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terça-feira, julho 02, 2024

Joana d'Arc - A Guerreira Francesa Acusada de Bruxaria


Joana d’Arc é uma das coisas inexplicáveis da Igreja Católica.

Joana d’Arc: A Guerreira Francesa, Mártir e Símbolo Eterno

Joana d’Arc, também conhecida como a Donzela de Orleães, é uma das figuras mais emblemáticas da história ocidental. Heroína nacional da França, mártir da Igreja Católica e símbolo de resistência, sua trajetória durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) transcende o tempo, inspirando gerações em diversas esferas, da política à arte.

Sua vida, marcada por coragem, fé e tragédia, reflete tanto os conflitos de sua época quanto as complexidades das instituições religiosas e políticas.

Origens Humildes e Visões Divinas

Nascida por volta de 1412 em Domrémy, uma pequena vila no nordeste da França, Joana era filha de camponeses. Em uma época de profunda instabilidade, com a França devastada pela Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra, Joana cresceu em um ambiente de fervor religioso e patriotismo.

Aos 13 anos, ela afirmou ter recebido visões do Arcanjo Miguel, de Santa Catarina de Alexandria e de Santa Margarida, que a instruíram a libertar a França do domínio inglês e garantir a coroação de Carlos VII, o delfim (herdeiro do trono) ainda não coroado.

Essas visões, que Joana descrevia com convicção, eram vistas com desconfiança em uma sociedade dominada pela Igreja e pela política. No entanto, sua determinação e carisma convenceram líderes locais a levá-la à corte de Carlos VII em Chinon, em 1429.

Após interrogatórios teológicos e exames para verificar sua ortodoxia e virgindade - um símbolo de pureza na época -, Joana ganhou a confiança do delfim, que viu nela uma esperança para unificar o reino fragmentado.

O Triunfo em Orleães e a Coroação de Carlos VII

Joana, então com apenas 17 anos, foi enviada com um exército para quebrar o Cerco de Orleães, uma cidade estratégica sitiada pelos ingleses. Vestida com armadura masculina e portando um estandarte com símbolos religiosos, ela liderou as tropas com uma coragem que inspirou soldados e civis.

Em apenas nove dias, entre 29 de abril e 8 de maio de 1429, os franceses derrotaram os ingleses, libertando Orleães. Essa vitória, atribuída à liderança de Joana, elevou-a ao status de heroína nacional e reacendeu a esperança no povo francês.

Após Orleães, Joana conduziu uma série de vitórias militares, incluindo a reconquista de cidades como Troyes e Reims. Em 17 de julho de 1429, Carlos VII foi coroado na catedral de Reims, um evento de imenso simbolismo, pois legitimava sua autoridade e unificava a França sob sua liderança.

A presença de Joana na cerimônia reforçou sua imagem como enviada divina, mas também atraiu a inveja e a desconfiança de nobres e clérigos da corte.

A Queda: Captura e Julgamento

Apesar de seus sucessos, a ascensão de Joana foi breve. Em 1429, o fracasso no Cerco de Paris, uma tentativa ambiciosa de tomar a capital ocupada pelos ingleses, minou sua reputação entre alguns nobres franceses.

Em 23 de maio de 1430, durante uma missão em Compiègne, Joana foi capturada pelos borguinhões, um grupo de franceses aliados aos ingleses. Vendida aos ingleses por 10 mil libras, ela foi transferida para Ruão, sob controle inglês, onde enfrentaria um julgamento manipulado.

O julgamento de Joana, iniciado em janeiro de 1431, foi conduzido pelo bispo Pierre Cauchon, um aliado dos ingleses. Acusada de heresia, bruxaria, travestismo (por usar roupas masculinas) e desobediência à Igreja, Joana enfrentou um tribunal claramente enviesado.

Apesar de sua pouca instrução, ela demonstrou inteligência e firmeza ao responder às acusações, afirmando que suas visões vinham de Deus e que suas ações eram em prol da França.

Após meses de interrogatórios exaustivos, ela foi pressionada a assinar uma confissão sob ameaça de morte, mas logo retratou sua retratação, reafirmando sua missão divina.

Em 30 de maio de 1431, aos 19 anos, Joana d’Arc foi queimada viva na Place du Vieux Marché, em Ruão. Antes da execução, ela confessou-se aos dominicanos Jean Toutmouille e Martin Ladvenu, recebendo os sacramentos.

Sua sentença foi lida publicamente, e, segundo testemunhas, Joana enfrentou a morte com dignidade, pedindo uma cruz para segurar e invocando o nome de Jesus. Para evitar que suas relíquias fossem veneradas, suas cinzas foram jogadas no rio Sena.

Reabilitação e Canonização

A morte de Joana não apagou sua influência. Pelo contrário, ela se tornou um símbolo de resistência e patriotismo, intensificando o sentimento anti-inglês na França.

Em 1450, com a reconquista de Ruão pelos franceses, a mãe de Joana, Isabelle Romée, e outros apoiadores pediram a revisão de seu julgamento. Em 1455, o Papa Calisto III autorizou um tribunal inquisitorial que, após uma investigação detalhada, declarou a nulidade do processo de 1431 por vícios formais e falta de imparcialidade.

Joana foi formalmente inocentada em 7 de julho de 1456, sendo reconhecida como mártir da fé e da pátria. Nos séculos seguintes, Joana d’Arc foi apropriada por diversos movimentos.

Durante as Guerras de Religião no século XVI, a Liga Católica usou sua imagem contra os protestantes. Em 1803, Napoleão Bonaparte a declarou símbolo nacional da França, reforçando seu papel como ícone de unidade e resistência.

A Igreja Católica, que outrora a condenara, iniciou seu processo de canonização no século XIX. Joana foi beatificada em 1909 pelo Papa Pio X e canonizada em 1920 pelo Papa Bento XV. Hoje, ela é uma das nove padroeiras da França.

Legado Cultural e Espiritual

Joana d’Arc transcende a história para se tornar um ícone cultural. Sua vida inspirou inúmeras obras de arte, incluindo peças de Shakespeare, Voltaire e George Bernard Shaw, pinturas de Ingres e Rossetti, filmes de Carl Dreyer e Luc Besson, e composições musicais.

No Brasil, Joana é sincretizada nas religiões afro-brasileiras com a orixá Obá, refletindo sua força guerreira e espiritualidade. Seu legado também levanta questões sobre o papel da Igreja Católica na história.

A condenação de Joana, seguida por sua reabilitação e canonização, ilustra as contradições de uma instituição que, como qualquer outra, é composta por indivíduos influenciados por interesses políticos e sociais de sua era.

Embora o julgamento de 1431 tenha sido conduzido por clérigos alinhados aos ingleses, a revisão posterior demonstra a capacidade da Igreja de corrigir injustiças, ainda que tardiamente.

Conclusão

Joana d’Arc é um símbolo de coragem, fé e resiliência. Sua trajetória, marcada por vitórias militares, tragédia pessoal e redenção póstuma, reflete a complexidade de uma mulher que desafiou as normas de seu tempo.

Seja por suas visões divinas ou por sua determinação humana, Joana transformou a história da França e permanece uma inspiração universal, lembrada não apenas como heroína, mas como um exemplo de que a verdade, mesmo quando silenciada, encontra seu caminho.


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