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segunda-feira, dezembro 29, 2025

Veneza: uma cidade sobre pilares de madeira


Veneza: uma cidade erguida sobre pilares de madeira

A história de Veneza tem início no século V d.C., em um período de profundas transformações na Europa. Com a queda do Império Romano do Ocidente, sucessivas invasões de povos bárbaros vindos do norte, como hunos, lombardos e visigodos, tornaram a vida insegura nas antigas cidades do continente italiano.

Para escapar da violência e do colapso das estruturas romanas, populações locais buscaram refúgio nos pântanos da Lagoa de Veneza, uma região inóspita, alagadiça e aparentemente imprópria para a habitação humana.

Os primeiros assentamentos surgiram em ilhas arenosas como Torcello, Jesolo e Malamocco. Inicialmente, esses núcleos eram considerados provisórios, usados apenas como abrigo temporário.

No entanto, à medida que as ameaças no continente persistiam e a vida lagunar se mostrava possível, os habitantes passaram a se estabelecer de forma permanente. Assim, pouco a pouco, nascia Veneza. Construir uma cidade sobre água exigiu soluções engenhosas.

Para garantir estabilidade às edificações, os venezianos desenvolveram um método construtivo singular: milhares de estacas de madeira eram cravadas verticalmente no solo arenoso e lodoso da lagoa até atingir camadas mais firmes. Sobre essas estacas, eram colocadas plataformas de madeira, que serviam de base para a construção dos edifícios de pedra e tijolo.

Um livro técnico do século XVII descreve minuciosamente esse processo e revela a dimensão colossal dessas obras. Segundo a obra, somente para a construção da Igreja de Santa Maria della Salute, iniciada em 1631, foram utilizadas 1.106.657 estacas de madeira, cada uma com cerca de quatro metros de comprimento, todas cravadas sob a água.

O trabalho levou aproximadamente dois meses apenas para a fundação. A madeira utilizada era transportada por vias fluviais desde florestas distantes, localizadas nas regiões que hoje correspondem à Eslovênia, Croácia e Montenegro, o que evidencia a impressionante logística e o poder econômico da República de Veneza.

À primeira vista, o uso da madeira como principal elemento estrutural pode parecer paradoxal, já que ela é considerada menos durável que a pedra ou o metal. No entanto, o segredo da longevidade das fundações venezianas reside justamente no ambiente em que estão inseridas.

A decomposição da madeira ocorre principalmente devido à ação de microrganismos, como fungos e bactérias que necessitam de oxigênio para sobreviver. Como as estacas permanecem permanentemente submersas, privadas de oxigênio, esse processo é drasticamente reduzido.

Além disso, o contato contínuo com a água salgada favorece um processo de mineralização ao longo dos séculos, endurecendo a madeira e tornando-a extremamente resistente. Assim, paradoxalmente, a água que ameaça Veneza é também a responsável por sustentar suas bases há mais de mil anos.

Mais sobre Veneza

Veneza está localizada no nordeste da Itália e é formada por um conjunto de 117 pequenas ilhas, separadas por canais e interligadas por mais de 400 pontes. A cidade situa-se na Lagoa de Veneza, uma extensa área pantanosa ao longo da costa do Mar Adriático, entre as desembocaduras dos rios Po e Piave.

Sua singularidade arquitetônica, artística e histórica levou parte da cidade e toda a lagoa a serem reconhecidas como Patrimônio Mundial da Humanidade. Veneza é a capital da região do Vêneto.

Em 2009, o município contava com cerca de 270 mil habitantes, dos quais aproximadamente 60 mil residiam na cidade histórica. A maioria da população vive na região continental, conhecida como Terraferma, especialmente em Mestre e Marghera, além de outras ilhas da lagoa.

Juntamente com Pádua e Treviso, Veneza integra a área metropolitana conhecida como PATREVE, que reúne cerca de 2,6 milhões de habitantes. O nome da cidade deriva do antigo povo dos vênetos, que habitava a região desde o século X a.C.

Ao longo da história, Veneza tornou-se a capital da poderosa República de Veneza, sendo conhecida por títulos como La Serenissima, Rainha do Adriático, Cidade da Água, Cidade Flutuante e Cidade dos Canais.

Durante a Idade Média e o Renascimento, a República de Veneza foi uma das maiores potências marítimas do mundo. Controlou rotas comerciais estratégicas, participou das Cruzadas, teve papel decisivo na Batalha de Lepanto e tornou-se um centro essencial do comércio de especiarias, seda e outros produtos orientais entre os séculos XIII e XVII.

Essa prosperidade refletiu-se em sua arquitetura monumental, nas artes plásticas e na vida cultural intensa. Após as guerras napoleônicas e o Congresso de Viena, Veneza foi anexada ao Império Austríaco.

Somente em 1866, após um referendo decorrente da Terceira Guerra de Independência Italiana, passou a integrar o Reino da Itália.

Veneza também ocupa um lugar de destaque na história da música, especialmente da música sinfônica e da ópera, sendo a cidade natal de Antônio Vivaldi, um dos maiores compositores do período barroco.

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