Todo
jovem guarda na memória a primeira mulher que cruza seu caminho, uma presença
que rompe a monotonia da juventude e a transforma num despertar ao mesmo tempo
aterrador e repleto de suavidade.
É como
se, de repente, o coração, até então adormecido, descobrisse uma melodia
secreta, uma canção que ecoa nos recantos mais profundos da alma.
Na vida
de todo jovem, haverá um amor que florescerá inesperadamente, como uma semente
lançada ao vento no amanhecer de seus dias. Esse amor trará ao seu retraimento
uma tonalidade poética, preenchendo o vazio de sua solidão com harmonias sutis.
Ele o
dotará de asas, permitindo que voe acima das nuvens, contemplando um mundo
mágico que só os olhos apaixonados conseguem enxergar. Juntos, o jovem e seu
amor percorrerão paisagens invisíveis aos outros, entrelaçados numa dança que
transcende o tempo e o espaço.
Todo
homem nasce livre, mas logo se vê preso às correntes das leis brutais herdadas
de seus antepassados. A sina, que imaginamos ser um desígnio superior, não
passa de uma incoerência que submete o presente às regras de ontem e projeta ao
futuro as amarras de hoje.
No
entanto, o amor é a única força que nos liberta. Ele nos eleva a altitudes onde
as brutalidades das convenções, os costumes arcaicos e as religiosidades cegas,
ainda seguidas por mentes deformadas pela ignorância, perdem seu poder.
O amor
é a rebelião silenciosa contra as algemas do mundo. Alguns homens conquistam
fama, poder ou riqueza, mas é a mulher quem carrega o fardo mais pesado.
Ela,
muitas vezes, é a guardiã silenciosa das emoções, aquela que suporta o peso das
escolhas e dos sacrifícios. Quando o amor é limitado, ele se torna uma busca
ansiosa por respostas no outro.
Mas o
amor verdadeiro, aquele que é ilimitado, não busca nada além de sua própria
realização. Ele é pleno em si mesmo, um fim e um começo. A mulher, ao contrário
do homem, raramente altera seus sentimentos com o passar do tempo.
Seu
coração não se curva às pressões do efêmero. Ele pulsa pacientemente,
resistente, como uma chama que estertora, mas nunca se apaga. O amor, em sua
essência, é como uma semente que brota e cresce sem depender dos temporais.
Ele não
precisa de tormentas para se fortalecer; sua força reside na constância, na
delicadeza de sua própria existência. Quando uma mulher nos olha, seu olhar
carrega o poder de nos erguer ao ápice da felicidade ou de nos lançar ao abismo
da infelicidade.
Seus
olhos são espelhos de um mistério ancestral, capazes de revelar verdades que
nem mesmo nós conhecemos. O olhar dela em mim não foi diferente. Foi um
instante que parou o tempo, um momento em que o universo pareceu conspirar para
que nossos caminhos se cruzassem.
Mas o
que veio depois permanece envolto em névoa. Aquele encontro, tão breve quanto
eterno, mudou algo em mim. Foi numa tarde de outono, quando as folhas douradas
caíam como confetes silenciosos, que nossos olhares se encontraram pela
primeira vez.
Ela
estava sentada num banco da praça, com um livro aberto que parecia mais um
pretexto para observar o mundo. Havia uma serenidade em seu rosto, mas também
uma inquietação, como se ela carregasse um segredo que nem mesmo ela
compreendia.
Eu, um
jovem perdido em meus próprios pensamentos, fui atraído por aquela presença
como uma mariposa à luz. Tropecei em palavras que nunca disse, e ela sorriu -
um sorriso que guardava promessas e perguntas.
Dias se
passaram, e o que era um encontro casual tornou-se uma sequência de momentos
roubados: conversas furtivas sob o céu estrelado, silêncios que diziam mais do
que palavras, e a sensação de que algo maior nos unia.
Mas,
como toda história de amor, havia um véu de incerteza. O mundo, com suas leis e
suas brutalidades, parecia conspirar para nos separar. Ela falava de sonhos que
a levariam para longe, de um destino que não podia evitar.
Eu,
preso às minhas próprias dúvidas, não sabia como segurá-la. E agora, aqui
estou, carregando a memória daquele olhar, daquela promessa não dita. Não sei
se o efeito será a felicidade que eleva ou a dor que consome.
O amor,
essa força indizível, permanece uma incógnita. Talvez seja essa a sua beleza:
ele não se explica, apenas se vive. E, enquanto o futuro não desvenda seus
segredos, eu sigo, com asas frágeis, voando em direção ao desconhecido, guiado
pela lembrança daquele olhar que mudou tudo.
Francisco
Silva Sousa - Foto: Pixabay.









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