Giovanni Strazza: Vida e Obra
Giovanni
Strazza (1818 - 1875), nascido em Milão, Itália, foi um renomado escultor e
conferencista italiano, cuja data exata de nascimento permanece desconhecida.
Vinculado
ao neoclassicismo acadêmico, Strazza também incorporou influências do
romantismo tardio, criando obras que equilibram a precisão técnica clássica com
a emotividade romântica.
Sua
trajetória artística é marcada por uma habilidade excepcional no trabalho com
mármore e por sua contribuição ao cenário artístico italiano durante o século
XIX, um período de intensas transformações políticas e culturais.
Primeiros Anos e Formação
Nascido
em uma família de origem modesta, Strazza demonstrou talento precoce para as
artes. Ele ingressou na prestigiada Academia de Belas Artes de Brera, em Milão,
onde se formou e aprofundou seus estudos em escultura.
Sob a
orientação do escultor Pompeo Marchesi, Strazza aprendeu a modelar o barro,
desenvolvendo uma base sólida em composição e anatomia. Posteriormente, no
estúdio de Francesco Somaini, ele dominou o uso do cinzel, ferramenta essencial
para esculpir o mármore, um material que se tornaria central em sua carreira.
Essa
formação rigorosa moldou Strazza como um escultor técnico e versátil, capaz de
combinar precisão com expressividade.
Carreira e Mudança para Roma
Em
1843, Strazza mudou-se para Roma, onde permaneceu até 1860. Durante esses 17
anos, a cidade, com sua vasta herança artística, exerceu uma profunda
influência sobre o escultor.
Roma
era, na época, um centro vibrante de arte e cultura, onde as esculturas
clássicas gregas e romanas coexistiam com as inovações do neoclassicismo e do
romantismo.
Strazza
ficou particularmente impressionado pela estatuária clássica, que inspirou sua
busca pela perfeição formal, e pelas obras modernas de sua geração, que
exploravam novas possibilidades expressivas.
Nesse
período, ele se posicionou em um ponto intermediário entre o classicismo, com
sua ênfase na harmonia e idealização, e o romantismo, com sua valorização da
emoção e do individualismo.
Após a
unificação da Itália em 1861, um marco histórico que transformou o país,
Strazza foi convidado a assumir a cadeira de professor de escultura na Academia
de Bolonha. Sua passagem por Bolonha, no entanto, foi breve.
Em
1860, ele retornou a Milão para lecionar na Academia de Brera, onde permaneceu
até sua morte, em 18 de abril de 1875. Como professor, Strazza influenciou
gerações de jovens artistas, transmitindo sua técnica apurada e sua visão
artística que mesclava tradição e inovação.
Contexto Histórico e Cultural
O
século XIX foi um período de efervescência política e cultural na Itália,
marcado pelo movimento Risorgimento, que buscava a unificação nacional e a
emancipação do domínio estrangeiro.
Esse
contexto influenciou profundamente a produção artística da época, incluindo o
trabalho de Strazza. A arte tornou-se um veículo para expressar ideais de
identidade nacional, liberdade e renovação cultural.
Escultores
como Strazza, Pietro Rossi e Raffaelle Monti, seus contemporâneos, usaram suas
obras para refletir esses valores, muitas vezes incorporando simbolismos que
ressoavam com o espírito do Risorgimento.
A Virgem Velada: Uma Obra-Prima
Entre
as obras mais célebres de Strazza está A Virgem Velada, uma escultura em
mármore de Carrara que retrata o busto da Virgem Maria coberto por um véu
translúcido.
Criada
provavelmente no início da década de 1850, a obra é um testemunho da habilidade
técnica de Strazza e de sua capacidade de transcender os limites do material.
O
mármore, um dos materiais mais duros e desafiadores para escultores, é
trabalhado com tal delicadeza que o véu parece etéreo, criando a ilusão de
transparência. As feições suaves e expressivas da Virgem Maria são visíveis sob
o véu, conferindo à escultura uma qualidade quase sobrenatural.
A
técnica empregada em A Virgem Velada é inteiramente subtrativa, característica
essencial da escultura em mármore. Diferentemente de outros materiais que
permitem adições ou correções, o mármore exige que o escultor remova
cuidadosamente o excesso de material até revelar a imagem desejada.
Como
dizem, esculpir em mármore é “tirar tudo o que não é a figura”. A precisão de Strazza
nesse processo é notável, especialmente na criação do efeito de transparência,
que desafia as propriedades físicas do mármore.
Trajetória da Obra
Em
1856, A Virgem Velada foi transportada de Roma para a Colônia de Terra Nova, no
Canadá, onde chegou em segurança, conforme registrado pelo bispo John Thomas
Mullock em 4 de dezembro de 1856: “Recebida com segurança de Roma, uma bela
estátua da Santíssima Virgem Maria, em mármore, de Strazza.
O rosto
está velado e é possível ver sua feição e suas características. É uma perfeita
obra de arte.” A escultura foi inicialmente instalada no Palácio Episcopal,
próximo à Catedral Católica Romana de St. John’s.
Em
1862, o bispo Mullock presenteou a obra à Madre Maria Madalena O'Shaughnessy,
Madre Superiora do Convento da Apresentação de Maria. Desde então, A Virgem
Velada permanece sob os cuidados das Irmãs da Apresentação, na Cathedral
Square, em St. John’s, Terra Nova, onde é admirada como uma das obras mais
extraordinárias de seu tempo.
Simbolismo e o Risorgimento
Além de
sua excelência técnica, A Virgem Velada carrega um profundo simbolismo. No
contexto do Risorgimento, a imagem de uma mulher velada era frequentemente
usada para representar a Itália, uma nação que buscava “desvelar” sua
identidade e soberania após séculos de fragmentação e domínio estrangeiro.
Assim
como Britannia simbolizava a Grã-Bretanha, Hibernia representava a Irlanda e a
Estátua da Liberdade personificava os Estados Unidos, a figura velada de
Strazza evocava a Itália em sua luta por unidade e independência.
A
delicadeza do véu, que cobre, mas não oculta a figura da Virgem, pode ser
interpretada como uma metáfora para a Itália: uma nação cuja essência estava
pronta para ser revelada ao mundo.
Outros
escultores contemporâneos, como Pietro Rossi e Raffaelle Monti, também
exploraram o motivo da mulher velada, reforçando a popularidade desse
simbolismo no período. No entanto, a obra de Strazza se destaca pela combinação
de virtuosismo técnico e carga emocional, que a tornaram um marco tanto artístico
quanto político.
Legado
Giovanni
Strazza faleceu em Milão em 18 de abril de 1875, deixando um legado duradouro
no campo da escultura. Sua capacidade de unir a precisão do neoclassicismo com
a sensibilidade do romantismo o colocou como uma figura singular em sua
geração.
A
Virgem Velada permanece como sua obra mais icônica, admirada não apenas por sua
beleza, mas também por sua complexidade técnica e seu significado cultural.
A
escultura continua a inspirar artistas e espectadores, sendo um testemunho da
genialidade de Strazza e de sua contribuição para a arte italiana do século
XIX.
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