Como as Mulheres Dominaram o Mundo, Crônica
humorística de Luís Fernando Veríssimo
Conversa entre pai e filho, por volta do ano
de 2031, sobre como as mulheres dominaram o mundo.
- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho.
Elas planejaram o negócio discretamente, para que a gente não notasse.
Primeiro, pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita
bola para isso na ocasião.
Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas
conquistaram cargos estratégicos: diretoras de orçamento, empresárias, chefes
de gabinete, gerentes disso ou daquilo. Controlavam as finanças das empresas,
das famílias e, aos poucos, dos governos inteiros.
- E aí, papai?
- Ah, os homens foram ingênuos. Enquanto elas
conversavam ao telefone durante horas a fio, a gente pensava que o assunto
fosse novela ou receita de bolo. Triste engano. De fato, era a rebelião se
expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi, querida!", por
exemplo, era a senha que identificava as líderes.
"Celulite" eram as células que
formavam a organização secreta. Quando queriam se referir aos maridos, diziam
"o regime". E frases como "preciso emagrecer" significavam
"precisamos derrubar mais um patriarca”.
- E vocês não perceberam nada?
- Ficávamos jogando futebol no clube,
despreocupados. E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam, como
carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona,
ceder o lugar em naufrágios. Essas coisas de "homem de verdade".
Mal sabíamos que cada favor era um ponto a
mais no plano delas.
- Aí veio o golpe mundial?
- Sim, o golpe. O estopim foi o episódio
Hillary-Mônica. Uma farsa completa! Tudo armado para desmoralizar o homem mais
poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já te contei, né? A
esposa e a amante, que na TV posavam de rivais, eram, no fundo, cúmplices de
uma trama diabólica.
Pobre presidente. Imagina só: o escândalo
explodiu na mídia global, o mundo inteiro riu do "machão" caído, e
ninguém percebeu que era o sinal combinado.
- Como era mesmo o nome dele?
- William, acho. Tinha um apelido engraçado,
mas esqueci... Desculpa, filho, já faz tanto tempo.
- Tudo bem, papai. Não tem importância.
Continue!
- Naquela manhã, a Casa Branca apareceu
pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro
aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Em poucas horas, elas assumiram o
poder em todo o planeta: parlamentos tomados, bancos centrais ocupados,
exércitos comandados por generais de salto alto.
Aquela famosa torre do relógio em Londres
chamava-se Big Ben, e não Big Betty, como agora. Só os homens disputavam a Copa
do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado nacional. Essa
secretária-geral da ONU era uma simples cantora pop. Depois trocou o nome de
Madonna para Mandona!
- Pai, conta mais!
- Bem, filho. O resto você já sabe, mas vou
lembrar alguns detalhes gloriosos da nova era. Instituíram o "Robô
Troca-Pneu" como equipamento obrigatório em todos os carros - adeus, homem
suando na beira da estrada. Criaram a Lei do "Já-Prá-Casa", proibindo
os homens de tomar cerveja com os amigos depois do trabalho.
Proibiram guerras desnecessárias, mas
inventaram a famigerada Semana da TPM, uma vez por mês, com alertas vermelhos
nos noticiários.
- TPM?
- Sim, TPM: Temporada Provável de Mísseis. É
quando elas ficam irritadíssimas, e o mundo inteiro corre perigo de confronto
nuclear. Os homens aprendem rapidinho a ficar quietinhos, oferecer chocolate e
dizer "sim, querida" para tudo.
- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai.
- Sssshhh!!! Escutei barulho de carro
chegando. Disfarça e continua picando essas batatas!
Essa crônica original de Luís Fernando
Veríssimo, publicada em livros como "Comédias da Vida Privada" e
"As Mentiras que os Homens Contam", é uma sátira leve e exagerada
sobre estereótipos de gênero, brincando com eventos reais dos anos 90 como o
escândalo Clinton-Lewinsky.
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