Ron Ely: A Jornada de um Ator, de Tarzan à Tragédia Pessoal
Ronald
Pierce Ely, nascido em 21 de julho de 1938, em Hereford, Texas, é um ator
norte-americano eternizado por interpretar Tarzan na série de TV dos anos 1960.
Embora
nunca tenha alcançado o status de grande astro de Hollywood, sua dedicação ao
papel do “Homem-Macaco” e sua trajetória marcada por esforço, lesões e
tragédias pessoais fazem dele uma figura notável na história da televisão.
Primeiros Passos e Obstáculos em Hollywood
Na
década de 1950, Ely estudou na Universidade do Texas, em Austin, onde começou a
cultivar seu sonho de ser ator. Determinado, mudou-se para Los Angeles e
conseguiu pequenos papéis em filmes de Hollywood, como The Remarkable Mr.
Pennypacker (1959), estrelado por Clifton Webb.
Durante
essa época, Ely enfrentou um episódio constrangedor: Webb, um conhecido ator
homossexual, convidou-o para assistir à peça Nude with Violin, de Noël Coward.
Após a
apresentação, Ely fez um comentário desrespeitoso sobre Coward, acompanhado de
um gesto pejorativo, o que enfureceu Webb. O veterano tentou boicotar a
carreira do jovem ator, dificultando seu caminho em Hollywood.
Apesar
disso, Ely persistiu, acumulando participações em filmes e séries, embora sem
alcançar grande destaque inicialmente. Em 1960, Ely foi escalado para The
Aquanauts (1960-1961), uma série da CBS sobre mergulhadores, que não deve ser
confundida com Sea Hunt, outra produção em que ele atuaria anos depois.
The
Aquanauts foi cancelada após uma única temporada, mas Ely continuou buscando
oportunidades, demonstrando resiliência diante dos desafios da indústria.
Tarzan: O Papel de uma Vida
A
grande virada na carreira de Ron Ely veio em 1966, quando ele foi escolhido
para estrelar Tarzan, uma série de TV produzida por Sy Weintraub. Ely foi o 15º
ator a interpretar o icônico personagem criado por Edgar Rice Burroughs,
sucedendo nomes como Johnny Weissmuller e Lex Barker.
Originalmente,
Weintraub planejava a série com Mike Henry, que havia estrelado três filmes de
Tarzan, mas desentendimentos levaram Henry a abandonar o projeto. Foi então que
Weintraub notou Ely, um texano de 28 anos, 1,93 metro de altura, com presença
imponente e um conhecimento profundo dos romances de Burroughs.
Ely
impressionou o produtor por sua familiaridade com os livros, o que o levou a
adotar uma abordagem mais fiel à visão original de Burroughs. Diferentemente
das versões cinematográficas, que muitas vezes retratavam Tarzan como um
selvagem de fala limitada, Ely apresentou um personagem culto e articulado.
Na
série, Tarzan, ou Earl Greystoke, é um bebê americano que fica órfão após um
acidente aéreo na África. Criado por grandes macacos, ele recebe o nome Tarzan,
que significa “Pele Branca”.
Resgatado
por parentes, Earl é levado aos Estados Unidos, onde recebe educação formal,
destaca-se em esportes como karatê e, desiludido com a civilização, retorna à
selva africana para viver como Tarzan.
A série
introduziu algumas diferenças em relação aos livros. Por exemplo, Tarzan de Ely
não tinha Jane, a esposa presente nas histórias originais e em adaptações
anteriores.
Em vez disso,
ele cuidava de Jai, um menino órfão interpretado por Manuel Padilla Jr. Além
disso, enquanto Burroughs descrevia Tarzan como um “gigante branco de cabelos
negros”, Ely era loiro, mas sua altura (1,93 m) correspondia à estatura do
personagem. A produção, filmada em locações no Brasil e no México, trouxe um
visual exótico e dinâmico, mas também desafios físicos extremos para Ely.
Dedicação e Sacrifício em Tarzan
Ron Ely
se destacou por sua recusa em usar dublês, mesmo nas cenas mais perigosas, que
incluíam balançar em cipós, lutar com animais, mergulhar de cachoeiras e
atravessar pântanos.
