O neurocientista colombiano Rodolfo Llinás, conhecido
por suas contribuições revolucionárias à neurociência, oferece uma visão
provocativa sobre a ideia de Deus:
"É uma invenção do homem. E, como todos os
inventos humanos, parece-se com ele. Deus tem duas razões para existir: para os
inteligentes, ajuda a governar os outros; para os menos inteligentes, serve
para pedir favores. A todos, explica o que não entendemos da natureza. É uma
lógica de um primitivismo que causa náuseas."
Essa citação reflete o pensamento crítico de Llinás,
que enxerga a concepção de Deus como um constructo humano, moldado por
necessidades sociais, psicológicas e epistemológicas.
Rodolfo Llinás: Um Pioneiro da Neurociência
Nascido em 16 de dezembro de 1934, em Bogotá,
Colômbia, Rodolfo Llinás Riascos é um dos neurocientistas mais influentes do
mundo. Atualmente, é professor emérito de neurociências na cátedra Thomas e
Suzanne Murphy e presidente emérito do Departamento de Fisiologia e
Neurociências da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
Com mais de 800 artigos científicos publicados, Llinás
é reconhecido por seus estudos sobre o funcionamento do cérebro, incluindo o
conceito de "sincronia neuronal" e a relação entre consciência e
atividade cerebral.
Sua abordagem materialista e científica molda sua
visão cética sobre conceitos metafísicos, como a existência de Deus.
Contexto da Citação
A citação de Llinás sobre Deus reflete sua perspectiva
como cientista que busca explicações baseadas em evidências empíricas. Para
ele, a ideia de Deus surge da incapacidade histórica da humanidade de
compreender fenômenos naturais, como trovões, eclipses ou a origem da vida,
atribuindo-os a uma entidade sobrenatural.
Além disso, Llinás critica o uso da religião como
ferramenta de controle social, uma visão compartilhada por outros pensadores,
como Karl Marx, que descreveu a religião como o "ópio do povo".
A expressão "primitivismo que causa náuseas"
revela sua frustração com o que considera uma explicação simplista e
desatualizada para questões complexas, especialmente em uma era de avanços
científicos.
Acontecimentos e Debates Relacionados
A visão de Llinás ecoa discussões filosóficas e
científicas que atravessam séculos. No século XVII, por exemplo, o filósofo
Baruch Spinoza já questionava concepções antropomórficas de Deus, propondo uma
visão panteísta que identificava Deus com a própria natureza.
No século XIX, o avanço da teoria da evolução de
Charles Darwin desafiou narrativas religiosas sobre a criação, enquanto no
século XX, cientistas como Carl Sagan e Richard Dawkins popularizaram
argumentos ateístas baseados na ciência.
Nos últimos anos, o debate sobre a existência de Deus
ganhou nova intensidade com o avanço das neurociências e da inteligência
artificial. Estudos, como os conduzidos por pesquisadores do MIT e da
Universidade de Oxford, investigam como o cérebro humano cria crenças
religiosas, sugerindo que a espiritualidade pode ser uma resposta evolucionária
para lidar com a incerteza e a mortalidade.
Llinás, com sua expertise em neurociência,
provavelmente se alinha a essa visão, enxergando a crença em Deus como um
subproduto da cognição humana, e não como evidência de uma entidade externa.
Além disso, o tema tem gerado discussões acaloradas em
plataformas como o X, onde cientistas, teólogos e o público geral debatem
questões como: "A ciência elimina a necessidade de Deus?" ou "A
religião ainda é relevante na era da tecnologia?"
Embora Llinás não participe diretamente dessas
conversas, sua citação ressoa com aqueles que defendem que a ciência oferece
explicações mais robustas para os mistérios do universo, enquanto críticos
apontam que a fé atende a necessidades emocionais e éticas que a ciência não
aborda.
Impacto e Relevância
A crítica de Llinás não busca apenas desacreditar a
religião, mas provocar uma reflexão sobre como construímos conhecimento. Ele
desafia a humanidade a substituir explicações baseadas na fé por
questionamentos científicos, um princípio que guiou suas próprias descobertas
sobre o cérebro.
No entanto, sua visão também levanta questões éticas:
ao reduzir Deus a uma "invenção", ignora-se o papel da religião na
formação de comunidades, na arte e na moral? Ou será que, como Llinás sugere,
essas funções podem ser preservadas sem recorrer a conceitos metafísicos?
Hoje, o mapa mundial de Llinás - metaforicamente, sua
visão de um mundo explicado pela ciência - continua inspirando cientistas e
pensadores. Sua obra reforça a ideia de que o cérebro humano, com sua
capacidade de criar e questionar, é a verdadeira força por trás de conceitos
como Deus.
Assim como Søren Poulsen, que construiu um mapa-múndi com pedras, Llinás constrói, com ideias, um mapa do entendimento humano, desafiando-nos a explorar o universo com curiosidade e rigor.