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sábado, agosto 03, 2024

Curiosidades sobre Veneza


Foto de 1950, mostra o canal principal se Veneza drenado e sendo escavado para ter aumentada a sua profundidade.

Veneza: Uma Cidade Flutuante ou um Conjunto de Ilhotas?

Veneza não é exatamente uma ilha, mas sim um arquipélago formado por 124 ilhotas interligadas, construídas sobre uma lagoa no nordeste da Itália. A ocupação dessas ilhotas começou por volta do século V, quando populações fugiam de invasões bárbaras no continente, buscando refúgio nas áreas pantanosas da Lagoa de Veneza.

A partir do século VII, essas ilhotas foram gradualmente unidas por pontes, criando a cidade única que conhecemos hoje. Cada ilhota geralmente possuía uma igreja, um "campo" (praça local) e um poço, elementos centrais da vida comunitária.

Ao contrário do que muitos imaginam, Veneza não está diretamente sobre o mar, mas em uma lagoa protegida por barreiras naturais de terra, conhecidas como "lidi".

Essas barreiras separam a lagoa do Mar Adriático, criando um ecossistema delicado que sustenta a cidade. O coração de Veneza é o Canal Grande, com cerca de 4,2 quilômetros de extensão e profundidade variando entre 3 e 5 metros.

Ele serpenteia pela cidade, funcionando como a principal "avenida" aquática. Para conectar Veneza ao continente, a Ponte da Liberdade, com cerca de 3,8 quilômetros, liga a cidade a Mestre, frequentemente chamada de "Veneza nova" ou "Veneza continental".

Por essa ponte passam carros, ônibus e trens, integrando a cidade histórica ao mundo moderno.

A Engenharia por Trás de Veneza

A construção de Veneza é um feito impressionante de engenharia, adaptado às condições desafiadoras de uma lagoa salgada. Para criar fundações sólidas, os venezianos desenvolveram uma técnica engenhosa: fincavam troncos de amieiro ou carvalho no fundo da lagoa, onde a camada de "caranto" - uma mistura de areia e argila - proporcionava estabilidade.

Esses troncos, em contato com a água salgada e sem oxigênio, endureciam como pedra, garantindo a sustentação das construções. Sobre essas estacas, eram colocadas duas camadas de tábuas de madeira, seguidas por blocos de pedra de Istria, um tipo de mármore altamente resistente à corrosão pela água salgada e à umidade.

As margens das ilhotas são protegidas por revestimentos de tijolos, que ajudam a conter a erosão causada pela água, pelas marés e pelo tráfego de barcos.

No entanto, esses tijolos sofrem desgaste constante devido à salinidade e à força das ondas, especialmente aquelas geradas pelos motores dos barcos modernos.

A manutenção é um desafio contínuo: para substituir os tijolos danificados, é necessário drenar trechos inteiros dos canais, uma operação complexa e custosa que exige planejamento meticuloso.

As "ruas" de Veneza, conhecidas como "calli", são pavimentadas com trachite, uma pedra vulcânica durável. Sob essas pedras, encontra-se a infraestrutura elétrica e hidráulica da cidade, com cabos e tubulações que atravessam as pontes entre as ilhotas.

Curiosamente, Veneza não possui um sistema de esgoto moderno. Em vez disso, utiliza galerias históricas que direcionam os resíduos para os canais. A limpeza natural dos canais ocorre duas vezes por dia, quando a maré renova a água da lagoa através de três "bocas de porto" que conectam a lagoa ao Mar Adriático.

Muitas construções também contam com fossas sépticas, onde os resíduos passam por um tratamento básico antes de serem liberados nos canais.

A História e os Desafios de Veneza

A história de Veneza é tão fascinante quanto sua arquitetura. Durante a Idade Média, a cidade se tornou uma potência marítima e comercial, controlando rotas de comércio entre a Europa e o Oriente.

Sua localização estratégica na lagoa, protegida de ataques terrestres, permitiu que Veneza prosperasse como uma república independente por mais de mil anos, até sua anexação pelo Império Austríaco em 1797.

Monumentos como a Praça São Marcos, a Basílica de São Marcos e o Palácio dos Doges refletem a riqueza e o poder da Sereníssima República de Veneza.

Hoje, Veneza enfrenta desafios significativos. Um dos maiores é o fenômeno da "acqua alta", as inundações periódicas causadas pela combinação de marés altas, chuvas e ventos fortes.

Essas inundações, que ocorrem principalmente entre o outono e o inverno, ameaçam as construções históricas e o modo de vida local. Para combater esse problema, foi desenvolvido o sistema MOSE (Módulo Experimental Eletromecânico), um conjunto de barreiras móveis instaladas nas bocas de porto para bloquear a entrada de água do mar durante eventos de maré alta.

Embora o MOSE tenha mostrado resultados promissores desde sua ativação em 2020, ele ainda é objeto de debates devido aos altos custos e impactos ambientais.

Além disso, o turismo de massa representa outro desafio. Veneza recebe milhões de visitantes anualmente, o que pressiona a infraestrutura da cidade e contribui para o desgaste de suas estruturas.

Em resposta, medidas como a taxa de entrada para turistas diurnos, implementada em 2024, buscam regular o fluxo de visitantes e financiar a preservação da cidade.

Curiosidades e o Futuro de Veneza

Veneza é mais do que uma cidade; é um símbolo de resiliência e adaptação. Suas gôndolas, que navegam silenciosamente pelos canais, são um ícone cultural, mas também um lembrete da dependência da cidade em relação à água.

Curiosamente, as gôndolas são construídas com uma assimetria sutil para facilitar a navegação com um único remador, uma tradição que remonta a séculos.

Olhando para o futuro, Veneza enfrenta a necessidade de equilibrar preservação histórica com sustentabilidade moderna. Mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar, exigem soluções inovadoras para proteger esse patrimônio mundial.

Projetos de restauração, como a reconstrução das margens dos canais e a manutenção das fundações de madeira, continuam essenciais para garantir que Veneza permaneça habitável e encantadora para as próximas gerações.

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