Entre as coisas que parecem tirar
o sentido da vida humana estão não apenas o sofrimento, mas também a morte.
Nunca me canso de dizer que os únicos aspectos realmente transitórios da vida
são as potencialidades; porém no momento em que são realizadas, elas se
transformam em realidades; são resgatadas e entregues ao passado, no qual ficam
a salvo e resguardadas da transitoriedade. Isto porque no passado nada está
irremediavelmente perdido, mas está tudo irrevogavelmente guardado.
Sendo assim, a transitoriedade da nossa existência de forma alguma lhe tira o sentido. No entanto ela constitui a nossa responsabilidade, porque tudo depende de nós conscientizarmos das possibilidades essencialmente transitórias.
O ser humano está constantemente
fazendo uma opção diante da massa de potencialidades presentes; quais delas
serão condenadas ao não-ser, e quais serão concretizadas? Qual opção se tornará
realidade de uma vez para sempre, imortal "pegada nas areias do
tempo"? A todo e qualquer momento a pessoa precisa decidir, para o bem ou
para o mal, qual será o monumento de sua existência.
Não há dúvida de que geralmente a
pessoa somente leva em conta o campo de restolhos da transitoriedade e se
esquece dos abarrotados celeiros do passado, onde ela guardou de uma vez por
todas os seus atos, suas alegrias e também seus sofrimentos. Nada pode ser
desfeito, nada pode ser eliminado; eu diria que ter sido é a mais segura forma de
ser.
Ao considerar a transitoriedade
essencial da existência humana, a logoterapia não é pessimista, mas antes
ativista. Em linguagem figurada poderíamos dizer que o pessimista parece um
homem que observa com temor e tristeza que a sua folhinha na parede vai ficando
mais fina a cada dia que passa: Por outro lado, a pessoa que enfrenta
ativamente os problemas da vida é como o homem que, dia após dia, vai
destacando cada folha do seu calendário e cuidadosamente a guarda junto às
precedentes, tendo primeiro feito no verso alguns apontamentos referentes ao
dia que passou. É com orgulho e alegria que ele pode pensar em toda a riqueza
contida nestas anotações, em toda a vida que ele já viveu em plenitude.
Que lhe importa notar que
está ficando velho? Terá ele alguma razão para ficar invejando os jovens que
vê, ou de cair em nostalgia por ter perdido a juventude? Que motivos o terão
para invejar uma pessoa jovem? Pelas possibilidades que estão à frente do
jovem, do futuro que o espera? "Eu agradeço", é o que ele vai pensar.
"Em vez de possibilidades, realidades é o que tenho no meu passado, não
apenas a realidade do trabalho realizado e do amor vivido, mas também a
realidade dos sofrimentos suportados com bravura. Esses sofrimentos são as
coisas das quais me orgulho mais, embora não sejam coisas que possam causar
inveja."
Viktor Frankl - Sobrevivente dos Campos de Concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
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