Não Foram as Bruxas que Queimaram, Foram Mulheres
Não
foram as bruxas que queimaram. Foram mulheres. Mulheres que ousaram existir
fora dos padrões impostos pela sociedade de sua época. Mulheres que eram vistas
como "muito": muito bonitas, muito cultas, muito inteligentes, muito
altas, muito quietas, muito ruivas, muito habilidosas.
Mulheres
que tinham uma marca de nascença, uma plantação farta, um poço com água ou uma
conexão profunda com a natureza. Mulheres que dançavam, cantavam, curavam com
ervas ou simplesmente viviam de forma autêntica. Qualquer característica,
qualquer traço de individualidade, podia torná-las alvos.
Nos
séculos XVI e XVII, durante o auge da caça às bruxas na Europa e nas colônias
americanas, ser mulher era, por si só, um risco. Estima-se que entre 50 mil e
100 mil pessoas, majoritariamente mulheres, foram executadas sob acusações de
bruxaria.
Essas
acusações raramente tinham base em evidências; eram movidas por medo, inveja,
disputas de poder ou interesses econômicos. Mulheres que desafiavam normas
sociais, que possuíam terras, conhecimentos ou influência, eram especialmente
vulneráveis.
Muitas
vezes, a acusação de bruxaria era uma ferramenta para silenciar vozes
femininas, confiscar propriedades ou reforçar o controle patriarcal. Os métodos
de julgamento eram cruéis e absurdos. Um dos mais conhecidos era o "teste
da água": mulheres eram amarradas e jogadas em rios ou lagos.
Se
flutuassem, eram consideradas bruxas e executadas. Se afundassem e se
afogassem, eram declaradas inocentes - mas, tragicamente, já era tarde demais.
Outras
eram submetidas a torturas inimagináveis, como serem jogadas de penhascos,
esmagadas sob pedras, enterradas vivas em buracos profundos ou queimadas na
fogueira.
A
fogueira, aliás, tornou-se o símbolo máximo dessa violência, mas não era o
único meio de execução. Em algumas regiões, mulheres eram enforcadas ou
mutiladas antes de morrer.
Além
disso, a caça às bruxas não se limitava à Europa. Nos Estados Unidos, os
julgamentos de Salem, em 1692, são um exemplo notório. Lá, 19 pessoas, a
maioria mulheres, foram enforcadas, e uma foi esmagada até a morte sob
acusações de bruxaria.
A
histeria coletiva, alimentada por fanatismo religioso e tensões sociais,
destruiu comunidades e deixou um legado de trauma. Por que escrevo isso? Porque
lembrar nossa história é essencial para construir um futuro mais justo.
Conhecer
esses horrores nos ajuda a compreender as raízes da opressão de gênero e a
curar as feridas herdadas em nossas linhagens. As mulheres que foram massacradas
não eram bruxas no sentido demoníaco que lhes atribuíram; eram curandeiras,
parteiras, agricultoras, contadoras de histórias, mulheres comuns e
extraordinárias. Eram avós, mães, irmãs filhas. Eram humanas.
Dar voz
a essas mulheres é um ato de reparação. É reconhecer sua dor, sua humanidade
roubada. É permitir que suas histórias, silenciadas por séculos, encontrem paz.
É
também um chamado para que nós, mulheres, honremos sua memória ao viver
plenamente, ao reivindicar nossa liberdade de ser quem somos, sem medo. Não
foram as bruxas que queimaram. Foram mulheres. E suas cinzas ainda sussurram
por justiça.
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