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segunda-feira, julho 01, 2024

Ron Ely



 

Ron Ely: A Jornada de um Ator, de Tarzan à Tragédia Pessoal

Ronald Pierce Ely, nascido em 21 de julho de 1938, em Hereford, Texas, é um ator norte-americano eternizado por interpretar Tarzan na série de TV dos anos 1960.

Embora nunca tenha alcançado o status de grande astro de Hollywood, sua dedicação ao papel do “Homem-Macaco” e sua trajetória marcada por esforço, lesões e tragédias pessoais fazem dele uma figura notável na história da televisão.

Primeiros Passos e Obstáculos em Hollywood

Na década de 1950, Ely estudou na Universidade do Texas, em Austin, onde começou a cultivar seu sonho de ser ator. Determinado, mudou-se para Los Angeles e conseguiu pequenos papéis em filmes de Hollywood, como The Remarkable Mr. Pennypacker (1959), estrelado por Clifton Webb.

Durante essa época, Ely enfrentou um episódio constrangedor: Webb, um conhecido ator homossexual, convidou-o para assistir à peça Nude with Violin, de Noël Coward.

Após a apresentação, Ely fez um comentário desrespeitoso sobre Coward, acompanhado de um gesto pejorativo, o que enfureceu Webb. O veterano tentou boicotar a carreira do jovem ator, dificultando seu caminho em Hollywood.

Apesar disso, Ely persistiu, acumulando participações em filmes e séries, embora sem alcançar grande destaque inicialmente. Em 1960, Ely foi escalado para The Aquanauts (1960-1961), uma série da CBS sobre mergulhadores, que não deve ser confundida com Sea Hunt, outra produção em que ele atuaria anos depois.

The Aquanauts foi cancelada após uma única temporada, mas Ely continuou buscando oportunidades, demonstrando resiliência diante dos desafios da indústria.

Tarzan: O Papel de uma Vida

A grande virada na carreira de Ron Ely veio em 1966, quando ele foi escolhido para estrelar Tarzan, uma série de TV produzida por Sy Weintraub. Ely foi o 15º ator a interpretar o icônico personagem criado por Edgar Rice Burroughs, sucedendo nomes como Johnny Weissmuller e Lex Barker.

Originalmente, Weintraub planejava a série com Mike Henry, que havia estrelado três filmes de Tarzan, mas desentendimentos levaram Henry a abandonar o projeto. Foi então que Weintraub notou Ely, um texano de 28 anos, 1,93 metro de altura, com presença imponente e um conhecimento profundo dos romances de Burroughs.

Ely impressionou o produtor por sua familiaridade com os livros, o que o levou a adotar uma abordagem mais fiel à visão original de Burroughs. Diferentemente das versões cinematográficas, que muitas vezes retratavam Tarzan como um selvagem de fala limitada, Ely apresentou um personagem culto e articulado.

Na série, Tarzan, ou Earl Greystoke, é um bebê americano que fica órfão após um acidente aéreo na África. Criado por grandes macacos, ele recebe o nome Tarzan, que significa “Pele Branca”.

Resgatado por parentes, Earl é levado aos Estados Unidos, onde recebe educação formal, destaca-se em esportes como karatê e, desiludido com a civilização, retorna à selva africana para viver como Tarzan.

A série introduziu algumas diferenças em relação aos livros. Por exemplo, Tarzan de Ely não tinha Jane, a esposa presente nas histórias originais e em adaptações anteriores.

Em vez disso, ele cuidava de Jai, um menino órfão interpretado por Manuel Padilla Jr. Além disso, enquanto Burroughs descrevia Tarzan como um “gigante branco de cabelos negros”, Ely era loiro, mas sua altura (1,93 m) correspondia à estatura do personagem. A produção, filmada em locações no Brasil e no México, trouxe um visual exótico e dinâmico, mas também desafios físicos extremos para Ely.

Dedicação e Sacrifício em Tarzan

Ron Ely se destacou por sua recusa em usar dublês, mesmo nas cenas mais perigosas, que incluíam balançar em cipós, lutar com animais, mergulhar de cachoeiras e atravessar pântanos.