Essa
escolha resultou em inúmeras lesões: fraturas, cortes, suturas, distensões
musculares e hematomas eram rotina no set. Em entrevista à revista TV Guide, o
diretor James Komack relatou a determinação de Ely: “Essa é a minha grande
chance. Eu nunca tive um papel de destaque. Eu nunca estive numa série de
qualidade.”
Ely,
por sua vez, reforçava sua filosofia: “Se é algo que eu sinto que posso fazer,
eu devo fazer sozinho. Não é bom vender algo que não seja verdade. Eu quero que
o telespectador acredite que eu sou Tarzan.”
Essa
autenticidade conquistou o público, mas cobrou um preço alto. Ely
frequentemente atuava com dores intensas, movido por uma paixão pelo papel que
ele descrevia como “o que venho esperando a minha vida toda”.
Sua
interpretação, combinando força física, carisma e uma leitura erudita do
personagem, é considerada por muitos fãs como a mais fiel à essência literária
de Tarzan.
A
série, que durou duas temporadas e 57 episódios (1966-1968), consolidou Ely
como um ícone da televisão, embora não o tenha elevado ao estrelato de
Hollywood.
Carreira Após Tarzan
Após o
fim de Tarzan, Ely continuou trabalhando na televisão, com participações em
séries populares como Mulher Maravilha (1975-1979), estrelada por Lynda Carter,
e A Ilha da Fantasia (1977-1984), com Ricardo Montalbán.
Em
1975, ele protagonizou o piloto Doc Savage: O Homem de Bronze, baseado no herói
das revistas pulp dos anos 1930. Apesar das expectativas, o projeto não foi
aprovado para uma série, e o piloto foi exibido como um telefilme.
Em
1987, Ely voltou às telas em uma nova versão de Sea Hunt (Aventura Submarina),
interpretando o mergulhador Mike Nelson, papel originalmente vivido por Lloyd
Bridges na série clássica (1958-1961).
A
reimaginação, no entanto, não atraiu audiência e foi cancelada após poucos
episódios. Fora da atuação, Ely encontrou sucesso como escritor, publicando
romances de mistério nos Estados Unidos, muitos inspirados pela literatura de
aventura de Edgar Rice Burroughs, que tanto admirava.
Vida Pessoal e Tragédia
Em
1984, Ely casou-se com Valerie Lundeen, modelo e ex-Miss Flórida, com quem teve
três filhos: as gêmeas Kirsten e Kaitland, nascidas em 1986, e Cameron, nascido
em 1989.
A
família vivia em Santa Bárbara, Califórnia, até que uma tragédia abalou suas
vidas. Na noite de 15 de outubro de 2019, Cameron, então com 30 anos, matou sua
mãe, Valerie, a facadas em sua residência.
A
polícia, chamada ao local, confrontou Cameron, que foi morto a tiros com 24
disparos. O incidente chocou a comunidade e gerou controvérsias sobre o uso de
força letal.
Em
2020, Ron Ely abriu um processo contra o Departamento de Polícia de Santa
Bárbara, alegando homicídio culposo e danos emocionais pela morte de seu filho.
O caso
trouxe à tona discussões sobre saúde mental, violência policial e os limites da
atuação das autoridades em situações de crise. Segundo relatos, Cameron
enfrentava problemas psicológicos, mas os detalhes do caso permanecem sob investigação.
Legado e Reflexão
A
carreira de Ron Ely reflete a determinação de um ator que, apesar de nunca
alcançar o estrelato de astros como Clint Eastwood ou Paul Newman, deixou sua
marca na cultura popular.
Sua
interpretação de Tarzan, marcada por coragem física e respeito pela obra
original, continua sendo celebrada por fãs do personagem. Fora das telas, Ely
enfrentou desafios pessoais com resiliência, desde os percalços em Hollywood
até a tragédia familiar que marcou sua vida.
Além de
sua contribuição à televisão, Ely também se destacou como escritor, explorando
o gênero de mistério com a mesma paixão que dedicou a Tarzan. Sua trajetória é
um lembrete de que o sucesso não se mede apenas por fama, mas pela dedicação a
um ofício e pela capacidade de superar adversidades.
Enquanto
isso, o caso de 2019 permanece um capítulo doloroso, levantando questões sobre
violência, saúde mental e justiça que ecoam além da vida de Ely, tocando
debates sociais mais amplos.
Ron Ely morreu na casa de sua filha no Condado de Santa
Bárbara, Califórnia, em 29 de setembro de 2024, aos 86 anos.
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