Saudade, palavra que não cabe em outras
línguas, ferida que não sangra, mas dói o tempo todo. Tu me maltratas em
silêncio, apertas o peito como mão invisível, enegreces o dia mais ensolarado, faz
o sorriso parecer traição.
Como eu gostaria de te arrancar de mim como quem
arranca uma página rasgada do peito, de apagar teu nome do meu sangue, de
esquecer o gosto do teu beijo e o jeito como tu dizias “fica”.
Mas tu és mais forte que eu. Tu me dominas, me
faz chorar no banho para ninguém ouvir, me faz procurar teu rosto em cada
multidão, me faz ligar para o teu número antigo só para escutar a gravação
dizendo que não existe mais.
Saudade, tu me fazes falar sozinho no carro, repetir
conversas que nunca mais vão acontecer, guardar tua camiseta velha como
relíquia, cheirar o travesseiro que ainda guarda teu perfume como quem cheira
uma flor que já morreu.
Tu me fazes perder o sentido das coisas. O
café fica sem gosto, a música só toca dor, o futuro parece um lugar onde tu não
estás e, por isso, não vale a pena chegar. Hoje a saudade veio mais pesada.
Bateu na porta sem avisar, sentou na minha
cama, olhou nos meus olhos e disse: “Você ainda não superou, né?” E eu
confesso: não. Quero teu cheiro de novo, aquele cheiro de amor recém-acordado, de
pele depois do banho, de cabelo molhado encostado no meu peito.
Quero sentir tua respiração calma no meu
pescoço, teu coração batendo junto com o meu como duas músicas que só fazem
sentido juntas. Quero voltar no tempo nem que seja por um segundo só para te
dizer de novo “eu te amo” e ouvir tu dizeres de volta, com aquela voz rouca de
quem acabou de acordar: “Eu também, viu?”
Mas o tempo não volta. E tu não voltas. Então
fico aqui, com a saudade me comendo vivo, aprendendo a conviver com este vazio
que tem teu nome, este buraco no peito que tem exatamente o teu formato.
Saudade. Única dor que a gente sente e, ao
mesmo tempo, não quer que passe nunca. Porque, no fundo, ter saudade de ti é a
única forma que me resta de ainda te ter.
Francisco Silva Sousa









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