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domingo, agosto 11, 2024

Josef Mengele



Josef Mengele: O Anjo da Morte de Auschwitz

Josef Mengele, conhecido como o "Anjo da Morte", foi um médico e oficial da Schutzstaffel (SS) que ganhou notoriedade por seus experimentos humanos cruéis e desumanos no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial.

Nascido em 16 de março de 1911, em Günzburg, na Baviera, Alemanha, Mengele tornou-se um dos símbolos mais sombrios do regime nazista, responsável por atos de extrema crueldade contra prisioneiros, especialmente crianças e gêmeos.

Sua trajetória, marcada por uma ascensão acadêmica, adesão ao nazismo, crimes de guerra e uma fuga bem-sucedida para a América do Sul, reflete tanto sua ambição científica distorcida quanto a impunidade que marcou sua vida após a guerra.

Juventude e Formação Acadêmica

Josef Mengele era o primogênito de Karl e Walburga Mengele, tendo dois irmãos mais novos, Karl Jr. e Alois. Seu pai era um próspero industrial, fundador da Karl Mengele & Sons, uma empresa de máquinas agrícolas, o que proporcionou à família uma vida confortável.

Desde jovem, Mengele demonstrou interesse por música, arte e esqui, além de um desempenho acadêmico sólido. Após concluir o ensino médio em abril de 1930, ele ingressou na Universidade de Munique, onde estudou medicina e filosofia, e posteriormente na Universidade de Frankfurt.

Munique, na época, era o epicentro do Partido Nazista, e o ambiente político influenciou profundamente Mengele. Em 1931, ele se juntou ao Stahlhelm, Bund der Frontsoldaten, uma organização paramilitar nacionalista que, em 1934, foi absorvida pela Sturmabteilung (SA) nazista.

Sua carreira acadêmica avançou rapidamente: em 1935, obteve um doutorado em antropologia pela Universidade de Munique, com uma tese sobre fatores genéticos relacionados a fissuras labiopalatais.

Em 1937, começou a trabalhar como assistente do Dr. Otmar Freiherr von Verschuer no Instituto de Biologia Hereditária e Higiene Racial em Frankfurt, onde aprofundou seu interesse em genética, especialmente em gêmeos.

Em 1938, conquistou um doutorado em medicina, também com distinção, mas ambos os títulos foram posteriormente revogados pelas universidades devido às suas ações criminosas.

Von Verschuer, um renomado geneticista com interesses em eugenia, teve uma influência significativa sobre Mengele, incentivando-o a explorar questões genéticas que, mais tarde, seriam a base de seus experimentos macabros em Auschwitz. Em 1939, Mengele casou-se com Irene Schönbein, com quem teve seu único filho, Rolf, nascido em 1944.

Adesão ao Nazismo e Serviço Militar

Mengele ingressou no Partido Nazista em 1937 e na Schutzstaffel (SS) em 1938, abraçando completamente a ideologia nazista, que combinava antissemitismo, higiene racial, eugenia e expansionismo territorial.

O regime nazista buscava conquistar "espaço vital" (Lebensraum) para o povo alemão, o que incluía a deportação e o extermínio de judeus, eslavos e outros grupos considerados "inferiores".

Em 1938, Mengele passou por treinamento militar básico com a infantaria de montanha e, em junho de 1940, foi convocado para servir na Waffen-SS, o braço militar da SS.

Durante a guerra, Mengele serviu inicialmente como oficial médico em um batalhão de reserva até novembro de 1940. Posteriormente, foi transferido para o Posto Principal de Raça e Reassentamento da SS em Posen, onde avaliava candidatos à "germanização" - um processo de assimilação forçada de indivíduos considerados etnicamente adequados pelo regime.

Em 1941, foi enviado à Ucrânia, onde recebeu a Cruz de Ferro de Segunda Classe por bravura. Em 1942, já na 5ª Divisão Panzergrenadier SS Wiking, resgatou dois soldados de um tanque em chamas, ação que lhe rendeu a Cruz de Ferro de Primeira Classe, o Distintivo de Ferro e a Medalha pelo Cuidado ao Povo Alemão.

Ferido gravemente em Rostov-on-Don em 1942, foi considerado inapto para o combate e transferido para Berlim, onde retomou sua associação com von Verschuer no Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Genética Humana e Eugenia. Em abril de 1943, foi promovido a capitão da SS.

Auschwitz: Experimentos e Seleções

Em maio de 1943, incentivado por von Verschuer, Mengele foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz, onde viu uma oportunidade única para realizar pesquisas genéticas em seres humanos sem restrições éticas.

Nomeado médico-chefe do Zigeunerfamilienlager (acampamento de ciganos) em Birkenau, sob a supervisão do médico-chefe da SS, Eduard Wirths, Mengele tornou-se uma figura central no sistema de extermínio e experimentação do campo.

