Há quem passe como ventania que arranca
telhados, vira tudo de cabeça para baixo e deixa ruídos de espanto por onde
passou. E há quem passe como brisa mansa, que acaricia o rosto, desfaz dobras
da alma e acalma o que o dia tentou endurecer.
Há quem chegue
como a seca que racha a terra, que silencia os pássaros e torna o horizonte um
pedido de socorro. E há quem chegue como chuva boa, daquela que não assusta,
mas que desce devagar, infiltra-se no chão e faz brotar a esperança esquecida.
Há quem seja
espinho que fere ao simples roçar, que exige cuidado até quando se aproxima. E
há quem seja flor que perfuma mesmo depois de colhida, deixando lembranças
suaves que persistem na ausência.
Há quem passe
como inverno que congela rios, paralisa caminhos e faz a vida parecer suspensa
num tempo frio. E há quem seja primavera pura, que devolve cor ao mundo,
devolve som aos ninhos e renova o que se pensava perdido.
Há quem seja nuvem
escura que encobre o sol, trazendo sombra até onde antes havia claridade. E há
quem seja raio de luz que atravessa tempestades, rompendo o céu fechado e
lembrando que a claridade sempre encontra um modo de voltar.
Há quem seja
pedra solta que rola e machuca tudo o que encontra, sem direção, sem raiz. E há
quem seja raiz forte, profunda, que sustenta o chão quando tudo ao redor parece
desabar, evitando que o mundo ceda ao peso das incertezas.
Há quem passe
como folha seca levada pelo vento, sem rumo, sem permanência, desaparecendo no
próximo sopro. E há quem fique como carvalho antigo, testemunha de séculos,
resistente às tempestades e generoso na sombra que oferece.
Há também
aqueles que apenas atravessam a vida como rio que corre sem olhar as margens, apressado,
indiferente às paisagens que abandona pelo caminho.
E há, por fim,
aqueles que não deixam a vida passar sem tocar o mundo: transformam desertos em
jardins, acendem fogueirinhas em noites de frio, oferecem abrigo quando o vento
é forte e plantam amor onde antes só havia pedra. São esses que, mesmo após a
partida, continuam a nascer dentro de nós.









0 Comentários:
Postar um comentário