vida

    


Entre as coisas que, à primeira vista, parecem roubar o sentido da vida humana estão não apenas o sofrimento, mas também a morte e a transitoriedade. Nunca me canso de repetir: os únicos aspectos verdadeiramente transitórios da vida são as potencialidades.

No instante em que uma possibilidade é realizada, ela deixa de ser mera possibilidade e se transforma em realidade definitiva; é resgatada do fluxo do tempo e entregue ao passado, onde fica a salvo para sempre da transitoriedade.

Porque no passado nada está irremediavelmente perdido - pelo contrário, tudo está irrevogavelmente guardado. Por isso, a transitoriedade da existência não lhe retira o sentido de forma alguma. Pelo contrário, é exatamente ela que confere à vida sua seriedade e sua responsabilidade única.

Tudo depende de nós: temos de nos tornar conscientes de que as possibilidades essenciais da vida são, por natureza, fugidias. A cada momento o ser humano está diante de uma massa inesgotável de potencialidades e precisa escolher: quais delas serão condenadas ao não-ser eterno e quais serão elevadas à realidade?

Qual escolha se tornará, de uma vez por todas, uma “pegada imortal nas areias do tempo”? A todo instante a pessoa decide, para o bem ou para o mal, qual será o monumento definitivo de sua existência.

Infelizmente, a maioria das pessoas só enxerga o campo queimado da transitoriedade e se esquece dos celeiros abarrotados do passado, onde já guardou, de forma indelével, seus atos, suas alegrias, seus amores - e também seus sofrimentos. Nada pode ser desfeito, nada pode ser apagado.

Eu ousaria dizer que ter sido é a forma mais segura e duradoura de ser. Foi exatamente essa visão que sustentou Viktor Frankl nos campos de concentração nazistas (Auschwitz, Kaufering, Türkheim) entre 1942 e 1945. Lá, onde tudo parecia destinado à aniquilação - a dignidade, a esperança, o próprio corpo -, ele descobriu que o passado permanecia intocável.

Mesmo quando lhe arrancavam o manuscrito de seu primeiro livro, a roupa, o cabelo, o nome (tornando-o apenas o número 119.104), o passado ninguém podia lhe tirar: as lembranças de sua esposa Tilly, as conversas com os pacientes de sua clínica psiquiátrica em Viena, os pequenos atos de solidariedade trocados com outros prisioneiros.

Esse passado, por mais modesto que fosse, era uma riqueza absoluta, um tesouro que nem o crematório podia incinerar. Por isso a logoterapia, a “terceira escola vienense de psicoterapia” fundada por Frankl, não é pessimista - é profundamente ativista.

Usando uma imagem que ele próprio gostava: o pessimista assemelha-se ao homem que, com medo e tristeza, vê o calendário na parede ficar cada dia mais fino. Já a pessoa que enfrenta a vida ativamente é como aquele que, dia após dia, destaca a folha do calendário, escreve no verso alguns apontamentos sobre o que viveu e guarda cuidadosamente todas as folhas já usadas.

Com orgulho e até alegria ele pode contemplar a pilha crescente: aí está toda a riqueza de uma vida já realizada - o trabalho concluído, o amor amado, e, sobretudo, os sofrimentos suportados com coragem.

Que lhe importa, então, estar envelhecendo? Terá ele motivo para invejar os jovens que vê pela frente ou para cair na nostalgia da juventude perdida? “Que motivos teria eu para invejá-los?”, perguntaria Frankl.

“Eles têm possibilidades abertas. Eu tenho realidades cumpridas. Em vez de um futuro cheio de ‘talvez’, eu tenho um passado cheio de ‘assim foi’. E nesse passado estão não apenas as conquistas e os momentos felizes, mas exatamente aqueles sofrimentos que enfrentei com dignidade os maiores horrores que um ser humano pode conhecer.

Esses sofrimentos corajosamente suportados são justamente aquilo de que mais me orgulho - embora sejam a última coisa que alguém invejaria.” Essa foi a descoberta que Frankl trouxe dos campos de extermínio e que transformou para sempre a psicoterapia e o pensamento existencial: o sentido da vida não está no que ainda podemos fazer amanhã, mas sobretudo no que já fizemos - irreversivelmente - com os dias de ontem, mesmo (e talvez principalmente) quando esses dias foram dias de dor indizível.

Viktor E. Frankl (1905-1997)

Psiquiatra, neurologista, fundador da logoterapia. Sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas.