Essa escolha resultou em inúmeras lesões: fraturas, cortes, suturas, distensões musculares e hematomas eram rotina no set. Em entrevista à revista TV Guide, o diretor James Komack relatou a determinação de Ely: “Essa é a minha grande chance. Eu nunca tive um papel de destaque. Eu nunca estive numa série de qualidade.”

Ely, por sua vez, reforçava sua filosofia: “Se é algo que eu sinto que posso fazer, eu devo fazer sozinho. Não é bom vender algo que não seja verdade. Eu quero que o telespectador acredite que eu sou Tarzan.”

Essa autenticidade conquistou o público, mas cobrou um preço alto. Ely frequentemente atuava com dores intensas, movido por uma paixão pelo papel que ele descrevia como “o que venho esperando a minha vida toda”.

Sua interpretação, combinando força física, carisma e uma leitura erudita do personagem, é considerada por muitos fãs como a mais fiel à essência literária de Tarzan.

A série, que durou duas temporadas e 57 episódios (1966-1968), consolidou Ely como um ícone da televisão, embora não o tenha elevado ao estrelato de Hollywood.

Carreira Após Tarzan

Após o fim de Tarzan, Ely continuou trabalhando na televisão, com participações em séries populares como Mulher Maravilha (1975-1979), estrelada por Lynda Carter, e A Ilha da Fantasia (1977-1984), com Ricardo Montalbán.

Em 1975, ele protagonizou o piloto Doc Savage: O Homem de Bronze, baseado no herói das revistas pulp dos anos 1930. Apesar das expectativas, o projeto não foi aprovado para uma série, e o piloto foi exibido como um telefilme.

Em 1987, Ely voltou às telas em uma nova versão de Sea Hunt (Aventura Submarina), interpretando o mergulhador Mike Nelson, papel originalmente vivido por Lloyd Bridges na série clássica (1958-1961).

A reimaginação, no entanto, não atraiu audiência e foi cancelada após poucos episódios. Fora da atuação, Ely encontrou sucesso como escritor, publicando romances de mistério nos Estados Unidos, muitos inspirados pela literatura de aventura de Edgar Rice Burroughs, que tanto admirava.

Vida Pessoal e Tragédia

Em 1984, Ely casou-se com Valerie Lundeen, modelo e ex-Miss Flórida, com quem teve três filhos: as gêmeas Kirsten e Kaitland, nascidas em 1986, e Cameron, nascido em 1989.

A família vivia em Santa Bárbara, Califórnia, até que uma tragédia abalou suas vidas. Na noite de 15 de outubro de 2019, Cameron, então com 30 anos, matou sua mãe, Valerie, a facadas em sua residência.

A polícia, chamada ao local, confrontou Cameron, que foi morto a tiros com 24 disparos. O incidente chocou a comunidade e gerou controvérsias sobre o uso de força letal.

Em 2020, Ron Ely abriu um processo contra o Departamento de Polícia de Santa Bárbara, alegando homicídio culposo e danos emocionais pela morte de seu filho.

O caso trouxe à tona discussões sobre saúde mental, violência policial e os limites da atuação das autoridades em situações de crise. Segundo relatos, Cameron enfrentava problemas psicológicos, mas os detalhes do caso permanecem sob investigação.

Legado e Reflexão

A carreira de Ron Ely reflete a determinação de um ator que, apesar de nunca alcançar o estrelato de astros como Clint Eastwood ou Paul Newman, deixou sua marca na cultura popular.

Sua interpretação de Tarzan, marcada por coragem física e respeito pela obra original, continua sendo celebrada por fãs do personagem. Fora das telas, Ely enfrentou desafios pessoais com resiliência, desde os percalços em Hollywood até a tragédia familiar que marcou sua vida.

Além de sua contribuição à televisão, Ely também se destacou como escritor, explorando o gênero de mistério com a mesma paixão que dedicou a Tarzan. Sua trajetória é um lembrete de que o sucesso não se mede apenas por fama, mas pela dedicação a um ofício e pela capacidade de superar adversidades.

Enquanto isso, o caso de 2019 permanece um capítulo doloroso, levantando questões sobre violência, saúde mental e justiça que ecoam além da vida de Ely, tocando debates sociais mais amplos.

Ron Ely morreu na casa de sua filha no Condado de Santa Bárbara, Califórnia, em 29 de setembro de 2024, aos 86 anos.

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