Auschwitz-Birkenau, inicialmente projetado para abrigar trabalhadores escravizados, foi convertido em um campo de extermínio a partir de 1941, conforme a "Solução Final" de Hitler para o extermínio dos judeus europeus.

Prisioneiros chegavam em trens de toda a Europa ocupada, e as "seleções" eram realizadas na plataforma de desembarque, conhecida como "rampa". Mengele participava ativamente dessas seleções, decidindo quem seria enviado para o trabalho forçado e quem seria imediatamente morto nas câmaras de gás.

Cerca de 75% dos recém-chegados, incluindo crianças, idosos, mulheres grávidas e qualquer pessoa considerada incapaz de trabalhar, eram enviados para a morte com o pesticida Zyklon B nos crematórios IV e V.

Diferentemente de outros médicos, que viam as seleções como uma tarefa angustiante, Mengele as realizava com entusiasmo, frequentemente assobiando ou sorrindo, o que lhe valeu o apelido de "Anjo da Morte".

Seus experimentos em Auschwitz eram particularmente cruéis e focados em gêmeos, que ele via como material ideal para estudar fatores genéticos e hereditários.

Mengele submetia suas vítimas a procedimentos desumanos, como injeções de substâncias químicas nos olhos para tentar mudar sua cor, amputações desnecessárias, infecções deliberadas com doenças e cirurgias sem anestesia.

Muitas vezes, quando um gêmeo morria, o outro era morto para permitir comparações post-mortem. Ele também conduzia experimentos em outros grupos, como ciganos e pessoas com deformidades físicas, sem qualquer consideração pela dor ou sobrevivência das vítimas.

Durante um surto de noma (uma infecção gangrenosa) no acampamento de ciganos em 1943, Mengele isolou pacientes e enviou órgãos de crianças mortas para estudos em instituições médicas da SS. Quando o acampamento cigano foi liquidado em 1944, todos os prisioneiros restantes foram mortos.

Mengele também supervisionava medidas de "controle" de epidemias, como tifo e escarlatina, enviando blocos inteiros de prisioneiros para as câmaras de gás para evitar a propagação de doenças.

Essas ações, combinadas com seus experimentos, resultaram na morte de milhares de pessoas. Por seus serviços em Auschwitz, ele recebeu a Cruz de Mérito de Guerra (Segunda Classe com Espadas) e foi promovido a Primeiro Médico de Birkenau em 1944.

Fuga para a América do Sul

Com a aproximação do Exército Vermelho soviético, Mengele abandonou Auschwitz em 17 de janeiro de 1945. Ele fugiu para o oeste, inicialmente escondendo-se na Alemanha sob uma identidade falsa.

Com a ajuda de uma rede de ex-membros da SS e simpatizantes nazistas, conhecida como "ODESSA", Mengele conseguiu escapar para a América do Sul. Em julho de 1949, chegou à Argentina, onde viveu nos arredores de Buenos Aires sob o pseudônimo de Helmut Gregor.

A Argentina, sob o governo de Juan Perón, era um refúgio comum para nazistas em fuga, devido à sua política de neutralidade durante a guerra e à falta de cooperação com pedidos de extradição.

Em 1959, com a intensificação da busca por criminosos de guerra nazistas, Mengele mudou-se para o Paraguai, onde obteve cidadania sob outro nome falso. Em 1960, estabeleceu-se no Brasil, vivendo inicialmente em São Paulo e depois em áreas rurais, como Nova Europa e Serra Negra.

Durante esse período, foi caçado pela Alemanha Ocidental, pelo serviço de inteligência israelense Mossad e por caçadores de nazistas como Simon Wiesenthal.

Apesar de várias operações clandestinas, incluindo tentativas de captura pelo Mossad, Mengele conseguiu evitar a prisão, muitas vezes mudando de localização e contando com a proteção de simpatizantes nazistas e de comunidades alemãs no Brasil.

Morte e Legado

Josef Mengele morreu em 7 de fevereiro de 1979, afogado após sofrer um derrame enquanto nadava em uma praia em Bertioga, no litoral de São Paulo. Ele vivia então sob o nome falso de Wolfgang Gerhard.

Seus restos mortais foram enterrados em Embu das Artes, São Paulo, e só foram exumados e identificados em 1985, por meio de exames forenses conduzidos por equipes internacionais.

A identificação foi confirmada em 1992 com testes de DNA, encerrando décadas de especulações sobre seu paradeiro. O legado de Mengele é um lembrete sombrio dos horrores do Holocausto e da pseudociência nazista.

Seus experimentos, desprovidos de qualquer base ética, não produziram resultados científicos significativos, mas causaram sofrimento indizível a milhares de vítimas.

Sua impunidade, facilitada por redes de apoio e pela negligência de governos, permanece uma questão controversa, levantando debates sobre justiça e responsabilidade histórica.

Até hoje, Mengele é lembrado como um dos criminosos mais infames do século XX, simbolizando a crueldade e a desumanidade do regime nazista.

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