Autor de Em Busca de Sentido (1946), livro escrito em nove dias logo após sua libertação, que já vendeu mais de 12 milhões de exemplares e foi eleito um dos dez livros mais influentes dos Estados Unidos no século XX.

segunda-feira, dezembro 01, 2025

Ruivas - Temidas e demonizadas através da História


 

Ruivas: as mais temidas, desejadas e demonizadas da História

Durante milênios, poucas características físicas despertaram tanto fascínio e medo quanto os cabelos vermelhos. Em quase todas as culturas, as ruivas foram vistas como diferentes - e o diferente, quase sempre, foi tratado como perigoso.

Antiguidade e mitologia

No Antigo Egito, os ruivos eram associados ao deus Set (ou Seth), o senhor do caos, das tempestades e da violência. Sacrificar pessoas de cabelos vermelhos (ou até animais ruivos) era um ritual para aplacar a ira do deus. Há registros de que, em certas épocas, ruivos eram queimados vivos em cerimônias para “afastar o mal”.

Na Grécia antiga, acreditava-se que os ruivos se transformavam em vampiros após a morte. Aristóteles chegou a escrever que pessoas de cabelo vermelho eram emocionalmente instáveis e “de sangue quente”.

Na tradição judaica pré-cristã, Lilith - a suposta primeira esposa de Adão, que se rebelou e virou demônio - é frequentemente descrita em textos medievais como uma mulher de longos cabelos ruivos flamejantes.

Idade Média e Inquisição

Durante a Idade Média europeia, o cabelo vermelho tornou-se um dos principais “sinais” de bruxaria. Milhares de mulheres (e alguns homens) ruivos foram queimados na fogueira, sobretudo na Alemanha e na Escócia.

A Inquisição Espanhola associava os cabelos ruivos aos judeus (mesmo que muitos judeus sefarditas fossem morenos). Na arte renascentista, Judas Iscariotes quase sempre era pintado como ruivo - um estereótipo que perdurou séculos.

Em “O Mercador de Veneza” de Shakespeare, embora Shylock não seja explicitamente descrito como ruivo no texto, muitas montagens clássicas tingiam seu cabelo ou barba de vermelho para reforçar a imagem do “judeu traiçoeiro”.

Na Inglaterra elisabetana e jacobina (séculos XVI–XVII), acreditava-se que as bruxas roubavam crianças para tingir seus cabelos com sangue e ficarem ruivas - uma lenda que ajudou a alimentar caças às bruxas.

Era Moderna e o preconceito que sobreviveu

No século XIX, na Inglaterra vitoriana, ser ruivo ainda era motivo de bullying nas escolas. O termo “ginger” passou a ser usado como insulto (e ainda é em alguns lugares do Reino Unido).

Durante o nazismo, embora os nazistas exaltassem o “tipo ariano loiro”, os ruivos eram vistos com desconfiança: o gene MC1R era considerado uma “degeneração” da pureza racial nórdica. Alguns cientistas da época sugeriram esterilizar ruivos.

A ciência por trás do fogo

Os cabelos ruivos são causados por variantes do gene MC1R, localizado no cromossomo 16. Esse gene controla a produção de feomelanina (pigmento avermelhado) em vez de eumelanina (castanho/preto). Para alguém ser ruivo natural, precisa herdar duas cópias da variante recessiva - uma do pai e uma da mãe.

Curiosidades biológicas:

Ruivos têm maior tolerância a anestésicos (precisam de cerca de 20% mais anestesia geral). Sentem mais frio e mais calor, e produzem vitamina D com mais eficiência (vantagem evolutiva em regiões nubladas do norte da Europa).

Têm menos cabelos na cabeça que a média (cerca de 90 mil fios, contra 140 mil de loiros e 110 mil de morenos).

Onde estão os ruivos hoje?

Escócia: 13% da população tem cabelos ruivos; 40% carrega o gene (maior concentração do mundo).

Irlanda: 10% ruivos, 46% portadores do gene.

Na pequena ilha de Udmúrtia (Rússia), há um festival anual chamado “Dia do Cabelo Vermelho”, que reúne milhares de ruivos de todo o país - um dos poucos lugares onde ser ruivo é motivo de orgulho coletivo.

Vão desaparecer?

Em 2007, uma falsa notícia (originada numa matéria mal interpretada da revista National Geographic) espalhou que “os ruivos vão desaparecer em 2060”. Não é verdade. O gene é recessivo, mas enquanto houver humanos, haverá casais que podem gerar ruivos.

A porcentagem pode diminuir com a miscigenação global, mas a extinção é biologicamente impossível sem uma catástrofe que elimine o gene MC1R por completo.

E os neandertais?

Estudos genéticos de 2007 e 2017 (publicados na Science e na Nature) confirmaram que algumas populações de neandertais possuíam variantes do MC1R idênticas às dos ruivos modernos. Ou seja: o cabelo vermelho existe há pelo menos 50-100 mil anos - muito antes do Homo sapiens chegar à Europa.

