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quinta-feira, dezembro 11, 2025

Viajante

 

Há quem passe como ventania que arranca telhados, vira tudo de cabeça para baixo e deixa ruídos de espanto por onde passou. E há quem passe como brisa mansa, que acaricia o rosto, desfaz dobras da alma e acalma o que o dia tentou endurecer.

Há quem chegue como a seca que racha a terra, que silencia os pássaros e torna o horizonte um pedido de socorro. E há quem chegue como chuva boa, daquela que não assusta, mas que desce devagar, infiltra-se no chão e faz brotar a esperança esquecida.

Há quem seja espinho que fere ao simples roçar, que exige cuidado até quando se aproxima. E há quem seja flor que perfuma mesmo depois de colhida, deixando lembranças suaves que persistem na ausência.

Há quem passe como inverno que congela rios, paralisa caminhos e faz a vida parecer suspensa num tempo frio. E há quem seja primavera pura, que devolve cor ao mundo, devolve som aos ninhos e renova o que se pensava perdido.

Há quem seja nuvem escura que encobre o sol, trazendo sombra até onde antes havia claridade. E há quem seja raio de luz que atravessa tempestades, rompendo o céu fechado e lembrando que a claridade sempre encontra um modo de voltar.

Há quem seja pedra solta que rola e machuca tudo o que encontra, sem direção, sem raiz. E há quem seja raiz forte, profunda, que sustenta o chão quando tudo ao redor parece desabar, evitando que o mundo ceda ao peso das incertezas.

Há quem passe como folha seca levada pelo vento, sem rumo, sem permanência, desaparecendo no próximo sopro. E há quem fique como carvalho antigo, testemunha de séculos, resistente às tempestades e generoso na sombra que oferece.

Há também aqueles que apenas atravessam a vida como rio que corre sem olhar as margens, apressado, indiferente às paisagens que abandona pelo caminho.

E há, por fim, aqueles que não deixam a vida passar sem tocar o mundo: transformam desertos em jardins, acendem fogueirinhas em noites de frio, oferecem abrigo quando o vento é forte e plantam amor onde antes só havia pedra. São esses que, mesmo após a partida, continuam a nascer dentro de nós.

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