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terça-feira, julho 02, 2024

Violet Jessop - Enfermeira Sobrevivente do Titanic

 

Violet Jessop


Violet Jessop: A Enfermeira Sobrevivente do Titanic e Outros Naufrágios

Há mais de um século, na noite de 14 de abril de 1912, o RMS Titanic, considerado o maior e mais luxuoso navio de sua época, colidiu com um iceberg no Atlântico Norte e afundou nas primeiras horas do dia 15 de abril.

A tragédia, que vitimou mais de 1.500 pessoas, tornou-se um dos eventos mais marcantes da história marítima. Centenas de livros, filmes e documentários foram produzidos com base em relatos de sobreviventes, mas muitas histórias, vistas apenas por aqueles que não sobreviveram, permanecem perdidas para sempre no fundo do oceano.

Entre os sobreviventes, destaca-se Violet Constance Jessop, uma comissária de bordo e enfermeira cuja vida parece desafiar as probabilidades. Nascida em 2 de outubro de 1887, em Bahía Blanca, Argentina, Violet sobreviveu não apenas ao naufrágio do Titanic, mas também aos desastres de dois outros navios da White Star Line: o RMS Olympic, em 1911, e o HMHS Britannic, em 1916.

Sua trajetória é uma combinação de coragem, resiliência e uma pitada de sorte, marcada por episódios que a transformaram em uma figura lendária da história marítima.

Infância e Primeiros Desafios

Violet era filha de William e Katherine Jessop, imigrantes irlandeses de Dublin que se mudaram para a Argentina na década de 1880 em busca de prosperidade na criação de gado.

Ela era a mais velha de seis filhos sobreviventes, de um total de nove. Sua infância foi marcada por adversidades: aos cinco anos, Violet contraiu tuberculose, uma doença que, na época, era frequentemente fatal. Os médicos alertaram que ela tinha poucos dias de vida, mas, contra todas as expectativas, ela sobreviveu.

A morte de seu pai em Mendoza, Argentina, levou a família a retornar à Grã-Bretanha. Lá, sua mãe começou a trabalhar como comissária de bordo na Royal Mail Line, mas, quando adoeceu, Violet, ainda adolescente, abandonou os estudos em um convento para seguir a mesma profissão.

Apesar de suas reservas sobre trabalhar no Atlântico Norte - devido às condições climáticas rigorosas e aos passageiros exigentes -, Violet ingressou na Royal Mail Line e, posteriormente, na prestigiada White Star Line, iniciando uma carreira que a levaria a testemunhar alguns dos maiores desastres marítimos do século XX.

A Bordo do RMS Olympic

Em 1910, Violet começou a trabalhar no RMS Olympic, o maior navio de passageiros do mundo à época, com 269 metros de comprimento - cerca de 30 metros maior que qualquer outro navio de sua classe. Como comissária, ela trabalhava 17 horas por dia, ganhando um salário mensal de £2,10 (equivalente a aproximadamente £250 ou €300 em valores atuais).

Suas funções incluíam atender às necessidades dos passageiros de primeira classe, garantindo conforto em um ambiente de opulência. Em 20 de setembro de 1911, o Olympic colidiu com o cruzador militar HMS Hawke, próximo à Ilha de Wight, no sul da Inglaterra.

O Hawke, significativamente menor, foi atraído pela sucção das hélices do Olympic, resultando em danos graves para ambos os navios: dois compartimentos estanques do Olympic foram inundados, e suas hélices ficaram danificadas; a proa do Hawke foi destruída.

Apesar da gravidade do incidente, ambos os navios conseguiram retornar ao porto de Southampton sem vítimas. Para Violet, esse foi o primeiro de uma série de encontros com o perigo no mar, mas também um prenúncio de eventos ainda mais dramáticos.

O Naufrágio do Titanic

Inicialmente relutante em trabalhar no RMS Titanic - um navio ainda mais grandioso que o Olympic -, Violet foi convencida por amigos que a experiência seria inesquecível. Assim, em 10 de abril de 1912, ela embarcou como comissária de bordo para a viagem inaugural do navio, partindo de Southampton rumo a Nova York.

Violet admirava o arquiteto do Titanic, Thomas Andrews, a quem descreveu em suas memórias como um homem gentil, mas visivelmente exausto, que frequentemente parava para cumprimentar a tripulação com um sorriso.

Ela também fez amizade com Jock Hume, um jovem violinista escocês da orquestra do navio, cuja coragem durante o naufrágio - tocando até o fim para acalmar os passageiros - ficou marcada na história.

