A
realidade é o mais hábil dos inimigos. Lança os seus ataques contra aquele
ponto do nosso coração onde não os esperávamos e onde não tínhamos preparado
defesas.
(Marcel
Proust)
Realidade significa,
em seu sentido mais livre, o termo inclui tudo o que é, seja ou não
perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência ou qualquer
outro sistema de análise. Em uso comum, a realidade corresponde a "tudo
o que existe".
O real
é comumente entendido como aquilo que existe fora da mente particular, mas
também pode incluir, em certo sentido, a realidade interna que existe dentro da
mente também.
A
ilusão, a imaginação, embora não esteja expressa na realidade tangível extra-mentis,
existe ontologicamente, onticamente (relativa ao ente – vide Heidegger in
"Ser e tempo”), ou seja: intra-mentis. E é, portanto, real, embora
possa ser ou não ilusória.
A ilusão
quando existente, é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua natureza.
Ela diz sim a si mesma.
A
realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, embora na qualidade de ens
fictionis intra mentis (ipsis literis, in "Proslogion" de
Anselmo de Aosta – argumento ontológico), ou seja, enquanto ente fictício,
imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode - ou
não - ser existente e real também no mundo externo.
O que
não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado.
Quanto
ao externo - o fato de poder ser percebido só pela mente - torna-se sinônimo de
interpretação da realidade, de uma aproximação com a
verdade.
A
relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente interpreta
a realidade, é uma polêmica antiga. O problema, na cultura ocidental,
surge com as teorias de Platão e Aristóteles sobre a natureza do
real (o idealismo e o realismo).
No
cerne do problema está presente a questão da imagem (a representação
sensível do objeto) e a da ideia (o sentido do objeto, a sua
interpretação mental).
Em
senso comum, realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia
da coisa, entre verdade e verossimilhança.
O
problema da realidade é matéria presente em todas as ciências e, com
particular importância, nas ciências que têm como objeto de estudo o próprio
homem: a antropologia cultural e todas as que nela estão implicadas: a
filosofia, a psicologia, a semiologia e muitas outras, além das técnicas e
das artes visuais.
Na
interpretação ou representação do real, (verdade subjetiva ou
crença), a realidade está sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinamos
parte do que consideramos ser um fato, ato ou uma possibilidade, algo
adquirido a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido.
Dessa
forma, a construção das coisas e as nossas relações dependem de um intrincado
contexto, que ao longo da existência cria a lente entre a aprendizagem e o
desejo: o que vamos aceitar como real? Portanto a realidade é construída pelo
sujeito cognoscente; ela não é dada pronta para ser descoberta.
A
verdade (subjetiva) pode, às vezes, estar próxima da realidade, mas depende das
situações, contextos, das premissas de pensamento, tendo de criar dúvidas
reflexivas.
Às
vezes, aquilo o que observamos está preso a escolhas que são mais um conjunto
de normas do que evidências.
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