Certa
tarde de outono, quando o sol se punha tingindo o céu de laranja, um famoso
banqueiro dirigia-se para casa em sua limusine preta reluzente. O veículo
deslizava suavemente pela estrada secundária que cortava os arredores da
cidade, longe do trânsito caótico do centro.
De
repente, o banqueiro avistou dois homens à beira da via, ajoelhados no
acostamento poeirento, arrancando tufos de grama com as mãos calejadas e
levando-os à boca como se fossem o último recurso de uma refeição.
Intrigado
e movido por uma curiosidade rara - afinal, ele era conhecido por sua frieza
nos negócios -, ordenou ao motorista que parasse o carro. Desceu com seu terno
impecável, os sapatos italianos brilhando contra o chão irregular, e
aproximou-se dos homens.
Um
deles era magro, com barba rala e olhos fundos; o outro, mais robusto, mas
igualmente exausto.
– Por
que vocês estão comendo grama? - perguntou, com uma mistura de espanto e
autoridade na voz. O primeiro homem ergueu o olhar, limpando a boca com as
costas da mão suja de terra.
– Não
temos dinheiro para comida, senhor - respondeu ele, com a voz rouca de fome.
– Por
isso, temos que comer grama. É o que resta.
O
banqueiro franziu o cenho por um instante, processando a cena. Ele era um homem
de números, de fusões e aquisições, mas algo naquela miséria crua o tocou.
Talvez
fosse o contraste com sua própria vida de luxo, ou quem sabe um resquício de
humanidade que os anos de Wall Street não haviam apagado completamente.
- Bem,
então venham à minha casa - disse ele, surpreendendo até a si mesmo.
- Eu
lhes darei de comer de verdade.
O homem
hesitou, olhando para trás.
-
Obrigado, senhor, mas eu tenho mulher e dois filhos comigo. Estão ali, debaixo
daquela árvore velha, esperando.
O homem
seguiu o olhar dele: sob uma árvore retorcida, uma mulher magra embalava duas
crianças pequenas, que brincavam debilmente com pedrinhas no chão.
O
banqueiro assentiu.
- Que
venham também - respondeu, sem pestanejar.
Virando-se
para o segundo homem, que observava em silêncio, acrescentou:
- Você
também pode vir.
O
homem, com a voz muito sumida, quase um sussurro de vergonha, murmurou:
- Mas,
senhor, eu também tenho esposa e seis filhos comigo! São oito bocas no total...O
banqueiro sorriu de leve, imaginando a cena em sua mansão espaçosa.
- Pois
que venham todos - declarou, com um tom de generosidade que ecoava como uma
ordem executiva. E assim, o grupo inteiro - os dois homens, suas esposas e as
oito crianças, algumas carregadas nos braços, outras tropeçando de cansaço -
entrou no enorme e luxuoso carro.
A
limusine, projetada para transportar executivos em reuniões de alto nível,
agora estava lotada de famílias famintas, com cheiro de terra e suor misturado
ao couro fino dos bancos.
O
motorista, um homem discreto, ergueu uma sobrancelha no retrovisor, mas nada
disse. Uma vez a caminho, serpenteando pelas colinas arborizadas que levavam à
propriedade do banqueiro, - uma mansão de três andares com piscina infinita,
jardim japonês e uma garagem que abrigava uma frota de carros esportivos -, um
dos homens olhou timidamente para o banqueiro.
Ele se
remexia no assento, ainda incrédulo com a sorte.
- O
senhor é muito bom - disse ele, com gratidão sincera. - Obrigado por nos levar
a todos!
O
banqueiro reclinou-se no banco, ajustando a gravata, e respondeu com um sorriso
malicioso:
- Meu
caro, não tenha vergonha. Fico muito feliz por fazê-lo! Vocês vão ficar
encantados com a minha casa... Além do mais, a grama está com mais de 20
centímetros de altura! Ela cresce rápido demais no meu jardim, e o jardineiro
anda reclamando que precisa cortá-la com urgência.
O homem piscou, confuso por um segundo, antes de soltar uma gargalhada rouca, seguida pelas risadas das crianças no banco de trás. A ironia da situação - salvos da grama da estrada para "desfrutar" da grama do quintal..
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