Ao contrário do que muitos teístas afirmam -
que a religião seria a principal fonte de moralidade e paz -, a história
registra tanto ateus notavelmente pacíficos e humanistas quanto líderes
religiosos responsáveis por perseguições em larga escala. Entre os ateus (ou
não teístas) que marcaram positivamente a humanidade podemos citar:
Confúcio (551-479 a.C.), cuja filosofia ética
influenciou bilhões de pessoas sem recorrer a qualquer deus pessoal.
Epicuro (341-270 a.C.), que pregava a busca
da felicidade serena e a compaixão.
Baruch Spinoza (1632-1677), panteísta expulso
da comunidade judaica, mas que defendeu a tolerância religiosa e a democracia.
David Hume (1711-1776), Bertrand Russell
(1872-1970), Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Carl Sagan (1934-1996), todos
críticos da religião organizada e, ao mesmo tempo, defensores ardentes da razão,
da liberdade e dos direitos humanos.
Por outro lado, a história também registra
episódios trágicos em que a fé religiosa foi usada para justificar violência em
nome de Deus ou dos deuses:
As Cruzadas (séculos XI-XIII): centenas de
milhares de mortos (cristãos, muçulmanos e judeus) em guerras santas convocadas
por papas.
A Inquisição (século XII até o XIX):
torturas, autos-de-fé e execuções em nome da pureza doutrinária católica (e
também protestante em menor escala).
As guerras religiosas europeias (século XVI-XVII):
a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) matou cerca de 8 milhões de pessoas, em
grande parte por disputas entre católicos e protestantes.
A caça às bruxas (séculos XV-XVIII): entre 40
e 60 mil executadas, quase todas por tribunais cristãos. O genocídio dos povos
indígenas nas Américas e na Oceania, muitas vezes justificado por missionários
e autoridades coloniais como “obra de evangelização”.
No mundo islâmico: conquistas iniciais,
guerras entre xiitas e sunitas, lapidações e execuções por apostasia até os
dias atuais em alguns países.
No século XX: o regime ateu de Stalin e Mao
cometeu atrocidades monstruosas, mas regimes teocráticos ou fortemente
religiosos (como o Talebã, o Estado Islâmico ou certas ditaduras cristãs na
América Latina) também deixaram rastros de sangue.
Portanto, a questão central permanece aberta
e incômoda: A crença em Deus (ou a ausência dela) torna, por si só, as pessoas
mais pacíficas, justas e tolerantes? A resposta mais honesta que a história nos
dá é: não necessariamente.
Tanto ateus quanto crentes cometeram horrores quando possuíram poder absoluto e
se convenceram-se de estar do lado da “verdade única”. Por outro lado, tanto
ateus quanto crentes produziram alguns dos maiores exemplos de compaixão,
coragem ética e defesa da dignidade humana.
O que parece determinar o comportamento não é
a presença ou ausência de crença em Deus, mas sim o grau de dogmatismo, o apego
ao poder e a recusa do pluralismo. A tolerância e a violência não são monopólio
de nenhum grupo: elas nascem da forma como cada pessoa ou sociedade lida com a
certeza de estar certa e com o medo do diferente.
Em resumo: a religião pode ser uma poderosa
força de consolação e ética, mas também pode ser (e foi) usada como arma. O
ateísmo pode ser um caminho de liberdade intelectual, mas também pode cair no
mesmo fanatismo secular.
O desafio humano não é escolher entre teísmo e ateísmo, mas entre abertura e intolerância - qualquer que seja a bandeira.









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