O que
você veria se tivesse apenas três dias de visão? A resposta de Helen Keller.
Helen
Keller, uma mulher que viveu a maior parte de sua vida imersa na escuridão e no
silêncio, pois ficou cega e surda aos 19 meses de idade devido a uma doença,
oferece uma perspectiva única e profundamente tocante sobre o valor da visão.
Em seu
ensaio intitulado Três Dias para Ver (Three Days to See), publicado em 1933 na
revista The Atlantic Monthly, ela reflete sobre o que faria se, milagrosamente,
pudesse enxergar por apenas três dias.
Sua
resposta não é apenas uma lista de desejos, mas uma lição de gratidão, presença
e apreciação pelas maravilhas do mundo que muitas vezes passam despercebidas
por aqueles que enxergam.
O
Primeiro Dia: A Beleza das Pessoas e da Natureza
No
primeiro dia, Helen imaginava dedicar seu tempo a contemplar as pessoas que
amava. Ela descreve o desejo de olhar nos olhos de sua professora e mentora,
Anne Sullivan, a quem chamava de “a luz de sua escuridão”.
Anne
foi a pessoa que, com paciência e dedicação, desvendou o mundo da comunicação
para Helen, ensinando-a a compreender a linguagem por meio do tato. Olhar o
rosto de Anne seria, para Helen, uma forma de expressar gratidão e capturar a
essência de sua bondade e força.
Além
disso, Helen queria observar a simplicidade da natureza: o verde vibrante de
uma árvore, o voo de um pássaro, o brilho do sol refletido em uma gota de
orvalho.
Ela,
que conhecia o mundo apenas pelo tato, olfato e sensações, ansiava por absorver
a beleza visual que tantas vezes é subestimada. Esse primeiro dia seria uma
celebração do amor humano e da majestade natural, um mergulho naquilo que dá
sentido à existência.
O
Segundo Dia: A Riqueza da Cultura Humana
No
segundo dia, Helen planejava explorar a história e a cultura da humanidade. Ela
visitaria museus, como o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, para admirar
obras-primas da pintura e da escultura.
Para
ela, a arte era uma janela para a alma humana, uma forma de compreender as
emoções, lutas e aspirações de diferentes eras. Helen também desejava assistir
a uma peça de teatro, para captar as nuances das expressões faciais e dos
movimentos dos atores, algo que ela só podia imaginar por meio das descrições
de outros.
Esse
dia seria uma jornada pela criatividade e pela expressão humana, uma tentativa
de absorver séculos de história em poucas horas. Helen, que aprendeu sobre o
mundo por meio de livros em braille e relatos, queria ver com os próprios olhos
o que a humanidade construiu para transcender o tempo.
O
Terceiro Dia: A Vida Cotidiana e Sua Magia
No
terceiro e último dia, Helen voltaria sua atenção para a vida cotidiana, para
as cenas comuns que passam despercebidas pela maioria. Ela caminharia pelas
ruas de uma cidade como Nova York, observando o ritmo frenético dos
trabalhadores, o sorriso de uma criança, o movimento dos carros e as luzes dos prédios
à noite.
Para
ela, essas imagens aparentemente banais eram extraordinárias, pois revelavam a
energia pulsante da vida humana. Helen também queria ver o nascer e o pôr do
sol, capturando a transição da luz para a escuridão.
Esse
último dia seria uma ode à simplicidade, um lembrete de que mesmo os momentos
mais comuns são repletos de beleza quando vistos com olhos de gratidão.
O
Contexto de Helen Keller
Helen
Keller nasceu em 1880, no Alabama, Estados Unidos, e perdeu a visão e a audição
devido a uma doença, possivelmente escarlatina ou meningite. Sua vida mudou aos
seis anos, quando Anne Sullivan chegou para ensiná-la.
Por
meio de um método inovador, Anne soletrava palavras na palma da mão de Helen,
conectando objetos e conceitos. O momento em que Helen compreendeu que a
palavra “água” soletrada em sua mão correspondia ao líquido que tocava foi um
marco, descrito em sua autobiografia The Story of My Life (1903).
A
partir daí, Helen tornou-se uma figura inspiradora, graduando-se com honras na
Radcliffe College, escrevendo livros, dando palestras e defendendo os direitos
das pessoas com deficiência.
Seu
ensaio Três Dias para Ver reflete não apenas sua imaginação, mas também sua
profunda conexão com o mundo, apesar das limitações sensoriais.
Uma
Lição Universal
A
reflexão de Helen Keller transcende sua condição pessoal. Ela nos convida a
repensar como usamos nossos sentidos e como valorizamos o que temos. Em um
mundo acelerado, onde a tecnologia e as distrações muitas vezes nos desconectam
do presente, suas palavras são um lembrete para olhar com atenção, amar com
profundidade e viver com gratidão.
Se
alguém que nunca viu ou ouviu pode imaginar um mundo tão rico em apenas três
dias, o que nós, que temos esses sentidos, podemos fazer com o tempo que nos é
dado?
Keller morreu aos 87 anos, enquanto dormia, às
3h35 de 1º de junho de 1968, em sua residência em Easton, Connecticut, dias
após sofrer um ataque cardíaco. Após a realização do funeral, seu corpo foi
cremado e suas cinzas foram depositadas na Catedral Nacional de
Washington próxima as de Sullivan e Thomson.
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