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sexta-feira, outubro 10, 2025

Incógnita


Todo jovem guarda na memória a primeira mulher que cruza seu caminho, uma presença que rompe a monotonia da juventude e a transforma num despertar ao mesmo tempo aterrador e repleto de suavidade.

É como se, de repente, o coração, até então adormecido, descobrisse uma melodia secreta, uma canção que ecoa nos recantos mais profundos da alma.

Na vida de todo jovem, haverá um amor que florescerá inesperadamente, como uma semente lançada ao vento no amanhecer de seus dias. Esse amor trará ao seu retraimento uma tonalidade poética, preenchendo o vazio de sua solidão com harmonias sutis.

Ele o dotará de asas, permitindo que voe acima das nuvens, contemplando um mundo mágico que só os olhos apaixonados conseguem enxergar. Juntos, o jovem e seu amor percorrerão paisagens invisíveis aos outros, entrelaçados numa dança que transcende o tempo e o espaço.

Todo homem nasce livre, mas logo se vê preso às correntes das leis brutais herdadas de seus antepassados. A sina, que imaginamos ser um desígnio superior, não passa de uma incoerência que submete o presente às regras de ontem e projeta ao futuro as amarras de hoje.

No entanto, o amor é a única força que nos liberta. Ele nos eleva a altitudes onde as brutalidades das convenções, os costumes arcaicos e as religiosidades cegas, ainda seguidas por mentes deformadas pela ignorância, perdem seu poder.

O amor é a rebelião silenciosa contra as algemas do mundo. Alguns homens conquistam fama, poder ou riqueza, mas é a mulher quem carrega o fardo mais pesado.

Ela, muitas vezes, é a guardiã silenciosa das emoções, aquela que suporta o peso das escolhas e dos sacrifícios. Quando o amor é limitado, ele se torna uma busca ansiosa por respostas no outro.

Mas o amor verdadeiro, aquele que é ilimitado, não busca nada além de sua própria realização. Ele é pleno em si mesmo, um fim e um começo. A mulher, ao contrário do homem, raramente altera seus sentimentos com o passar do tempo.

Seu coração não se curva às pressões do efêmero. Ele pulsa pacientemente, resistente, como uma chama que estertora, mas nunca se apaga. O amor, em sua essência, é como uma semente que brota e cresce sem depender dos temporais.

Ele não precisa de tormentas para se fortalecer; sua força reside na constância, na delicadeza de sua própria existência. Quando uma mulher nos olha, seu olhar carrega o poder de nos erguer ao ápice da felicidade ou de nos lançar ao abismo da infelicidade.

Seus olhos são espelhos de um mistério ancestral, capazes de revelar verdades que nem mesmo nós conhecemos. O olhar dela em mim não foi diferente. Foi um instante que parou o tempo, um momento em que o universo pareceu conspirar para que nossos caminhos se cruzassem.

Mas o que veio depois permanece envolto em névoa. Aquele encontro, tão breve quanto eterno, mudou algo em mim. Foi numa tarde de outono, quando as folhas douradas caíam como confetes silenciosos, que nossos olhares se encontraram pela primeira vez.

Ela estava sentada num banco da praça, com um livro aberto que parecia mais um pretexto para observar o mundo. Havia uma serenidade em seu rosto, mas também uma inquietação, como se ela carregasse um segredo que nem mesmo ela compreendia.

Eu, um jovem perdido em meus próprios pensamentos, fui atraído por aquela presença como uma mariposa à luz. Tropecei em palavras que nunca disse, e ela sorriu - um sorriso que guardava promessas e perguntas.

Dias se passaram, e o que era um encontro casual tornou-se uma sequência de momentos roubados: conversas furtivas sob o céu estrelado, silêncios que diziam mais do que palavras, e a sensação de que algo maior nos unia.

Mas, como toda história de amor, havia um véu de incerteza. O mundo, com suas leis e suas brutalidades, parecia conspirar para nos separar. Ela falava de sonhos que a levariam para longe, de um destino que não podia evitar.

Eu, preso às minhas próprias dúvidas, não sabia como segurá-la. E agora, aqui estou, carregando a memória daquele olhar, daquela promessa não dita. Não sei se o efeito será a felicidade que eleva ou a dor que consome.

O amor, essa força indizível, permanece uma incógnita. Talvez seja essa a sua beleza: ele não se explica, apenas se vive. E, enquanto o futuro não desvenda seus segredos, eu sigo, com asas frágeis, voando em direção ao desconhecido, guiado pela lembrança daquele olhar que mudou tudo.

Francisco Silva Sousa - Foto: Pixabay.

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