Num
lugar feito para destruir vidas, onde a compaixão era crime e a esperança
parecia extinta - algo inimaginável aconteceu. Uma jovem prisioneira judia e um
guarda das SS se apaixonaram.
Ela
era Helena Citrónová, uma eslovaca de 22 anos presa em março de 1942 por ser
judia. Chegou a Auschwitz-Birkenau com o primeiro transporte de mulheres
eslovacas.
Tinha
voz de soprano, cantava antes da guerra em corais de Bratislava. O cabelo foi raspado,
o nome trocado por um número: A-1545.Ele, Franz Wunsch, austríaco de 21 anos,
alistado nas SS em 1940. Chegou a Auschwitz em 1942 como Rotten Führer,
promovido a Unterscharführer.
Supervisionava
o “Kanada”, o setor onde chegavam os bens roubados dos deportados - roupas,
joias, fotos de família. Era bonito, loiro, falava alemão com sotaque vienense.
Matava por dever, não por prazer.
Tudo começou com uma canção.
Em
1943, aniversário de um oficial. Os prisioneiros foram obrigados a entreter.
Helena foi chamada. Cantou “Liebe war es nie” (“Nunca foi amor”), uma canção de
amor proibida no campo.
A
voz dela - clara, trêmula, mas firme - cortou o ar gelado. Franz estava de
guarda. Parou. Olhou. Não piscou. No dia seguinte, ele a procurou. Mandou
chamá-la ao Kanada. Deu-lhe um pedaço de pão com manteiga. Disse apenas: “Cante
de novo.” Ela cantou. Ele ouviu.
Depois,
trouxe chocolate. Um pente. Um bilhete: “Du bist schön.” (Você é bonita.) O
amor cresceu em segredo. Ele a tirou do trabalho pesado. Colocou-a no Kanada,
onde havia menos fome.
Dava-lhe
comida, roupas, remédios. Quando a irmã de Helena, Róžka, foi selecionada para
a câmara de gás em 1944, Franz interveio. Correu até a rampa, gritou o nome
dela, arrancou-a da fila.
Róžka
sobreviveu. Helena nunca esqueceu. Helena disse depois, em entrevista à BBC em
1996:
“Ele
estava apaixonado por mim. Eu não o amava. Eu o usava. Mas sem ele, eu estaria
morta. E minha irmã também.” Não foi conto de fadas. Foi sobrevivência. Foi
medo. Foi culpa.
Franz
escrevia poemas para ela. Guardava um retrato dela escondido no uniforme. Dizia
que desertaria se pudesse. Ela pedia: “Leve-me embora.” Ele respondia: “Não
posso. Morreria. E você também.”
Em
janeiro de 1945, Auschwitz foi evacuado. Marcha da morte. Helena sobreviveu.
Franz fugiu para a Áustria. Casou-se com outra. Teve filhos. Nunca falou dela.
Depois
da guerra: Helena emigrou para Israel. Casou-se. Teve filhos. Cantou em corais
novamente. Guardou silêncio por décadas. Em 1972, Franz foi julgado em Viena
por crimes de guerra.
Acusado
de participar de seleções e espancamentos. Helena voou da Israel para
testemunhar. Subiu ao banco. Olhou para ele. Disse:
“Ele
me salvou a vida. Salvou minha irmã. Nunca o vi bater em ninguém. Ele era bom
comigo.” O tribunal ficou em silêncio. Franz chorou. Foi condenado à prisão
perpétua - mas por pertencer às SS, não por atos específicos de crueldade.
Morreu
em 2009, aos 87 anos, em liberdade condicional. Helena morreu em 2007, aos 85.
Nunca mais se viram. Em 2003, o documentário Love in the Shadow of Death reuniu
gravações dela e cartas dele.
Ela
disse, já idosa:
“Eu não o odiava. Como poderia? Ele me deu vida. Mas também era parte do inferno.” Uma chama de amor que brilhou - fraca, suja, contraditória - na noite mais escura da humanidade. Não redime o mal. Não apaga o horror. Mas lembra: mesmo no pior lugar, algo humano pode sobreviver.









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