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terça-feira, julho 09, 2024

Bertha Benz - a mulher que fez a primeira viagem de carro da história.


Bertha Benz, a mulher que fez a primeira viagem de carro da história.

Bertha Benz: A Pioneira do Automóvel

Bertha Benz, nascida Bertha Ringer em 3 de maio de 1849, em Pforzheim, no Grão-Ducado de Baden, foi muito mais do que a esposa de Karl Benz, o engenheiro por trás do Benz Patent-Motorwagen, considerado o primeiro automóvel da história.

Bertha foi uma investidora visionária, uma estrategista brilhante e a primeira pessoa a realizar uma viagem de longa distância com um automóvel, em 5 de agosto de 1888. Sua ousadia não apenas colocou o invento de seu marido no centro das atenções, mas também abriu caminho para a indústria automobilística moderna.

Infância e Educação: Uma Mente Curiosa em um Mundo Restritivo

Filha de Auguste Friederike e Karl Friedrich Ringer, Bertha cresceu em uma família abastada, sendo a terceira de nove filhos. Seu pai, um carpinteiro habilidoso, introduziu-a ao fascinante mundo da mecânica, explicando, por exemplo, o funcionamento de uma locomotiva.

Apesar de a educação formal ser limitada para mulheres na época, Bertha frequentou uma escola para meninas a partir dos 9 anos, onde se destacou em ciências naturais.

Sua curiosidade e inteligência, no entanto, contrastavam com as expectativas sociais da época. Um episódio marcante foi sua decepção ao ler na Bíblia da família uma anotação do pai lamentando o nascimento de "outra menina", o que, segundo relatos, a motivou a provar que as mulheres eram capazes de grandes realizações.

O Encontro com Karl Benz e o Investimento no Futuro

Em 1869, aos 20 anos, Bertha conheceu Karl Benz durante uma excursão em Baden-Baden. Ele, um engenheiro com poucos recursos financeiros, mas cheio de ideias, falou sobre sua "carruagem sem cavalos", despertando imediatamente o interesse de Bertha.

Dois anos antes, ela havia usado parte de seu dote para investir em uma fundição, demonstrando seu tino para negócios. Em 20 de julho de 1872, Bertha e Karl se casaram, e, pelas leis alemãs da época, ela perdeu o controle legal sobre seus investimentos, que passaram a ser geridos por Karl.

Com o dote de Bertha, o casal fundou a Benz & Cie., a empresa que daria vida ao sonho do automóvel. A vida do casal, porém, foi marcada por dificuldades. A ideia de um veículo motorizado era vista com ceticismo, e muitos consideravam a invenção de Karl perigosa ou inútil.

Enfrentando dificuldades financeiras e críticas públicas, Bertha permaneceu ao lado do marido, não apenas como companheira, mas como uma parceira ativa no desenvolvimento do projeto. Embora tivesse contribuído significativamente para o processo, as leis da época a impediram de registrar a patente do Patent-Motorwagen, concluído em 1885 e patenteado em 1886.

A Viagem Histórica de 1888: Coragem e Visão

Karl Benz era um gênio da engenharia, mas carecia de visão comercial e confiança para promover sua invenção. Seus testes limitavam-se a curtas distâncias ao redor da oficina em Mannheim, insuficientes para convencer o público do potencial do automóvel.

Bertha, por outro lado, tinha uma percepção aguçada do que era necessário para transformar o Patent-Motorwagen em um sucesso: as pessoas precisavam vê-lo em ação, percorrendo longas distâncias de forma confiável.

Na manhã de 5 de agosto de 1888, sem avisar Karl, Bertha decidiu agir. Acompanhada de seus filhos adolescentes, Eugen (15 anos) e Richard (13 anos), ela pegou o protótipo Modelo III na oficina e partiu para Pforzheim, onde morava sua mãe, a cerca de 106 km de distância.

Para evitar acordar Karl, os filhos empurraram o carro até a rua antes de dar a partida. Essa viagem, realizada sem permissão das autoridades e em segredo, marcou a primeira jornada de longa distância de um automóvel na história.

