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segunda-feira, dezembro 01, 2025

Paternalismo




Durante uma aula numa universidade brasileira, no meio de uma explicação aparentemente comum, um aluno levantou a mão e perguntou ao professor, com voz firme: - Professor, o senhor sabe como se capturam porcos selvagens?

O docente sorriu, imaginando uma piada, uma metáfora divertida ou apenas uma tentativa de descontrair o ambiente. Mas o jovem continuou, sério: - Não é brincadeira. É exatamente assim que se faz. A sala ficou em silêncio enquanto ele explicava:

“Você encontra um lugar na floresta por onde os porcos selvagens costumam passar. Todos os dias, no mesmo horário, coloca um punhado de milho no chão. Só isso. No começo, eles estranham, cheiram de longe, fogem. São desconfiados por natureza.

Mas depois de alguns dias, voltam. Chegam mais perto. Comem rápido e desaparecem. Quando a rotina está estabelecida, você constrói a primeira lateral de uma cerca - apenas um lado.

Os porcos hesitam, mas o milho está ali, fácil, abundante. Então voltam no dia seguinte. O milho continua sendo mais importante que aquela madeira estranha.” Ele fez uma breve pausa e prosseguiu:

“Depois você coloca a segunda lateral. Demoram um pouco mais, mas retornam. Construímos o terceiro lado, depois o quarto. E assim, pouco a pouco, os animais vão entrando em um quadrado que eles nem percebem existir.

Quando já não há mais motivo para desconfiança, você instala a porta na abertura final. Deixa aberta. Eles entram sozinhos, confiantes, acostumados ao milho farto e fácil. E é nesse exato momento que você fecha o portão.

Os porcos correm em círculos, batem nas tábuas, gritam. Mas é tarde. A liberdade escapou no mesmo ritmo lento com que o milho era oferecido.” Os alunos olhavam fascinados enquanto o jovem concluía:

“Em poucos dias, eles param de tentar fugir. O milho continua caindo. A vida dentro da cerca é mais cômoda do que correr pela mata atrás de raízes e frutos. Engordam. Acomodam-se. Esquecem como era ser livre.

E o mais impressionante: passam a lamber a mão do homem que os alimenta… sem perceber que é a mesma mão que, meses depois, conduzirá a faca no matadouro.” O estudante então fitou o professor e a turma: - É exatamente isso que está acontecendo com o nosso povo.

“Não de uma vez só. Não com tanques nas ruas. Não com decretos de ditadura. É devagar. Com paciência. Com milho.” E começou a enumerar:

Primeiro veio o dinheiro ‘no bolso’, sem contrapartida de trabalho. Depois os programas sociais transformados em moeda de troca por votos. Vieram as bolsas, os auxílios, os cartões, as cestas, os tickets, os vales - todos com nomes carinhosos: Brasil Carinhoso, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Luz para Todos, Farmácia Popular

Sempre acompanhados da foto sorridente de um político. Cada benefício era mais um lado da cerca. Cada “direito adquirido” era mais um prego.
Cada eleição em que o povo trocou liberdade por conforto imediato foi mais um punhado de milho jogado no chão.

E, quando alguém ousava alertar - “cuidado, isso é armadilha!” - surgia o coro automático: Invejoso! Elite! Coração de pedra! Você não quer que os pobres comam? Porque o porco, quando já está gordo dentro da cerca, não quer ouvir quem ainda corre livre na floresta.

Hoje, uma parcela imensa da população brasileira depende do governo para comer, morar, estudar, se tratar, se transportar. Dependência total. E quem depende não questiona. Quem depende aplaude. Quem depende vota no dono do milho.

Assim, sem tiros, sem gritos, sem botas na rua, construiu-se o maior curral político da história da América Latina. A porta foi fechada. Alguns ainda correm em círculos, batem a cabeça nas tábuas, gritam “fora, comunista!”, “fora, fascista!”, sem notar que tanto faz quem está segurando a chave. O problema é que a chave não está mais com eles.

Outros simplesmente se acomodaram. Lambem a mão. Agradecem. Sorrirem. Votam felizes. Caminham ao matadouro sem perceber. O pior: ensinaram os filhos a fazer o mesmo.

Isso não é sobre esquerda ou direita. É sobre liberdade. É sobre um povo que aceitou trocar a dureza selvagem da floresta pela falsa facilidade do curral - e agora acredita que a cerca é proteção, que o portão é segurança e que milho de graça é conquista.

Mas se você ainda consegue olhar além da madeira, verá que a floresta continua lá. E enquanto houver ao menos um que se lembre de como é correr livre, ainda existirá esperança de derrubar o curral.

A liberdade nunca desaparece de verdade - apenas adormece no coração dos que esquecem que um dia foram selvagens.



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