Se eu não sou petista, automaticamente sou
bolsonarista. Não existe meio-termo, nuance, centro, liberalismo de mercado com
costumes conservadores, nada. É 8 ou 80. Binário. Preto no branco. Ou você está
com o Capitão ou você é comunista disfarçado de liberal.
Se eu sou bolsonarista, então sou
obrigatoriamente a favor de intervenção militar com o Exército tomando o poder
e o Congresso sendo fechado “só por uns tempinhos”. Qualquer outra solução é
fraqueza, conivência com o sistema ou “globalismo”. Democracia é bonito só
quando ganha o meu lado. Não posso me indignar com a corrupção do PT porque:
“Teve no PSDB também” (como se isso anulasse
o fato de que o PT institucionalizou o maior esquema de corrupção da história
da humanidade, o Petrolão, com US$ 88 bilhões desviados só na Petrobras - valor
que daria para construir 17 mil hospitais de campanha ou pagar 10 anos de Bolsa
Família inteiro).
“O PT não inventou a corrupção” (verdade, mas
aperfeiçoou, industrializou e exportou o modelo para Venezuela, Argentina, Bolívia,
a famosa “nossa América Latina” do Foro de São Paulo).
Na real, minha verdadeira indignação não é
com o rombo na Petrobras, na Eletrobras, nos Correios, no BNDES. É porque o PT
ousou colocar o pobre no mesmo avião que eu. Aquela tia do Bolsa Família com
criança no colo sentada na poltrona do lado me dá urticária moral. Isso sim é o
fim da civilização ocidental cristã. Eu não tenho estatura moral para criticar
ladrão de bilhões porque:
Já fiz câmbio paralelo em 1998
Já baixei música no LimeWire
Já colei na prova de química do colégio
Já soltei um punzinho silencioso no elevador
lotado do Ed. Copan
Portanto, por coerência ética, sou obrigado a
achar que Lula foi apenas um “preso político” e que a Lava Jato foi “a maior
operação jurídico-midiática da história”. Eu fui para a rua em 2015-2016 com
panela na mão, camisa da CBF e adesivo “Intervención Ya” no carro porque:
Sou elite branca paulista/carioca/sulista
Odeio pobre, nordestino, preto, índio, gay,
feminista, criança com nome composto, gente que usa camisa de microfibra,
desodorante Rexona ou chinelo de dedo com meia. Meu sonho secreto é voltar para
o tempo em que empregada doméstica entrava pela porta dos fundos e chamava a
patroa de “sinhá”
Eu me indigno com “censura” e “ditadura do
judiciário” quando o STF manda tirar post meu do ar, mas acho lindo quando o
Alexandre de Moraes bloqueia conta de deputado, censura jornal, manda prender
gente sem julgamento e transforma o inquérito do fim do mundo na maior piñata
jurídica da história.
Aí é “defesa da democracia”. Impeachment só é
golpe quando é contra governo de esquerda. Quando foi contra Collor (direita)
ou contra Dilma (esquerda), aí depende: se o presidente for de esquerda, é
golpe fascista; se for de direita, é “limpeza moral da nação”.
E o melhor: aprendi com os digníssimos
ministros do STF que quem vai pra rua pedir qualquer coisa depois da eleição
está fazendo “terceiro turno”, é “golpista”, “antidemocrático” e, pasmem, está
obcecado pelo fim do financiamento privado de campanha - porque, segundo a
narrativa oficial, toda corrupção do planeta acaba se o dinheiro de empresa não
puder mais entrar na política (como se Cuba, Venezuela e Coreia do Norte fossem
paraísos de transparência por não terem empresa privada financiando
campanha).Resumindo o aprendizado de uma década:
Se o PT rouba, é “caixa 2 de campanha” e
“preso político"
Se o Bolsonaro faz rachadinha, é “costume
antigo da política"
Se o Lula nomeia amigo para o STF, é
“prerrogativa presidencial"
Se o Bolsonaro tenta nomear amigo para o STF,
é “tentativa de golpe"
E assim seguimos, em 2025, com o mesmo circo
pegando fogo, só que agora com mais pipoca transgênica, mais censura “em nome
da democracia” e menos vergonha na cara de todos os lados. Porque, no fim das
contas, o Brasil não tem conserto: tem torcida. E eu já escolhi a minha. E
você?









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