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domingo, novembro 17, 2024

Silêncios


Hoje, as palavras me abandonaram. Não encontro versos, não encontro vozes: hoje, tenho apenas silêncios. Eles pesam no peito, densos, carregados de ecos que não ousam se formar.

São silêncios que carregam o luto por todas as palavras ignoradas, aquelas que caíram no vazio, despercebidas, como folhas secas levadas pelo vento. São silêncios que guardam a dor das palavras perseguidas, caçadas por olhares de desdém ou mãos que as sufocaram antes que ganhassem vida.

E, mais ainda, são silêncios pelas palavras assassinadas - aquelas que, cheias de verdade, foram caladas pela força bruta do medo ou da intolerância. Há também as palavras silenciadas, aquelas que nunca tiveram chance de respirar.

Palavras que se formaram na mente, mas foram engolidas pelo receio, pela dúvida, pelo peso de um mundo que nem sempre está pronto para ouvi-las.

E há, ainda, as palavras tímidas, frágeis, que permanecem por dizer, escondidas nos cantos da alma, caladas por uma timidez que é quase reverência ao próprio silêncio.

Hoje, enquanto caminho pelas ruas de uma cidade que murmura seus próprios segredos, sinto esses silêncios me acompanharem. O sol poente tinge o céu de laranja, e o barulho distante dos carros parece apenas um pano de fundo para o vazio que carrego.

Ontem, numa roda de amigos, vi palavras morrerem antes de nascer - um comentário abafado por risadas, uma confissão interrompida por um olhar que julga.

Vi, nos olhos de uma amiga, um brilho que se apagou quando sua voz hesitou, engolida pelo medo de não ser suficiente. E, em mim, senti o mesmo: o peso de tudo que não disse, de tudo que poderia ter mudado se eu tivesse encontrado coragem.

Esses silêncios não são apenas ausências. Eles são presenças, são histórias não contadas, são verdades que se escondem nas sombras. São as conversas que não tivemos, os pedidos de perdão que ficaram presos na garganta, os "eu te amo" que escaparam no último instante.

São os gritos que nunca ecoaram, mas que ainda reverberam dentro de nós. E, no entanto, há uma beleza triste nesses silêncios.

Eles nos ensinam a ouvir o que não é dito, a enxergar o que se esconde por trás dos olhos de quem amamos. Hoje, sentado à beira de um rio que corre tranquilo, observo as águas que refletem o céu e penso que, talvez, o silêncio também seja uma forma de falar.

Um silêncio que guarda, que protege, que espera o momento certo para se transformar em palavra. Um silêncio que, mesmo calado, é cheio de vida.

Por todas as palavras que não foram ditas, por todas as que ainda virão, hoje eu abraço meus silêncios. Eles são meus, são parte de mim, e neles encontro a promessa de que, um dia, as palavras certas encontrarão seu caminho.

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