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segunda-feira, novembro 03, 2025

As Formigas no Tronco: A Ilusão de Controle no Brasil Contemporâneo


 

Os burocratas do governo lembram formigas sobre um tronco que desce o rio: cada uma acredita estar no comando, mas a cachoeira se aproxima - e nenhuma percebe o perigo iminente.

Essa metáfora descreve com precisão a ilusão de controle em meio ao caos, onde decisões míopes e ideológicas substituem o senso de responsabilidade e o planejamento de longo prazo.

O atual governo do Partido dos Trabalhadores parece repetir velhos erros com novas justificativas. Navega sem rumo, impulsionado por correntes partidárias e convicções doutrinárias, ignorando os sinais evidentes de crise.

Desde o retorno ao poder em 2023, o país revive uma combinação perigosa de populismo econômico, gasto público descontrolado e retórica política que mascara ineficiência.

Panorama Histórico: A Crônica de uma Crise Anunciada

Para entender o presente, é necessário recuar algumas décadas.

Nos anos 2000, o Brasil viveu um ciclo de otimismo econômico impulsionado pelo boom das commodities - soja, minério, petróleo. Sob os governos Lula (2003–2010), o país cresceu, reduziu a pobreza e conquistou prestígio internacional.

Contudo, grande parte desse progresso foi sustentada por fatores externos e não por reformas estruturais. A máquina pública se expandiu, o crédito foi artificialmente estimulado e o Estado se tornou um gigante oneroso.

Com a chegada de Dilma Rousseff (2011–2016), a política econômica se transformou em um experimento intervencionista: congelamento de tarifas, manipulação de preços de combustíveis, controle de juros e desonerações pontuais que corroeram a base fiscal.

O resultado foi uma recessão profunda em 2015-2016, com inflação em alta, desemprego recorde e o país mergulhado em escândalos de corrupção, especialmente os revelados pela Operação Lava Jato.

O período 2016–2022 trouxe alternância e tentativas de ajuste: Michel Temer aprovou o teto de gastos, e Jair Bolsonaro, com Paulo Guedes, buscou reformas liberais - previdenciária, trabalhista e administrativa.

Contudo, a pandemia de 2020 exigiu gastos emergenciais massivos, deteriorando novamente as contas públicas e paralisando reformas. Ainda assim, a inflação foi controlada em parte do período, e o país mostrou alguma recuperação no pós-pandemia.

Mas com o retorno do PT em 2023, muitos viram a história se repetir. O discurso do “Estado forte” voltou, e com ele, subsídios, programas assistencialistas e intervencionismo estatal.

A dívida pública - que já era alta - ultrapassou 77% do PIB em 2025, segundo dados recentes do Banco Central e do FMI. O déficit primário deve fechar o ano em torno de 1% do PIB, apesar das promessas de equilíbrio fiscal.

A inflação ronda 5% ao ano, e o crescimento não ultrapassa 2,3%, insuficiente para reduzir desigualdades ou gerar empregos sustentáveis.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tornou-se símbolo dessa desorientação: ora promete austeridade, ora defende aumento de impostos; fala em credibilidade, mas sustenta políticas que afastam investidores.

É como a formiga que caiu do tronco, agarrando-se a folhas e galhos, sem perceber que está sendo arrastada pela correnteza.

O Tronco à Deriva: O Presente em Desagregação

O país enfrenta infraestrutura precária, educação estagnada e um ambiente de negócios hostil. As rodovias e portos continuam obsoletos; o Brasil segue na lanterna do PISA; e a burocracia paralisa o empreendedorismo.

Escândalos recentes envolvendo estatais, como novas denúncias na Petrobras e nos Correios, reforçam a sensação de que a ética pública se tornou um discurso vazio.

Enquanto isso, o real se desvaloriza - chegando a picos de R$ 6 por dólar em momentos de incerteza - e os investimentos estrangeiros fogem, reduzindo a competitividade e o potencial de crescimento.

O país avança perigosamente rumo a uma recessão técnica, com o desemprego em ascensão, especialmente nos setores industriais e de serviços.

A geração que hoje chega à vida adulta herda um país mais caro, mais lento e menos esperançoso - o resultado previsível de décadas de decisões políticas guiadas por interesses eleitorais e não por visão de futuro.

O Futuro: Antes da Cachoeira

Recuperar a confiança exigirá reformas profundas, corte de privilégios, modernização do Estado e foco em produtividade. É preciso um governo que enxergue o rio de cima, e não apenas o galho à frente.

Enquanto isso, as formigas continuam sobre o tronco - discutindo, discursando, criando narrativas - sem notar que o som da cachoeira já ecoa ao longe. E quando o tronco despencar, será tarde demais para descobrir quem realmente estava no controle.

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