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sexta-feira, junho 06, 2025

Sentidos

 

O que você veria se tivesse apenas três dias de visão? A resposta de Helen Keller.

Helen Keller, uma mulher que viveu a maior parte de sua vida imersa na escuridão e no silêncio, pois ficou cega e surda aos 19 meses de idade devido a uma doença, oferece uma perspectiva única e profundamente tocante sobre o valor da visão.

Em seu ensaio intitulado Três Dias para Ver (Three Days to See), publicado em 1933 na revista The Atlantic Monthly, ela reflete sobre o que faria se, milagrosamente, pudesse enxergar por apenas três dias.

Sua resposta não é apenas uma lista de desejos, mas uma lição de gratidão, presença e apreciação pelas maravilhas do mundo que muitas vezes passam despercebidas por aqueles que enxergam.

O Primeiro Dia: A Beleza das Pessoas e da Natureza

No primeiro dia, Helen imaginava dedicar seu tempo a contemplar as pessoas que amava. Ela descreve o desejo de olhar nos olhos de sua professora e mentora, Anne Sullivan, a quem chamava de “a luz de sua escuridão”.

Anne foi a pessoa que, com paciência e dedicação, desvendou o mundo da comunicação para Helen, ensinando-a a compreender a linguagem por meio do tato. Olhar o rosto de Anne seria, para Helen, uma forma de expressar gratidão e capturar a essência de sua bondade e força.

Além disso, Helen queria observar a simplicidade da natureza: o verde vibrante de uma árvore, o voo de um pássaro, o brilho do sol refletido em uma gota de orvalho.

Ela, que conhecia o mundo apenas pelo tato, olfato e sensações, ansiava por absorver a beleza visual que tantas vezes é subestimada. Esse primeiro dia seria uma celebração do amor humano e da majestade natural, um mergulho naquilo que dá sentido à existência.

O Segundo Dia: A Riqueza da Cultura Humana

No segundo dia, Helen planejava explorar a história e a cultura da humanidade. Ela visitaria museus, como o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, para admirar obras-primas da pintura e da escultura.

Para ela, a arte era uma janela para a alma humana, uma forma de compreender as emoções, lutas e aspirações de diferentes eras. Helen também desejava assistir a uma peça de teatro, para captar as nuances das expressões faciais e dos movimentos dos atores, algo que ela só podia imaginar por meio das descrições de outros.

Esse dia seria uma jornada pela criatividade e pela expressão humana, uma tentativa de absorver séculos de história em poucas horas. Helen, que aprendeu sobre o mundo por meio de livros em braille e relatos, queria ver com os próprios olhos o que a humanidade construiu para transcender o tempo.

O Terceiro Dia: A Vida Cotidiana e Sua Magia

No terceiro e último dia, Helen voltaria sua atenção para a vida cotidiana, para as cenas comuns que passam despercebidas pela maioria. Ela caminharia pelas ruas de uma cidade como Nova York, observando o ritmo frenético dos trabalhadores, o sorriso de uma criança, o movimento dos carros e as luzes dos prédios à noite.

Para ela, essas imagens aparentemente banais eram extraordinárias, pois revelavam a energia pulsante da vida humana. Helen também queria ver o nascer e o pôr do sol, capturando a transição da luz para a escuridão.

Esse último dia seria uma ode à simplicidade, um lembrete de que mesmo os momentos mais comuns são repletos de beleza quando vistos com olhos de gratidão.

O Contexto de Helen Keller

Helen Keller nasceu em 1880, no Alabama, Estados Unidos, e perdeu a visão e a audição devido a uma doença, possivelmente escarlatina ou meningite. Sua vida mudou aos seis anos, quando Anne Sullivan chegou para ensiná-la.

Por meio de um método inovador, Anne soletrava palavras na palma da mão de Helen, conectando objetos e conceitos. O momento em que Helen compreendeu que a palavra “água” soletrada em sua mão correspondia ao líquido que tocava foi um marco, descrito em sua autobiografia The Story of My Life (1903).

A partir daí, Helen tornou-se uma figura inspiradora, graduando-se com honras na Radcliffe College, escrevendo livros, dando palestras e defendendo os direitos das pessoas com deficiência.

Seu ensaio Três Dias para Ver reflete não apenas sua imaginação, mas também sua profunda conexão com o mundo, apesar das limitações sensoriais.

Uma Lição Universal

A reflexão de Helen Keller transcende sua condição pessoal. Ela nos convida a repensar como usamos nossos sentidos e como valorizamos o que temos. Em um mundo acelerado, onde a tecnologia e as distrações muitas vezes nos desconectam do presente, suas palavras são um lembrete para olhar com atenção, amar com profundidade e viver com gratidão.

Se alguém que nunca viu ou ouviu pode imaginar um mundo tão rico em apenas três dias, o que nós, que temos esses sentidos, podemos fazer com o tempo que nos é dado?

Keller morreu aos 87 anos, enquanto dormia, às 3h35 de 1º de junho de 1968, em sua residência em Easton, Connecticut, dias após sofrer um ataque cardíaco. Após a realização do funeral, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram depositadas na Catedral Nacional de Washington próxima as de Sullivan e Thomson.


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