A rota não foi fácil. As estradas da época, projetadas para carroças puxadas por cavalos, eram irregulares e desafiadoras. O carro, com um motor de 2,5 cavalos de potência, enfrentou subidas íngremes que exigiram que Eugen e Richard o empurrassem em vários trechos.

O tanque de combustível, com apenas 4,5 litros, obrigava Bertha a reabastecer com ligroína, um derivado de petróleo vendido em farmácias como solvente. Em Wiesloch, ela parou em uma farmácia para comprar mais ligroína, transformando o local no primeiro "posto de combustível" do mundo.

Bertha também demonstrou sua habilidade técnica durante a viagem. Quando o tubo de combustível entupiu, ela o desobstruiu com um alfinete de chapéu. Para isolar um fio elétrico exposto, usou sua cinta-liga. Em outro momento, parou em um sapateiro para reforçar os freios com correias de couro, uma melhoria que mais tarde seria incorporada ao projeto.

Para manter o motor funcionando, ela reabastecia o sistema de refrigeração com água em cada parada. Sua engenhosidade e determinação foram cruciais para completar a jornada.

Ao chegar a Pforzheim ao entardecer, Bertha enviou um telegrama a Karl, informando que a viagem havia sido um sucesso. Três dias depois, ela fez o trajeto de volta, percorrendo uma rota ligeiramente diferente.

A viagem chamou a atenção de todos que cruzaram seu caminho, e a notícia da "carruagem sem cavalos" espalhou-se rapidamente, gerando o interesse que Bertha havia previsto.

O Impacto da Viagem

A jornada de Bertha não foi apenas um feito de coragem; ela teve consequências práticas e duradouras. Ao relatar a Karl os desafios enfrentados na estrada, Bertha sugeriu melhorias cruciais, como a adição de uma marcha mais baixa para subidas íngremes e freios mais resistentes.

Essas mudanças foram incorporadas aos modelos subsequentes do Patent-Motorwagen, tornando-o mais confiável e comercialmente viável. A viagem também demonstrou a importância dos test-drives, uma prática que se tornaria essencial na indústria automobilística.

A publicidade gerada pela aventura de Bertha impulsionou as vendas da Benz & Cie. Em 1886, apenas alguns protótipos haviam sido construídos, mas, na década seguinte, cerca de 25 unidades do Patent-Motorwagen foram produzidas. A empresa cresceu rapidamente, tornando-se a maior montadora do mundo no início do século XX e estabelecendo as bases para a moderna Mercedes-Benz.

Vida Pessoal e Legado

Bertha e Karl tiveram cinco filhos: Eugen, Richard, Clara, Thilde e Ellen. Apesar das dificuldades financeiras e das pressões sociais, o casal permaneceu unido, com Bertha sendo o pilar que sustentava a família e os negócios. Em 1906, eles se mudaram para Ladenburg, onde a Benz & Cie. continuou a prosperar.

Em 1944, aos 95 anos, Bertha recebeu o título de Senadora Honorária do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, onde Karl havia estudado. Dois dias após seu aniversário, em 5 de maio de 1944, ela faleceu em Ladenburg.

Karl, que morreu em 1929, deixou um testemunho emocionante sobre o papel de Bertha em sua vida: “Só uma pessoa ficou comigo neste pequeno barco da vida que parecia destinado a afundar. Esta pessoa foi minha esposa. Corajosa e resoluta, ela içou as velas da esperança.”

Um Legado Além do Automóvel

A história de Bertha Benz vai além da criação do automóvel. Sua determinação desafiou as barreiras de gênero de sua época, mostrando que as mulheres podiam ser protagonistas em áreas dominadas por homens, como a engenharia e os negócios.

Sua viagem de 1888 não apenas colocou o automóvel no mapa, mas também inspirou gerações de mulheres a perseguirem seus sonhos, independentemente das limitações impostas pela sociedade.

Hoje, Bertha é celebrada como uma pioneira. A rota de Mannheim a Pforzheim foi transformada na Bertha Benz Memorial Route, um marco turístico que homenageia sua façanha.

Sua história também é contada em livros, documentários e exposições, como as do Museu Mercedes-Benz em Stuttgart. Bertha Benz não apenas dirigiu o primeiro automóvel; ela dirigiu o futuro.


A Primeira Viagem de Automóvel

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