No dia 26 de novembro de 1922, o arqueólogo
britânico Howard Carter, após anos de buscas financiadas por Lord Carnarvon,
encontrou os primeiros degraus de uma escadaria escondida no Vale dos Reis.
Dias depois, em 4 de novembro, a escavação revelou uma porta selada com o selo
da necrópole real e, mais importante, com o selo pessoal intacto de Tutancâmon.
Era a primeira vez em mais de 3.200 anos que
alguém via aquele selo sem ter sido quebrado por ladrões de tumbas.
Apesar dos rumores que já circulavam sobre
uma suposta “maldição dos faraós” - alimentados inclusive por jornais
sensacionalistas da época -, no dia 26 de fevereiro de 1923 Carter e Lord
Carnarvon, acompanhados da filha deste, Lady Evelyn Herbert, romperam
oficialmente o selo da porta da câmara funerária (depois de já terem aberto a
antecâmara em novembro de 1922).
Foi nesse momento que Carter, com a mão
trêmula, fez um pequeno orifício na porta e, iluminando com uma vela,
pronunciou a frase que entraria para a história:
“Vejo coisas maravilhosas!” Dentro da tumba, que media apenas cerca de 110
metros quadrados (muito pequena para padrões reais), foram catalogados exatos
5.398 objetos - um número impressionante para um espaço tão reduzido. Entre os
tesouros mais extraordinários:
Quatro santuários dourados encaixados um
dentro do outro, como caixas gigantes, protegendo o sarcófago de quartzito
vermelho. Três caixões antropomórficos aninhados: os dois primeiros de madeira
coberta com lâmina de ouro, e o terceiro, o mais interno, feito inteiramente de
ouro maciço com 110,4 kg e 1,88 m de comprimento.
A célebre máscara funerária de ouro maciço e
pedras semipreciosas, pesando 11 kg (oficialmente 10,23 kg), que cobria o rosto
da múmia. Duas múmias fetais (filhas natimortas de Tutancâmon) em pequenos
caixões, confirmando a tragédia familiar do jovem rei.
Carruagens desmontadas, arcos, flechas,
adagas cerimoniais, tronos, camas rituais, vasos de alabastro, caixas de jogos,
roupas íntimas de linho finíssimo, sandálias, e até feixes de flores secas
colocadas por viúvas ou sacerdotes no funeral.
O corpo mumificado do rei, com apenas 18 ou
19 anos na morte, apresentava sinais de uma perna fraturada (possivelmente
causa ou consequência de um acidente) e sofreu danos durante a remoção da
máscara em 1925, mas continua sendo uma das múmias mais bem preservadas do
Egito Antigo.
A tumba de Tutancâmon era, na verdade, uma
tumba secundária e improvisada: o jovem faraó morreu subitamente (provavelmente
em 1323 a.C.), e seu sucessor Ay apropriou-se da tumba maior que estava sendo
preparada para ele. Por ironia do destino, essa tumba pequena e escondida
escapou dos saques sistemáticos que atingiram quase todas as outras sepulturas
reais do Vale dos Reis.
Se um faraó adolescente, de reinado curto
(1332-1323 a.C.) e sem grandes conquistas militares ou políticas, foi enterrado
com tanto luxo, imagina-se o que continham as tumbas dos grandes faraós do
Império Novo no seu apogeu - como Tutmés III, Amenhotep III, Seti I ou Ramsés
II.
Infelizmente, todas essas tumbas foram
completamente saqueadas na antiguidade, e seus tesouros derreteram-se em fornos
ou foram reutilizados ao longo dos séculos. Sobre a famosa “maldição”
A lenda ganhou força quando Lord Carnarvon
morreu em 5 de abril de 1923, apenas cinco meses após a abertura oficial da
câmara, vítima de uma infecção causada por picada de mosquito que se complicou
em septicemia.
A imprensa sensacionalista britânica inventou
a história de uma inscrição “A morte virá em asas velozes para aquele que
perturbar o repouso do faraó” - inscrição que nunca existiu na tumba.
Dos 58 pessoas presentes na abertura da tumba
ou da câmara funerária, apenas 8 morreram nos 12 anos seguintes, uma taxa
perfeitamente normal para a época. Howard Carter, o principal “culpado” pela
violação, viveu até 1939, morrendo aos 64 anos de causas naturais.
Hoje, quase todos os objetos da tumba
encontram-se no Grande Museu Egípcio (GEM), próximo às pirâmides de Gizé,
inaugurado parcialmente em 2023 e que, quando totalmente aberto, abrigará o
tesouro completo de Tutancâmon pela primeira vez desde 1922 - incluindo a
máscara, que deixará o antigo Museu Egípcio do Cairo após mais de um século.
A descoberta de Tutancâmon continua sendo o maior achado arqueológico da história não pelo tamanho da tumba, mas por ter sido a única sepultura real encontrada praticamente intacta, oferecendo uma cápsula do tempo do esplendor do Egito Antigo há 3.300 anos.









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