Bertha Benz, a mulher que fez a primeira viagem de
carro da história.
Bertha Benz: A Pioneira do Automóvel
Bertha
Benz, nascida Bertha Ringer em 3 de maio de 1849, em Pforzheim, no Grão-Ducado
de Baden, foi muito mais do que a esposa de Karl Benz, o engenheiro por trás do
Benz Patent-Motorwagen, considerado o primeiro automóvel da história.
Bertha
foi uma investidora visionária, uma estrategista brilhante e a primeira pessoa
a realizar uma viagem de longa distância com um automóvel, em 5 de agosto de
1888. Sua ousadia não apenas colocou o invento de seu marido no centro das
atenções, mas também abriu caminho para a indústria automobilística moderna.
Infância e Educação: Uma Mente Curiosa em um Mundo Restritivo
Filha
de Auguste Friederike e Karl Friedrich Ringer, Bertha cresceu em uma família
abastada, sendo a terceira de nove filhos. Seu pai, um carpinteiro habilidoso,
introduziu-a ao fascinante mundo da mecânica, explicando, por exemplo, o
funcionamento de uma locomotiva.
Apesar
de a educação formal ser limitada para mulheres na época, Bertha frequentou uma
escola para meninas a partir dos 9 anos, onde se destacou em ciências naturais.
Sua
curiosidade e inteligência, no entanto, contrastavam com as expectativas
sociais da época. Um episódio marcante foi sua decepção ao ler na Bíblia da
família uma anotação do pai lamentando o nascimento de "outra
menina", o que, segundo relatos, a motivou a provar que as mulheres eram
capazes de grandes realizações.
O Encontro com Karl Benz e o Investimento no Futuro
Em
1869, aos 20 anos, Bertha conheceu Karl Benz durante uma excursão em
Baden-Baden. Ele, um engenheiro com poucos recursos financeiros, mas cheio de
ideias, falou sobre sua "carruagem sem cavalos", despertando
imediatamente o interesse de Bertha.
Dois
anos antes, ela havia usado parte de seu dote para investir em uma fundição,
demonstrando seu tino para negócios. Em 20 de julho de 1872, Bertha e Karl se
casaram, e, pelas leis alemãs da época, ela perdeu o controle legal sobre seus
investimentos, que passaram a ser geridos por Karl.
Com o
dote de Bertha, o casal fundou a Benz & Cie., a empresa que daria vida ao
sonho do automóvel. A vida do casal, porém, foi marcada por dificuldades. A
ideia de um veículo motorizado era vista com ceticismo, e muitos consideravam a
invenção de Karl perigosa ou inútil.
Enfrentando
dificuldades financeiras e críticas públicas, Bertha permaneceu ao lado do
marido, não apenas como companheira, mas como uma parceira ativa no
desenvolvimento do projeto. Embora tivesse contribuído significativamente para
o processo, as leis da época a impediram de registrar a patente do
Patent-Motorwagen, concluído em 1885 e patenteado em 1886.
A Viagem Histórica de 1888: Coragem e Visão
Karl
Benz era um gênio da engenharia, mas carecia de visão comercial e confiança
para promover sua invenção. Seus testes limitavam-se a curtas distâncias ao
redor da oficina em Mannheim, insuficientes para convencer o público do
potencial do automóvel.
Bertha,
por outro lado, tinha uma percepção aguçada do que era necessário para
transformar o Patent-Motorwagen em um sucesso: as pessoas precisavam vê-lo em
ação, percorrendo longas distâncias de forma confiável.
Na
manhã de 5 de agosto de 1888, sem avisar Karl, Bertha decidiu agir. Acompanhada
de seus filhos adolescentes, Eugen (15 anos) e Richard (13 anos), ela pegou o
protótipo Modelo III na oficina e partiu para Pforzheim, onde morava sua mãe, a
cerca de 106 km de distância.
Para
evitar acordar Karl, os filhos empurraram o carro até a rua antes de dar a
partida. Essa viagem, realizada sem permissão das autoridades e em segredo,
marcou a primeira jornada de longa distância de um automóvel na história.
A rota
não foi fácil. As estradas da época, projetadas para carroças puxadas por
cavalos, eram irregulares e desafiadoras. O carro, com um motor de 2,5 cavalos
de potência, enfrentou subidas íngremes que exigiram que Eugen e Richard o empurrassem
em vários trechos.
