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terça-feira, dezembro 09, 2025

A Paixão de Cristo


 

O famoso filme "A Paixão de Cristo", dirigido por Mel Gibson e lançado em 2004, reconta os eventos das últimas horas da vida de Jesus Cristo, com base nos relatos bíblicos dos Evangelhos.

Uma das cenas mais impactantes e controversas ocorre durante a flagelação de Jesus, quando ele é brutalmente espancado enquanto amarrado a um tronco pelos soldados romanos.

Nesse momento, um personagem misterioso surge na multidão, carregando um bebê nos braços. Essa figura, interpretada pela atriz italiana Rosalinda Celentano, é o próprio Satanás, retratado com uma aparência andrógina para enfatizar a natureza espiritual e sem gênero dos anjos caídos, conforme tradições teológicas.

A cena é extremamente estranha e sombria: Satanás não profere uma única palavra, mas seu aspecto sinistro - com pele pálida, olhos penetrantes e uma expressão de malícia sutil - combinado à aparência grotesca do bebê, que parece um homem adulto envelhecido e deformado, com cabelos nas costas, desperta questionamentos profundos.

Filmada em câmera lenta, ela intensifica o horror, contrastando com a violência gráfica sofrida por Jesus, interpretado por Jim Caviezel. Esse trecho, que dura apenas alguns segundos, tem um significado simbólico que muitos espectadores não captaram imediatamente na época do lançamento, gerando debates e interpretações variadas.

De acordo com o próprio Mel Gibson, o diretor do filme, a intenção era ilustrar como o mal distorce o que é bom e puro. Em entrevistas, Gibson explicou que a imagem representa uma paródia invertida da Virgem Maria carregando o Menino Jesus - um "anti-Madona e Criança".

Satanás, ao segurar um bebê feio e maduro, zomba da encarnação divina de Cristo, sugerindo uma versão pervertida da maternidade e da inocência. Ele descreveu: "É o mal distorcendo o que é bom. O que há de mais terno e belo do que uma mãe e uma criança?

Então, o Diabo pega isso e distorce um pouco. Em vez de uma mãe normal e uma criança, você tem uma figura andrógina segurando um 'bebê' de 40 anos com cabelos nas costas.

É estranho, chocante, quase demais - assim como virar Jesus para continuar açoitá-lo quando seu corpo já está dilacerado."

Essa simbologia reforça a ideia de que Satanás tenta quebrar a convicção de Jesus em seu sacrifício, insinuando que até o Diabo "cuida" de seu "filho" (possivelmente uma alusão ao Anticristo, conforme interpretações apocalípticas na Bíblia, como no Livro do Apocalipse), enquanto Deus permite que seu Filho único seja humilhado e torturado.

Para contextualizar os acontecimentos, a flagelação de Jesus é descrita nos Evangelhos (como em Mateus 27:26 e João 19:1), onde Pôncio Pilatos ordena que Jesus seja açoitado antes da crucificação, uma punição romana comum que envolvia chicotes com pontas de metal ou ossos para rasgar a carne.

No filme, Gibson amplifica essa violência para enfatizar o sofrimento físico e espiritual de Cristo, o que gerou controvérsias: críticos acusaram o longa de ser excessivamente gráfico e até antissemita, por retratar os líderes judeus como principais instigadores da crucificação.

Apesar disso, "A Paixão de Cristo" foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 600 milhões mundialmente, e inspirou reflexões teológicas em audiências religiosas.

Nos bastidores, a produção foi marcada por desafios, incluindo lesões reais no set - Caviezel sofreu hipotermia, deslocamento de ombro e foi atingido por um raio durante as filmagens.

É certamente uma cena com um significado profundo, que muitos não perceberam à primeira vista, destacando temas como a tentação, o mal disfarçado e a redenção através do sofrimento.

O filme como um todo é peculiar e vale a pena ser assistido com atenção aos detalhes, desde as línguas originais (aramaico, latim e hebraico) até os simbolismos visuais, como o corvo bicando o ladrão na cruz ou a lágrima de Deus caindo do céu após a morte de Jesus.

Eu assisti a esse filme apenas uma vez e, apesar de ter a película em meu computador, nunca mais o revi, talvez pelo impacto emocional intenso. Não sei como o homem, criado - segundo a Bíblia - à imagem e semelhança de Deus, pode também manifestar tanta violência prazerosa, como vista na multidão que assiste à tortura.

A imagem de Satanás com o bebê é particularmente apavorante, especialmente em câmera lenta, evocando um terror psicológico que persiste. Na verdade, todos os filmes dirigidos por Mel Gibson, como "Coração Valente" (1995), "Apocalypto" (2006) e "Até o Último Homem" (2016), são marcados por elementos controversos ou simbólicos que convidam a pesquisas mais profundas para entender suas motivações.

Em "A Paixão de Cristo", Gibson, que é católico devoto, incorporou influências de visões místicas, como as de Ana Catarina Emmerich, uma freira do século XIX cujas descrições de visões da Paixão inspiraram partes do roteiro.

Essa abordagem torna o filme não apenas uma narrativa histórica, mas uma meditação visual sobre fé, pecado e salvação, que continua a dividir opiniões duas décadas após seu lançamento.

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