Hoje: do estigma ao fetiche

No século XXI, o jogo virou. Depois de milênios sendo queimadas, temidas e ridicularizadas, as ruivas viraram símbolo de beleza rara e sensualidade. Campanhas publicitárias, filmes, séries (pense em Jessica Chastain, Karen Gillan, Sophie Turner como Sansa Stark) e até bancos de esperma na Dinamarca relatam maior procura por doadores ruivos.

Do demônio na fogueira à musa desejada: poucas características humanas passaram por uma reversão tão radical de imagem. E, no fim das contas, tudo isso por causa de uma pequena mutação num único gene.

Se você conhece uma ruiva, lembre-se: ela carrega nas veias o mesmo fogo que aterrorizou impérios, queimou bruxas, desafiou deuses e, ainda hoje, faz o mundo parar para olhar duas vezes.

Porque, como dizia o escritor francês Jean-Paul Richter: “Os ruivos são como o pôr do sol: raros, intensos, e quem os vê nunca esquece.”

Paternalismo




Durante uma aula numa universidade brasileira, no meio de uma explicação aparentemente comum, um aluno levantou a mão e perguntou ao professor, com voz firme: - Professor, o senhor sabe como se capturam porcos selvagens?

O docente sorriu, imaginando uma piada, uma metáfora divertida ou apenas uma tentativa de descontrair o ambiente. Mas o jovem continuou, sério: - Não é brincadeira. É exatamente assim que se faz. A sala ficou em silêncio enquanto ele explicava:

“Você encontra um lugar na floresta por onde os porcos selvagens costumam passar. Todos os dias, no mesmo horário, coloca um punhado de milho no chão. Só isso. No começo, eles estranham, cheiram de longe, fogem. São desconfiados por natureza.

Mas depois de alguns dias, voltam. Chegam mais perto. Comem rápido e desaparecem. Quando a rotina está estabelecida, você constrói a primeira lateral de uma cerca - apenas um lado.

Os porcos hesitam, mas o milho está ali, fácil, abundante. Então voltam no dia seguinte. O milho continua sendo mais importante que aquela madeira estranha.” Ele fez uma breve pausa e prosseguiu:

“Depois você coloca a segunda lateral. Demoram um pouco mais, mas retornam. Construímos o terceiro lado, depois o quarto. E assim, pouco a pouco, os animais vão entrando em um quadrado que eles nem percebem existir.

Quando já não há mais motivo para desconfiança, você instala a porta na abertura final. Deixa aberta. Eles entram sozinhos, confiantes, acostumados ao milho farto e fácil. E é nesse exato momento que você fecha o portão.

Os porcos correm em círculos, batem nas tábuas, gritam. Mas é tarde. A liberdade escapou no mesmo ritmo lento com que o milho era oferecido.” Os alunos olhavam fascinados enquanto o jovem concluía:

“Em poucos dias, eles param de tentar fugir. O milho continua caindo. A vida dentro da cerca é mais cômoda do que correr pela mata atrás de raízes e frutos. Engordam. Acomodam-se. Esquecem como era ser livre.

E o mais impressionante: passam a lamber a mão do homem que os alimenta… sem perceber que é a mesma mão que, meses depois, conduzirá a faca no matadouro.” O estudante então fitou o professor e a turma: - É exatamente isso que está acontecendo com o nosso povo.

“Não de uma vez só. Não com tanques nas ruas. Não com decretos de ditadura. É devagar. Com paciência. Com milho.” E começou a enumerar:

Primeiro veio o dinheiro ‘no bolso’, sem contrapartida de trabalho. Depois os programas sociais transformados em moeda de troca por votos. Vieram as bolsas, os auxílios, os cartões, as cestas, os tickets, os vales - todos com nomes carinhosos: Brasil Carinhoso, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Luz para Todos, Farmácia Popular

Sempre acompanhados da foto sorridente de um político. Cada benefício era mais um lado da cerca. Cada “direito adquirido” era mais um prego.
Cada eleição em que o povo trocou liberdade por conforto imediato foi mais um punhado de milho jogado no chão.

E, quando alguém ousava alertar - “cuidado, isso é armadilha!” - surgia o coro automático: Invejoso! Elite! Coração de pedra! Você não quer que os pobres comam? Porque o porco, quando já está gordo dentro da cerca, não quer ouvir quem ainda corre livre na floresta.

Hoje, uma parcela imensa da população brasileira depende do governo para comer, morar, estudar, se tratar, se transportar. Dependência total. E quem depende não questiona. Quem depende aplaude. Quem depende vota no dono do milho.

