Josef Mengele: O Anjo da Morte de Auschwitz
Josef
Mengele, conhecido como o "Anjo da Morte", foi um médico e oficial da
Schutzstaffel (SS) que ganhou notoriedade por seus experimentos humanos cruéis
e desumanos no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra
Mundial.
Nascido
em 16 de março de 1911, em Günzburg, na Baviera, Alemanha, Mengele tornou-se um
dos símbolos mais sombrios do regime nazista, responsável por atos de extrema
crueldade contra prisioneiros, especialmente crianças e gêmeos.
Sua
trajetória, marcada por uma ascensão acadêmica, adesão ao nazismo, crimes de
guerra e uma fuga bem-sucedida para a América do Sul, reflete tanto sua ambição
científica distorcida quanto a impunidade que marcou sua vida após a guerra.
Juventude e Formação Acadêmica
Josef
Mengele era o primogênito de Karl e Walburga Mengele, tendo dois irmãos mais
novos, Karl Jr. e Alois. Seu pai era um próspero industrial, fundador da Karl
Mengele & Sons, uma empresa de máquinas agrícolas, o que proporcionou à
família uma vida confortável.
Desde
jovem, Mengele demonstrou interesse por música, arte e esqui, além de um
desempenho acadêmico sólido. Após concluir o ensino médio em abril de 1930, ele
ingressou na Universidade de Munique, onde estudou medicina e filosofia, e
posteriormente na Universidade de Frankfurt.
Munique,
na época, era o epicentro do Partido Nazista, e o ambiente político influenciou
profundamente Mengele. Em 1931, ele se juntou ao Stahlhelm, Bund der
Frontsoldaten, uma organização paramilitar nacionalista que, em 1934, foi
absorvida pela Sturmabteilung (SA) nazista.
Sua
carreira acadêmica avançou rapidamente: em 1935, obteve um doutorado em
antropologia pela Universidade de Munique, com uma tese sobre fatores genéticos
relacionados a fissuras labiopalatais.
Em
1937, começou a trabalhar como assistente do Dr. Otmar Freiherr von Verschuer
no Instituto de Biologia Hereditária e Higiene Racial em Frankfurt, onde
aprofundou seu interesse em genética, especialmente em gêmeos.
Em
1938, conquistou um doutorado em medicina, também com distinção, mas ambos os
títulos foram posteriormente revogados pelas universidades devido às suas ações
criminosas.
Von
Verschuer, um renomado geneticista com interesses em eugenia, teve uma
influência significativa sobre Mengele, incentivando-o a explorar questões
genéticas que, mais tarde, seriam a base de seus experimentos macabros em
Auschwitz. Em 1939, Mengele casou-se com Irene Schönbein, com quem teve seu
único filho, Rolf, nascido em 1944.
Adesão ao Nazismo e Serviço Militar
Mengele
ingressou no Partido Nazista em 1937 e na Schutzstaffel (SS) em 1938, abraçando
completamente a ideologia nazista, que combinava antissemitismo, higiene
racial, eugenia e expansionismo territorial.
O
regime nazista buscava conquistar "espaço vital" (Lebensraum) para o
povo alemão, o que incluía a deportação e o extermínio de judeus, eslavos e
outros grupos considerados "inferiores".
Em
1938, Mengele passou por treinamento militar básico com a infantaria de
montanha e, em junho de 1940, foi convocado para servir na Waffen-SS, o braço
militar da SS.
Durante
a guerra, Mengele serviu inicialmente como oficial médico em um batalhão de
reserva até novembro de 1940. Posteriormente, foi transferido para o Posto
Principal de Raça e Reassentamento da SS em Posen, onde avaliava candidatos à
"germanização" - um processo de assimilação forçada de indivíduos
considerados etnicamente adequados pelo regime.
Em
1941, foi enviado à Ucrânia, onde recebeu a Cruz de Ferro de Segunda Classe por
bravura. Em 1942, já na 5ª Divisão Panzergrenadier SS Wiking, resgatou dois
soldados de um tanque em chamas, ação que lhe rendeu a Cruz de Ferro de
Primeira Classe, o Distintivo de Ferro e a Medalha pelo Cuidado ao Povo Alemão.
Ferido
gravemente em Rostov-on-Don em 1942, foi considerado inapto para o combate e
transferido para Berlim, onde retomou sua associação com von Verschuer no
Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Genética Humana e Eugenia. Em abril
de 1943, foi promovido a capitão da SS.
Auschwitz: Experimentos e Seleções
Em maio
de 1943, incentivado por von Verschuer, Mengele foi transferido para o campo de
concentração de Auschwitz, onde viu uma oportunidade única para realizar
pesquisas genéticas em seres humanos sem restrições éticas.
Nomeado
médico-chefe do Zigeunerfamilienlager (acampamento de ciganos) em Birkenau, sob
a supervisão do médico-chefe da SS, Eduard Wirths, Mengele tornou-se uma figura
central no sistema de extermínio e experimentação do campo.
