A idolatria política surge quando o fascínio por um
líder ou ideologia suplanta a razão, transformando figuras humanas em símbolos
quase divinos e esses símbolos em perigosas ilusões coletivas.
Esse fenômeno não é apenas uma questão de admiração
exagerada; trata-se de uma entrega cega, de uma rendição interior que distorce
a realidade, enfraquece o senso crítico e pavimenta o caminho para abusos de
poder.
Quando a devoção a uma personalidade política ou a uma
narrativa se sobrepõe à análise objetiva, cria-se um terreno fértil para a
manipulação, onde a verdade é sacrificada em nome da lealdade.
Nesse ambiente, a mentira adquire ares de dogma, e a
crítica é tratada como heresia. A cegueira coletiva, movida por paixões e
ressentimentos, mantém tiranos no poder, permite que corruptos prosperem às
custas dos impostos pagos pelos próprios cidadãos fascinados e perpetua ciclos
de desigualdade e injustiça.
Historicamente, a idolatria política esteve presente
em regimes totalitários, como o culto à personalidade em torno de Stalin ou
Mao, onde a propaganda transformava líderes em mitos intocáveis, enquanto a
repressão e a miséria cresciam à sombra do fervor popular.
Em tais contextos, multidões eram levadas a celebrar o
algoz como salvador, e milhões de vidas foram sacrificadas em nome de uma fé
política travestida de ideal coletivo.
Nos tempos atuais, esse padrão se repete de forma mais
sutil, mas não menos perigosa, em democracias fragilizadas. Líderes
carismáticos, com discursos polarizantes, exploram medos e esperanças,
prometendo soluções simples para problemas complexos, enquanto desviam recursos
públicos, manipulam informações e corroem instituições.
Usam símbolos nacionais como se fossem propriedade
pessoal, transformam redes sociais em templos de devoção e cultivam um ambiente
em que o adversário político não é apenas oponente, mas inimigo a ser
silenciado.
Os efeitos dessa idolatria ultrapassam a esfera
política. Ela fragmenta a sociedade, alimentando divisões entre "nós"
e "eles", convertendo vizinhos em rivais e amigos em inimigos
irreconciliáveis.
O debate público deixa de ser um espaço de ideias e
passa a ser uma guerra de narrativas, onde fatos são descartados em favor de
versões convenientes. Esse clima de hostilidade mina o tecido social, gerando
intolerância, perseguição e até violência em nome da “causa”.
O perigo maior é que, sob o véu da idolatria, o povo
abdica de sua própria liberdade. Ao entregar ao líder o direito de pensar e
decidir por todos, abre-se mão da autonomia e do exercício da cidadania
consciente.
A democracia, que deveria ser construída no diálogo e
na pluralidade, torna-se refém de um messianismo político que concentra
esperanças em uma só figura, enquanto as estruturas de poder se fecham em
círculos cada vez mais restritos e autoritários.
Para combater esse ciclo vicioso, é essencial resgatar
a razão e fortalecer o espírito crítico. É preciso questionar líderes e
narrativas, exigir transparência, cobrar responsabilidade e lembrar que nenhum
governante é maior que as instituições que o sustentam.
Somente assim será possível romper o ciclo de ilusões que alimenta a corrupção e a opressão, reconstruindo os pilares de uma sociedade mais justa, plural e consciente.









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