Propaganda

quinta-feira, maio 18, 2023

Padre Cícero - O Padroeiro do Nordeste


Padre Cícero foi o fundador da cidade de Juazeiro do Norte e a exatos 87 anos de sua morte, ele ainda é o maior fenômeno para a economia do município, pois o carro chefe do desenvolvimento local são as romarias que acontecem várias vezes por ano e que vêm pessoas de quase todos os estados brasileiros, com destaque, aos nordestinos.

Juazeiro tem um polo industrial de imagens, não só de Padre Cícero, mas de todos os santos e a fabricação de bijuterias, chapéus, velas, fogos e milhares suvenires religiosos. A multidão compra de tudo nas lojas da cidade.

Eu já morei por três anos na cidade e testemunhei esse fenômeno pessoalmente.

Juazeiro do Norte é tão incrível que é o único lugar no mundo, que cachorro não se assusta com fogos. O romeiro está soltando os foguetes e o cachorro fica do lado dele, olhando para cima.

Cícero Romão Batista, mas na devoção popular, ficou conhecido como Padre Cícero e ainda Padim Ciço. O carisma do padre fez com que obtivesse prestigio e influência na vida social, política e religiosa na vida dos nordestinos.

A TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará, em março de 2001 em votação foi escolhido “O Cearense do Século e em julho de 2012, foi eleito um dos “100 maiores brasileiros de todos os tempos”, essa eleição foi feita pelo SBT com a BBC.

Estátua de Padre Cicero no Horto

Padre Cícero nasceu no Crato no dia 24 de março de 1844 e com apenas 12 anos fez voto de castidade influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.

No seminário onde estudou Cícero não era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas muito baixas nas disciplinas de oratória e eloquência.

Sua ordenação sacerdotal deu-se em 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação, retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava uma paróquia, ficou ensinando latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo seu primeiro grande amigo, o professor José Joaquim Teles Marrocos.

Cícero era proprietário de terras, gado e muitos imóveis e fazia parte da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. O médico Floro Bartolomeu sempre foi seu braço direito, e integrava o sistema político cearense.

O alegado milagre de Padre Cícero aconteceu em 1º de março de 1889, durante uma missa celebrada por ele, a hóstia ministrada pelo sacerdote a Maria de Araújo se transformou em sangue na boca dela. E isso veio a acontecer outras vezes.

Esse caso gerou investigações e em um primeiro momento foi dado como realmente um milagre e isso aconteceu em 13 de outubro de 1891. 

Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou outra comissão para investigar. 

A segunda concluiu que não houve milagre e sim um embuste e Dom Joaquim suspendeu as ordens sacerdotais de Padre Cícero e determinou que Maria de Araújo que viria a morrer em 1914, fosse enclausurada.

Em 1898, padre Cícero foi a Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Oficio, conseguindo sua absolvição. 

Entretanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi revista e Padre Cícero teria sido excomungado, mas estudos realizados décadas depois pelo bispo Dom Fernando Panico sugere que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato. 

O próprio papa Bento XVI, quando era cardeal, encomendou no ano 2001 estudos e análises para debater no Vaticano a possibilidade de ser feita a reabilitação.

No dia 31 de maio de 2006, Dom Fernando conduziu uma comitiva de religiosos, políticos e fieis, e também enviou ao Vaticano a documentação técnica para abertura do processo de reabilitação do Padre Cícero. Em 13 de dezembro de 2015, Padre Cícero recebeu perdão da Igreja Católica.

O padre Cícero morreu em Juazeiro do Norte no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos. Encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na mesma cidade.

Politica

Sua relação com a política inicia em 1901 com a visita do Conde von de Brule, em missão da Secretaria do Interior do Ceará, a terrenos que possuía no Crato, na localidade de Taboca, onde se havia conhecimento de afloramentos de xisto betuminoso de relevância econômica.

Somente em 1919, o então governador do Ceará, João Tomé de Saboia e Silva, visitaria os afloramentos e ordenaria a construção de galerias, batizadas de Mina Santa Rosa.

Devido ao excessivo calor e deficiência na ventilação, os trabalhos foram interrompidos por dois anos.

Em 1921 a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, financiou uma perfuração neste terreno e em outubro de 1922, o químico, geólogo e mineralogista Sylvio Froes Abreu, então com dezenove anos, relatou que o xisto betuminoso continha potencial para produção de óleos lubrificantes e combustíveis. 

Na geologia moderna, essa camada petrolífera é denominada como Membro Fundão.

Padre Cícero era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade.

Em 1926 foi eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o cargo. Em 4 de outubro de 1911, ele e outros dezesseis líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli.

O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro.

Em 1913, foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro.

Foi eleito, ainda, vice-governador do Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso.

Ao fim da década de 1920, Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.

Apesar de algumas tentativas acadêmicas de relacioná-lo ao comunismo e, mais tarde, com a Teologia da Libertação, o padre Cícero Romão era profundamente anticomunista e apegava-se à doutrina católica para justificar sua posição.

Numa entrevista concedida em 1931, afirmou: "O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lucífer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos".

Ligação com o cangaço



Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926.

Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.

Existem duas versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão. 

Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.

Ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço.

Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.

 



0 Comentários: