O famoso filme "A Paixão de
Cristo", dirigido por Mel Gibson e lançado em 2004, reconta os eventos das
últimas horas da vida de Jesus Cristo, com base nos relatos bíblicos dos
Evangelhos.
Uma das cenas mais impactantes e controversas
ocorre durante a flagelação de Jesus, quando ele é brutalmente espancado
enquanto amarrado a um tronco pelos soldados romanos.
Nesse momento, um personagem misterioso surge
na multidão, carregando um bebê nos braços. Essa figura, interpretada pela
atriz italiana Rosalinda Celentano, é o próprio Satanás, retratado com uma
aparência andrógina para enfatizar a natureza espiritual e sem gênero dos anjos
caídos, conforme tradições teológicas.
A cena é extremamente estranha e sombria:
Satanás não profere uma única palavra, mas seu aspecto sinistro - com pele
pálida, olhos penetrantes e uma expressão de malícia sutil - combinado à aparência
grotesca do bebê, que parece um homem adulto envelhecido e deformado, com
cabelos nas costas, desperta questionamentos profundos.
Filmada em câmera lenta, ela intensifica o
horror, contrastando com a violência gráfica sofrida por Jesus, interpretado por
Jim Caviezel. Esse trecho, que dura apenas alguns segundos, tem um significado
simbólico que muitos espectadores não captaram imediatamente na época do
lançamento, gerando debates e interpretações variadas.
De acordo com o próprio Mel Gibson, o diretor
do filme, a intenção era ilustrar como o mal distorce o que é bom e puro. Em
entrevistas, Gibson explicou que a imagem representa uma paródia invertida da
Virgem Maria carregando o Menino Jesus - um "anti-Madona e Criança".
Satanás, ao segurar um bebê feio e maduro,
zomba da encarnação divina de Cristo, sugerindo uma versão pervertida da
maternidade e da inocência. Ele descreveu: "É o mal distorcendo o que é
bom. O que há de mais terno e belo do que uma mãe e uma criança?
Então, o Diabo pega isso e distorce um pouco.
Em vez de uma mãe normal e uma criança, você tem uma figura andrógina segurando
um 'bebê' de 40 anos com cabelos nas costas.
É estranho, chocante, quase demais - assim
como virar Jesus para continuar açoitá-lo quando seu corpo já está
dilacerado."
Essa simbologia reforça a ideia de que
Satanás tenta quebrar a convicção de Jesus em seu sacrifício, insinuando que
até o Diabo "cuida" de seu "filho" (possivelmente uma
alusão ao Anticristo, conforme interpretações apocalípticas na Bíblia, como no
Livro do Apocalipse), enquanto Deus permite que seu Filho único seja humilhado
e torturado.
Para contextualizar os acontecimentos, a
flagelação de Jesus é descrita nos Evangelhos (como em Mateus 27:26 e João
19:1), onde Pôncio Pilatos ordena que Jesus seja açoitado antes da
crucificação, uma punição romana comum que envolvia chicotes com pontas de
metal ou ossos para rasgar a carne.
No filme, Gibson amplifica essa violência
para enfatizar o sofrimento físico e espiritual de Cristo, o que gerou controvérsias:
críticos acusaram o longa de ser excessivamente gráfico e até antissemita, por
retratar os líderes judeus como principais instigadores da crucificação.
Apesar disso, "A Paixão de Cristo"
foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 600 milhões mundialmente,
e inspirou reflexões teológicas em audiências religiosas.
Nos bastidores, a produção foi marcada por
desafios, incluindo lesões reais no set - Caviezel sofreu hipotermia,
deslocamento de ombro e foi atingido por um raio durante as filmagens.
É certamente uma cena com um significado
profundo, que muitos não perceberam à primeira vista, destacando temas como a
tentação, o mal disfarçado e a redenção através do sofrimento.
O filme como um todo é peculiar e vale a pena
ser assistido com atenção aos detalhes, desde as línguas originais (aramaico,
latim e hebraico) até os simbolismos visuais, como o corvo bicando o ladrão na
cruz ou a lágrima de Deus caindo do céu após a morte de Jesus.
Eu assisti a esse filme apenas uma vez e,
apesar de ter a película em meu computador, nunca mais o revi, talvez pelo impacto emocional intenso.
Não sei como o homem, criado - segundo a Bíblia - à imagem e semelhança de
Deus, pode também manifestar tanta violência prazerosa, como vista na multidão
que assiste à tortura.
A imagem de Satanás com o bebê é
particularmente apavorante, especialmente em câmera lenta, evocando um terror
psicológico que persiste. Na verdade, todos os filmes dirigidos por Mel Gibson,
como "Coração Valente" (1995), "Apocalypto" (2006) e
"Até o Último Homem" (2016), são marcados por elementos controversos
ou simbólicos que convidam a pesquisas mais profundas para entender suas
motivações.
Em "A Paixão de Cristo", Gibson,
que é católico devoto, incorporou influências de visões místicas, como as de
Ana Catarina Emmerich, uma freira do século XIX cujas descrições de visões da
Paixão inspiraram partes do roteiro.
Essa abordagem torna o filme não apenas uma narrativa histórica, mas uma meditação visual sobre fé, pecado e salvação, que continua a dividir opiniões duas décadas após seu lançamento.









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