Não sei
o que me deixa mais perplexo: se são as atitudes que nos ferem ou a
impressionante falta de noção de quem as comete. Ter que apontar a alguém o
erro que cometeu, quando ele é tão evidente, já é por si só um sinal de
desrespeito.
Revela
que, em momento algum, essa pessoa parou para considerar os sentimentos
alheios. Há quem viva imerso numa bolha de egoísmo tão densa que só o que
importa é o que sente, como se o mundo girasse exclusivamente ao seu redor.
E o
pior é que, mesmo quando você reúne coragem para expressar o quanto algo te
magoou, essas pessoas encontram justificativas para o injustificável. Pior
ainda: têm a habilidade de virar o jogo, fazendo com que, no fim, você se sinta
culpado.
Elas te
machucam, e você é quem acaba carregando o peso da culpa. É uma capacidade
quase sobrenatural de nos reduzir a pó, de relativizar as nossas dores em favor
das delas - porque, claro, as dores delas sempre parecem maiores, mais
urgentes, mais válidas.
Mas a
vida não é uma competição para medir quem sofre mais. E, convenhamos, muitas
vezes as dores que elas carregam são frutos das escolhas que fizeram, das
sementes que plantaram. Não têm o direito de descarregar isso em ninguém.
A
responsabilidade é delas, exclusivamente delas. Só que, para aliviar o próprio
fardo, precisam que alguém pague o preço. E quem acaba sofrendo? Justamente
quem esteve ali, cuidando, amparando, oferecendo o coração. Enquanto isso, a
vida delas segue em frente, leve, sem remorsos, sem um pingo de arrependimento.
Essas
pessoas não se responsabilizam por nada - nem pelas palavras que jogam ao
vento, nem pelos atos que deixam cicatrizes. O ego delas é maior do que elas
próprias, um gigante que as cega e as impede de olhar para dentro.
E,
nessa cegueira, vão ferindo quem cruza seu caminho, não por maldade pura, mas
por preguiça, por covardia. Olhar para si mesmas dói. Exige esforço,
autocrítica, mudança. É mais fácil viver no piloto automático, anestesiadas,
fingindo que nada sentem, que nada as atinge.
Até que
a vida, como sempre faz, apresente a conta. Até que um dia elas olhem ao redor
e percebam que não sobrou ninguém. Porque confundem bondade com fraqueza,
trocam o “B” de boa pelo “B” de burro, sem jamais imaginar que estão sendo
observadas. Sim, a gente vê. A gente percebe o desrespeito, a falta de empatia
que transborda e não cabe em lugar nenhum.
Bastaria,
por dois minutos, que se perguntassem: “E se fosse comigo?”. Bastaria um
instante de pausa para que o ciclo se quebrasse. Mas não. Elas seguem, alheias,
enquanto a gente sente o golpe vindo de longe.
A
intuição não falha. Ela grita, alerta, acende todos os sinais. Você sabe quando
estão tentando manipular, quando jogam a carta da vitimização para te desarmar.
E,
quando tudo desmorona e você percebe que estava certo o tempo todo, o que
resta? O desejo de uma conversa honesta, de um pedido de desculpas que nunca
vem. Em vez disso, você enfrenta um peito inflado de ego, incapaz de reconhecer
que os outros também importam, que também têm valor.
Essa
falta de noção, para mim, é mais gritante do que os atos em si. Tudo se torna
tóxico. Você começa a questionar cada detalhe, cada memória, e a verdade que
imaginava desmancha-se como fumaça. A intuição, mais uma vez, berra que nada
era como você pensava.
A
cabeça vira um turbilhão de perguntas sem resposta, um labirinto de “por quês”
que te consomem dia após dia. Todo o tempo que você investiu, todo o cuidado
que ofereceu, parece ter sido em vão. Você se sente pequeno, descartável, como
se nada do que fez tivesse deixado marca.
Mas não
foi em vão. Não para você. Porque, no fundo, você sabe que deu o melhor de si.
E essa paz de espírito - a certeza de que foi verdadeiro, de que agiu com o
coração - ninguém pode roubar.
As
mágoas doem, sim, mas elas também ensinam. Ensinam a reconhecer quem merece
estar ao seu lado e quem só passa para sugar o que você tem de bom. Ensinam
que, às vezes, o silêncio é a melhor resposta, e que o chocolate, bem, o
chocolate não dói - ele acolhe, consola, e te lembra que nem tudo precisa ser
amargo.
E
talvez seja essa a grande lição: enquanto elas seguem intocadas pelo peso das
próprias ações, você cresce. Você aprende a se proteger, a valorizar quem
realmente vê você. Porque, no fim das contas, o ego delas pode ser gigante, mas
a sua força, essa sim, é infinita.
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