Quando
a tristeza me aperta o peito ou a inquietude sussurra em meus ouvidos, retorno
à minha casa interior.
Caminho
pelos quartos dos meus pensamentos, abro as janelas das minhas liberdades,
releio-me nos salões amplos das minhas emoções e aqueço a cálida cozinha da
minha alma, onde o aroma de memórias antigas ainda paira.
Gosto desta
casa, de como ela se ergue, simples, mas verdadeira. Não é perfeita, mas é
acolhedora, moldada pelas mãos do tempo e pelos alicerces da minha essência.
Com a
caixa de ferramentas da consciência, tento reparar seus defeitos: uma rachadura
de dúvida aqui, uma porta que range com o peso da culpa ali. Nem sempre
consigo, mas o esforço de cuidar dela me ensina a acolher meus sentimentos,
mesmo os mais desajeitados.
Às
vezes, encontro a casa em desordem - gavetas de mágoas entreabertas, poeira de
arrependimentos acumulada nos cantos. Mas, com paciência e amor, arrumo cada
canto.
Não
permito que os rancores se escondam sob as camas ou se aninhem nos armários.
Abro as portas, deixo o vento entrar e os levo embora, para que não deixem
rastros que manchem o chão da minha paz.
E,
quando a noite cai, sigo para o quintal dos meus sonhos, onde me deito sob o
céu aberto. Ali, a lua me contempla, banhando-me com sua luz prateada, como se
contasse segredos antigos.
Sinto
sua energia pulsar, guiando-me, renovando-me. É nesse espaço que me permito ser
inteira, sem pressa, sem julgamentos, apenas eu e o brilho que me lembra que o
amanhã sempre traz novas possibilidades.
Houve
dias em que esta casa esteve quase em ruínas. Lembro-me de uma tempestade, anos
atrás, quando a dor bateu às portas e o desespero tentou arrancar o telhado.
Os
quartos ficaram sombrios, as janelas emperradas, e o quintal, antes florido,
parecia seco. Mas, mesmo então, encontrei forças para reconstruí-la.
Varri
os escombros, plantei novas sementes no quintal e deixei o sol entrar
novamente. Cada cicatriz na parede é agora uma história, cada viga reforçada é
uma lição.
Nesta
casa, também recebo visitas. Às vezes, são as alegrias, que dançam pelos
corredores e enchem os salões de risos. Outras vezes, são as saudades, que se
sentam quietas à mesa da cozinha, tomando um café morno enquanto me contam do
passado.
Todas
são bem-vindas, pois sei que cada uma deixa algo de si: um aprendizado, uma
lembrança, uma chispa de esperança.
E, sob
o luar do meu quintal, enquanto as estrelas piscam como velhas amigas, percebo
que esta casa não é apenas um refúgio, mas um espelho. Ela reflete quem sou,
quem fui e quem ainda posso ser.
Cada
quarto que arrumo, cada janela que abro, é um passo em direção a mim mesma. E,
mesmo que o mundo lá fora seja incerto, aqui dentro eu sei: esta casa, com suas
imperfeições e sua luz, é meu lar eterno.
Que eu
nunca me esqueça de cuidar dela. Que eu sempre encontre tempo para varrer os
rancores, regar os sonhos e deixar a lua me guiar.
Pois, enquanto está casa existir, eu saberei que, mesmo nas noites mais escuras, há um quintal onde posso descansar e um novo dia esperando para nascer.
0 Comentários:
Postar um comentário