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quinta-feira, novembro 06, 2025

O Banqueiro

 


Certa tarde de outono, quando o sol se punha tingindo o céu de laranja, um famoso banqueiro dirigia-se para casa em sua limusine preta reluzente. O veículo deslizava suavemente pela estrada secundária que cortava os arredores da cidade, longe do trânsito caótico do centro.

De repente, o banqueiro avistou dois homens à beira da via, ajoelhados no acostamento poeirento, arrancando tufos de grama com as mãos calejadas e levando-os à boca como se fossem o último recurso de uma refeição.

Intrigado e movido por uma curiosidade rara - afinal, ele era conhecido por sua frieza nos negócios -, ordenou ao motorista que parasse o carro. Desceu com seu terno impecável, os sapatos italianos brilhando contra o chão irregular, e aproximou-se dos homens.

Um deles era magro, com barba rala e olhos fundos; o outro, mais robusto, mas igualmente exausto.

– Por que vocês estão comendo grama? - perguntou, com uma mistura de espanto e autoridade na voz. O primeiro homem ergueu o olhar, limpando a boca com as costas da mão suja de terra.

– Não temos dinheiro para comida, senhor - respondeu ele, com a voz rouca de fome.

– Por isso, temos que comer grama. É o que resta.

O banqueiro franziu o cenho por um instante, processando a cena. Ele era um homem de números, de fusões e aquisições, mas algo naquela miséria crua o tocou.

Talvez fosse o contraste com sua própria vida de luxo, ou quem sabe um resquício de humanidade que os anos de Wall Street não haviam apagado completamente.

- Bem, então venham à minha casa - disse ele, surpreendendo até a si mesmo.

- Eu lhes darei de comer de verdade.

O homem hesitou, olhando para trás.

- Obrigado, senhor, mas eu tenho mulher e dois filhos comigo. Estão ali, debaixo daquela árvore velha, esperando.

O homem seguiu o olhar dele: sob uma árvore retorcida, uma mulher magra embalava duas crianças pequenas, que brincavam debilmente com pedrinhas no chão.

O banqueiro assentiu.

- Que venham também - respondeu, sem pestanejar.

Virando-se para o segundo homem, que observava em silêncio, acrescentou:

- Você também pode vir.

O homem, com a voz muito sumida, quase um sussurro de vergonha, murmurou:

- Mas, senhor, eu também tenho esposa e seis filhos comigo! São oito bocas no total...O banqueiro sorriu de leve, imaginando a cena em sua mansão espaçosa.

- Pois que venham todos - declarou, com um tom de generosidade que ecoava como uma ordem executiva. E assim, o grupo inteiro - os dois homens, suas esposas e as oito crianças, algumas carregadas nos braços, outras tropeçando de cansaço - entrou no enorme e luxuoso carro.

A limusine, projetada para transportar executivos em reuniões de alto nível, agora estava lotada de famílias famintas, com cheiro de terra e suor misturado ao couro fino dos bancos.

O motorista, um homem discreto, ergueu uma sobrancelha no retrovisor, mas nada disse. Uma vez a caminho, serpenteando pelas colinas arborizadas que levavam à propriedade do banqueiro, - uma mansão de três andares com piscina infinita, jardim japonês e uma garagem que abrigava uma frota de carros esportivos -, um dos homens olhou timidamente para o banqueiro.

Ele se remexia no assento, ainda incrédulo com a sorte.

- O senhor é muito bom - disse ele, com gratidão sincera. - Obrigado por nos levar a todos!

O banqueiro reclinou-se no banco, ajustando a gravata, e respondeu com um sorriso malicioso:

- Meu caro, não tenha vergonha. Fico muito feliz por fazê-lo! Vocês vão ficar encantados com a minha casa... Além do mais, a grama está com mais de 20 centímetros de altura! Ela cresce rápido demais no meu jardim, e o jardineiro anda reclamando que precisa cortá-la com urgência.

O homem piscou, confuso por um segundo, antes de soltar uma gargalhada rouca, seguida pelas risadas das crianças no banco de trás. A ironia da situação - salvos da grama da estrada para "desfrutar" da grama do quintal..

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