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sexta-feira, dezembro 26, 2025

Pai e filho falando sobre as mulheres no futuro




Como as Mulheres Dominaram o Mundo, Crônica humorística de Luís Fernando Veríssimo

Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031, sobre como as mulheres dominaram o mundo.

- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho. Elas planejaram o negócio discretamente, para que a gente não notasse. Primeiro, pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião.

Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: diretoras de orçamento, empresárias, chefes de gabinete, gerentes disso ou daquilo. Controlavam as finanças das empresas, das famílias e, aos poucos, dos governos inteiros.

- E aí, papai?

- Ah, os homens foram ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, a gente pensava que o assunto fosse novela ou receita de bolo. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi, querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes.

"Celulite" eram as células que formavam a organização secreta. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "o regime". E frases como "preciso emagrecer" significavam "precisamos derrubar mais um patriarca”.

- E vocês não perceberam nada?

- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam, como carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder o lugar em naufrágios. Essas coisas de "homem de verdade".

Mal sabíamos que cada favor era um ponto a mais no plano delas.

- Aí veio o golpe mundial?

- Sim, o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa completa! Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já te contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais, eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica.

Pobre presidente. Imagina só: o escândalo explodiu na mídia global, o mundo inteiro riu do "machão" caído, e ninguém percebeu que era o sinal combinado.

- Como era mesmo o nome dele?

- William, acho. Tinha um apelido engraçado, mas esqueci... Desculpa, filho, já faz tanto tempo.

- Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue!

- Naquela manhã, a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Em poucas horas, elas assumiram o poder em todo o planeta: parlamentos tomados, bancos centrais ocupados, exércitos comandados por generais de salto alto.

Aquela famosa torre do relógio em Londres chamava-se Big Ben, e não Big Betty, como agora. Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado nacional. Essa secretária-geral da ONU era uma simples cantora pop. Depois trocou o nome de Madonna para Mandona!

- Pai, conta mais!

- Bem, filho. O resto você já sabe, mas vou lembrar alguns detalhes gloriosos da nova era. Instituíram o "Robô Troca-Pneu" como equipamento obrigatório em todos os carros - adeus, homem suando na beira da estrada. Criaram a Lei do "Já-Prá-Casa", proibindo os homens de tomar cerveja com os amigos depois do trabalho.

Proibiram guerras desnecessárias, mas inventaram a famigerada Semana da TPM, uma vez por mês, com alertas vermelhos nos noticiários.

- TPM?

- Sim, TPM: Temporada Provável de Mísseis. É quando elas ficam irritadíssimas, e o mundo inteiro corre perigo de confronto nuclear. Os homens aprendem rapidinho a ficar quietinhos, oferecer chocolate e dizer "sim, querida" para tudo.

- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai.

- Sssshhh!!! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas!

Essa crônica original de Luís Fernando Veríssimo, publicada em livros como "Comédias da Vida Privada" e "As Mentiras que os Homens Contam", é uma sátira leve e exagerada sobre estereótipos de gênero, brincando com eventos reais dos anos 90 como o escândalo Clinton-Lewinsky.



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