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quarta-feira, dezembro 03, 2025

Saudade


Saudade, palavra que não cabe em outras línguas, ferida que não sangra, mas dói o tempo todo. Tu me maltratas em silêncio, apertas o peito como mão invisível, enegreces o dia mais ensolarado, faz o sorriso parecer traição.

Como eu gostaria de te arrancar de mim como quem arranca uma página rasgada do peito, de apagar teu nome do meu sangue, de esquecer o gosto do teu beijo e o jeito como tu dizias “fica”.

Mas tu és mais forte que eu. Tu me dominas, me faz chorar no banho para ninguém ouvir, me faz procurar teu rosto em cada multidão, me faz ligar para o teu número antigo só para escutar a gravação dizendo que não existe mais.

Saudade, tu me fazes falar sozinho no carro, repetir conversas que nunca mais vão acontecer, guardar tua camiseta velha como relíquia, cheirar o travesseiro que ainda guarda teu perfume como quem cheira uma flor que já morreu.

Tu me fazes perder o sentido das coisas. O café fica sem gosto, a música só toca dor, o futuro parece um lugar onde tu não estás e, por isso, não vale a pena chegar. Hoje a saudade veio mais pesada.

Bateu na porta sem avisar, sentou na minha cama, olhou nos meus olhos e disse: “Você ainda não superou, né?” E eu confesso: não. Quero teu cheiro de novo, aquele cheiro de amor recém-acordado, de pele depois do banho, de cabelo molhado encostado no meu peito.

Quero sentir tua respiração calma no meu pescoço, teu coração batendo junto com o meu como duas músicas que só fazem sentido juntas. Quero voltar no tempo nem que seja por um segundo só para te dizer de novo “eu te amo” e ouvir tu dizeres de volta, com aquela voz rouca de quem acabou de acordar: “Eu também, viu?”

Mas o tempo não volta. E tu não voltas. Então fico aqui, com a saudade me comendo vivo, aprendendo a conviver com este vazio que tem teu nome, este buraco no peito que tem exatamente o teu formato.

Saudade. Única dor que a gente sente e, ao mesmo tempo, não quer que passe nunca. Porque, no fundo, ter saudade de ti é a única forma que me resta de ainda te ter.

Francisco Silva Sousa 

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