Uso do Fogo na Inquisição – Matar sem derramar sangue - A utilização
de fogueiras como maneira de o braço secular aplicar a pena de morte aos
condenados que lhes eram entregues pela Inquisição é o método mais famoso de
aplicação da pena capital, embora existissem outros.
Seu significado era basicamente religioso - dada a
religiosidade que estava impregnada na população daquela época, inclusive entre
os monarcas e senhores feudais -, uma vez que o fogo simbolizava a purificação,
configurando a ideia de desobediência a Deus e ilustrando a imagem do
Inferno.
Brian Innes é de opinião que a lógica por trás
deste castigo final era a visão de que a alma eterna do herege poderia
permanecer incólume; portanto a única maneira de o salvar do castigo de Deus na
vida após a morte era destruir o seu corpo e mente corrompidos, assim
libertando a sua alma, purgada de todos os pecados.
Por sua vez, Jennifer Deane escreve que o fogo
era o meio de execução escolhido porque, de acordo com o legislado no Conselho
de Verona em 1184, aniquilava o organismo de tal maneira que ele não
poderia ser ressuscitado; proscrições canônicas contra o derramamento de sangue
(reafirmadas no Quarto Conselho de Latrão em 1215) poderiam também ter
sido uma influência.
O historiador A. J. Saraiva, estudando a inquisição
portuguesa, em Lisboa, narra que os condenados à fogueira eram presos à estaca
num plano mais alto do que a pira, numa zona habitualmente ventosa, o que tinha
como resultado, se a vítima não sufocasse primeiro, que o calor a assava
lentamente, num suplício que poderia durar horas, diante duma multidão alegre e
excitada.
Em muitos casos também se queimavam em praça pública
os livros avaliados pelos inquisidores como símbolos do pecado: "No fim
do auto se leu a sentença dos livros proibidos e se mandarão queimar três
canastras deles. Maio de 1624".
Foi por causa da sua obra "Discours pathetique
au sujet des calamités", publicada em Londres (1756), que o Cavaleiro
de Oliveira foi relaxado à justiça secular que o fez queimar em estátua
com o livro suspenso ao pescoço - como herege convicto - durante o auto de
fé realizado em Lisboa no ano de 1761.
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