Propaganda

domingo, julho 07, 2024

Queimaram Mulheres



 

Não Foram as Bruxas que Queimaram, Foram Mulheres

Não foram as bruxas que queimaram. Foram mulheres. Mulheres que ousaram existir fora dos padrões impostos pela sociedade de sua época. Mulheres que eram vistas como "muito": muito bonitas, muito cultas, muito inteligentes, muito altas, muito quietas, muito ruivas, muito habilidosas.

Mulheres que tinham uma marca de nascença, uma plantação farta, um poço com água ou uma conexão profunda com a natureza. Mulheres que dançavam, cantavam, curavam com ervas ou simplesmente viviam de forma autêntica. Qualquer característica, qualquer traço de individualidade, podia torná-las alvos.

Nos séculos XVI e XVII, durante o auge da caça às bruxas na Europa e nas colônias americanas, ser mulher era, por si só, um risco. Estima-se que entre 50 mil e 100 mil pessoas, majoritariamente mulheres, foram executadas sob acusações de bruxaria.

Essas acusações raramente tinham base em evidências; eram movidas por medo, inveja, disputas de poder ou interesses econômicos. Mulheres que desafiavam normas sociais, que possuíam terras, conhecimentos ou influência, eram especialmente vulneráveis.

Muitas vezes, a acusação de bruxaria era uma ferramenta para silenciar vozes femininas, confiscar propriedades ou reforçar o controle patriarcal. Os métodos de julgamento eram cruéis e absurdos. Um dos mais conhecidos era o "teste da água": mulheres eram amarradas e jogadas em rios ou lagos.

Se flutuassem, eram consideradas bruxas e executadas. Se afundassem e se afogassem, eram declaradas inocentes - mas, tragicamente, já era tarde demais.

Outras eram submetidas a torturas inimagináveis, como serem jogadas de penhascos, esmagadas sob pedras, enterradas vivas em buracos profundos ou queimadas na fogueira.

A fogueira, aliás, tornou-se o símbolo máximo dessa violência, mas não era o único meio de execução. Em algumas regiões, mulheres eram enforcadas ou mutiladas antes de morrer.

Além disso, a caça às bruxas não se limitava à Europa. Nos Estados Unidos, os julgamentos de Salem, em 1692, são um exemplo notório. Lá, 19 pessoas, a maioria mulheres, foram enforcadas, e uma foi esmagada até a morte sob acusações de bruxaria.

A histeria coletiva, alimentada por fanatismo religioso e tensões sociais, destruiu comunidades e deixou um legado de trauma. Por que escrevo isso? Porque lembrar nossa história é essencial para construir um futuro mais justo.

Conhecer esses horrores nos ajuda a compreender as raízes da opressão de gênero e a curar as feridas herdadas em nossas linhagens. As mulheres que foram massacradas não eram bruxas no sentido demoníaco que lhes atribuíram; eram curandeiras, parteiras, agricultoras, contadoras de histórias, mulheres comuns e extraordinárias. Eram avós, mães, irmãs filhas. Eram humanas.

Dar voz a essas mulheres é um ato de reparação. É reconhecer sua dor, sua humanidade roubada. É permitir que suas histórias, silenciadas por séculos, encontrem paz.

É também um chamado para que nós, mulheres, honremos sua memória ao viver plenamente, ao reivindicar nossa liberdade de ser quem somos, sem medo. Não foram as bruxas que queimaram. Foram mulheres. E suas cinzas ainda sussurram por justiça.

(Inspirado em Fia Forsström)

0 Comentários: