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sexta-feira, julho 12, 2024

Giovanni Strazza


 

Giovanni Strazza: Vida e Obra

Giovanni Strazza (1818 - 1875), nascido em Milão, Itália, foi um renomado escultor e conferencista italiano, cuja data exata de nascimento permanece desconhecida.

Vinculado ao neoclassicismo acadêmico, Strazza também incorporou influências do romantismo tardio, criando obras que equilibram a precisão técnica clássica com a emotividade romântica.

Sua trajetória artística é marcada por uma habilidade excepcional no trabalho com mármore e por sua contribuição ao cenário artístico italiano durante o século XIX, um período de intensas transformações políticas e culturais.

Primeiros Anos e Formação

Nascido em uma família de origem modesta, Strazza demonstrou talento precoce para as artes. Ele ingressou na prestigiada Academia de Belas Artes de Brera, em Milão, onde se formou e aprofundou seus estudos em escultura.

Sob a orientação do escultor Pompeo Marchesi, Strazza aprendeu a modelar o barro, desenvolvendo uma base sólida em composição e anatomia. Posteriormente, no estúdio de Francesco Somaini, ele dominou o uso do cinzel, ferramenta essencial para esculpir o mármore, um material que se tornaria central em sua carreira.

Essa formação rigorosa moldou Strazza como um escultor técnico e versátil, capaz de combinar precisão com expressividade.

Carreira e Mudança para Roma

Em 1843, Strazza mudou-se para Roma, onde permaneceu até 1860. Durante esses 17 anos, a cidade, com sua vasta herança artística, exerceu uma profunda influência sobre o escultor.

Roma era, na época, um centro vibrante de arte e cultura, onde as esculturas clássicas gregas e romanas coexistiam com as inovações do neoclassicismo e do romantismo.

Strazza ficou particularmente impressionado pela estatuária clássica, que inspirou sua busca pela perfeição formal, e pelas obras modernas de sua geração, que exploravam novas possibilidades expressivas.

Nesse período, ele se posicionou em um ponto intermediário entre o classicismo, com sua ênfase na harmonia e idealização, e o romantismo, com sua valorização da emoção e do individualismo.

Após a unificação da Itália em 1861, um marco histórico que transformou o país, Strazza foi convidado a assumir a cadeira de professor de escultura na Academia de Bolonha. Sua passagem por Bolonha, no entanto, foi breve.

Em 1860, ele retornou a Milão para lecionar na Academia de Brera, onde permaneceu até sua morte, em 18 de abril de 1875. Como professor, Strazza influenciou gerações de jovens artistas, transmitindo sua técnica apurada e sua visão artística que mesclava tradição e inovação.

Contexto Histórico e Cultural

O século XIX foi um período de efervescência política e cultural na Itália, marcado pelo movimento Risorgimento, que buscava a unificação nacional e a emancipação do domínio estrangeiro.

Esse contexto influenciou profundamente a produção artística da época, incluindo o trabalho de Strazza. A arte tornou-se um veículo para expressar ideais de identidade nacional, liberdade e renovação cultural.

Escultores como Strazza, Pietro Rossi e Raffaelle Monti, seus contemporâneos, usaram suas obras para refletir esses valores, muitas vezes incorporando simbolismos que ressoavam com o espírito do Risorgimento.

A Virgem Velada: Uma Obra-Prima

Entre as obras mais célebres de Strazza está A Virgem Velada, uma escultura em mármore de Carrara que retrata o busto da Virgem Maria coberto por um véu translúcido.

Criada provavelmente no início da década de 1850, a obra é um testemunho da habilidade técnica de Strazza e de sua capacidade de transcender os limites do material.

O mármore, um dos materiais mais duros e desafiadores para escultores, é trabalhado com tal delicadeza que o véu parece etéreo, criando a ilusão de transparência. As feições suaves e expressivas da Virgem Maria são visíveis sob o véu, conferindo à escultura uma qualidade quase sobrenatural.

A técnica empregada em A Virgem Velada é inteiramente subtrativa, característica essencial da escultura em mármore. Diferentemente de outros materiais que permitem adições ou correções, o mármore exige que o escultor remova cuidadosamente o excesso de material até revelar a imagem desejada.

Como dizem, esculpir em mármore é “tirar tudo o que não é a figura”. A precisão de Strazza nesse processo é notável, especialmente na criação do efeito de transparência, que desafia as propriedades físicas do mármore.

Trajetória da Obra

Em 1856, A Virgem Velada foi transportada de Roma para a Colônia de Terra Nova, no Canadá, onde chegou em segurança, conforme registrado pelo bispo John Thomas Mullock em 4 de dezembro de 1856: “Recebida com segurança de Roma, uma bela estátua da Santíssima Virgem Maria, em mármore, de Strazza.

O rosto está velado e é possível ver sua feição e suas características. É uma perfeita obra de arte.” A escultura foi inicialmente instalada no Palácio Episcopal, próximo à Catedral Católica Romana de St. John’s.

Em 1862, o bispo Mullock presenteou a obra à Madre Maria Madalena O'Shaughnessy, Madre Superiora do Convento da Apresentação de Maria. Desde então, A Virgem Velada permanece sob os cuidados das Irmãs da Apresentação, na Cathedral Square, em St. John’s, Terra Nova, onde é admirada como uma das obras mais extraordinárias de seu tempo.

Simbolismo e o Risorgimento

Além de sua excelência técnica, A Virgem Velada carrega um profundo simbolismo. No contexto do Risorgimento, a imagem de uma mulher velada era frequentemente usada para representar a Itália, uma nação que buscava “desvelar” sua identidade e soberania após séculos de fragmentação e domínio estrangeiro.

Assim como Britannia simbolizava a Grã-Bretanha, Hibernia representava a Irlanda e a Estátua da Liberdade personificava os Estados Unidos, a figura velada de Strazza evocava a Itália em sua luta por unidade e independência.

A delicadeza do véu, que cobre, mas não oculta a figura da Virgem, pode ser interpretada como uma metáfora para a Itália: uma nação cuja essência estava pronta para ser revelada ao mundo.

Outros escultores contemporâneos, como Pietro Rossi e Raffaelle Monti, também exploraram o motivo da mulher velada, reforçando a popularidade desse simbolismo no período. No entanto, a obra de Strazza se destaca pela combinação de virtuosismo técnico e carga emocional, que a tornaram um marco tanto artístico quanto político.

Legado

Giovanni Strazza faleceu em Milão em 18 de abril de 1875, deixando um legado duradouro no campo da escultura. Sua capacidade de unir a precisão do neoclassicismo com a sensibilidade do romantismo o colocou como uma figura singular em sua geração.

A Virgem Velada permanece como sua obra mais icônica, admirada não apenas por sua beleza, mas também por sua complexidade técnica e seu significado cultural.

A escultura continua a inspirar artistas e espectadores, sendo um testemunho da genialidade de Strazza e de sua contribuição para a arte italiana do século XIX.

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