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domingo, agosto 11, 2024

Abebe Bikila - Corredor de maratona etíope


Abebe Bikila: O Pioneiro Etíope da Maratona

Abebe Bikila foi um corredor de maratona etíope cuja trajetória marcou a história do atletismo mundial. Ele se tornou o primeiro atleta africano da região subsaariana a conquistar uma medalha de ouro olímpica, alcançando feitos extraordinários que inspiraram gerações.

Bikila venceu a maratona nos Jogos Olímpicos de Verão de 1960, em Roma, correndo descalço, e repetiu o feito nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, consolidando-se como o primeiro atleta a defender com sucesso um título olímpico de maratona.

Nascido em 7 de agosto de 1932, na pequena vila de Jato, na Etiópia, Abebe veio de origens humildes. Filho de um pastor de ovelhas, ele ingressou na Guarda Imperial Etíope, uma divisão de elite responsável pela proteção do Imperador Haile Selassie.

Antes de se destacar no atletismo, Bikila serviu como soldado e alcançou o posto de shambel (capitão), sendo oficialmente conhecido na Etiópia como Shambel Abebe Bikila. Sua disciplina militar e dedicação foram fundamentais para moldar sua carreira esportiva.

O Triunfo em Roma (1960)

A vitória de Abebe nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, foi um marco histórico. Correndo descalço pelas ruas da capital italiana, ele completou a maratona em 2 horas, 15 minutos e 16,2 segundos, estabelecendo um novo recorde mundial.

A escolha de correr sem sapatos não foi apenas uma questão de preferência; Bikila não encontrou tênis adequados para a prova, decidindo competir como fazia em seus treinos na Etiópia.

Sua vitória, sob os arcos iluminados do Coliseu, simbolizou não apenas um triunfo pessoal, mas também a ascensão da África no cenário esportivo global. Ele cruzou a linha de chegada à frente do marroquino Rhadi Ben Abdesselam, que ficou com a prata, e dedicou a vitória ao seu país.

A Consagração em Tóquio (1964)

Quatro anos depois, em Tóquio, Bikila enfrentou desafios ainda maiores. Apenas seis semanas antes da competição, ele passou por uma cirurgia de apendicite de emergência, o que limitou severamente seu treinamento.

Mesmo assim, demonstrou uma resiliência impressionante. Desta vez, usando tênis, ele completou a maratona em 2 horas, 12 minutos e 11,2 segundos, quebrando novamente o recorde mundial e tornando-se o primeiro atleta a conquistar o ouro olímpico em maratonas consecutivas.

Após cruzar a linha de chegada, Bikila surpreendeu o público ao realizar uma série de exercícios de alongamento, demonstrando que ainda tinha energia de sobra. Sua performance em Tóquio consolidou sua reputação como um dos maiores corredores de longa distância da história.

Legado no Atletismo

Abebe Bikila é reconhecido como um pioneiro que abriu caminho para a dominância da África Oriental no atletismo de longa distância. Atletas como Mamo Wolde, Juma Ikangaa, Tegla Loroupe, Paul Tergat e Haile Gebrselassie, todos premiados com o Prêmio Abebe Bikila do Road Runners Club de Nova York, seguiram seus passos, transformando a região em uma potência global nas corridas de longa distância.

Ao longo de sua carreira, Bikila competiu em 16 maratonas, vencendo 12 delas. Um de seus raros resultados fora do pódio foi o quinto lugar na Maratona de Boston de 1963, uma prova marcada por condições adversas e forte concorrência.

Desafios e Resiliência

A partir de julho de 1967, Bikila começou a sofrer com lesões nas pernas que impactaram sua carreira. Essas lesões o impediram de completar suas duas últimas maratonas, marcando o início de um período difícil.

Em 22 de março de 1969, sua vida mudou drasticamente quando sofreu um acidente de carro em Addis Ababa. O incidente deixou-o tetraplégico, confinando-o a uma cadeira de rodas.

Apesar da tragédia, Bikila demonstrou uma força de espírito inabalável. Ele recuperou parcialmente a mobilidade da parte superior do corpo e, determinado a continuar competindo, voltou-se para novos esportes.

Em 1970, enquanto recebia tratamento médico na Inglaterra, Bikila participou dos Jogos de Stoke Mandeville, em Londres, uma competição precursora dos Jogos Paralímpicos.

Competindo em arco e flecha e tênis de mesa, ele mostrou sua versatilidade e determinação. No ano seguinte, em 1971, na Noruega, venceu uma prova de trenó cross-country para atletas com deficiência, reforçando sua imagem como um símbolo de superação.

Morte e Legado Duradouro

Abebe Bikila faleceu em 25 de outubro de 1973, aos 41 anos, vítima de uma hemorragia cerebral decorrente das sequelas do acidente de carro. Sua morte foi um choque para a Etiópia, e o Imperador Haile Selassie declarou um dia de luto nacional.

Bikila recebeu um funeral de estado, com milhares de pessoas acompanhando o cortejo em Addis Ababa, em reconhecimento à sua contribuição para o orgulho nacional.

O legado de Bikila transcende o esporte. Na Etiópia, ele é lembrado como um herói nacional, com o Estádio Abebe Bikila, em Addis Ababa, e várias escolas, ruas e eventos nomeados em sua homenagem.

Sua história foi retratada em biografias, documentários e filmes, como o premiado The Athlete (2009), que narra sua vida e conquistas. Publicações sobre maratonas e Olimpíadas frequentemente destacam Bikila como uma figura icônica, não apenas pelo seu talento, mas pela sua humildade e espírito resiliente.

Impacto Cultural e Inspiração

A vitória descalça de Bikila em Roma e sua subsequente conquista em Tóquio inspiraram não apenas atletas, mas também comunidades em todo o mundo, especialmente na África.

Ele desafiou estereótipos e provou que a determinação e o talento podem superar barreiras culturais e econômicas. Sua história continua a motivar corredores e a simbolizar a força do espírito humano diante das adversidades.

Abebe Bikila não foi apenas um atleta excepcional; ele foi um embaixador da Etiópia e um pioneiro que abriu portas para futuras gerações de corredores africanos.

Sua vida, marcada por triunfos, desafios e uma resiliência inigualável, permanece como um farol de inspiração para o mundo do esporte e além.

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