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sábado, outubro 11, 2025

Entre a Vingança e a Paz


 

Eu já me peguei planejando uma vingança. Era um fogo que ardia no peito, uma sede de equilibrar as contas com alguém que me feriu profundamente. Imaginava cada passo, cada palavra afiada que devolveria a dor multiplicada.

A ideia de justiça com as próprias mãos parecia, por um instante, reconfortante, como se pudesse apagar a mágoa que carregava. Mas então, uma voz serena, de alguém muito mais sábio que eu, interrompeu esse turbilhão:

“Não tire nada de quem não tem nada”. Aquelas palavras, simples e cortantes, ecoaram como um trovão em minha alma, desmontando a estrutura frágil da vingança que eu começava a erguer.

Essa frase não era apenas um conselho; era um convite à reflexão. Quem me machucou já carregava sua própria desgraça, um vazio que nenhuma retaliação minha poderia preencher.

A pessoa que me fez mal, com suas ações mesquinhas e intenções cruéis, não agiu por força, mas por fraqueza. Foi movida por inveja, por medo, ou talvez por uma dor que eu jamais compreenderia.

E, ao tentar me vingar, eu estaria apenas me igualando a esse vazio, descendo ao mesmo abismo que ela própria cavou. Percebi, então, que o verdadeiro castigo de alguns não vem de fora, mas de dentro: é a vida que eles escolheram, a solidão que cultivaram, os arrependimentos que os perseguirão como sombras.

O peso das escolhas erradas é, para muitos, uma punição mais severa do que qualquer golpe que eu pudesse desferir. O que me levou a esse ponto foi uma traição.

Alguém em quem confiei, alguém que esteve ao meu lado em momentos de vulnerabilidade, usou essa proximidade para ferir. Não foi apenas uma ofensa qualquer, mas um golpe calculado, que abalou minha confiança e me fez questionar até que ponto eu poderia seguir carregando essa mágoa.

Por dias, talvez semanas, alimentei a fantasia de uma revanche perfeita, algo que restaurasse minha dignidade e mostrasse a essa pessoa o tamanho do erro que cometeu. Mas, enquanto planejava, percebia que cada pensamento vingativo me afastava de quem eu realmente sou.

Eu não queria ser alguém que se define pela raiva. Ainda assim, confesso que o dilema persiste. Há uma parte de mim que clama por justiça, que deseja ver o equilíbrio restaurado, mesmo que à força.

E há outra, mais serena, que sussurra sobre compaixão, sobre deixar ir. Escolher a misericórdia não é fraqueza, como já pensei. É, na verdade, uma força que exige coragem: coragem para não ceder ao ódio, para não permitir que a dor alheia contamine a minha alma.

Perdoar não significa apagar o que foi feito, nem fingir que a ferida não existe. Perdoar é decidir que o veneno do outro não vai envenenar minha vida. É quebrar o ciclo da dor, recusando-me a perpetuá-lo.

Hoje, ao olhar para trás, vejo que o que aconteceu não foi apenas uma traição, mas uma lição. Aquela pessoa, com suas ações, me mostrou o que eu não quero ser.

E, ao escolher não me vingar, eu preservei algo muito mais valioso: minha humanidade. Fecho a porta para a vingança não por piedade cega, mas por um desejo consciente de proteger a paz que venho construindo.

A verdadeira cura não está na destruição do outro, mas na reconstrução de mim mesmo. Minhas feridas ainda estão aqui, algumas ainda doem, mas sei que, com o tempo, elas se transformarão em cicatrizes - marcas de uma batalha que escolhi vencer com dignidade.

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