O
tanque de combustível, com apenas 4,5 litros, obrigava Bertha a reabastecer com
ligroína, um derivado de petróleo vendido em farmácias como solvente. Em
Wiesloch, ela parou em uma farmácia para comprar mais ligroína, transformando o
local no primeiro "posto de combustível" do mundo.
Bertha
também demonstrou sua habilidade técnica durante a viagem. Quando o tubo de
combustível entupiu, ela o desobstruiu com um alfinete de chapéu. Para isolar
um fio elétrico exposto, usou sua cinta-liga. Em outro momento, parou em um
sapateiro para reforçar os freios com correias de couro, uma melhoria que mais
tarde seria incorporada ao projeto.
Para
manter o motor funcionando, ela reabastecia o sistema de refrigeração com água
em cada parada. Sua engenhosidade e determinação foram cruciais para completar
a jornada.
Ao
chegar a Pforzheim ao entardecer, Bertha enviou um telegrama a Karl, informando
que a viagem havia sido um sucesso. Três dias depois, ela fez o trajeto de
volta, percorrendo uma rota ligeiramente diferente.
A
viagem chamou a atenção de todos que cruzaram seu caminho, e a notícia da
"carruagem sem cavalos" espalhou-se rapidamente, gerando o interesse
que Bertha havia previsto.
O Impacto da Viagem
A
jornada de Bertha não foi apenas um feito de coragem; ela teve consequências
práticas e duradouras. Ao relatar a Karl os desafios enfrentados na estrada,
Bertha sugeriu melhorias cruciais, como a adição de uma marcha mais baixa para
subidas íngremes e freios mais resistentes.
Essas
mudanças foram incorporadas aos modelos subsequentes do Patent-Motorwagen,
tornando-o mais confiável e comercialmente viável. A viagem também demonstrou a
importância dos test-drives, uma prática que se tornaria essencial na indústria
automobilística.
A
publicidade gerada pela aventura de Bertha impulsionou as vendas da Benz &
Cie. Em 1886, apenas alguns protótipos haviam sido construídos, mas, na década
seguinte, cerca de 25 unidades do Patent-Motorwagen foram produzidas. A empresa
cresceu rapidamente, tornando-se a maior montadora do mundo no início do século
XX e estabelecendo as bases para a moderna Mercedes-Benz.
Vida Pessoal e Legado
Bertha
e Karl tiveram cinco filhos: Eugen, Richard, Clara, Thilde e Ellen. Apesar das
dificuldades financeiras e das pressões sociais, o casal permaneceu unido, com
Bertha sendo o pilar que sustentava a família e os negócios. Em 1906, eles se
mudaram para Ladenburg, onde a Benz & Cie. continuou a prosperar.
Em
1944, aos 95 anos, Bertha recebeu o título de Senadora Honorária do Instituto
de Tecnologia de Karlsruhe, onde Karl havia estudado. Dois dias após seu
aniversário, em 5 de maio de 1944, ela faleceu em Ladenburg.
Karl,
que morreu em 1929, deixou um testemunho emocionante sobre o papel de Bertha em
sua vida: “Só uma pessoa ficou comigo neste pequeno barco da vida que parecia
destinado a afundar. Esta pessoa foi minha esposa. Corajosa e resoluta, ela
içou as velas da esperança.”
Um Legado Além do Automóvel
A
história de Bertha Benz vai além da criação do automóvel. Sua determinação
desafiou as barreiras de gênero de sua época, mostrando que as mulheres podiam
ser protagonistas em áreas dominadas por homens, como a engenharia e os
negócios.
Sua
viagem de 1888 não apenas colocou o automóvel no mapa, mas também inspirou
gerações de mulheres a perseguirem seus sonhos, independentemente das
limitações impostas pela sociedade.
Hoje,
Bertha é celebrada como uma pioneira. A rota de Mannheim a Pforzheim foi
transformada na Bertha Benz Memorial Route, um marco turístico que homenageia
sua façanha.
Sua
história também é contada em livros, documentários e exposições, como as do
Museu Mercedes-Benz em Stuttgart. Bertha Benz não apenas dirigiu o primeiro
automóvel; ela dirigiu o futuro.
A Primeira Viagem de Automóvel










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