A Violência: Uma Marca registrada da Humanidade
A
violência parece ter nascido com o próprio homem e, ao que tudo indica, só terá
fim quando a humanidade desaparecer. Desde os primórdios, o ser humano carrega
em si a semente da discórdia, que floresce em atos de brutalidade e
derramamento de sangue.
Não há
canto do mundo, por mais remoto ou sagrado que seja, que tenha escapado da
sombra da violência. Até mesmo instituições que se proclamam guiadas pela paz e
pela divindade, como a Igreja, tornaram-se, em certos momentos da história,
palco de atrocidades.
A
Igreja Católica, que deveria ser um bastião de misericórdia, foi responsável
por um dos capítulos mais sombrios da humanidade: a Inquisição. Durante
séculos, milhares de inocentes foram submetidos a torturas cruéis, queimados
vivos em fogueiras consideradas "santas" e despojados de seus bens.
Famílias
inteiras viram seus patrimônios confiscados pela Igreja, sob pretextos muitas
vezes frágeis, como acusações de heresia ou bruxaria. A punição era implacável:
mesmo aqueles que cediam tudo o que possuíam não escapavam da morte lenta e
dolorosa.
A
Inquisição não foi apenas um período de perseguição religiosa, mas também um
mecanismo de enriquecimento institucional. Hoje, a Igreja Católica é uma das
organizações mais ricas do mundo, com um império que se estende a regiões onde
sua influência nem sempre é reconhecida.
No
entanto, a violência não se restringe à Igreja ou a qualquer instituição
específica. Muitas vezes, ela encontra justificativa em textos considerados
sagrados.
A
Bíblia, por exemplo, tida como um guia espiritual por milhões, contém passagens
que revelam a crueza da natureza humana. O Salmo 109, com suas imprecações de
vingança, é apenas uma amostra de como a violência está entranhada até mesmo em
escrituras veneradas.
Desde
os primeiros capítulos do Gênesis, a narrativa bíblica já expõe a inclinação
humana para o mal: logo após a criação, no terceiro capítulo, Adão e Eva
desobedecem a Deus, e, no quarto, Caim comete o primeiro assassinato ao matar
seu irmão Abel.
Esse é
apenas o início de uma longa história de conflitos que atravessam milênios. A
violência não é exclusividade do passado. No presente, ela se manifesta com
igual ferocidade, muitas vezes amparada por ideologias ou interpretações
extremistas de textos religiosos.
O
Estado Islâmico, por exemplo, baseia suas atrocidades em uma leitura distorcida
do Alcorão, promovendo decapitações, atentados e opressão em nome de uma
suposta vontade divina.
Assim
como a Inquisição no passado, esses grupos utilizam a religião como pretexto
para justificar o ódio e a destruição. O vermelho do sangue continua a irrigar
a terra, alimentando um ciclo interminável de vingança e rancor.
A
história da humanidade é, em grande parte, uma crônica de violência. Dos campos
de batalha da Antiguidade às guerras modernas, o homem aprimorou seus métodos
de destruição.
As
fogueiras da Inquisição foram substituídas por bombas atômicas; as arenas
romanas, com seus leões e gladiadores, deram lugar aos campos de concentração
nazistas e às câmaras de gás.
Hoje,
drones e armas de alta precisão permitem matar a distância, com uma eficiência
assustadora. A tecnologia mudou, mas a mentalidade permanece a mesma: o desejo
de domínio, a ambição desmedida e a indiferença pela vida alheia continuam
sendo os motores da violência.
Os
meios de comunicação amplificam a visibilidade dessa realidade. Jornais,
revistas, noticiários de televisão e redes sociais expõem, quase em tempo real,
a brutalidade que permeia o cotidiano.
Seja em
conflitos armados, como os que assolam o Oriente Médio, seja em atos de
violência urbana, como tiroteios em escolas ou massacres em comunidades, a
crueldade humana está sempre à vista.
Eventos
recentes, como os conflitos na Ucrânia, iniciados em 2022, ou as tensões
crescentes no Indo-Pacífico, mostram que a guerra, em suas formas mais
sofisticadas, permanece uma constante.
A
violência não discrimina: atinge ricos e pobres, fortes e fracos, em qualquer
tempo ou lugar. Não há como negar que o homem é, por natureza, um guerreiro.
A busca
por poder, territórios e recursos sempre esteve no cerne das grandes tragédias
humanas. As cruzadas, as conquistas coloniais, as duas guerras mundiais e os
genocídios do século XX - como o Holocausto e o massacre de Ruanda - são
testemunhos de uma barbárie que não respeita fronteiras temporais ou
geográficas.
Mesmo
em tempos de avanços tecnológicos e discursos de progresso, a violência
persiste, adaptando-se aos novos contextos. A inteligência artificial, por exemplo,
já é usada em armas autônomas, levantando questões éticas sobre o futuro da
guerra.
Diante
disso, é difícil não generalizar. A história e o presente mostram que a
violência é uma característica intrínseca à humanidade. Não se trata apenas de
indivíduos isolados, mas de sociedades inteiras que, de uma forma ou de outra,
perpetuam o ciclo de agressão.
O ódio,
a ambição e a intolerância são ingredientes que alimentam esse fogo, e não há
indícios de que ele se apagará enquanto houver homens para ateá-lo.
Francisco Silva Sousa
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