Hoje,
as palavras me abandonaram. Não encontro versos, não encontro vozes: hoje,
tenho apenas silêncios. Eles pesam no peito, densos, carregados de ecos que não
ousam se formar.
São
silêncios que carregam o luto por todas as palavras ignoradas, aquelas que
caíram no vazio, despercebidas, como folhas secas levadas pelo vento. São
silêncios que guardam a dor das palavras perseguidas, caçadas por olhares de
desdém ou mãos que as sufocaram antes que ganhassem vida.
E, mais
ainda, são silêncios pelas palavras assassinadas - aquelas que, cheias de
verdade, foram caladas pela força bruta do medo ou da intolerância. Há também
as palavras silenciadas, aquelas que nunca tiveram chance de respirar.
Palavras
que se formaram na mente, mas foram engolidas pelo receio, pela dúvida, pelo
peso de um mundo que nem sempre está pronto para ouvi-las.
E há,
ainda, as palavras tímidas, frágeis, que permanecem por dizer, escondidas nos
cantos da alma, caladas por uma timidez que é quase reverência ao próprio
silêncio.
Hoje,
enquanto caminho pelas ruas de uma cidade que murmura seus próprios segredos,
sinto esses silêncios me acompanharem. O sol poente tinge o céu de laranja, e o
barulho distante dos carros parece apenas um pano de fundo para o vazio que
carrego.
Ontem,
numa roda de amigos, vi palavras morrerem antes de nascer - um comentário
abafado por risadas, uma confissão interrompida por um olhar que julga.
Vi, nos
olhos de uma amiga, um brilho que se apagou quando sua voz hesitou, engolida
pelo medo de não ser suficiente. E, em mim, senti o mesmo: o peso de tudo que
não disse, de tudo que poderia ter mudado se eu tivesse encontrado coragem.
Esses
silêncios não são apenas ausências. Eles são presenças, são histórias não
contadas, são verdades que se escondem nas sombras. São as conversas que não
tivemos, os pedidos de perdão que ficaram presos na garganta, os "eu te
amo" que escaparam no último instante.
São os
gritos que nunca ecoaram, mas que ainda reverberam dentro de nós. E, no
entanto, há uma beleza triste nesses silêncios.
Eles
nos ensinam a ouvir o que não é dito, a enxergar o que se esconde por trás dos
olhos de quem amamos. Hoje, sentado à beira de um rio que corre tranquilo,
observo as águas que refletem o céu e penso que, talvez, o silêncio também seja
uma forma de falar.
Um
silêncio que guarda, que protege, que espera o momento certo para se
transformar em palavra. Um silêncio que, mesmo calado, é cheio de vida.
Por
todas as palavras que não foram ditas, por todas as que ainda virão, hoje eu
abraço meus silêncios. Eles são meus, são parte de mim, e neles encontro a
promessa de que, um dia, as palavras certas encontrarão seu caminho.
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