Auschwitz-Birkenau,
inicialmente projetado para abrigar trabalhadores escravizados, foi convertido
em um campo de extermínio a partir de 1941, conforme a "Solução
Final" de Hitler para o extermínio dos judeus europeus.
Prisioneiros
chegavam em trens de toda a Europa ocupada, e as "seleções" eram
realizadas na plataforma de desembarque, conhecida como "rampa".
Mengele participava ativamente dessas seleções, decidindo quem seria enviado
para o trabalho forçado e quem seria imediatamente morto nas câmaras de gás.
Cerca
de 75% dos recém-chegados, incluindo crianças, idosos, mulheres grávidas e
qualquer pessoa considerada incapaz de trabalhar, eram enviados para a morte
com o pesticida Zyklon B nos crematórios IV e V.
Diferentemente
de outros médicos, que viam as seleções como uma tarefa angustiante, Mengele as
realizava com entusiasmo, frequentemente assobiando ou sorrindo, o que lhe
valeu o apelido de "Anjo da Morte".
Seus
experimentos em Auschwitz eram particularmente cruéis e focados em gêmeos, que
ele via como material ideal para estudar fatores genéticos e hereditários.
Mengele
submetia suas vítimas a procedimentos desumanos, como injeções de substâncias
químicas nos olhos para tentar mudar sua cor, amputações desnecessárias,
infecções deliberadas com doenças e cirurgias sem anestesia.
Muitas
vezes, quando um gêmeo morria, o outro era morto para permitir comparações
post-mortem. Ele também conduzia experimentos em outros grupos, como ciganos e
pessoas com deformidades físicas, sem qualquer consideração pela dor ou
sobrevivência das vítimas.
Durante
um surto de noma (uma infecção gangrenosa) no acampamento de ciganos em 1943,
Mengele isolou pacientes e enviou órgãos de crianças mortas para estudos em
instituições médicas da SS. Quando o acampamento cigano foi liquidado em 1944,
todos os prisioneiros restantes foram mortos.
Mengele
também supervisionava medidas de "controle" de epidemias, como tifo e
escarlatina, enviando blocos inteiros de prisioneiros para as câmaras de gás
para evitar a propagação de doenças.
Essas
ações, combinadas com seus experimentos, resultaram na morte de milhares de
pessoas. Por seus serviços em Auschwitz, ele recebeu a Cruz de Mérito de Guerra
(Segunda Classe com Espadas) e foi promovido a Primeiro Médico de Birkenau em
1944.
Fuga para a América do Sul
Com a
aproximação do Exército Vermelho soviético, Mengele abandonou Auschwitz em 17
de janeiro de 1945. Ele fugiu para o oeste, inicialmente escondendo-se na
Alemanha sob uma identidade falsa.
Com a
ajuda de uma rede de ex-membros da SS e simpatizantes nazistas, conhecida como
"ODESSA", Mengele conseguiu escapar para a América do Sul. Em julho
de 1949, chegou à Argentina, onde viveu nos arredores de Buenos Aires sob o
pseudônimo de Helmut Gregor.
A
Argentina, sob o governo de Juan Perón, era um refúgio comum para nazistas em
fuga, devido à sua política de neutralidade durante a guerra e à falta de
cooperação com pedidos de extradição.
Em
1959, com a intensificação da busca por criminosos de guerra nazistas, Mengele
mudou-se para o Paraguai, onde obteve cidadania sob outro nome falso. Em 1960,
estabeleceu-se no Brasil, vivendo inicialmente em São Paulo e depois em áreas
rurais, como Nova Europa e Serra Negra.
Durante
esse período, foi caçado pela Alemanha Ocidental, pelo serviço de inteligência
israelense Mossad e por caçadores de nazistas como Simon Wiesenthal.
Apesar
de várias operações clandestinas, incluindo tentativas de captura pelo Mossad,
Mengele conseguiu evitar a prisão, muitas vezes mudando de localização e
contando com a proteção de simpatizantes nazistas e de comunidades alemãs no
Brasil.
Morte e Legado
Josef
Mengele morreu em 7 de fevereiro de 1979, afogado após sofrer um derrame
enquanto nadava em uma praia em Bertioga, no litoral de São Paulo. Ele vivia
então sob o nome falso de Wolfgang Gerhard.
Seus
restos mortais foram enterrados em Embu das Artes, São Paulo, e só foram
exumados e identificados em 1985, por meio de exames forenses conduzidos por
equipes internacionais.
A
identificação foi confirmada em 1992 com testes de DNA, encerrando décadas de
especulações sobre seu paradeiro. O legado de Mengele é um lembrete sombrio dos
horrores do Holocausto e da pseudociência nazista.
Seus
experimentos, desprovidos de qualquer base ética, não produziram resultados
científicos significativos, mas causaram sofrimento indizível a milhares de
vítimas.
Sua
impunidade, facilitada por redes de apoio e pela negligência de governos,
permanece uma questão controversa, levantando debates sobre justiça e
responsabilidade histórica.
Até hoje, Mengele é lembrado como um dos criminosos mais infames do século XX, simbolizando a crueldade e a desumanidade do regime nazista.
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