Assim, sem tiros, sem gritos, sem botas na rua, construiu-se o maior curral político da história da América Latina. A porta foi fechada. Alguns ainda correm em círculos, batem a cabeça nas tábuas, gritam “fora, comunista!”, “fora, fascista!”, sem notar que tanto faz quem está segurando a chave. O problema é que a chave não está mais com eles.

Outros simplesmente se acomodaram. Lambem a mão. Agradecem. Sorrirem. Votam felizes. Caminham ao matadouro sem perceber. O pior: ensinaram os filhos a fazer o mesmo.

Isso não é sobre esquerda ou direita. É sobre liberdade. É sobre um povo que aceitou trocar a dureza selvagem da floresta pela falsa facilidade do curral - e agora acredita que a cerca é proteção, que o portão é segurança e que milho de graça é conquista.

Mas se você ainda consegue olhar além da madeira, verá que a floresta continua lá. E enquanto houver ao menos um que se lembre de como é correr livre, ainda existirá esperança de derrubar o curral.

A liberdade nunca desaparece de verdade - apenas adormece no coração dos que esquecem que um dia foram selvagens.



sábado, novembro 29, 2025

Enquanto há tempo



O amor deve saber dizer palavras que só existem no “tempo da delicadeza” - esse intervalo secreto em que o coração fala baixo, mas diz tudo. “Prometo te querer até o amor cair doente, doente”, escreveu Rubem Alves, revelando que até o amor, tão forte e resistente, pode adoecer quando é descuidado.

É por isso que, nesse tempo misterioso e frágil, é preciso amar com cuidado: amar com o olhar que acolhe, com os ouvidos que escutam o que o outro não consegue dizer, com as mãos que tateiam o mundo e o corpo amado como quem segura uma asa prestes a se partir.

O amor não vive de grandes discursos, mas de pequenos gestos que evitam feridas:
a paciência que não exige, a presença que não sufoca, a palavra certa que chega antes da dor, o silêncio cúmplice que protege e aproxima.

O “tempo da delicadeza” não é eterno. Ele passa, ele se esconde, ele se perde na pressa, no automatismo, na rudeza do cotidiano. Por isso é urgente cuidar enquanto ainda há tempo - antes que a rotina adoeça o afeto, antes que o excesso de razão asfixie a poesia, antes que as mãos se acostumem à ausência.

Amar, no fundo, é um trabalho de artesão: lapida-se o gesto, aparar-se a palavra, cultiva-se o toque. É um exercício diário de atenção para que o amor não se torne apenas memória do que poderia ter sido.

Que cada encontro seja tratado como um milagre raro, que cada amanhecer ao lado seja entendido como privilégio, que cada fragilidade do outro seja acolhida como parte sagrada da experiência humana.

Porque, quando o amor adoece, quase sempre é de descuido. Mas quando floresce, é porque alguém escolheu ser delicadeza em um mundo que desaprendeu a sentir.O amor deve saber dizer palavras que só existem no “tempo da delicadeza” - esse intervalo secreto em que o coração fala baixo, mas diz tudo. “Prometo te querer até o amor cair doente, doente”, escreveu Rubem Alves, revelando que até o amor, tão forte e resistente, pode adoecer quando é descuidado.

É por isso que, nesse tempo misterioso e frágil, é preciso amar com cuidado: amar com o olhar que acolhe, com os ouvidos que escutam o que o outro não consegue dizer, com as mãos que tateiam o mundo e o corpo amado como quem segura uma asa prestes a se partir.

O amor não vive de grandes discursos, mas de pequenos gestos que evitam feridas:
a paciência que não exige, a presença que não sufoca, a palavra certa que chega antes da dor, o silêncio cúmplice que protege e aproxima.

O “tempo da delicadeza” não é eterno. Ele passa, ele se esconde, ele se perde na pressa, no automatismo, na rudeza do cotidiano. Por isso é urgente cuidar enquanto ainda há tempo - antes que a rotina adoeça o afeto, antes que o excesso de razão asfixie a poesia, antes que as mãos se acostumem à ausência.

Amar, no fundo, é um trabalho de artesão: lapida-se o gesto, aparar-se a palavra, cultiva-se o toque. É um exercício diário de atenção para que o amor não se torne apenas memória do que poderia ter sido.

Que cada encontro seja tratado como um milagre raro, que cada amanhecer ao lado seja entendido como privilégio, que cada fragilidade do outro seja acolhida como parte sagrada da experiência humana.

Porque, quando o amor adoece, quase sempre é de descuido. Mas quando floresce, é porque alguém escolheu ser delicadeza em um mundo que desaprendeu a sentir.