Em suas memórias, Violet relatou que carregava consigo uma oração hebraica traduzida para o inglês, presenteada por uma idosa irlandesa. Como católica devota, ela levava um rosário no avental e acreditava no poder da oração para protegê-la contra “fogo e água”.

Na noite de 14 de abril, após um dia de trabalho, Violet estava em seu beliche, sonolenta, mas ainda acordada, quando sentiu o impacto do Titanic contra o iceberg. Inicialmente, ela não percebeu a gravidade da situação, mas logo recebeu ordens para subir ao convés.

No convés, Violet observou que os passageiros permaneciam calmos, muitos ainda descrentes de que o “inafundável” Titanic pudesse estar em perigo. Como comissária, ela foi instruída a ajudar no embarque dos botes salva-vidas, tranquilizando as mulheres e crianças enquanto eram separadas de seus maridos.

Mais tarde, um oficial ordenou que ela e outras comissárias entrassem no bote número 16, para demonstrar às passageiras que os botes eram seguros. Enquanto o bote era baixado ao mar, um oficial entregou a Violet um bebê envolto em cobertores, sem identificar quem era.

Após cerca de oito horas no mar gelado, Violet e os outros ocupantes do bote foram resgatados pelo RMS Carpathia. A bordo, uma mulher desconhecida tomou o bebê dos braços de Violet sem dizer uma palavra de agradecimento, um momento que ela achou estranho, mas não questionou devido ao cansaço e ao frio intenso. A identidade do bebê permanece um mistério até hoje, alimentando especulações entre historiadores.

O HMHS Britannic e a Primeira Guerra Mundial

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Violet juntou-se à Cruz Vermelha Britânica, servindo como enfermeira no HMHS Britannic, um navio-irmão do Titanic convertido em hospital para transportar feridos.

Em 21 de novembro de 1916, enquanto navegava no Mar Egeu, o Britannic atingiu uma mina naval alemã e começou a afundar rapidamente. Violet conseguiu embarcar em um bote salva-vidas, mas, ao ser baixado, o bote foi arrastado pela sucção das hélices do navio.

Temendo por sua vida, ela pulou ao mar, mas acabou batendo a cabeça contra a quilha do Britannic, ficando temporariamente inconsciente. Felizmente, outro bote a resgatou. Violet mais tarde mencionou que, dessa vez, garantiu levar sua escova de dentes, algo de que sentiu muita falta após o naufrágio do Titanic.

Vida Após os Naufrágios

Após a guerra, Violet continuou sua carreira marítima, trabalhando para a White Star Line, a Red Star Line e novamente a Royal Mail Line. Na década de 1920, ela participou de dois cruzeiros ao redor do mundo a bordo do SS Belgenland, o maior navio da Red Star Line.

Sua vida pessoal, no entanto, enfrentou desafios: ela teve um breve casamento na mesma década, que terminou em divórcio e não resultou em filhos. Em 1950, Violet aposentou-se e fixou residência em Great Ashfield, Suffolk, onde viveu uma vida tranquila.

Ela faleceu em 5 de maio de 1971, aos 83 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Suas memórias, publicadas postumamente em 1997 como Titanic Survivor: The Newly Discovered Memoirs of Violet Jessop, oferecem um relato vívido e pessoal dos eventos que marcaram sua vida e a história marítima.

Legado e Curiosidades

A história de Violet Jessop é um testemunho de resiliência diante de adversidades extremas. Sua capacidade de sobreviver a três desastres marítimos - o Olympic, o Titanic e o Britannic - rendeu-lhe o apelido de “a inafundável”.

Além disso, sua perspectiva única como comissária e enfermeira oferece um olhar raro sobre a vida a bordo dos grandes transatlânticos e os desafios enfrentados pela tripulação.

Curiosamente, Violet nunca buscou fama por suas experiências. Suas memórias, escritas décadas após os eventos, foram publicadas apenas após sua morte, sugerindo uma mulher reservada, mas profundamente reflexiva sobre suas vivências.

Historiadores também especulam sobre o bebê que Violet protegeu no Titanic, com teorias apontando para possíveis identidades, como Michel Navratil Jr. ou Helen Loraine Allison, embora nenhuma tenha sido confirmada.

Violet Jessop permanece uma figura emblemática, não apenas por sua sobrevivência, mas por sua determinação em continuar trabalhando no mar, mesmo após tantas experiências traumáticas.

Sua história é um lembrete da fragilidade humana diante da natureza, mas também da força do espírito para superar o inimaginável.


Juliet Jessop como enfermeira no Titanic

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