Padre Cícero foi o fundador da
cidade de Juazeiro do Norte e a exatos 87 anos de sua morte, ele ainda é o
maior fenômeno para a economia do município, pois o carro chefe do
desenvolvimento local são as romarias que acontecem várias vezes por ano e que
vêm pessoas de quase todos os estados brasileiros, com destaque, aos
nordestinos.
Juazeiro tem um polo
industrial de imagens, não só de Padre Cícero, mas de todos os santos e a
fabricação de bijuterias, chapéus, velas, fogos e milhares suvenires
religiosos. A multidão compra de tudo nas lojas da cidade.
Eu já morei por três anos
na cidade e testemunhei esse fenômeno pessoalmente.
Juazeiro do Norte é tão
incrível que é o único lugar no mundo, que cachorro não se assusta com fogos. O
romeiro está soltando os foguetes e o cachorro fica do lado dele, olhando para
cima.
Cícero Romão Batista, mas
na devoção popular, ficou conhecido como Padre Cícero e ainda Padim Ciço. O
carisma do padre fez com que obtivesse prestigio e influência na vida social,
política e religiosa na vida dos nordestinos.
A TV Verdes Mares, afiliada
da Rede Globo no Ceará, em março de 2001 em votação foi escolhido “O Cearense
do Século e em julho de 2012, foi eleito um dos “100 maiores brasileiros de
todos os tempos”, essa eleição foi feita pelo SBT com a BBC.
Padre Cícero nasceu no Crato no dia 24 de março de 1844 e com apenas 12
anos fez voto de castidade influenciado pela leitura da vida de São Francisco
de Sales.
No seminário onde estudou Cícero não era considerado um aluno mediano e,
apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas
muito baixas nas disciplinas de oratória e eloquência.
Sua ordenação sacerdotal deu-se em 30 de novembro de 1870. Após sua
ordenação, retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava uma paróquia, ficou
ensinando latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo seu primeiro
grande amigo, o professor José Joaquim Teles Marrocos.
Cícero era proprietário de terras, gado e muitos imóveis e fazia parte
da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. O médico Floro
Bartolomeu sempre foi seu braço direito, e integrava o sistema político
cearense.
O alegado milagre de Padre Cícero aconteceu em 1º de março de 1889,
durante uma missa celebrada por ele, a hóstia ministrada pelo sacerdote a Maria
de Araújo se transformou em sangue na boca dela. E isso veio a acontecer outras
vezes.
Esse caso gerou investigações e em um primeiro momento foi dado como
realmente um milagre e isso aconteceu em 13 de outubro de 1891.
Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo Dom Joaquim José Vieira
nomeou outra comissão para investigar.
A segunda concluiu que não houve milagre e sim um embuste e Dom Joaquim
suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero e determinou que Maria de
Araújo que viria a morrer em 1914, fosse enclausurada.
Em 1898, padre Cícero foi a Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e
com membros da Congregação do Santo Oficio, conseguindo sua absolvição.
Entretanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi revista e
Padre Cícero teria sido excomungado, mas estudos realizados décadas depois pelo
bispo Dom Fernando Panico sugere que a excomunhão não chegou a ser aplicada de
fato.
O próprio papa Bento XVI, quando era cardeal, encomendou no ano 2001
estudos e análises para debater no Vaticano a possibilidade de ser feita a
reabilitação.
No dia 31 de maio de 2006, Dom Fernando conduziu uma comitiva de
religiosos, políticos e fieis, e também enviou ao Vaticano a documentação
técnica para abertura do processo de reabilitação do Padre Cícero. Em 13 de
dezembro de 2015, Padre Cícero recebeu perdão da Igreja Católica.
O padre Cícero morreu em Juazeiro do Norte no dia 20 de julho de 1934,
aos 90 anos. Encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, na mesma cidade.
Politica
Sua relação com a política inicia em 1901 com a visita do Conde von
de Brule, em missão da Secretaria do Interior do Ceará, a terrenos que possuía
no Crato, na localidade de Taboca, onde se havia conhecimento de
afloramentos de xisto betuminoso de relevância econômica.
Somente em 1919, o então governador do Ceará, João Tomé de Saboia e
Silva, visitaria os afloramentos e ordenaria a construção de galerias,
batizadas de Mina Santa Rosa.
Devido ao excessivo calor e deficiência na ventilação, os trabalhos
foram interrompidos por dois anos.
Em 1921 a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, financiou
uma perfuração neste terreno e em outubro de 1922, o químico, geólogo e
mineralogista Sylvio Froes Abreu, então com dezenove anos, relatou que o xisto
betuminoso continha potencial para produção de óleos lubrificantes e
combustíveis.
Na geologia moderna, essa camada petrolífera é denominada como
Membro Fundão.
Padre Cícero era filiado ao extinto Partido Republicano
Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911,
quando o povoado foi elevado a cidade.
Em 1926 foi eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o
cargo. Em 4 de outubro de 1911, ele e outros dezesseis líderes políticos
da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem
como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli.
O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo
apontado como uma importante passagem na história do
coronelismo brasileiro.
Em 1913, foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo,
voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou
conhecido como Sedição de Juazeiro.
Foi eleito, ainda, vice-governador do Ceará, no Governo do General
Benjamin Liberato Barroso.
Ao fim da década de 1920, Padre Cícero começou a perder a sua força
política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio
como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.
Apesar de algumas tentativas acadêmicas de relacioná-lo ao comunismo e,
mais tarde, com a Teologia da Libertação, o padre Cícero Romão era
profundamente anticomunista e apegava-se à doutrina católica para justificar
sua posição.
Numa entrevista concedida em 1931, afirmou: "O comunismo foi
fundado pelo Demônio. Lucífer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a
guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a
continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos".
Ligação com o cangaço
Virgulino Ferreira da
Silva, o Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e
conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926.
Naquele ano, a Coluna
Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil
desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões
Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes
arregimentavam cangaceiros.
Existem duas versões para o
encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria
convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo
em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão.
Na outra versão, defendida
por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro
Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.
Ao chegarem em Juazeiro,
Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam ouviram padre Cícero
aconselhá-los a abandonar o cangaço.
Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.
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