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quarta-feira, dezembro 03, 2025

As coisas que aprendi com a sabedoria "petralha"



Se eu não sou petista, automaticamente sou bolsonarista. Não existe meio-termo, nuance, centro, liberalismo de mercado com costumes conservadores, nada. É 8 ou 80. Binário. Preto no branco. Ou você está com o Capitão ou você é comunista disfarçado de liberal.

Se eu sou bolsonarista, então sou obrigatoriamente a favor de intervenção militar com o Exército tomando o poder e o Congresso sendo fechado “só por uns tempinhos”. Qualquer outra solução é fraqueza, conivência com o sistema ou “globalismo”. Democracia é bonito só quando ganha o meu lado. Não posso me indignar com a corrupção do PT porque:

“Teve no PSDB também” (como se isso anulasse o fato de que o PT institucionalizou o maior esquema de corrupção da história da humanidade, o Petrolão, com US$ 88 bilhões desviados só na Petrobras - valor que daria para construir 17 mil hospitais de campanha ou pagar 10 anos de Bolsa Família inteiro).

“O PT não inventou a corrupção” (verdade, mas aperfeiçoou, industrializou e exportou o modelo para Venezuela, Argentina, Bolívia, a famosa “nossa América Latina” do Foro de São Paulo).

Na real, minha verdadeira indignação não é com o rombo na Petrobras, na Eletrobras, nos Correios, no BNDES. É porque o PT ousou colocar o pobre no mesmo avião que eu. Aquela tia do Bolsa Família com criança no colo sentada na poltrona do lado me dá urticária moral. Isso sim é o fim da civilização ocidental cristã. Eu não tenho estatura moral para criticar ladrão de bilhões porque:

Já fiz câmbio paralelo em 1998

Já baixei música no LimeWire

Já colei na prova de química do colégio

Já soltei um punzinho silencioso no elevador lotado do Ed. Copan

Portanto, por coerência ética, sou obrigado a achar que Lula foi apenas um “preso político” e que a Lava Jato foi “a maior operação jurídico-midiática da história”. Eu fui para a rua em 2015-2016 com panela na mão, camisa da CBF e adesivo “Intervención Ya” no carro porque:

Sou elite branca paulista/carioca/sulista

Odeio pobre, nordestino, preto, índio, gay, feminista, criança com nome composto, gente que usa camisa de microfibra, desodorante Rexona ou chinelo de dedo com meia. Meu sonho secreto é voltar para o tempo em que empregada doméstica entrava pela porta dos fundos e chamava a patroa de “sinhá”

Eu me indigno com “censura” e “ditadura do judiciário” quando o STF manda tirar post meu do ar, mas acho lindo quando o Alexandre de Moraes bloqueia conta de deputado, censura jornal, manda prender gente sem julgamento e transforma o inquérito do fim do mundo na maior piñata jurídica da história.

Aí é “defesa da democracia”. Impeachment só é golpe quando é contra governo de esquerda. Quando foi contra Collor (direita) ou contra Dilma (esquerda), aí depende: se o presidente for de esquerda, é golpe fascista; se for de direita, é “limpeza moral da nação”.

E o melhor: aprendi com os digníssimos ministros do STF que quem vai pra rua pedir qualquer coisa depois da eleição está fazendo “terceiro turno”, é “golpista”, “antidemocrático” e, pasmem, está obcecado pelo fim do financiamento privado de campanha - porque, segundo a narrativa oficial, toda corrupção do planeta acaba se o dinheiro de empresa não puder mais entrar na política (como se Cuba, Venezuela e Coreia do Norte fossem paraísos de transparência por não terem empresa privada financiando campanha).Resumindo o aprendizado de uma década:

Se o PT rouba, é “caixa 2 de campanha” e “preso político"

Se o Bolsonaro faz rachadinha, é “costume antigo da política"

Se o Lula nomeia amigo para o STF, é “prerrogativa presidencial"

Se o Bolsonaro tenta nomear amigo para o STF, é “tentativa de golpe"

E assim seguimos, em 2025, com o mesmo circo pegando fogo, só que agora com mais pipoca transgênica, mais censura “em nome da democracia” e menos vergonha na cara de todos os lados. Porque, no fim das contas, o Brasil não tem conserto: tem torcida. E eu já escolhi a minha. E você?

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