Durante uma aula numa
universidade brasileira, no meio de uma explicação aparentemente comum, um
aluno levantou a mão e perguntou ao professor, com voz firme: - Professor, o
senhor sabe como se capturam porcos selvagens?
O docente sorriu, imaginando
uma piada, uma metáfora divertida ou apenas uma tentativa de descontrair o
ambiente. Mas o jovem continuou, sério: - Não é brincadeira. É exatamente assim
que se faz. A sala ficou em silêncio enquanto ele explicava:
“Você encontra um lugar na
floresta por onde os porcos selvagens costumam passar. Todos os dias, no mesmo
horário, coloca um punhado de milho no chão. Só isso. No começo, eles
estranham, cheiram de longe, fogem. São desconfiados por natureza.
Mas depois de alguns dias,
voltam. Chegam mais perto. Comem rápido e desaparecem. Quando a rotina está
estabelecida, você constrói a primeira lateral de uma cerca - apenas um lado.
Os porcos hesitam, mas o milho
está ali, fácil, abundante. Então voltam no dia seguinte. O milho continua
sendo mais importante que aquela madeira estranha.” Ele fez uma breve pausa e
prosseguiu:
“Depois você coloca a segunda
lateral. Demoram um pouco mais, mas retornam. Construímos o terceiro lado,
depois o quarto. E assim, pouco a pouco, os animais vão entrando em um quadrado
que eles nem percebem existir.
Quando já não há mais motivo
para desconfiança, você instala a porta na abertura final. Deixa aberta. Eles
entram sozinhos, confiantes, acostumados ao milho farto e fácil. E é nesse
exato momento que você fecha o portão.
Os porcos correm em círculos,
batem nas tábuas, gritam. Mas é tarde. A liberdade escapou no mesmo ritmo lento
com que o milho era oferecido.” Os alunos olhavam fascinados enquanto o jovem
concluía:
“Em poucos dias, eles param de
tentar fugir. O milho continua caindo. A vida dentro da cerca é mais cômoda do
que correr pela mata atrás de raízes e frutos. Engordam. Acomodam-se. Esquecem
como era ser livre.
E o mais impressionante:
passam a lamber a mão do homem que os alimenta… sem perceber que é a mesma mão
que, meses depois, conduzirá a faca no matadouro.” O estudante então fitou o
professor e a turma: - É exatamente isso que está acontecendo com o nosso povo.
“Não de uma vez só. Não com
tanques nas ruas. Não com decretos de ditadura. É devagar. Com paciência. Com
milho.” E começou a enumerar:
Primeiro veio o dinheiro ‘no
bolso’, sem contrapartida de trabalho. Depois os programas sociais
transformados em moeda de troca por votos. Vieram as bolsas, os auxílios, os
cartões, as cestas, os tickets, os vales - todos com nomes carinhosos: Brasil
Carinhoso, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Luz para Todos, Farmácia Popular…
Sempre acompanhados da foto
sorridente de um político. Cada benefício era mais um lado da cerca. Cada
“direito adquirido” era mais um prego.
Cada eleição em que o povo trocou liberdade por conforto imediato foi mais um
punhado de milho jogado no chão.
E, quando alguém ousava
alertar - “cuidado, isso é armadilha!” - surgia o coro automático: Invejoso!
Elite! Coração de pedra! Você não quer que os pobres comam? Porque o porco,
quando já está gordo dentro da cerca, não quer ouvir quem ainda corre livre na
floresta.
Hoje, uma parcela imensa da
população brasileira depende do governo para comer, morar, estudar, se tratar,
se transportar. Dependência total. E quem depende não questiona. Quem depende
aplaude. Quem depende vota no dono do milho.
Assim, sem tiros, sem gritos,
sem botas na rua, construiu-se o maior curral político da história da América
Latina. A porta foi fechada. Alguns ainda correm em círculos, batem a cabeça
nas tábuas, gritam “fora, comunista!”, “fora, fascista!”, sem notar que tanto
faz quem está segurando a chave. O problema é que a chave não está mais com
eles.
Outros simplesmente se
acomodaram. Lambem a mão. Agradecem. Sorrirem. Votam felizes. Caminham ao
matadouro sem perceber. O pior: ensinaram os filhos a fazer o mesmo.
Isso não é sobre esquerda ou
direita. É sobre liberdade. É sobre um povo que aceitou trocar a dureza
selvagem da floresta pela falsa facilidade do curral - e agora acredita que a
cerca é proteção, que o portão é segurança e que milho de graça é conquista.
Mas se você ainda consegue
olhar além da madeira, verá que a floresta continua lá. E enquanto houver ao
menos um que se lembre de como é correr livre, ainda existirá esperança de
derrubar o curral.
A liberdade nunca desaparece
de verdade - apenas adormece no coração dos que esquecem que um dia foram
selvagens.









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